Excluindo relações tóxicas, violentas e outras que rasgam páginas e fogem ao que deveria se considerar saudável, os encontros humanos talvez possam ser comparados ao encontro entre dois cadernos com lápis nas mãos. Explico:
Eu sou um caderno com um lápis na mão indo ao encontro de outro caderno com seu respectivo lápis na mão. Irei escrever minha história no outro caderno, e ele irá escrever sua história em meu caderno. Simples assim.
Mas há cadernos que não gostam do que o outro escreve, mas gosta da caligrafia. Há os que não gostam das caligrafias, mas adoram o conteúdo. Há aqueles que reclama da força do Grafiti, mas encantam com as frases. Há os que, apesar da poesia, não suportam a cor da escrita.
Há aqueles que não conseguem virar a página e se abrir para um novo texto. Há aqueles que apenas querem escrever, não recebem nada. Há os que impõe que se receba sua escrita ou o digam receber a história, sem recíproca. Há quem goste apenas de frases e quem exija ilustrações hiperrealistas e fotos bonitas, mesmo sem história alguma.
Há até a crítica das histórias alheias. Os caga-regras de lápis sem ponta. Os engenheiros da planta pronta. Há de tudo.
É assim, qualquer relação é uma escrita. Um lápis que anota no caderno do outro a história de que é capaz, e reciprocamente a recebe. Se não combinam os lápis e cadernos a busca continua. Um novo emprego, uma nova amizade, um relacionamento amoroso, uma parceria qualquer. Segue a vida em busca de boas histórias.
Afinal o saldo é um best seller que, de poucas frases a milhares de páginas, precisa orgulhar o caderno. Ao final da vida, sobra um toquinho de lápis, feliz pelo que escreveu. Se isso não houver, ainda assim, restará um tempinho para arrematar um bom enredo sem uso de borracha. Um lápis novo ou um caderno vazio é, portanto, um desperdício e o arrependimento não cabe. A riqueza é o gasto!