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O Retrato de Dorian Gray

Vou fechar os olhos e o primeiro livro que aparecer na minha mente eu escolho, O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde.

A primeira vez que li, gostei tanto, que não consegui parar… Não interrompi a leitura de jeito nenhum.

O Transtorno de personalidade narcisista do protagonista do livro nos assusta. Dorian Gray se entrega, completamente, ao modo de vida de Lord Henry Wotton (um dândi da aristocracia Vitoriana)… Uma espécie de pacto com o demônio que se inicia com a obra prima de Basil Hallward (um pintor moralista que faz o retrato de Dorian Gray).

O livro traz, entre outras personagens, Sibyl Vane. A jovem atriz e cantora, que se apaixona por Dorian Gray e se mata ingerindo ácido cianídrico… E também James Vane, irmão da atriz, um marinheiro que, sem sucesso tenta vingar a morte da irmã… Um livro magnífico.

Um livro magnífico.

Fernando Farah – Belo Urbano, graduado em Direito e Antropologia. Advogado apaixonado por todas as artes!

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A Bolsa Amarela

Procurei nas minhas prateleiras e não encontrei A Bolsa Amarela. Não, leitor se você pensa
que estaria no armário de roupas, você está muito enganado. Seria nas prateleiras da
biblioteca particular, em quarto pode morar, ali livros organizados por ordem de sobrenome
do autor: Nunes, Lygia Bojunga.

Liliane, por Lygia ser uma mulher, você não deveria tratá-la como gênero feminino?
Com segurança respondo: não sei. E sei que você que me lê hoje, possa ser um leitor, uma
leitora ou leitorx. E estou muito feliz por ter meu texto lido! Fica aqui registrado, meu muito
obrigada!

Foi dentro da Bolsa Amarela que vi meus desejos e angústias de adolescente muitos
parecidos com a da personagem principal. Uma menina chamada Raquel e ela tinha três
desejos: ser menino, ser gente grande e escritora.

A Raquel, amiga de um galo chamado Rei. Eu hoje adulta realizada, quase escritora e amiga do
Otelo Otelino, ora cão, ora menino – O Grande Ator Canino -; entendo a mais pura vontade de
ser menino. Em um mundo que somos educadas para sermos quietas, servis e realizadoras de
vontades alheias. No ar o anseio pela liberdade.

E em 2019, a notícia de censura. Um vereador na cidade de Limeira- SP, em nome da família,
da moral, bons costumes e outras coisas que só fazem os sonhos morrerem, conseguiu
enxergar “Ideologia se Gênero” no livro, quis retirá-lo da grade de leitura dos estudantes.
Gente esdrúxula! Quadrada! Enferrujada. Tomara que tenha conserto. Quem sabe, tenham o
mesmo destino do alfinete encontrado por Raquel. Ela o pegou, o limpou, o desentortou, o
desenferrujou, experimentou na pontinha do dedo. E viu que ele era afiado toda vida! Poxa! E
mesmo assim o pôs pra morar no bolso bebê da Bolsa Amarela.

Que os sonhos sempre sobrevivam e planem no céu livres como pipas.

Liliane Messias – Bela Urbana, é pagadora de profissional: bancária. Cresceu na hoje vacinada cidade de Serrana-SP. Fez Letras em Araraquara. E adora dançar.
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Entre as estações de Paris e Rio de Janeiro

Era uma noite de setembro, nos meus idos vinte e poucos anos, e meu eu ali, enfiado num assento de janela, no fundo vazio de um 432 laranja, em sua inconveniente mania de dar a volta ao mundo. Um ritual de respeito, que seguíamos à risca, ele e eu, devo dizer.

A viagem era a mesma, na missão de me devolver pra casa – o trapo que fosse, depois do dia desafiado entre trabalho e faculdade, e eu ia assim, me escondendo do sono entre os capítulos do livro da vez, nas esquinas do “era uma vez” escolhido, cortando a cidade com o fio da imaginação.

