Eu sempre quis ser a cara da minha mãe, mas… mas quando eu era criança era muito comum um adulto me olhar e dizer: “nossa você é cara do seu pai”, eu esbravejava e respondia na hora: “não sou, sou a cara da minha mãe”, e novamente o adulto respondia, muitas vezes rindo: “não, você é a cara do seu pai”.
Eu ficava muito triste, achava que estavam me falando que eu tinha cara de homem, era isso literalmente que eu entendia e me incomodava muito, porque eu não queria parecer homem, queria ter a cara da minha mãe. Minha mãe é mulher, minha mãe é bonita. E eu sempre gostei de ser mulher, não queria parecer homem.
Incrível como os adultos não percebiam isso! Acho que na minha infância ninguém falava ou pensava em empatia, ainda mais com uma criança….
Mas vamos lá, talvez eu não seja exatamente a cara da minha mãe, mas até hoje olho fotos e procuro semelhanças físicas com ela…. mas continuam me dizendo que sou a cara do meu pai, não vejo mais isso como um problema. Cresci e entendi, ainda bem!
Hoje, adulta, mãe de filhos moços, consigo ter um olhar sobre nossas semelhanças, que são muito mais profundas que o físico.
Posso dizer que minha resiliência vem da minha mãe. E como temos essa tal resiliência…. tenho até me questionado se ter tanto é bom, ainda não tenho a resposta. Somos matriarcais, somos mulheres fortes, as vezes até duras demais, principalmente com a gente, mas temos um grande coração. Acolhemos. Não deixamos quem amamos desistir tão fácil, damos as mãos e puxamos para frente.
Temos muitas e grandes semelhanças, imperceptíveis aos olhos, mas não ao olhar.
Se isso vem da genética como nossa pressão alta que veio na mesma idade cronológica, eu não sei, pode até ser, mas acredito mais que veio da vivência, da convivência e do exemplo.
Minha mãe sempre fez muito por nós, sempre fez questão de conhecer meus amigos e os amigos dos meus irmãos, nossa casa sempre foi um gostoso ponto de encontro em várias fases de nossas vidas. Eu tento ser assim também com meus filhos, mas não sei se consigo com tanto sucesso. É também uma grande avó presente. Sua casa é um lugar de acolhimento dos seus seis netos.
Agradeço a sorte de ter a mãe que tenho. Continuo com meu propósito de ser uma boa mãe, mas isso lá na frente só meus meus filhos poderão dizer.
Se hoje vejo alguém dizer taxativamente para uma criança que ela é a cara do pai ou da mãe, eu observo a criança e dependendo do que percebo, dou logo uma outra opinião que vá ao encontro ao que percebo que a criança quer ouvir. Se é certo ou errado, eu não sei, o que sei é que me coloco no lugar daquela criança. Empátia, é isso!
PS.: Confesso que por muitos anos, me sentia insegura e com cara de homem. Pode dar risada, mas é verdade.