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Fragmentos de um diário – 15

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Me sinto a margem, não me enquadro, é um sentimento que me sufoca porque não sei o que é, e sempre foi assim.

Faço parte, mas não me sinto inteira ai, faço parte, tenho tudo o que os outros querem ter, mas não me sinto assim, me sinto a margem, me sinto desenquadrada.

Me sinto fora das convenções e por fazer parte delas, sofro, calada, nervosa, morrendo… se não viver.

A liberal nos caretas, a careta nos liberais, essa sou eu.

A margem dos padrões e muito dentro deles.

Incomodada, angustiada, aprisionada, amedrontada.

Uma alienígena tentando achar o seu lugar.

Uma alienígena muito crítica e debochada.

Se conseguisse ser uma metamorfose ambulante acho que encontraria a plenitude do caminho.

07 de junho – Gisa Luiza – 46 anos

12308453_10205306926782378_7964104893761853478_n foto Dri para perfil

Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde escreve contos, poesias e crônicas nesse blog. Publicitária e empresária. Divide seu tempo entre sua agência Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa 🙂 . A personagem Gisa Luiza do “Fragmentos de um diário” é uma homenagem a suas duas avós – Giselda e Ana Luiza.

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Hoje é sexta

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O que tem a sexta-feira tem de tão especial?

A esperança de um ótimo final de semana. E o que é um ótimo final de semana? Não fazer nada, dormir até tarde, ver filmes, ir a um churrasco, encontrar amigos, namorar, paquerar, se embelezar e mais um monte de coisas que o fato de não ter hora marcada para nada nos permite.

Sexta-feira é o quase lá de tudo isso. Tem sextas que o dia passa corrido e quando nos damos conta já são 6h e, ufa, é hora de ir para o happy! Mas tem sexta que o dia passa arrastado, pura preguiça; a nossa gasolina, essa energia, acabou um pouco antes do fim do expediente e a vontade é que acabe logo o dia, porque não rende mais nada e o dia vira só procrastinação. Por que sexta encanta tanto? Porque a maioria trabalha por trabalhar. Trabalha para ganhar dinheiro e pagar as contas, só que muitas vezes a conta não fecha. E corpo cansa, assim como a cabeça, e não sabemos nem dizer qual cansa mais e onde começa essa canseira toda.

Mas aí, eis que existe a sexta para nos libertar dessa dor, do que não se faz com amor. Porque quando se faz com amor; segunda, terça, quarta, quinta e a própria sexta são mais leves e divertidas e isso torna todos os dias da semana especiais e não só a sexta. Mesmo quando o dinheiro é curto, porque o amor traz esperança; com amor o trabalho é bem-feito e a chance de reconhecimento é muito maior.

Sim, reconhecimento, é isso que todos queremos, em qualquer dia, mês ou ano. Todo mundo quer ser mesmo reconhecido como alguém especial, com características próprias que façam a diferença em qualquer ambiente, na vida profissional ou pessoal.

Ser reconhecido colore o dia, mas e nós? O quanto nós reconhecemos e valorizamos quem está à nossa volta? Somos o peso na vida de quem está do nosso lado ou colocamos as pessoas para cima? Somos a chata segunda ou a doce sexta? Na opinião da maioria é assim, segunda é chato, sexta muito bom.

Mas a questão é, final de semana bem-vivido e divertido é uma delícia, porque saímos da rotina e a rotina, meu caro, é dura, mesmo quando se ama o seu trabalho. Ela tem todas as obrigações da semana e isso gera ansiedade, por tantas e tantas obrigações a fazer.

Com essa ansiedade à flor da pele, esse esgotamento físico e mental à tona, entram os salvadores da pátria que nos prometem o paraíso: “trabalhe menos, ganhe mais, acompanhe seus filhos, veja seus pais, saia com aos amigos, namore, tenha dinheiro, não tenha stress etc”. São ilusionistas, alguns até têm boas intenções, mas muitos não. Você está lá como a próxima vítima, vampiros da sua conta bancária que te prometem o reino dos céus aqui na Terra, estão em várias profissões que teoricamente estão aí para te ajudar, mas a que preço?

Então, desculpe a dureza das palavras, aproveite seu final de semana o máximo que puder, mas aproveite também a limitação da segunda, a corrida da terça, a entrega da quarta, o imprevisto da quinta e o happy, porque não, da sexta.

