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APLICATIVO. NÃO, SÓ APP

Ativo ou Passivo?

Aplica. Implica. Explica. Replica. Multiplica.

Que peste é essa?

Promete ser o atalho para muitos desejos. É o quê?

Melhor abreviar – App – para não tomar meu tempo, nem o seu e deixar a tecnologia da última geração de nerds tomar conta de todo o resto.

Aí, com certeza, vai sobrar tempo e vai nos dar a liberdade de sermos nós mesmos e a oportunidade de pensarmos no que realmente importa e o prazer de não termos que nos preocupar com o supérfluo, mesmo que ninguém mais saiba distinguir o que é irrelevante num mundo de urgências e impactos.

App é qualidade de vida, solução de problemas, propósito, inovação, isto é, a glória do século!

Eu, como sou moderna e tecnológica, delego algumas coisas básicas da minha rotina para poder me dedicar às outras. Assim, a vida fica mais fácil, mais ágil e… mais frágil também.

Será? Nem quero pensar nisso agora, minha agenda está lotada, não sei a que horas vou sair da frente desse computador.

Melhor deixar para depois, me programar, aderir à técnica do pomodoro: a cada 15 minutos o smartphone me avisa que é para parar, alongar o corpo, distrair os olhos no instagram, tipo hora do recreio (#SQN).

A maravilha é que de olho na tela não risco de esquecer de nada. As mensagens são salvadoras (algumas têm até tutoriais):

Desperte!

Medite!

Beba água!

2 mil passos no dia. E eu nem saí de casa, mas, bebi tanta água. Tive que fazer xixi. Foi isso.

3 horas de tela. Vire á esquerda. Aniversário da mamãe. Oferta de passagem aérea. Possível exposição ao covid19. O motorista chega em 1 minuto. Alta na bolsa. Você chegou ao seu destino. Bônus para próxima compra. Novos templates. Sua encomenda foi entregue.

Compromisso em 30 minutos. O xampu acabou.

Oi? Como assim o xampu acabou? Sem aviso? Sem agenda? Sem sinal sonoro? Sem notificação por escrito?

E agora? Estou atrasada, o chuveiro ligado, o cabelo molhado e não tem xampu? Não tem xampu. É o fim da picada. Será que ninguém nesse mundo foi capaz de pensar num app que meça a quantidade diária de xampu que necessita uma mulher, brasileira, classe média, sem tempo para nada e avise quando o xampu está para acabar?

O que os empreendedores estão fazendo que ainda não pensaram nessa dor? Não lavam os cabelos? Usam sabonete em barra? Fazem estoque de xampu?

É simplesmente inacreditável. Falta de imaginação, falta de solidariedade, falta de higiene.

Minha indignação em neon. Neon? Não, isso é muito anos 80. Melhor fazer uma live, pedir aos amigos para seguirem o canal e para não esquecerem de acionar o sininho que alerta quando o vídeo estiver disponível. Depois tem que curtir, comentar e claro, fazer viralizar para engajar o público nessa pegada higiênica e sustentável e super útil de nunca deixar faltar xampu.

Já posso ver o novo unicórnio, do meu banheiro para o mundo: XampuApp.
Quem explica como foi que a gente se deixou levar por essa avalanche de quadradinhos coloridos nas telas touches dos celulares, entregando a eles a missão de fazer por nós o que nós mesmos somos capazes de fazer com algum esforço e inteligência?

Pode ser implicância de alguém que é quase 5.0, mas continua analógica, com peças originais e que passou a vida memorizando números de telefones e datas de aniversários.

Na última atualização do software, fui informada pelo pessoal do home office que ninguém mais recebe parabéns, que os telefones raramente tocam e que os cumprimentos, por mensagens icônicas, economizam palavras à exaustão.

A fala está em desuso, mas os podcasts estão em alta. Conteúdo bom, produzido com análise crítica, faz uma leitura de temas no cenário atual e se espalha por aí, para ser ouvido onde, quando e como quiser. Poupa tempo e interação. A gente pode avançar a fala, pular para o próximo, pausar, pode tudo.

Resumindo, a vida está cada vez mais disponível para upload imediato, em todas as plataformas digitais, pronta para delivery. Com sorte pode ser que não tenha taxa de entrega.

Se tiver, fica free, passa no cartão, débito ou crédito, só não pode parcelar, porque é app, né?

A vantagem é estar ao alcance da sua mão.

De novo a pergunta: isso é ativo ou passivo?

Dany Cais – Bela Urbana, fonoaudióloga por formação, comunicóloga por vocação e gentóloga por paixão. Colecionadora de histórias, experimenta a vida cultivando hábitos simples, flores e amigos. 
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