Há um ano atrás eu estava lá. Na casa da Dora. Os cachorros brincavam, nós conversávamos muito, falávamos do jardim, tão lindo. Somos amigas há 42 anos. Lá eu cozinho, sento na varanda, sou acolhida de uma forma deliciosa.
A CNN entrou no ar, logo trazendo a notícia de um vírus com alta taxa de letalidade chegando abruptamente no Brasil, medidas de contenção sendo discutidas, lockdown na Itália…… isso assustou, provocou silêncio na mente, no coração e no olhar.
Ficamos perdidos.
Será que minha cachorrinha e eu conseguiríamos voltar para casa sem problemas?
A Dora e eu gostamos de costura. Então fizemos nossas primeiras máscaras. O marido dela – Edison – acompanhando as notícias todos os dias.
Voltei. Assustada, passei quarenta dias isolada, quieta, um misto de medo e incredubilidade.
Nesse meio tempo minha cachorrinha morreu. Toda dor ficou acentuada como se fosse um espinho no peito, um espasmo sem fim na garganta. Meus vizinhos Simone e Rodrigo trouxeram um jantar para mim.
Ir à horta a cada dez, dias virou o melhor programa do mundo!
A TV pifou. E fui acudida pelo Rafael, que me trouxe uma extra. Que delícia falar com alguém, ver alguém querido!
É assim foram seguindo os dias, o sentimento de orfandade sendo acentuado.
No dia das mães fui adotada. Cinco mulheres incríveis me incluíram no café da manhã surpresa para a mãe delas (minha prima querida). Fui surpreendida com flores, doce com velinha e um inesquecível coro de vozes no meu “parabéns a você, nesta data querida…”.
Esse ano não está sendo fácil para ninguém. São tantas idas e vindas politicas, tantas mortes, tantas pessoas irresponsáveis, mas…. EU FUI ADOTADA. E ADOTEI. Um cachorrinho que estava quase morto e, pesando 300g, e hoje está incrivelmente sadio.
Penso que a pandemia ficará para sempre em mim como o melhor e um dos mais difíceis períodos da minha vida.
Periodo de muitas reflexões, adaptações.
Desejo profundamente uma adoção para todos.
Porque quero voltar para a casa da Dora.