Dou voz à uma amiga querida que quis se manter anônima.
Aos seus vinte e cinco anos, nos anos 90 passava por um período de grandes decisões, se preocupava com a mãe que beirava o divórcio, queria sumir, queria viajar para a Europa, se tratava de uma depressão, chorava todos os dias no trabalho, vivia uma vida dupla: trabalhava, chorava, estudava, se fazia de forte para que a mãe não percebesse seu real estado “fundo do poço” e saía com as amigas, bebia (muito) e buscava alguém para suavizar suas carências, nessa época seu amor próprio estava escondido em algum lugar impossível de ser encontrado, aliás era tão escondido que ela não conhecia essa palavra, não existia em seu vocabulário, sentia tanta angústia, tristeza e sentimentos de vazio, de desconexão que não conseguia traduzir nada disso, não conseguia elaborar, era o caos que a habitava.
O sexo era uma forma de buscar afeto, esse que sempre faltou na figura do pai, afeto que não conseguiu sentir do pai para a mãe, do pai para ela, afeto esse que a mãe desesperadamente buscava em seu marido e que também não sobrou para ela, ela se misturava com a mãe, ela sofria pela mãe, em alguns momentos não sabia quem era ela, se filha da mãe ou ela mesma a mãe da mãe, queria proteger, tinha pena de si e da mãe. Assim nesse emaranhado ela se entregava a relações vazias e buscava com tanta ênfase o amor que era nítida a carência e tudo que conseguia era só sexo mesmo, como se os homens farejassem a falta, o buraco, o vazio que ela carregava consigo e tivessem medo de tal violência do sentir, era muita pressão emocional, como suprir isso em alguém? Como compartilhar uma relação, como amar alguém assim tão carente, tão pela metade? Ela se envolveu sexualmente com vários rapazes da mesma turma, não namorou nenhum, uma noite pegou carona com um amigo da turma, esse ela nunca nem tinha beijado, não tinha nenhuma atração por ele, no portão de sua casa ao se despedir ele tentou beijá-la e ela disse não, ele se ofendeu e retribuiu: “Se com os outros sim porque comigo não?” “Vai ter que ficar comigo também” e tentou forçá-la puxando-a com violência para si, ela saiu do carro rapidamente, nunca tinha sido tão humilhada e se sentido uma mercadoria, um corpo sem vontade assim na vida e nesse momento enxergou muitas coisas e como doeu, no entanto valeu por anos de terapia. Começou a se dar conta do machismo estrutural e seus efeitos, se fosse com um homem isso não teria acontecido, seria normal ficar com várias mulheres mas para uma mulher ter relações sexuais com vários homens não era, a desvalorizaram como ser humano, os chamados “amigos” falavam dela entre si e a “indicavam” para sexo fácil e quando ela não aceitou, um simples “não” se transformou em uma ofensa.
Aprendeu com esse evento, viu que se magoou demais também por estar vivendo uma fase difícil, estava fragilizada, entendeu que não era através de vários parceiros sexuais que iria resolver seus problemas emocionais, suas carências, compreendeu que de uma certa maneira não se respeitava quando buscava afeto fora de si mas não se amava, entendeu que sofreu abuso primeiro de si mesma. A mulher por viver em uma sociedade machista, além de ter que passar por seus próprios conflitos internos inerentes ao existir, ainda tem que lidar com os homens que acreditam que elas são sua propriedade e isso não é justo. Vinte e cinco anos depois ela percebe mudanças, hoje em dia as mulheres são mais livres para viverem sua vida sexual plenamente, sem justificativas, não precisam mais buscar amor e sexo, podem buscar apenas sexo se assim o desejarem, sem sofrer por isso, esse conflito interno diminuiu, atribuo isso ao feminismo ter ampliado a visão das mulheres nos novos tempos. Por isso hoje ela acredita que uma das maneiras de evitar, interromper e se retirar de um abuso emocional de qualquer forma é amar-se, conhecer-se, respeitar a si e ao outro, saber dizer “não” essa é a blindagem contra qualquer abuso. Alguém disse: quando digo sim para alguém estou dizendo não para mim. Frase que ela leva para a vida. Hoje presta atenção ao que aceita, quando se aceita algo que não deveria é aí que o abuso é semeado.