Até que, de uma só vez, e sem qualquer antecedente, me vi preso inconteste numa Paris de 1820, alheio ao peso incômodo daquela edição antiga de “Os Miseráveis”, dada a completa anestesia de ver caber, também ali, meu Rio de Janeiro de 2004 perfeito nas falas cruas daquele autor hipnótico.. – E eu jamais voltei daquela viagem.

Até hoje, muitos eus depois, não sei escolher o que, especificamente nas linhas daquele tijolo verosímil, levou embora a parte de inocência que precisava mesmo ir, dando lugar e voz a uma consciência que até hoje fica e grita por humanidade e igualdade.

Talvez Jean Valjean, andando à toa pelas ruas de Vila Isabel, tenha visto pela janela do ônibus o tanto que eu não podia enxergar de realidade a minha volta. E em mais uma de suas generosas jornadas de resignação, fez sinal pra mim e me acordou desse transe insano que nos cega diante da miséria cotidiana.

Não sei… mas aprendi, naquela inesquecível volta ao mundo, que “viajar é um constante nascer e morrer”, e que aquele “eu” que nascia, entre as estações de Paris e Rio de Janeiro, saberia pra sempre o valor de um pão, de um livro preferido, e o da mais justa empatia.

Bernardo Fernandes – Belo Urbano. Um gêmio canceriano, e um ingênuo de 35 anos, nesse contínuo processo insano de se descobrir. Achou na Comunicação uma paixão e uma labuta, e vive nessa luta de existir além do resistir, fazendo diferente e diferença… Ser feliz de propósito, sabe? Sem se distrair desse propósito. E vai assim, escrevendo o que a alma escolhe dizer, tocando o que a viola resolve contar, fazendo festas com cachorros e amigos perdidos, e brincando de volei, de pique, e de ser feliz na aventura da sua viagem. Vai uma carona?
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Onde era livro, onde era eu

Já passaram pelo menos 53 anos desde meu primeiro livro. 

As leituras me acompanharam nas insônias, nos dolce far niente dos momentos de folga, na compulsão desmedida ao fazer pedidos ao Círculo do Livro, nos aeroportos….

Conheci lugares, pessoas, diálogos criados por outros, a ponto de nem mais saber onde era livro, onde era eu.

Todos os estilos, capa dura, brochura, romance, poesia, policial, terror, ficção…. de tudo um pouco.

Daí começou a busca pelo espelho.

Pela fonte da saciedade que vem com o tempo.

E,  já cansada de tanto tentar, vi um dia o reflexo da minha mente, do meu coração. “Parto de Mim”, da Ana Jácomo. Foi assim.  Simples assim. 

São grades da memória. Construídas de forma gradativa e soldadas firmemente. 

Medos, indecisões, reflexões… tanta solda de boa qualidade. 

Sonhos como serras rompem o pensamento repetitivo e me jogam para longe de onde caio em pé. 

Não há flores no caminho. 

Apenas vento me impulsionando ferozmente. 

Não sei aonde chegarei.

Mas não posso desistir. 

E espero pelo meu amanhecer. Os sons do fim de madrugada já me tiram do estado hipnótico do sono profundo.

Espero pelo meu amanhecer.

Ruth Leekning – Bela Urbana, enfermeira alegremente aposentada, apaixonada por sons e sensações que dão paz e que ama cozinhar.  Acredita que amor e física quântica combinados são a resposta para a vida plena.
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Sobre livros e seus efeitos

Como muitas pessoas sou uma leitora, as vezes constante, as vezes nem tanto, certamente ao longo da vida sempre leitora, para a importância do livro em minha vida posso utilizar de variados adjetivos: essencial, crucial, relevante, significante, terapêutico e até imprescindível.

