Eu vi claramente o que você queria me dizer, rosto serio, frio, eu já devia saber.
Não tinha como você me perdoar, era impossível você entender, arrumando suas coisas sequer olhou para mim.
Procurou por um par de brincos, que estava na comoda ao lado da cama e você não viu.
Perguntou, séria e brava, aonde estava, e eu não quis dizer, como se aquele par de brincos conseguissem te deter.
Saiu silenciosa até o carro, com uma sacola na mão e os sonhos, todos eles, derramados pelo chão.
Retornou para pegar o restante das coisas, abriu a carteira, onde repousava uma fota minha e sua, colocou na mesa e saiu.
Eu, silencioso, sentado no sofá não pude acreditar no que estava acontecendo, a ficha ainda não caiu. De repente meu mundo escureceu, as fotos nas paredes não tinha mais sentidos, você simplesmente desapareceu.
Pensei no que falamos, sei que foi erro meu, mas não fui inconsequente, não sai, perdi você, mas você também perdeu.
Poderia ter questionado, entendido, mas preferiu ir e eu fiquei, um apartamento vazio, sem você, não havia mais ninguém.
Ainda calado, busquei a toalha e fui tomar um banho, para ver se conseguiria entender.
Liguei o chuveiro, no silencio, no escuro, burro!, me julguei. Vá atrás dela! comigo falei. Não Adianta. Respondi. Ela se foi, eu perdi.
Sequei-me lentamente, coloquei uma roupa e sai, não tinha como ficar ali, teria que vender o apartamento, as coisas, eu não queria mais existir.
Parei no mercado, comprei um vinho, que sempre gostei de tomar, abrir na rua mesmo, em copo plástico, algo que repudio veementemente, menti para mim mesmo, vai ficar tudo bem, ela se foi, mas vou ainda encontrar alguém.
Dentro do carro, com copo na mão, som desligado, ouvi uma mensagem no celular: “Burro, eu sempre te amei, tudo que eu queria era o seu amor, nunca existiu mais ninguém”.
Ali, naquele momento, pude perceber, meu ciúmes me fez perder você, nó na garganta e amargurado, não pude entender, porque não vi isso antes, porque tinha tanto ciúmes de você.
Sai do carro lentamente, calado, inconsequente, sem pensar em nada que iria acontecer, peguei um cigarro, ascendi, fechei meus olhos e só via você.
Olhei o viaduto, abaixo a rodovia, que viva, grunhia, seus caminhões e carros sem parar, subi no parapeito, cigarro na mão, garrafa no peito, dei um gole no vinho e consegui entender, o que tinha que fazer para nunca mais sofrer.
Adeus