Eliane Ibrahim – Bela Urbana, administradora, professora de Inglês, mãe de duas, esposa, feminista, ama cozinhar, ler, viajar e conversar longamente e profundamente sobre a vida com os amigos do peito, apaixonada pela “Disciplina Positiva” na educação das crianças, praticante e entusiasta da Comunicação não-violenta (CNV) e do perdão.
E ele chegou em minha casa e… Apertou a campainha e… Disse que estava com sede. (Aprendemos a não negar “pão e água”…). Então conhecendo-o abri o portão… e ele entrou.
Amigo da família… Seguiu-me sem precaução alguma. Até que entramos pela sala… Fechei a porta… Era amigo da família!
Fomos até a cozinha… O servi, e ficamos conversando… Notei a conversa mole! Mas, desgastada com a recente viuvez eu nem percebi, o olhar de cio, e de prazer ao manusear o copo, de água… Havia dito que estava com sede!
E, pasmei ao dirigi-lo para a sala. Estávamos conversando sobre o falecido marido, amigo íntimo dele. Quando abri a porta de saída? Ele me enlaçou pelas costas… EEEEEE… Eu?
Gastei meu vocabulário sobre todas as razões que tinha aberto o portão, para saciar a sede de um seleto amigo? Nem sempre é assim, e disso sei bem.
Raivosa fui indo direto para o portão… Ah! Abri-me com todos que pude, dado a fragilidade em que me encontrava. Até hoje, quando nos encontramos, vê-se a vergonha em seus olhos, e posso adiantar que quem ficou com vergonha, até de passar em minha porta foi ele, o assediador casado, que usou anos atrás a sede, para beber algo de difícil degustar.
Eu Joana.
Joana D’arc de Paula – Bela Urbana, educadora infantil aposentada depois de 42 anos seguidos em uma mesma escola, não consegue aposenta-se da do calor e a da textura do observar a natureza arredor. Neste vai e vem de melodias entre pautas e simetrias, seu único interesse é tocar com seus toques grafitados pela emoção.
Sobre perder quase 18 quilos, vomitar as palavras ou
tampar os espelhos.
Sobre se recompor ou não…sobrepor um vestido neutro,
alisar os cabelos com os dedos, decantar a saúde aos
gestos.
Nenhuma bebida quente. Sim! Ela não bebia e ela não
bebe. Ela come as sobras e os restinhos. Quem se
importa?
A sociedade é como um gatilho, atira pra todos os lados, e
ela corre, engorda o que perdeu, perde o que nunca teve,
solicita nada. Ela nunca pede!
Recria os espaços, acolhe sua cria com a amplitude do
amor supremo e protege.
Solta os dedos, ajeita a louça, tempera os dias. Ela pagou
todas as contas, até aquelas que não eram suas.
Deita no silêncio, na incerteza e na faxina.
Não! Ela não é louca!
Ela é um vulcão, uma calmaria, um reflexo de quem
abusou…e ela tem horas que queria:
“Para de me maltratar, por favor, para!”.
Gritaria se fosse ouvida.
Mas,₢ um pouquinho.
A sorte é que seu dorso é um pedaço de ombro forte e ela
ama, ama a poesia.
Siomara Carlson – Bela urbana. Arte Educadora e Assistente Social. Pós-graduada em Arteterapia e Políticas Públicas. Ama cachorros, poesia e chocolate. @poesia.de.si
Eu não sei quando tudo mudou,
quando a gente mudou. Quando eu mudei.
Tivemos a mais linda história de
amor. Nos conhecemos naquela véspera de ano novo, na praia, em 31 de dezembro
de 2018. Nosso primeiro beijo foi à meia noite. Foi mágico.
Logo, você me pediu em namoro.
Disse que estava apaixonado, que queria conhecer minha família e fazer parte de
cada detalhe da minha vida.