A felicidade não está do lado, simplesmente porque não existe salvador da pátria, pessoa perfeita, duendes, coelhinho da páscoa, fadas, príncipes e princesas encantadas. A felicidade está dentro de você, todos os dias, e não só na sexta.

12308453_10205306926782378_7964104893761853478_n foto Dri para perfil

Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde escreve contos, poesias e crônicas nesse blog. Publicitária e empresária. Divide seu tempo entre sua agência Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa 🙂

 

 

 

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Nas cores da noite

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Desde o boteco até o galpão…

Adorei o encontro

e as rosas que já havia me esquecido do cheiro

O cheiro de pele e não de perfume…

A pele que transpira alegria

como se fosse de uma adolescente em sua primeira vez…

No meio de uma fantasia real

como um circo que a fez feliz quando criança.

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Daniella De Sá Andreoli – Virginiana, mãe, proprietária da D&E Corretora de Seguros, adorar viver a vida intensamente, adora gastronomia, teatro, estudou exatas, mas se pudesse viveria de SOM, MAR e LUZ.

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A perda de Bowie e a militância moderna

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Sentir a perda de David Bowie é permitido!

“Estou procurando textos problematizando o Bowie! Cansei de procurar e lanço o desafio…” Foi essa frase que li logo cedo ao abrir o facebook. Alguns comentários no post davam conta de que só havia boatos, nada definitivo. Uso de drogas não era um problema, a busca era por assédio sexual mesmo ou outra podridão qualquer que pudesse denegrir o caráter por abuso de poder. Não continuei a seguir o post pois tudo levaria a “algo” que hipoteticamente poderia ter acontecido no contexto do começo da década de 70…

Estamos “problematizando” muito a época atual? A militância está se tornando tamanha que não podemos sentir a perda de uma pessoa a quem admirávamos sem buscar algo negativo contra ela? Imagino que a maior bronca de alguns é que David Bowie levava uma vida privada discreta e sem escândalos enquanto na vida artística não aceitava rótulos, mudava de estilo tantas vezes quanto achasse por bem fazê-lo e morreu de maneira serena, bailando a música final com o destino. Surpreendeu-nos mais uma vez ao oferecer uma poesia musical como despedida. O artista se foi, o empréstimo acabou, ele foi levado de volta a uma esfera que desconhecemos, mas antes nos deixou seu legado.

E se aqui falo sobre a perda de Bowie, isso não significa que sinto menos ou mais dor pela perda de outras pessoas, não quantifico minha capacidade de sentir…

Aos militantes de plantão deixo um recado: Vamos sim lutar por um mundo melhor, vamos lutar contra preconceito, assédio, machismo, racismo, xenofobia, homofobia e uma lista enorme… Só que podemos usar uma perspectiva positiva e construtiva, dar exemplo, educar a geração pela qual somos responsáveis, discutir, debater e até brigar quando necessário, pois somos bons de briga, claro. Mas, às vezes, é bom sentir tristeza, amor, afeto, sem questionamentos. Apenas porque sim.

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Synnöve Dahlström Hilkner É artista visual, cartunista e ilustradora. Nasceu na Finlândia e mora no Brasil desde pequena. Formada em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda pela PUCC. Desde 1992, atua nas áreas de marketing e comunicação, tendo trabalhado também como tradutora e professora de inglês. Participa de exposições individuais e coletivas, como artista e curadora, além de salões de humor, especialmente o Salão de Humor de Piracicaba, também faz ilustrações para livros. É do signo de Touro, no horóscopo chinês é do signo do Coelho e não acredita em horóscopo.

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Ônibus errado. Estação certa.

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Algumas pessoas têm um olhar atento aos acontecimentos e ao jeito de viver dos cidadãos da sua cidade. Homens e mulheres que têm hábito de perceber o que está além do senso comum, o que ninguém vê ou o que não se ouve em se ouvindo. João é uma dessas pessoas capazes de descobrir e revelar coisas incríveis e que vão pra debaixo do tapete em grandes cidades.

