Depois de 35 anos o mundo não parece que evoluiu muito na questão do racismo.
Me lembrei de um carnaval na década de 80 na minha cidade em um clube que pulávamos (falávamos pular carnaval).
O tal clube tinha o melhor e mais famoso carnaval da cidade, pelo menos para a classe média e alta.
Éramos adolescentes, eu e meus amigos, nos divertíamos muito com aquela festa tão esperada. Em uma das noites, estávamos esperando mais duas amigas, que mesmo não sendo sócias, naquele dia iriam ao baile acompanhadas do pai de uma delas que era radialista e tinha entrada livre. Porém, uma delas foi barrada e não pôde entrar. O motivo? A cor da sua pele.
O pai foi chamado de lado pelo porteiro e informado que só poderia entrar com sua filha, a moça branca, a outra não. Regras do clube.
Ele foi embora com as duas para outro clube (sem regras racistas) da cidade, onde ambas puderam entrar e se divertir.
Nós, os amigos que estávamos no Clube (racista) do carnaval mais famoso da cidade, só soubemos no dia seguinte do ocorrido… o mundo era outro sem celular.
Ficamos todos indignados, mas nada fizemos. Talvez reflexo de uma juventude que ainda vivia sob o medo da ditadura, mesmo que na sombra. Que cresceu em escolas de freiras. Que era reprimida em seu questionar. Tenho vergonha de nada ter feito.
Depois de mais de trinta anos, a população negra ainda enfrenta no seu dia a dia preconceitos em várias esferas. O racismo ainda é tão enraizado, que muitas vezes passa despercebido e visto como algo normal. Não é normal. É inaceitával.
Hoje minha indignação não me permite a omissão.