No meu aniversário, em fevereiro,
você apareceu na porta da minha casa com um buquê de rosas vermelhas, todos os
ingredientes para um risoto e uma garrafa de vinho tinto. Você fez tudo, e nunca,
nenhum homem tinha feito uma surpresa assim pra mim.
Aos domingos, íamos à casa de
meus pais para o café da manhã. Lá, você jogava vídeo game com o Carlinhos, meu
irmão mais novo. Conversava sobre política com meu pai, e insistia em lavar a
louça para minha mãe.
Você disse que sentia falta de
uma família assim na sua vida. Me disse que cresceu sem pai e com mãe ausente, e
que eu e minha família éramos tudo que você tinha ali. Nós te acolhemos, e você
soube nos cativar.
Depois de alguns meses, nos
casamos. Fizemos uma pequena cerimônia e um churrasco de almoço com minha
família e poucos amigos, meus e seus. No fim, eu nunca conheci sua mãe.
Em seus votos, você me disse que
eu era a mulher da sua vida, aquela para ser mãe de seus filhos, e a quem você
gostaria de envelhecer juntinho, segurando entre mãos enrugadas e macias de
tantas histórias, nossas canecas amarelas com chá de hortelã, o nosso favorito.
Nos mudamos para meu apartamento
logo após o casamento. Não tivemos lua de mel, pois a situação financeira não era
das melhores. Mas isso não importava pra gente, nosso amor era maior que tudo.
Pouco tempo depois, engravidei. Era nosso sonho se tornando real! Foi aí que você me disse que não fazia mais sentido eu trabalhar fora, afinal, eu estava grávida, e quem cuidaria do bebê depois que nascesse? Eu tinha acabado de receber uma promoção no meu trabalho. Eu trabalhava no RH de uma pequena empresa, e gostava muito de lá, mas mesmo assim entendi que sua ideia fazia mais sentido, pois então eu poderia descansar mais na gravidez, e focar na limpeza da casa, no enxoval do bebê e na cozinha, afinal isso eram afazeres de mulheres. (palavras suas, não minhas). Acatei, pois enxerguei ali um cuidado que você queria ter comigo e com nosso filho.
Decidimos ainda não contar a
ninguém sobre a gravidez, afinal estava no começo né? Antes eu tivesse falado.
Descobri no médico que eu tinha
que tomar algumas precauções com a vinda do nosso filho. Era uma gravidez de
baixo risco, mas ainda assim de risco.
Quando minhas amigas me chamavam
pra sair, no começo, você pedia pra eu ficar te fazendo companhia, porque tava
sempre com saudades. Depois que eu engravidei me disse que agora éramos uma
família e não pegaria bem eu ficar andando com um bando de meninas solteiras
por aí. Até achei isso bonitinho sabe? Esse seu cuidado comigo. Então um dia, minhas
amigas finalmente se cansaram de mim.
Você começou a reclamar que eu
estava gastando demais com comida, com o enxoval do bebê e disse que começaria
a fazer hora extra no trabalho. Me imaginei tricotando pra fora para ter alguma
renda, o que já era um sonho meu, mas você disse que não. Que eu devia focar na
gravidez, na limpeza da casa, nas nossas refeições. Tudo bem então.
—-
Eu não sei quando tudo mudou,
quando a gente mudou. Quando eu mudei.
Você passou a chegar cada vez
mais tarde em casa. Disse que era o trabalho, o chefe. Mas comecei a sentir seu
hálito de álcool. Um dia que você chegou bêbado e foi direto pra cama,
encontrei marcas de batom vermelho pelo seu corpo. Clichê né? Aquilo doeu, como
se uma faca tivesse pulsado em meu coração.
Guardei pra mim. Chorei no banho.
E a vida continuou. Entendi que aquilo era sua maneira de escapar, afinal não
podíamos transar por causa da gravidez de risco que eu tinha, e por isso você
teve que buscar isso fora de casa. Eu compreendi depois de um tempo e aceitei.
Era temporário, e eu sempre seria aquela que você amaria. Com as outras era só
sexo. Tudo bem então.
