Procurei nas minhas prateleiras e não encontrei A Bolsa Amarela. Não, leitor se você pensa
que estaria no armário de roupas, você está muito enganado. Seria nas prateleiras da
biblioteca particular, em quarto pode morar, ali livros organizados por ordem de sobrenome
do autor: Nunes, Lygia Bojunga.
Liliane, por Lygia ser uma mulher, você não deveria tratá-la como gênero feminino?
Com segurança respondo: não sei. E sei que você que me lê hoje, possa ser um leitor, uma
leitora ou leitorx. E estou muito feliz por ter meu texto lido! Fica aqui registrado, meu muito
obrigada!
Foi dentro da Bolsa Amarela que vi meus desejos e angústias de adolescente muitos
parecidos com a da personagem principal. Uma menina chamada Raquel e ela tinha três
desejos: ser menino, ser gente grande e escritora.
A Raquel, amiga de um galo chamado Rei. Eu hoje adulta realizada, quase escritora e amiga do
Otelo Otelino, ora cão, ora menino – O Grande Ator Canino -; entendo a mais pura vontade de
ser menino. Em um mundo que somos educadas para sermos quietas, servis e realizadoras de
vontades alheias. No ar o anseio pela liberdade.
E em 2019, a notícia de censura. Um vereador na cidade de Limeira- SP, em nome da família,
da moral, bons costumes e outras coisas que só fazem os sonhos morrerem, conseguiu
enxergar “Ideologia se Gênero” no livro, quis retirá-lo da grade de leitura dos estudantes.
Gente esdrúxula! Quadrada! Enferrujada. Tomara que tenha conserto. Quem sabe, tenham o
mesmo destino do alfinete encontrado por Raquel. Ela o pegou, o limpou, o desentortou, o
desenferrujou, experimentou na pontinha do dedo. E viu que ele era afiado toda vida! Poxa! E
mesmo assim o pôs pra morar no bolso bebê da Bolsa Amarela.
Que os sonhos sempre sobrevivam e planem no céu livres como pipas.