Leitor voraz da Folha,
Aguardava sentado na varanda,
Enquanto folhas despencavam,
Ele olhava e admirava, de antemão,
Folhas farfalhando pelo chão.
No entanto, esperava a Folha,
Cuja notícia diária analisava,
Pensava, discutia e comentava,
Assim foram anos e décadas,
Analisando seu Palmeiras,
Gambás, odiando a vida inteira.
Hoje, vejo uma, duas, três, várias,
Folhas caídas ao chão da varanda,
Farfalham o papel da Folha,
Com outras despencadas,
Pela ação dos ventos,
Das árvores arrancadas.
Ele deixou de esperar,
Folhas, estão a se amontoar,
Lhe falta agora e não por hora,
Mas, para sempre a visão,
De longe tudo vê,
A Folha não mais lê.
Continua vivo, feliz e ouvindo,
Com a dificuldade da idade,
Enxergando onde a vista alcança,
Porém, para leitura próxima,
A perda sem solução ou esperança.
Fez noventa e um,
Família presente,
Velas a apagar,
Ele impávido,
Discursou sobre a vida,
Diante de pessoas queridas,
Não reclamando de nada,
Agradecendo a Deus,
A saúde ofertada.
Passei pela varanda,
Depois da festa terminada,
As Folhas se entreolharam,
Imaginando que eu fosse lê-las,
As ignorei por muitos motivos,
Por enquanto e felizmente,
A visão me acompanha,
Com a qual posso
A Folha, ignorá-la,
Ao contrário das folhas
De todas as arvores,
De belezas intermináveis,
Como verdades inenarráveis.