Noitadas esporádicas se tornaram
rotina, e o cheiro de álcool impregnava o quarto. Era cada vez mais difícil te
entender e sentir aquele cheiro sem ir vomitar no banheiro. Não sei mais se eu
vomitava pelo enjoo da gravidez, ou pela mágoa do que você estava fazendo
comigo. Ainda assim, decidi ficar quieta. Eu não queria brigar com você. Eu
ainda te amava, e você era o pai do filho que eu carregava no ventre. Não te
contei, mas era um menino.
—-
Eu não sei quando tudo mudou,
quando a gente mudou. Quando eu mudei.
Uma noite você chegou pior do que
das outras. Chegou quebrando tudo. Estava muito nervoso. Você gritava comigo.
Disse que não tinha comido nenhuma puta naquela noite, e então só restava eu.
Eu disse que não, te implorei, disse que ia perder o bebê. Você nem me ouviu.
Me jogou no chão, e com uma faca em meu pescoço me obrigou a ficar de quatro.
Você me machucou. Machucou meu corpo, machucou minha alma, e me largou ali no
chão como se eu fosse um nada pra você. Eu perdi o nosso filho naquela noite.
Desde então, a vida perdeu o
sentido para mim. Nada mais me importava. Você chegava em casa e me batia. Um
dia era porque o jantar não estava na mesa, o outro era porque o arroz estava
muito salgado. Você me batia, pois dizia que eu era a responsável por ter
perdido o nosso filho. Você me estuprava porque dizia que eu tinha obrigação de
engravidar de novo.
Eu não resistia. Eu tinha
vergonha. Eu tinha culpa do que tinha feito com a gente, do que tinha feito com
a minha vida. Na verdade, eu nem sei o que eu tinha feito. Eu me escondia dos
vizinhos, e da minha própria família. A cada final de semana, inventava uma
desculpa. Dizia que estávamos sempre a viajar. Até que minha mãe descobriu.
Ela bateu na porta de casa um
dia, e me encontrou. Marcas roxas pelo corpo, rosto esfolado. Eu já não era
mais eu há muito tempo.
Ela quis me levar embora, mas eu
não fui. Eu já tinha tudo planejado.
—
Eu não sei quando tudo mudou,
quando a gente mudou. Quando eu mudei.
Desculpa mãe, desculpa pai,
desculpa Carlinhos por não ter sido a filha e irmã forte que vocês queriam que
eu tivesse sido. Perdão por ter me tornado cega de amor. Perdão por não ter
escutado a vocês enquanto era tempo.
Esta manta é a lembrança do neto
que vocês nunca chegaram a saber que existiu. Não contei a vocês, mas era um
menino. Ela é azul, assim como a minha manta de quando eu era bebê.
Agora é tarde, e eu já não
consigo mais viver com a culpa do que aconteceu na minha vida. Eu o matei. O
matei por ter me tirado a alma, e ter me deixado só com o corpo. O matei por
ter tirado à força de mim meu bem mais amado. O matei pelas tantas outras mulheres
que descobri depois que ele violentou e enganou.
Não quero que chorem, pois
estarei melhor pra onde quer que eu vá.
E eu me vou despida de bens, despida de amor, despida de medo, com o alívio de não ter que viver mais essa vida. Eu o matei a punhaladas, e cada punhalada foi por uma mulher que ele fez sofrer. Foram dez.
Ariela Maier – Bela urbanas, uma empreendedora e escritora que ama viajar. Se encontra e se desencontra pelas palavras e gosta de pensar que através da escrita, ajuda almas perdidas que carecem de emoções e histórias cheias de vida. @Arielamaier
Belas Urbanas me pediu para escrever algo sobre violência doméstica (ou sobre o abuso físico ou psicológico que parte de uma pessoa contra outra). É notório que sempre me envolvo com temas relacionados às artes e pelo fato de ter publicado, constantemente, álbuns famosos que fazem aniversário… Vou falar, um pouco, de um disco feito por um casal intoxicado por uma relação afetiva.
