Aparências só enganam quem
não vê de perto.
Com filtros, tudo é lindo.
Pareciam felizes.
Sorrisos de porcelana.
É difícil perder o poder da beleza.
A outra sempre foi cisco de pessoa.
Preconceitos era o normal.
Vidas fingidas de felizes
na família tradicional brasileira.
Todos passaram, só sobraram elas.
Fla e Flu
na memória e nas histórias.
Os ausentes.
O velho tarado.
O velório estranho.
Aquele bando de mulheres na sala.
O cheiro do perfume fedido.
A criança.
A bruxa mesquinha.
As fofocas.
A solidão.
Flu foi tomada por tudo isso.
Fluzinha a raiva herdou.
Além da nostalgia,
do culto doentio pelos mortos,
das bulas de remédios,
dos copos de requeijão na coleção,
dos carrinhos afanados.
Fla tinha brilho,
mas tinha dor e amargor.
Uma ferida que não cicatrizava
e que machucava como trator
quem a incomodava.
Arrogância.
Mentiras.
Espelho distorcido.
Peitos construídos pelo cirurgião.
Tudo justificava no seu mundo
de aparências.
Os antigos se foram.
A criança permanece.
O ciclo se rompe.
Fla e Flu se fu.
Como diz Gil: “aquele abraço”.