– Se bobear São Paulo te engole e você deixa passar um monte de coisas legais. Foi com essa frase que ele começou a contar a epopéia da sua terça sem lei. Terça-feira é o dia da sua folga, é o dia de sair pelas ruas meio sem rumo, meio sem lei e viver a cidade. É o dia em que tudo pode acontecer, inclusive tomar o ônibus errado, coisa que ele fazia com certa freqüência. Sua intenção era ir até a Paulista, conhecer a nova Livraria Cultura no Conjunto Nacional. Errou e foi parar no centro da cidade. Antes de chegar à Praça do Correio, ponto final do ônibus, resolveu descer na Praça Marechal Deodoro e pegar o metrô. Com poucas estações e uma baldeação no meio do caminho estaria na estação Consolação, ao lado da livraria. Pelos seus cálculos o trajeto todo levaria uns 23 minutos. Foi pensando nisso que desceu as escadas da estação e teve a primeira surpresa do dia. Na verdade não era surpresa coisa nenhuma. Ele saía de casa procurando coisas novas e diferentes. Não precisou de muito esforço. Bastou olhar pra frente. Na parede que engolia a escada rolante lotada de gente apressada, um quadro pendurado sorria para os olhares perdidos. Aquele quadro era como um anfitrião que recebe alguém em casa dizendo olá, bom dia, seja bem-vindo e esse alguém nem olha pra ele ou pede licença pra entrar. Ou seja, o quadro estava lá na escada de acesso à estação e ninguém dava a mínima importância para ele. Aquilo chamou a atenção de João de um modo diferente do habitual. Ao chegar ao piso inferior pegou a escada no sentido contrário voltando para a rua. Queria descer de novo e olhar com mais atenção aquele quadro. Fez esse caminho três vezes. Ao chegar na bilheteria não se conteve. Perguntou ao bilheteiro se ele sabia de quem era o quadro. O funcionário do metrô disse que não se lembrava não.

– Tá cheio de quadro dele espalhado pela estação. Lá embaixo tem uma plaquinha com o nome dele.

João saiu da bilheteria disposto a ver os outros quadros e a tal da plaquinha com o nome do pintor. Antes mesmo de passar pela catraca, atraído pela luz da tarde que invadia um grande jardim interno no meio da estação, percebeu a existência de um outro quadro, gigantesco, reinando absoluto na solidão do jardim espremido no subsolo da cidade. Ficou parado alguns instantes. Chegou a duvidar se era aquele buraco no teto da estação e que dava pra rua, que iluminava as plantas do jardim e os homens retratados no quadro, ou se eram ambos que, por absoluta necessidade de sobrevivência, subiam aos céus da cidade espalhando o verde e a humanidade perdida no concreto. Aproximou-se da mureta e, olhando para baixo, logo viu que poderia descobrir novos ângulos. Passou correndo pela catraca e começou a descer mais um lance de escadas. Agora, na sua frente, um outro quadro o impressionou ainda mais. Declaração do Homem e do Cidadão, esse era o seu nome estampado bem no centro, ladeado pela imagem de inúmeros homens e mulheres do povo. Gente igual a milhares de cidadãos que descem todos os dias as escadas e que talvez nunca tenham se dado ao trabalho de olhar para o seu próprio espelho. Porque era isso que aquele quadro era: um grande espelho pra todo mundo que descia as escadas. Foi invadido por um misto de encantamento e felicidade. Sentia-se sozinho e feliz. Era como se estivesse funcionando numa velocidade muito abaixo do normal e como se o som do ambiente tivesse sido simplesmente cortado, igual a aquelas cenas de filme americano quando se aproxima o momento do clímax final. Aquela fração de segundo antes do tiro fatal no bandido ou do beijo que arrebata uma grande paixão. Tudo fica em silêncio e em câmera lenta até que o som do tiro ou o lábio da amada trazem tudo de volta ao normal.

No caso do nosso João, que não é astro do cinema americano, esse estado de entorpecimento pela descoberta de uma estação repleta de obras de arte, só foi rompido pelo barulho do trem chegando à plataforma. Ficou parado um pouco mais, até se desembaraçar daquele monte de gente que se atropelava pra entrar e sair do trem. Andou uns dois metros e chegou ao quadro que tinha a tal da plaquinha. Lá estava o nome dele: Gontran Guanaes Netto. Esforçou-se em suas lembranças, mas de fato não lembrava daquele pintor, se quer o conhecia. E olha que ele era um cara ligado em tudo. Não se preocupou com isso, sabia que iria atrás de mais informações sobre ele. Resolveu absorver um pouco mais daqueles quadros. Subiu novamente as escadas, mas desta vez não optou pela rolante, preferiu a boa e velha escada de pedra. Parou no meio e ficou repetindo pra si mesmo, várias vezes: declaração do homem e do cidadão. Olhou no relógio, estava quase uma hora dentro da estação. Desceu os degraus e foi saborear novamente aquele quadro no meio do jardim. Ali embaixo, bem ao lado da plataforma e olhando pra cima, percebeu o quanto era pequeno diante do mundo e da arte. Soube também o quanto era bom ser sensível ao novo, ao surpreendente.

