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Ligue depois

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Ela andava pelas ruas. Era madrugada, estava só.

A noite tinha sido uma sucessão de desencontros. Primeiro com os amigos, o que ela entendeu não foi o que eles entenderam e ela foi parar em outro bar com o mesmo nome.

Gente estranha tinha por lá. Esperou, tomou uma cerveja, nada de chegarem, olhou o relógio, nada ainda, mais uma cerveja. Como era fraca para bebidas, já no final da segunda estava meio zonza, resolveu ir para a terceira, começou a rir de tudo que observava por ali.

Chegou um carinha na sua mesa, com uma dessas cantadas baratas e abobadas, mas como ela estava só, aceitou a cantada e que ele sentasse na mesa. Falaram do Japão, nenhum era japonês e o lugar mais distante que ela conhecia era bem perto, mas atrevida que era, não se fez de rogada e do Japão falava sem parar e ria, porque quem bebe um pouco além da conta ri.

Lembrou da turma de amigos que nunca chegava. Pensou no celular, mas como de costume, sem bateria. Xingou as velhas gerações por não ter comprado aquele carregador que pode carregar em qualquer lugar, mas sabe como é, grana curta.

O carinha que só falava do Japão lá estava a falar sem parar e aquilo parecia uma boca nervosa que precisa ser calada e acalmada, sem pensar lasco-lhe um beijo. Há dois anos atrás ela jamais faria aquilo, mas agora, as águas rolaram e era só um beijo em uma noite de verão, em um alguém, sabe-se lá quem.

Ele ficou boquiaberto e ela foi embora, deixando a mesa e a conta para ele. Foi embora a pé, rodando aqueles bares, sem celular, cabeça acelerada, fala lenta.

Pensava nele, tinha saudades dele, do beijo dele. Não, não era do carinha de cinco minutos atrás não, aquilo era nada, era do outro, do antigo, do que grudava na sua pele, mas que estava longe, do que tinha a melhor pegada, pele a pele.

E esses amigos onde estão? Cabeça ia, vinha, voltava e vinha risadas, ânsia de vômito. Ela era fraca para beber, ficava engraçada, mas assim na madrugada, sozinha na multidão com quem podia compartilhar?

Podia passar uma cantada e usar o celular de alguém, mas não adiantaria porque não sabia decor nenhum número. Eram quase três horas da manhã, resolveu andar e ir para a praça perto da faculdade, não tinha combinado de dormir na casa de ninguém, e não queria voltar para a casa da mãe porque garantiu que dormiria na casa das amigas.

Então, foi para a praça esperar o nascer do sol, a vista era linda. Já tinha feio aquilo uma vez com ele, ele de novo nos seus pensamentos, ela ria e tinha vontade de dançar, mas melhor não, estava zonza mas não totalmente sem juízo, dançar na rua, era um sonho de infância, mas sem companhia não teria graça.

Na praça, sentou no mirante. Ela, o céu e um celular que tocou. Sim, tocou um celular que estava perto, ninguém ali, só ela, o céu e o celular.

Não atendeu. Tocou de novo. Atendeu. Alô, não, não é ela. Não, não é ela que está falando. O quê? Como assim? Não, não sou. Ah, por favor, não sou, ligue depois.

Desligou, esperou e o sol começou a clarear o dia, assim como o mente clareava para seu estado normal.

12308453_10205306926782378_7964104893761853478_n foto Dri para perfil

Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde escreve contos, poesias e crônicas nesse blog. Publicitária e empresária. Divide seu tempo entre sua agência Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa 🙂

 

 

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Sérgio Cortella e David Luiz na praia?

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No final de semana antes do carnaval, resolvi ir à praia com a família.

Desta vez, nada de hotel pé na areia, piscina, sorvete à toda hora e nem a cadeirinha com guarda sol montada, já me esperando no lugar de sempre.

Desta vez uma casa com antigos amigos.

Uma casa onde fazíamos de tudo; limpávamos, cozinhávamos, cuidávamos dos filhos, jogávamos buraco e até um antigo jogo da minha infância… stop (se bem que os carros que eu falava, ninguém mais conhecia). As crianças pulavam nos colchões espalhados pela sala, davam travesseiradas uns nos outros, comiam quando queria e misturavam brigadeiro com churrasco, brigadeiro de novo e os pais? Nem ligavam. Liberdade total!

Logo cedinho acordávamos e íamos a pé (cinco quadras) para a praia carregando algumas coisas (muitas coisas) até nos instalarmos de frente “daquele marzão de Deus” como dizia meu pai.

Já sentada na cadeira, olho para o lado e vejo uma senhora tirando a saída de praia e achei que era a coordenadora de matemática da escola dos meus filhos. Uma senhora elegante, sempre bem vestida, muito inteligente que dá ate gosto de ver. Ela não para nunca, fez mestrado, Doc, pós Doc…mas naquele momento era uma pessoa comum, com corpo comum, de biquíni curtindo a família…bom, olhei direito e não era ela…ufa! Que bom, senão ela iria me ver com a mesa cheia de salgadinhos e cervejas já trazidos de casa, porção de salaminho….uma verdadeira farofa!

Foi aí que olhando várias pessoas ao meu redor, percebi que ali na praia, todos eram seres humanos normais, todos com os pés sujos de areia, passando protetor solar, rindo e curtindo tudo o que recebemos de graça…sol, mar e natureza. Relaxei.

E o Cortella? Bom, fiquei olhando todos os barbudos da praia, vai que de repente o Cortella esteja lá, bem à vontade  bebendo uma caipirinha e de sunga? Ah…mas ele estaria com uma sunga todinha salpicadas de letrinhas do alfabeto na cor cinza, descalço, com chapeuzinho, aquele bege meio clássico e lendo um livro, claro!

