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Carta de um estudante

Meu nome é Igor, sou um estudante de filosofia do 3ºano na Puc Campinas. Atualmente refazendo matérias. Escrevo aqui primeiramente em meu nome, e em segundo escrevo pelo que vejo em meu País. Uma coisa estranha de dizer para mim , é o fato de que hoje meu País está em guerra. Não uma guerra armada, uma guerra de sangue ou mesmo uma guerra de violência, mas sim uma guerra de ideias. Uma guerra de ideais. Escrevo isso em uma tarde de 2019 para falar sobre o que vejo e o penso de como nós brasileiros estamos. É um texto pessoal, de opinião, e se você não gosta de opiniões contrárias as suas, sugiro que leia o que tenho a dizer mesmo assim. Vamos lá.
Nesse momento muitos brasileiros estudantes e professores estão com raiva. Muita raiva. Alguns apenas indignados, outros decepcionados, mas todos com raiva. Raiva de tudo o que estamos fazendo por nós mesmos. Existem aqueles que em ordem de “salvar o país” estão o destruindo e o matando cada vez mais. Cortes financeiros estão sendo feitos em ordem de melhorar a santa economia, a maior de todas as bem feitorias nessa nação. Ou é o que eles dizem. Mas eu me pergunto, como que salvar a nação significa o mesmo que matar o nosso futuro? Crianças sem estudo, um País sem professores, sem escolas e com cada vez menos universidades e oportunidades para as pessoas.
Um fato inegável é que os pobres são sempre pobres e os ricos são sempre ricos. Não porque os pobres queiram ser pobres, mas sim porque os ricos não querem deixar de ser menos ricos. Houve um tempo em que foi dito que a universidade era para todos e eu acreditei fielmente nisso. Ainda acredito, mesmo que com o tempo tenha começado a ver como o cinismo é forte nessa frase dependendo de quem o fala. Eu sou Igor, um cara de 23 anos, bolsista em uma universidade que não é nem um pouco pública, estudando ali apenas porque tive uma oportunidade pelo Prouni e pelo Enem. Meus pais não tinham essa mesma oportunidade na época deles. E mesmo sendo bolsista o que escolho fazer? Filosofia. Um curso que dificilmente me trará um retorno financeiro tão bom quanto uma engenharia ou uma medicina poderia dar. Não escolhi esse curso pois precisava de grana, o escolhi pois é o que amo fazer. Não é isso que uma democracia deveria significar, ter liberdade para fazer o que quero, seguir os meus sonhos? E ainda assim, desde que entrei na universidade, só pude perceber cada vez mais o abismo que existe na sociedade.
Como disse antes, não sou um pagante na universidade não pública que estudo, mas um bolsista. Não vou mentir e dizer que sou mais um pobre fodido que não tem o que comer e nem onde viver. Mas também NÃO SOU alguém cujo pai pode pagar para eu estudar em uma universidade boa como a que estou agora, ou mesmo mudar de cidade, ou tentar algo no exterior. Simplesmente não dá! Se eu vivo minimamente uma vida digna hoje é devido a meus pais que se foderam muito enquanto cresciam porque se esforçaram e lutaram por uma vida melhor do que a que eles tinham na infância. Crescer com vários irmãos, sem dinheiro para nada, tendo que dividir o pouco quase nada que tinham. É desesperador pensar em como eles viveram. Sou um privilegiado nesse sentido. Graças a eles, que tenho o que tenho hoje. E ainda assim, existem milhares de pessoas hoje que dizem que os professores são inimigos, que o ensino é algo doutrinador e que as universidades são apenas “ambientes de drogas e putaria”. VÃO SE FODER essas pessoas, é o que tenho a dizer.
Eu já vi gente na universidade (nessa minha bela universidade não pública) sofrendo pois tinham que pagar as contas no fim do mês e não sabiam se conseguiriam. Já vi gente tendo que vender doces e salgados de sala em sala para conseguir uma graninha extra para sobreviver, pura e simplesmente. Uma das melhores pessoas que conheço, um homem de trinta e poucos anos, com dois filhos, e um salário não muito alto, conseguiu através de uma bolsa uma vaga na faculdade e estudou comigo por cerca de um ano. Ele estava lá pois era o sonho de uma vida estar formado. E eu vi após esse um ano, ele se ver obrigado a sair pois não conseguia conviver com uma rotina de trabalho, estudos e cuidar dos filhos, tudo ao mesmo tempo. Estava o tempo todo arrasado e cansado pois não conseguia lidar. Ele é um, mas existem vários outros na mesma situação. Como um homem que veio do estado de Minas Gerais para a cidade de Campinas em busca de um futuro melhor que não fosse trabalhar em uma fábrica para o resto da vida. O mesmo homem que veio praticamente sem dinheiro para cá e sem lugar pra morar. E dezenas de outras pessoas que lutaram para estarem aqui, se desgastam, desenvolvem depressão, ansiedade, medos e terrores pois não sabem como será o dia de amanhã!
Eu mesmo (falando particularmente) já tive ataques de pânico, ansiedade, insônia, apenas porque não sabia se conseguiria lidar com o dia de amanhã. E eu sou um privilegiado comparado com os outros que citei, pois embora leve duas horas de ônibus até o curso que amo, eu ainda moro na mesma cidade onde estudo, tenho uma cama e comida boa todos os dias, e não preciso me preocupar com o que meus filhos terão o que comer amanhã, como muitos ainda fazem todos os dias.
E existem aqueles que querem acabar com as oportunidades que eu tive. 
Quero que meus filhos um dia tenham condições de serem melhores do que eu e que também façam aquilo que amam em suas vidas. Pois tudo o que sou e tenho agradeço a meus pais, tanto pelo esforço gigantesco que fizeram até hoje, quanto pelas oportunidades que conseguiram.
Quero um estudo possível, para todos.


Igor Mota – Belo Urbano, um garoto nascido em 1995, aluno de Filosofia na Puc Campinas. Jovem de corpo, mas velho na alma, gasta grande parte de seu tempo mais lendo do que qualquer outra coisa. Do signo de Gêmeos e ascendente em Aquário, uma péssima combinação (se é que isso importa).

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