Uma convivência extremamente difícil! Malgrado abusiva e violenta a intimidade, o trabalho em conjunto da dupla foi responsável pela criação de fundamentais discos da história da música popular!
Vou aqui indicar um álbum que está fazendo 50 anos em 2020… E feito pelo casal de artistas virtuosos: Ike Turner e Tina Turner.
O guitarrista e a cantora viveram juntos por 16 anos. A vida de Tina Turner foi um inferno (expressão usada por ela na autobiografia – I, Tina lançada em 1986).
O comportamento de Ike Turner é cruel e por todos reprovado.
O envolvimento triste do casal pode ser assistido no filme Tina – A Verdadeira História (Tina – What’s Love Got to Do with It).
Ike & Tina Turner Come Together (uma obra prima da música popular).
Fernando Farah – Belo Urbano, graduado em Direito e Antropologia. Advogado apaixonado por todas as artes!
Quando se conheceram ele era encantador, chegara a instituição a procura de apoio para sair da dependência química. Ela era trabalhadora do lugar. Moça bonita, esforçada, nunca havia fumado ou bebido, não era dada a saídas ou baladas, vaidosa, tivera muitas perdas recentes: não conseguira terminar sua faculdade de odontologia devido à situação financeira, seu animalzinho de estimação morrera, seu ex-noivo do nada, havia terminado e tudo desencadeou em depressão.
Ele devido aos problemas não só de dependência, mas de bipolaridade foi acolhido por ela e não demorou muito para que começassem a namorar. Ele muito envolvente, dizia que queria mudar e constituir uma família. Ela tinha um desejo de ter filhos pois segundo ela estava com 35 anos e não poderia esperar. Ficou grávida e decidiram morar juntos, com 6 meses de gravidez ele quis terminar o relacionamento, ela chorou e ele arrependido convenceu a voltar.
Entre a gestação e nascimento do bebê muitas turbulências, continuaram juntos ele sempre ofendendo, depreciando-a perto dos outros, em virtude de ser adicto por vezes ele recaia no uso de drogas e bebidas, sempre se desculpando dizendo que ia mudar e continuavam aos trancos e barrancos. A criança nasceu, já no hospital era rude com a inexperiente mãe. Ele aparentava o pai zeloso e fazia dela a mãe relapsa, ignorando sua depressão e agravando a situação, pois dessa forma o pânico se instalou.
E ela vive uma situação abusiva. Como é difícil para nós que estamos de fora vendo um familiar passando por essa situação e não conseguimos ajudá-la a sair, principalmente quando a própria pessoa identificou que está vivendo a situação abusiva, mas não tem forças para sair, se encontra refém da situação. Acredita que o agressor poderá mudar.
Na tentativa de ajudar essa pessoa que vive essa situação de abuso, nos desgastamos de uma forma tão intensa que ficamos adoecidos, sentimo-nos invasores e após muitas insistências de nossa parte, vem o sentimento de impotência, pois a pessoa parece não querer sair.
Quero acreditar que é uma situação muito mais complexa do que imagino, principalmente quando se tem filhos envolvidos.
Sempre me perguntei: como querer que seu filho conviva com essa situação? Como submeter os pequenos a assistirem eles se destruindo?
Quando vai ter forças pra sair? Lhe dizia: Estou aqui! Conte comigo! Minha casa é sua! Não adiantava.
Na primeira vez que saiu devido as fortes discussões, estava magoada, ele manipulador pedia desculpas, alegava arrependimento, ela voltava.
Na segunda vez, além de magoa, decepção, mais uma vez pede perdão demonstra arrependimento, assume que foi responsável, diz que ela também teve culpa, pois é teimosa e ela lhe impondo culpa, pois acaba por acreditar que deveria ter sido tolerante (ele a faz se sentir culpada por tudo), ela volta.
Na terceira vez: mágoa, decepção, medo e uma filha.
De agressões verbais a psicológicas e a quase agressão física, sai de novo pela quarta vez, a levo até a delegacia mas não registra queixa, pois segundo ela teme por ele, pela filha, pela família dele. Isso me deixou possessa! Ficou 5 meses longe dele.