Enfim, descobri que na praia, não importam os títulos das pessoas, somos todos iguais. As mulheres de biquíni se achando fora de forma e os homens fazendo de tudo para disfarçar enquanto passa uma gostosona caminhando pela praia.

E o David Luiz? Ah, este eu coloquei no título só para chamar a atenção dos homens para o texto.

E você, quem gostaria de encontrar na praia? Como ele estaria vestido?

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Roberta Corsi – Bela Urbana, coordenadora do Movimento Gentileza Sim que tem como objetivo “unir pessoas que acreditam na gentileza” e incansavelmente positiva, para conhecer o movimento acesse https://www.facebook.com/movimentogentilezasim 

 

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GENTE

 

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Tem gente que traz alegria

Uma paz

Uma conversa que não quer acabar

Tem gente que é gente

Parecida com a gente

Essa gente que dá bom dia musical

Me despe a alma

Tem conexão no olhar

A gente sabe sem precisar dizer

Essa gente é gente especial

Coisa estranha essa gente

Por ser tão gente como a gente

12308453_10205306926782378_7964104893761853478_n foto Dri para perfil

Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde escreve contos, poesias e crônicas nesse blog. Publicitária e empresária. Divide seu tempo entre sua agência Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa 🙂

 

 

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Doces, amores e dores…

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Como curar dores de amores mal vividos, não correspondidos ou incompreendidos? Será que é possível?

Pensando sobre amores, dores e comidas a primeira coisa que me veio à cabeça foram imagens das “mocinhas” da telona afogando suas mágoas num delicioso pote de sorvete…será?! Me lembro também, de quando era adolescente (faz só um tempinho, hein?! Rsrs) e que sempre pensava: “se algum dia eu tiver uma desilusão, resolvo com sorvete “… nunca tirei a prova.

Hoje, na idade adulta, já tendo passado por milhares de desilusões fui levada novamente a pensar sobre isso. Será que existe algum tipo de comida que preencha àquele vazio deixado pela pessoa amada? Que transforme desilusão em alegria? Que nos dê um conforto num momento de dor?

Realmente não tenho a resposta para isso. O que acho, é que uma comidinha gostosa, preparada com carinho, sempre vai trazer , se não alegria, pelo menos prazer. Um pote de pipocas, para quem gosta, pode ser um momento de esquecimento ou um encontro consigo.

O importante é se permitir desfrutar dos pequenos prazeres. E aí, pensando nas minhas próprias desilusões, me veio uma saudade imensa daquilo que não volta mais. O que eu faço com essa saudade? Tem dias que faço graça, tem dias que faço caipirinha…hoje, fiz brigadeiro! Gourmet! Rsrsrsrs

11153459_418305808342065_1335618606_o - foto Adriana Rebouças

Adriana Rebouças – Bela Urbana, formada em Publicidade. Cursou gastronomia no IGA – São José dos Campos Publicitária de formação e Chef por paixão. Sócia do restaurante chama EnRaizAr e fica dentro de um espaço de yoga e terapias que se chama Manipura em São José do Campos – SP.

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Começo e Recomeço

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A primeira vez que eles se encontraram foi no portão do colégio, no final da aula, e como moravam perto um do outro, caminharam juntos. Um mês depois ele a pediu em namoro, ela aceitou. Namoravam ainda na formatura do colegial e durante a faculdade.

Quando se formaram, já moravam juntos e começaram a planejar o casamento, para assim que tivessem estabilidade de empregos. Em algum momento cada um conseguiu uma carreira promissora. Ele comentou que deveriam repensar depois que os filhos chegassem. Ela comentou que não pensava em ter filhos, na verdade, não queria ser mãe, queria fazer carreira na su área, que ela amava. Ele ficou devastado, sempre quisera ser pai.

Após conversarem durante a noite mais longa de suas vidas, cada um seguiu um rumo diferente. Era a hora do adeus e do recomeço.

Dois anos se passaram e ele se casou, assim ela ouviu dizer. Ela se mudou para o exterior, a trabalho e sua carreira prosperava, assim os amigos contaram a ele.

Dez anos depois ele vivia feliz com a esposa e tinha dois filhos… Ela vivia feliz com o companheiro em algum lugar além-mar.

Mais anos se passaram e ele se separou, o casamento acabou, por nada, apenas era morno e era melhor assim… Ela decidiu que era hora de voltar a viver na terra natal, junto da irmã e da afilhada que a chamava de solteirona…

A primeira vez em que eles se reencontraram foi na formatura do filho dele e da sobrinha dela. Ele a tirou para dançar… Ela sentiu um arrepio e aquele friozinho na barriga.

Eram tantos os fins, os começos e recomeços, tantas vidas vividas por eles e agora, naquela dança, era como se apenas tivesse havido um breve parênteses na vida dos dois.

A música acabou, eles ficaram parados olhando nos olhos do outro. Estava tudo lá. Era o fim de um ciclo e o recomeço de outro… Saíram de mãos dadas.

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Synnöve Dahlström Hilkner Bela Urbana, é artista visual, cartunista e ilustradora. Nasceu na Finlândia e mora no Brasil desde pequena. Formada em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda pela PUCC. Desde 1992, atua nas áreas de marketing e comunicação, tendo trabalhado também como tradutora e professora de inglês. Participa de exposições individuais e coletivas, como artista e curadora, além de salões de humor, especialmente o Salão de Humor de Piracicaba, também faz ilustrações para livros. É do signo de Touro, no horóscopo chinês é do signo do Coelho e não acredita em horóscopo.