Fazendo uma breve retrospectiva, me lembro dos contos dos Irmãos Grimm, nos idos dos anos oitenta, em casa o dinheiro era curto, meus pais tinham preocupações financeiras maiores do que gastar na compra de livros, felizmente meu avô ganhou uma coleção linda de capa dura dos Irmãos Grimm e foi aí que eu me encantei com a ficção, aqueles contos estranhos povoavam minha imaginação, tinha medo e ao mesmo tempo me maravilhava com as histórias, fui crescendo e encontrei “O colecionador” me deparei com a obsessão e psicopatia, um universo de vocabulário muito alheio ao que eu estava acostumada, no meu ambiente todos eram muito humildes e nem tinham frequentado a faculdade, esse livro me trouxe palavras que eu buscava no dicionário, apesar da dificuldade no entendimento, rapidamente  me envolvi tanto na história que andava na rua com medo das pessoas, me compadecia da vítima  e no fundo (não sem culpa), também do sequestrador, quando o livro terminou fiquei impactada por dias e dias.

Quando li “Eu, Cristiane F., 13 anos, drogada e prostituída” fiquei chocada com os detalhes tão esclarecedores e a coragem do relato, também vi o filme e apesar de ter tido contato com drogas em diferentes épocas da minha vida ouso dizer que aquele livro me livrou (desculpe o trocadilho) de muitos problemas, sempre tive na memória o retrato da degradação humana descritos naquele livro e isso me manteve longe de passar de determinados limites em se tratando de drogas, recentemente a curiosidade me levou ao segundo livro “Eu, Cristiane F., a vida apesar de tudo” e pude comprovar como as drogas destruíram a vida dela e como ela vive hoje.

Amei ter encontrado “O lobo da estepe”, foi um mergulho interior, me identifiquei tanto com essa obra, me fazia refletir sobre a vida e até doía, parecia que ia me dominar, naqueles dias me lembro de não querer nem interromper a leitura, me sentia deprimida e ao mesmo tempo tão viva, enfim só mesmo quem sente o mesmo para entender o impacto daquelas palavras. Depois veio “Cem anos de solidão”, que livro!

Enfim, são tantos livros maravilhosos que passaram por minha vida, cito alguns mais recentes: A quadrilogia de Elena Ferrante “A amiga genial”, seu estilo é incomparável, cheguei a ter o luxo de ficar um sábado todo lendo, foi uma delícia, uma enxurrada de sentimentos, chorei, sorri, me emocionei, viajei, me deprimi, me decepcionei e finalmente chorei de saudades dos personagens, nunca tinha tido a experiência de ler livros tão extensos e foi uma ótima surpresa ver como podemos nos aprimorar no hábito da leitura e ao contrário de fazer dieta é muito mais fácil.

Acredito firmemente que além de nos trazer conhecimento, nos modificar culturalmente os livros moldam nosso caráter para melhor, e seus efeitos são terapêuticos, já fiz terapia em diferentes momentos da minha vida, mas nenhum psicólogo foi capaz de despertar mudanças duradouras e compreensão profunda, uma maneira totalmente nova de pensar sobre determinado assunto (os famosos “insights”) quanto os livros conseguiram fazer comigo.

Quando li um texto do escritor Neil Gaiman sobre ficção e a importância da leitura, chorei, pois, percebi todos aqueles benefícios advindos da leitura em minha própria vida, muitos livros me salvaram da angústia, me mostraram outras soluções e me levaram a voltar a amar e a nunca deixar de acreditar que tudo pode melhorar não importa o tamanho do poço. Deixo aqui o link https://papodehomem.com.br/neil-gaiman-e-o-poder-da-leitura/.

Finalmente não poderia deixar de mencionar humildemente como me senti honrada em participar com um texto no livro “Precisamos falar sobre relacionamentos abusivos” iniciativa da idealizadora do projeto Adriana Chebabi desse blog.

Com os que já foram fisgados pelos efeitos do livro na própria vida eu termino compartilhando meu absoluto e irrestrito amor pelos livros e com os que ainda não, eu os encorajo a provar.

Eliane Ibrahim – Bela Urbana, administradora, professora de Inglês, mãe de duas, esposa, feminista, ama cozinhar, ler, viajar e conversar longamente e profundamente sobre a vida com os amigos do peito, apaixonada pela “Disciplina Positiva” na educação das crianças, praticante e entusiasta da Comunicação não-violenta (CNV) e do perdão.