Tempos de bailinhos na garagem com vitrolas revestidas de vinil, long. plays, compactos de sucesso, tudo sempre preparado para se dançar livre ou coladinho.
A cidade pequena, turma do colégio, turma de sair, de frequentar a casa… se tivesse um aniversário todos eram convidados; “bicão”, como se dizia na gíria da época, só se não fosse da turma, mas se fosse, poderia chegar em qualquer festa e levar a irmã, porque essa também era da turma.
E lá fui eu com meu irmão, num domingo à tarde, na festa do aniversário do novo menino da turma, filho da professora de OSPB, (para quem não sabe, OSPB – Organização Social Política Brasileira) que se mudara de Campinas com a família porque o pai advogado, com clientes na cidade, e a mãe efetivada no colégio.
Aniversários na garagem eram assim: nada de álcool, adultos supervisionando, músicas tocando… e a música proibida que causava “frisson” era “Je t’aime moi non plus”, Canção de Jane Birkin e Serge Gainsbourg, e ele me tirou pra dançar.
Nada ocorreu de mais próximo durante os anos que fomos amigos de turma. Meu irmão e ele, sim, se tornaram grandes amigos, andavam de bicicleta, viajavam juntos, aprontavam juntos.
Ele, um menino diferente, com hábitos de cidade grande (Campinas, na nossa imaginação, já era uma Metrópole), namorou amigas em comum; enquanto eu me mantinha fiel a uma “paixonite” de adolescente que me acompanhou por anos. (Mas essa é uma outra história). Ele fazia a sensação entre as meninas por ser diferente (articulado, inteligente) e tinha amigos e primos “gatos” que sempre trazia nos finais de semana para ficar na sua casa.
Desde aquele dia quando dancei com ele a proibida “Je t’aime mói non plus”, nada aconteceu entre nós, a não ser um episódio, 10 anos depois (1979), num encontro rápido de amigos saudosos que, em função da distância, (já que agora ele estudava na USP) e não se viam há tempos, teve muito beijo na boca… beijos que nenhum dos dois havia programado … e não passou disso.
Vida que segue. A minha. A dele. Não nos vimos mais.
Anos e anos depois, eu, divorciada, passei a ser o interesse de um também amigo; amigo daquela turma da cidade onde morei (até hoje tenho vínculos porque lá residem boas amigas e a minha família).
Esse amigo pretendente ao cargo de namorado sério numa insistência que, para mim extrapolava, buscava situações e conhecidos para que me decidisse ao compromisso. Era bombardeada diariamente com telefonemas pela manhã, tarde e noite… inúmeras mensagens para que eu acordasse, comesse, dormisse; era bom dia, boa tarde, boa noite e tudo mais… só eu não estava “de boa” porque me sentia vigiada… Cercava amigos, família, vó, vizinha… todos que pudessem me convencer a aceitá-lo como namorado. (Afff…)
Mas, como tudo na vida tem um “mas”… eu que estava buscando tropeçar no homem que seria meu amor, tal qual a cigana tinha previsto quando leu a minha mão, eu seguia fugindo do amigo que queria o compromisso sério e, ao responder a uma amiga em comum, via privado do Facebook, que ele também procurara pra me convencer… na página chamou minha a atenção aquelas janelinhas de amigos, pois havia um nome conhecido e muito único… só podia ser ele… o amigo que não via há quase 23 anos.
Mando um convite solicitando amizade e encaminho uma mensagem… a resposta veio imediatamente. (Era 03 de junho de 2011).
Naquela sexta-feira trocamos mensagens de oi, como vai, onde estás e, cinco dias depois um convite para nos encontrarmos…. Sugeri um café, ele, um jantar.
Às 20:30 passou em casa.
Comida italiana, vinho, conversa e 2 telefonemas do amigo insistente candidato a namorado; saímos da Tratoria e a música era “Amor I love you”.
A cigana acertou quando leu o meu destino. Casamos!
E o fim da história não é: “e foram felizes para sempre”, porque felizes para sempre não existe. Mas felizes, sim!