Arrumei escola para a criança, quando ele viu que ela estava relutante em voltar, começou a torturá-la, alegando que pelo fato dela estar depressiva e com síndrome do pânico diagnosticada, não iria conseguir a guarda da criança. (Que poder eles tem? pois mesmo a advogada dizendo a ela que ele não conseguiria).
Organizei toda minha casa em função e por amor a elas… ele ligava todos os dias, ia até a porta de casa, a família dele também a pressionava por causa da criança e mais uma vez ela decide voltar.
Segundo minha irmã, a filha é a razão pela qual permanece, muitas vezes briguei, dizendo que a filha era só pretexto para que ela continuasse com ele, fui dura!
Nessas Idas e Vindas, os abusos aumentaram, agora ele a isola, não aceita visitas, tem todo o controle da situação.
Ele me odeia! Me ameaçou! Diz que sou corajosa de ir até lá! Mas vou! Não entro na casa dela, faço visitas semanais para ver como elas estão. Quero com meus olhos.
Nunca deixo de visitar e percebo nela nem sombra daquela pessoa que ela foi! Há em seus lábios um sorriso triste, os olhos falam mais que a boca e me contam de sua dor, evita me falar tudo o que tem passado.
Mora num lugar muito difícil, sem luxo e muitas vezes passa necessidades. Ele a humilha e debocha dizendo que ela agora mora na favela e que acabou a frescura!
Os vizinhos cuidavam dela no começo, até me ligavam quando sabiam que ela estava sofrendo, hoje não mais, pois devido as suas idas e voltas deixaram de se envolver acreditando no “briga de marido e mulher ninguém mete a colher”.
Por vezes tive medo que ela tirasse sua vida ou ele o fizesse isso me consumia. A fraqueza e o medo a visitam todos os dias.
Ele vive mais desempregado que trabalhando, todos os dias bebe.
Ela zelosa e amorosa com a filha caprichosa no cuidado do lar e ele só se queixa. Nada está bom!
Contratei uma psicóloga que atualmente atende online, o faz escondido do sujeito.
Torço para que com essa ajuda ela se cure tenha forças e saia fortalecida. Se por enquanto não sair, que não sinta que esta só.
Todos os dias mando mensagens de vídeo e reafirmo meu apoio.
Durante as visitas, mesmo agora em virtude da pandemia, não deixo de ir, garantimos o protocolo de segurança e nos vemos. Na despedida me coloco pronta e digo:
Precisando estou aqui! Quando estiver pronta e decidida me chama que te tiro daqui. Ela balança a cabeça afirmativamente e me dá um sorriso.
Ah, como eu gostaria de arrancá-las de lá!
Mas como eu disse acima, ela deverá estar realmente decidida senão acabará voltando.
MULHER – Bela urbana, 45 anos mais, não quis ser identificada SOS – ligue 180
Quando eu era menina, em torno dos meus 9 anos, tinha uma senhora que trabalhava como faxineira na casa de uma tia. Não me lembro o nome dela. A imagem que fazia da mesma, era de alguém com idade próxima a da minha avó, mas não sei se de fato ela tinha essa idade ou uma aparência muito judiada.
Certa vez, estávamos brincando na rua, ela apareceu caminhando em nossa direção, provavelmente voltando de alguma casa que limpava. Os adultos comentavam que ela apanhava do marido. Eu me lembro de olhar para ela e pensar indignada em várias perguntas que nunca tiveram respostas: Como assim ela apanha do marido? Ela é uma adulta (quando eu era criança era normal as crianças apanharem) por que deixa? Por que ela não bate nele, corre, foge?
Há uns anos, minha filha veio me contar que a mãe de uma amiga que morou no nosso condomínio apanhava do marido. Fiquei passada e perguntei como ela soube e por que não tinha me contado na época. Contou-me que um dia que caminhavam juntas na trilha do condomínio, quando a amiga disse que a mãe apanhava do pai, minha filha perguntou sem resposta: Como assim? Disse então: não pode. Na época do ocorrido ela devia ter os mesmos 9 anos que eu tinha no caso que contei acima.
