No Almanaque da Jovem Guarda lançado em 2006 pela Ediouro consta que o bairro da Tijuca foi o berço perfeito para Erasmo Esteves. Sua mãe, Maria Diva Esteves, declarava-se viúva, para que o filho não tivesse traumas, pelo fato de ser mãe solteira. De acordo com a biografia do cantor “Minha Fama de Mau”, seu pai não assumiu a gravidez de sua mãe na época. Maria Diva veio de Salvador para o Rio de Janeiro, de navio, junto com a avó e os tios antes do seu nascimento. Ele conheceria o pai, na Bahia, aos 23 anos de idade, quando já era famoso. Por esses motivos Erasmo se considerava “quase baiano”.
Aos 14 anos ele participava da Turma da Matoso, o que significava serenatas de rock’n roll nas madrugadas, ao lado de Jorge Ben, Sebastião (Tim) Maia e outros rebeldes. Havia muito preconceito contra a turma do rock da Zona Norte. Mesmo proxima ao centro da cidade, a Tijuca era vista pelos próprios cariocas como um subúrbio distante.
O incontornável Gigante Gentil, com seus 1,93m de altura, passou pela Jovem Guarda como um de seus principais compositores, além de ter sido um dos apresentadores do programa de TV, que levava o nome do movimento. Seguiu pelos anos 1970, 80, 90 e 2000 com uma carreira fonográfica sólida. Enquanto compositor e músico influenciou gerações de artistas, deixando-se atravessar por variados ritmos e estilos musicais. Caetano Veloso entusiasmado corrobora que o Tremendão nunca pareceu atraído por nada que não fosse do mundo do rock, e tanto o seu canto despojado, quanto a sua energia sexual fazem com que nenhum fã de rock no Brasil possa discordar do fato que Erasmo Carlos foi e sempre será um representante do autêntico rock’n roll.
Com o fim da Jovem Guarda, Erasmo se embrenhou pelo samba rock, pela black music e mergulhou ainda mais na música popular. Erasmo mesclava em seus álbuns solo suas raízes roqueiras com tendências da MPB de cada época.
Contaminado pelo movimento tropicalista e pela música negra americana, cravou uma sequência de sucessos na década de 1980. Com o álbum “Mulher” de 1981, o Tremendão quarentão chegou ao auge de sua carreira pós-jovem guarda. O Disco trouxe os hits: “Mulher”, “Ela é Minha Superstar” e “Pega na Mentira”. Nessas composições aparecia um Erasmo Carlos direto, sincero e bem-humorado, tratando de temas como feminismo, inflação, censura, Amazônia, drogas e outros assuntos tão candentes naquele período final da ditadura civil-militar.
O Tremendão continuou fazendo sucesso, garantiu o seu espaço na mídia, sem perder a sua fama de mau. Em 1982 gravou o disco “Amar pra viver, ou morrer de amor”. Apesar de as vendagens terem sido inferiores às do álbum anterior, o novo LP garantiu espaço nas paradas sucesso. Além da faixa que dá título ao álbum, a canção “Mesmo que seja eu” atraiu a atenção de Marina Lima, que em 1984 gravou a sua versão no LP “Fullgás”. O álbum foi um dos maiores sucessos da cantora, que explorava o pop-rock urbano. O disco de Marina emplacou a faixa-título, além da versão para “Mesmo que Seja Eu”, entre outras.
Além de Marina Lima, Ney Matogrosso, também regravou a música em seu disco ao vivo de 1998. Com suas versões corajosas, sinceras, e estimulantes Ney e Marina reivindicaram seus lugares, suas potências, suas identidades. A letra do Tremendão abraçou um público amplo e abrangente. Na sua versão Marina afirma, não sem ironia: “É…cada um de nós precisa de um homem pra chamar de seu! Mesmo que seja eu!” e faz a canção de Erasmo virar uma referência nacional. Lulu Santos disse que não haveria um pop rock brasileiro da década de 1980 se não fossem as músicas de Erasmo. Ainda completa que o Tremendão abriu as portas para ele e seus colegas de geração.
Com cabeça de homem e coração de menino, Erasmo Carlos conta em suas memórias que veio ao mundo para topar qualquer parada. Erasmo Carlos não só venceu os muitos desafios que o destino colocou no seu caminho, como se tornou um dos primeiros popstars brasileiros. Na autobiografia “Minha Fama de Mau” ele conta como o menino criado pela mãe numa casa de cômodos, superou todas as limitações e o preconceito da Zona Sul carioca, consagrando-se, junto ao amigo Roberto Carlos, como o porta-voz sentimental de milhões de pessoas
No final de 2002, os 40 anos de carreira de Erasmo foram comemorados com o lançamento da caixa “Mesmo que seja eu” – contendo toda a sua discografia no período de 1971 a 1988, repleta de material raro e inédito.
Ao longo da estrada, Erasmo Carlos foi protagonista da Jovem Guarda e da MPB, sempre com novos parceiros, sempre reformulando sua obra musical. Com o passar dos anos e uma maior abertura da cabeça, Erasmo passou a ser visto como o que sempre foi: um gigante do rock nacional, admirado e respeitado como uma das figuras mais relevantes dos primórdios do estilo no Brasil. As reações à sua morte, aos 81 anos, falam por si só. Um cara muito gente boa, Bicho! Aumenta o rádio!