– Não via a hora de contar isso a vocês.

Leandro, Rogério e Zé, amigos inseparáveis daquela mesa de bar, compartilhavam daquela emoção. Era como se tivessem – entre um copo ou outro de cerveja ou entre uma garfada no macarrão com molho de miúdos de frango que um dos amigos tanto adorava , vivendo com ele cada minuto daquela tarde de terça-feira. Para criar um suspense pediu um minuto para ir ao banheiro, mas antes de ir disse: – E a maior de todas vocês ainda não sabem. Já volto.

Rogério foi logo dizendo:

– Quando o cara quer, faz arte faz em qualquer lugar. É só querer.

– É meu amigo, o cara do metrô que autorizou isso deve ser uma pessoa muito sensível à causa artística. Completou Leandro.

Zé, que aparentemente era o mais racional de todos, pediu mais uma cerveja pro Luxemburgo – era assim que eles chamavam o garçom que os conhecia de longa data. E Ficou pensando:

– Amanhã mesmo vou lá ver essa exposição permanente. Tem coisas que a gente não vê em nenhum lugar do mundo.

Encheu o copo dos quatro enquanto João se ajeitava na cadeira. O gran finale daquele dia, disse ele, foi um funcionário do metrô que aproximou-se, dizendo:

– O senhor gostou dos quadros?

João estranhou a abordagem súbita, mas respondeu afirmativamente.

– É que tô prestando atenção e vi que o senhor tá aqui há um tempão….olha, eu conheci esse pintor pessoalmente. Eu trabalho nessa estação há muito tempo e lembro quando ele tava pintando os quadros aqui. Ele pintou também lá na estação Itaquera, mas o que eu quero contar é outra coisa. Lembro como se fosse hoje. Era um domingo. O Corinthians jogou no Pacaembu e o Palmeiras no Palestra Itália. Depois do jogo se encontraram aqui, os torcedores. Foi pancada pra todo lado e eu me escondi dentro da bilheteria. Quebraram quase tudo, mas ninguém tocou nos quadros e nas coisas do pintor. Tava tudo aí: pincel, tinta, um monte de coisas. Não sei como chegaram a esse acordo no meio daquela confusão, mas achei aquilo uma coisa bonita. A briga foi e é abominável, mas pouparam o trabalho do seu Gontran. Era como se a obra de arte sobrevivesse a fúria dos homens. Olha, se um dia eu encontrar de novo com ele, vou perguntar se ele é corinthiano ou palmeirense. Talvez nem goste de futebol, não é mesmo? Bom, o senhor me dê licença que vou indo.

Deu um gole na cerveja antes de descrever seus minutos finais na estação. Nem precisava, estavam todos satisfeitos com a história. Antes, contudo, optou novamente pelo suspense, só que em vez de ir ao banheiro, resolveu contar tudo que já tinha descoberto sobre o tal pintor. Disse que naquele dia mesmo, abortou a idéia de ir à livraria e voltou pra casa, vasculhou na Internet e achou tudo sobre ele, inclusive o seu site.

– Gontran Guanaes Netto nasceu em 1933, em Vera Cruz, no interior de São Paulo. É filho de uma família de trabalhadores rurais e teve pouca escolarização formal. Suas pinturas são de homens simples, de gente do povo, do campo. De gente daqui e de todos os lugares. É um pintor que revela a existência de milhões de cidadãos que existem sem existir.

João se encheu de orgulho ao encerrar a breve biografia desse artista.

– Hoje Gontran mora em Itapecerica da Serra, cercado pela natureza, corre 10 quilômetros todas as manhãs e se dedica à pintura 12 horas por dia.

O motivo do orgulho? A relação entre a arte e a corrida. João é apaixonado por arte e adora corrida. Esporte que pratica com freqüência e que apresentou a Zé, hoje seu parceiro de pistas.

– Ô João, um dia desses a gente podia fazer uma visita pra esse pintor. A gente vai correndo lá do limão até Itapecerica.

Os quatro caíram na gargalhada. Beberam mais um pouco, falaram de política, discutiram futebol, pediram outra torrada de alho. No fim da noite, na porta do bar, onde sempre gastavam mais alguns minutos, João disse que a coisa mais louca que aconteceu com ele naquele dia deu-se um pouco antes de ir embora.

