No texto poético “Morte e vida severina”, o escritor João Cabral de Melo Neto narra a história de um sertanejo, retratado como “Severino”, que deixa sua terra natal por causa da seca. O retirante sai em busca de vida, sai em busca de algo que lhe dê esperança.
Na caminhada encontra um lugar de boa vegetação e trabalho. Por um momento, o cidadão pensa ter encontrado o que tanto buscava. No entanto, ele se depara com a morte de um dos trabalhadores e as marcas registradas no sofrimento de quem lá vive se aflora de tal forma que o retirante percebe que aquele não é o lugar que ele tanto buscava. Então, ele decidi continuar sua jornada em busca de esperança.
O sertanejo desejoso por vida chega até a capital e se choca com as mazelas do centro urbano. A condição de sobrevivência sub-humana continua e com isso o Severino fica totalmente desesperançado. Todavia, algo promissor acontece: o nascimento de uma criança.
No final do texto, o Severino conversa com um carpinteiro sobre a descrença na vida. Sabiamente, o carpinteiro respondeu que “defender a vida em palavras é difícil, pra não dizer impossível”. O Severino pergunta: “Vale a pena viver?”. O carpinteiro diz que resposta para essa pergunta é dada pelo próprio espetáculo da vida, não importando se o espetáculo será o nascimento de mais um ser para viver essa vida severina. E “não há melhor resposta que o espetáculo da vida”.
O poema “Morte e vida severina” foi escrito em 1950.
Vida severina – vida sofrida.
O ano de 2020 apresentou um sofrimento a todos nós e escancarou a fragilidade da existência humana. Não saímos de casa, literalmente. Em compensação, figuradamente, saímos em busca de algo interior. Vasculhamos memórias. Rememoramos muitos momentos e nos questionamos como o Severino.
A minha resposta para 2020 é:
O movimento da vida faz a gente incessantemente buscar “vida” e não apenas “existência”.
O nascimento renova a esperança e anuncia uma boa-nova.
Que não nos falte a esperança … porque um menino nasceu. É natal!
Feliz Natal!