Um novo trem chegou à plataforma e novamente se viu envolvido naquela confusão de gente, só que dessa vez não ficou sozinho após a dispersão. Um casal de cegos estava ao seu lado, vagando como ele pelo espaço vazio com a saída do trem, à procura de um caminho. Era como se o casal procurasse sentir o lugar de um jeito diferente. Em vez da pressa, a sensação. Pra ele, aquele homem e aquela mulher também podiam sentir aqueles quadros como ele sentia.

– Eles podiam ver sem enxergar o que muitos enxergam sem ver.

– Bonito isso. Disparou Leandro, enquanto Rogério deu o toque final

– Ihhhhh….tá ficando piegas João. Vamos embora.

Mais uma vez caíram no riso. No caminho pra casa, sentia-se feliz por ter compartilhado com os amigos a sua experiência com os quadros e a história daquele pintor. Gontran Guanaes Netto foi mais um artista que descobriu graças a uma coisa especial chamada arte no metrô. Um projeto que ele conhece desde 1978, quando tudo começou na Sé, e que já o fez percorrer diversas estações em busca de painéis, quadros e as esculturas.

Na manhã seguinte, desejou contar pra todo mundo:

– Olha, tem uma exposição permanente muito boa lá na estação Marechal…vai lá ver.

No fundo, sabia que não iria fazer isso. Cada qual deve descobrir o jeito de olhar e perceber a sua cidade. Arte tem dessas coisas. Viver de olhos abertos também.

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Gil Guzzo – é autor, ator e diretor. Em teatro, participou de diversos festivais, entre eles, o Theater der Welt na Alemanha. Como diretor, foi premiado com o espetáculo Viandeiros, no 7º Fetacam. Vencedor do prêmio para produção de curta metragem do edital da Cinemateca Catarinense, por dois anos consecutivos (2011 e 2012), com os filmes Água Mornas e Taí…ó. Uma aventura na Lagoa, respectivamente. Em 15 anos como profissional, atuou em 16 peças, 3 longas-metragens, 6 novelas e mais de 70 filmes publicitários. Em 2014 finalizou seu quinto texto teatral e o primeiro livro de contos. É fundador e diretor artístico do Teatro do Desequilíbrio – Núcleo de Pesquisa e Produção Teatral Contemporânea e é Coordenador de Produção Cultural e Design do Senac Santa Catarina. E o melhor de tudo: é o pai da Bia e do Antônio.

 

 

 

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Fragmentos de um diário – 14

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…” a tua saudade corta feito aço de navaia”…

Não sei de qual dos dois eu gosto, nem sei se gosto de alguém ou se gosto dos dois.

Será que vão ser sempre dois e o o meu destino é sempre me sentir no meio?

Uma parte de mim é pra você, a outra para tu, uma outra é só minha. Minhas partes são divididas e cada uma é para alguém especial e cada uma é para mim.

São para o mundo, são para ser.

Ser tudo, muito.

28 de março – Gisa Luiza – 20 anos

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Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde escreve contos, poesias e crônicas nesse blog. Publicitária e empresária. Divide seu tempo entre sua agência Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa 🙂 . A personagem Gisa Luiza do “Fragmentos de um diário” é uma homenagem a suas duas avós – Giselda e Ana Luiza.

 

 

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Dois anos de São Paulo

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Há frases que me ocorrem diariamente.
Uma delas está merecendo quase o posto de clichê de tanto que me frequenta os pensamentos:
No mundo dos adultos, fazemos opções e pagamos por elas.
Hoje, por exemplo, estava relatando um pouco da minha (louca) rotina para uma professora e ela, sem cerimônias, manifestou – até com simplicidade – a sua inveja da minha agenda. Dizem que inveja confessada é menos perniciosa. Eu espero que seja. No entanto, eu lhe disse exatamente isso: Professora, hoje eu estou aqui, amanhã, ali. Num dia, tenho uma atuação com um grupo, dou uma palestra sobre storytelling numa empresa, por exemplo. Noutro, faço uma reunião com um grupo diferente sobre atividades extracurriculares. Na segunda, tenho lançamentos de viagens para o sudeste do país. À tarde, vou conversar com alunos de outra cidade sobre meus livros. Parece atraente, e talvez até seja realmente. Não estou reclamando. Mas que tem preço, tem.
Nestes dois últimos anos, fiz escolhas e paguei por todas elas. Sou feliz? Não. Felicidade é um lugar para o qual sempre estou a caminho. Sou infeliz? Também não. Infelicidade é outro lugar. Um logradouro que visito, às vezes de noite quando procuro o riso dos meus filhos (e não encontro), outras vezes quando penso na maldade humana (ou a sinto queimando na pele). Mas, não é terreno aprazível que se erga morada.
Faz dois anos que revolucionei a minha vida. Mudei as regras. Atirei fora as velhas roupas, antigos hábitos e aquela forma sempre igual de viver, de agir, de pensar. Eu olhei para a sala de aula do meu futuro e cabulei aula. Faltei ao serviço do meu destino. Subverti o esperado. Alguém fez a chamada e eu não estava presente. Vieram falando de telha e eu pedi melancia.
Tudo parecia tão simples. Parecia. Previsível é a palavra. Considerei a previsibilidade uma maldição e corri dela como o diabo foge da cruz.
Eu fugi?
Decerto.
Fugi da apatia dos dias ordinários, comuns, burocraticamente cotidianos. Dos dias diários demais para meu gosto.
Glamouroso? Nem tanto. Calce os meus sapatos e você vai ver que nada (nadinha mesmo!) foi ou é tranquilo e fácil.
Mas, pagando as minhas promissórias, aprendi muita coisa nova e aprendi minha coisa que já sabia. Tanto que hoje sei que devia – antes – ter sabido. E me arrependo da ignorância do que sei e do que nunca nem sequer desconfiei. Queria ter sabido mais. Isso teria evitado tanta dor. Tanta dor minha e de tanta gente que me importa. Hoje sei destes saberes e eles me doem todos os dias.
Sei das misérias alheias e do alcance das suas maleficências. Mas sei também que nenhuma me machucou tanto quantos as próprias.
Sei que há momentos limítrofes, sentimentos limítrofes e pessoas mais limítrofes ainda.
Sei que também me orgulho pelos obstáculos que saltei, por nunca ter cedido à tentação dos bajuladores, por jogar o jogo limpo, pelos amigos que fiz, pela gente que amo, pelos filhos que fiz, pelo trabalho bem feito, pelas pessoas que – de alguma forma e sei lá como – inspirei e, muito, pelos atos de mais pura coragem. Quanta coragem já tive! Até de ser covarde, aqui e ali.
Sei hoje que a descoberta da sua essência é realizada todos os dias, mas – principalmente – nos momentos extremos. Quando tudo está bem demais ou inexoravelmente mal. Raramente, o sujeito se comporta com dignidade nesses instantes.
Sei menos que deveria. Porém, mais que poderia.
Sei com um saber, às vezes jocoso, às vezes raivoso, um tanto cansado.
Sei com aquela sapiência dos desavisados, dos loucos e lunáticos, mas sem a certeza benfazeja dos muito jovens. É que só os garotos têm certezas absolutas.
Nós,adultos, as trocamos anos atrás por medos e dúvidas. E as certezas ficaram todas espalhadas pelo chão do quarto, algumas extraviadas, perdidas para sempre. Perto dos sonhos.
Sei disso tudo e de tanto nada.
Assim foram estes últimos anos: descobertas de mundo, de mundos. Principalmente do meu.

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Max Franco – É formado em Letras, é professor de Lingue Portuguesa, Lingue Italiana, Literatura e Redação, além de guia de turismo. É especialista em História da Cultura e em Inovação em educação. Atualmente, atua como Diretor do Grupo ATMO Educacional em Campinas e Coordenador de eventos e viagens do Colégio Santa Cecília de Fortaleza. Professor convidado da USP e do IBFE – Instituto Brasileiro de Formação de Educadores. Consultor de Turismo. Consultor Sênior da AYR Consulting Worldwide. Tem seis livros publicados; Na corda bamba, No fio da navalha, O confessor, Palavras aladas, Palavras amargas.

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Donos da verdade

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E se nosso jeito há de espantar os outros

É porque já fomos espantados

por esse mesmo jeito

E compreender modos, maneiras; é difícil

Então, me surpreendo de repente

e te surpreendo

Nós surpreendemos e aprendemos

Falta tanto para sermos perfeitos

mas somos os donos da verdade,

a que criamos.

Quem está certo afinal?

Eu?

Você?

Eles?

Vivemos sim em planetas diferentes.

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Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde escreve contos, poesias e crônicas nesse blog. Publicitária e empresária. Divide seu tempo entre sua agência Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa 🙂