Essa família ficou pouco tempo no condomínio. O pai era muito simpático e a mãe muito reservada, sempre usava roupas de mangas compridas, muito pálida e nunca descia para as áreas em comum. Eu desconfiava que ela tinha algum problema de saúde, mas como sempre foi muito fechada, não abria espaço para conversa. Uma vez fui buscar minha filha no apartamento de sua amiga e achei estranho a forma como a mãe se comportou, me senti incomodando e pedi para a minha filha acelerar para irmos embora rápido.
Hoje, sabendo que ela apanhava, consigo entender seu comportamento, suas roupas e sinto não ter percebido que isso acontecia e ter de alguma forma ajudado. Difícil pensar que essas coisas acontecem tão próximas a nós.
Os tempos mudaram, mas a violência doméstica ainda se faz presente em qualquer classe social. Precisamos romper esse ciclo. Estender a mão para a vítima, ligar para o 180, denunciar. Não ter medo.
Não quero ouvir daqui alguns anos, uma neta contar que soube de mais um caso de violência doméstica. Chega desse tipo de história.
Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza. Divide seu tempo entre seu trabalho de comunicação e mkt e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa.
Parem de me perguntar se o fulano vai voltar, se o fulano vai casar com você, se o fulano te ama. Cansa ouvir tantas mulheres inseguras. Carentes. Doentes. Sim, esse meu texto é direcionado para as mulheres.
Eu sei as respostas, mas cada uma que me pergunta também sabe. Todas tem sua Madame Z dentro de si, mas não querem ouvir. Eu não vou dizer nada para te agradar, não sou de dengos, nem de desgostos, sou de agosto.
O que posso dizer então, é limpem a casa, façam faxina. Limpem tudo ao redor, coloquem uma boa música e façam isso com prazer. A mente acalmará e corpo cansado te fará querer relaxar. Relaxou? Se escute.
Não se prenda a ninguém que te encolhe. Não queira prender ninguém.
Nem com o fogão aceite uma relação abusiva, vá de marmitex quando não quiser cozinhar.
Até a próxima. Bora sextar com paz e muito amor.
Madame Zoraide – Bela Urbana, nascida no início da década de 80, vinda de Vênus. Começou atendendo pelo telefone, atingiu o sucesso absoluto, mas foi reprimidapor forças maiores, tempos depois começou a fazer mapas astrais e estudar signos e numerologias, sempre soube tudo do presente, do passado, do futuro e dos cantos de qualquer lugar. É irônica, é sabida e é loira. Seu slogan é: ” Madame Zoraide sabe tudo”. Atende pela sua página no facebook @madamezoraide. Se é um personagem? Só a criadora sabe
Muito difícil começar a escrever a minha história… há um ano e cinco meses ela teve seu ponto final, mas, infelizmente, diariamente ainda lido com os efeitos de um ano e dois meses de um relacionamento extremamente abusivo.
Muitas pessoas ainda têm a errônea ideia de que relações de violência acontecem quando alguém viola seu corpo ou te bate, mas existem outros tipos de violência, na minha opinião, ainda mais destrutivas em alguns casos.
Bom, me apresentando, sou Malu, uma moça hoje com 22 anos, mas no tempo dos fatos tinha 20 anos. Sou cristã, de uma família religiosa de seguimento protestante, sou extrovertida, amo conversar com pessoas, trabalho desde os 14 anos de idade (sim, este é um fato importante para este relato). Conheço meu abusador há aproximadamente 9 anos. Nesse período nutrimos uma amizade saudável, mas quando nos aproximamos e cogitamos o namoro, o primeiro alerta estava nítido. Sim, os sinais estão gritando a todo momento, mas a paixão não nos deixa enxergar. Este primeiro sinal se deu quando ele reclamou da distância que teria que percorrer para me encontrar (vinte minutos de estrada). Eu ignorei esse sinal, quis dar “N ” razões para a solução do problema, e me desculpei pelo transtorno do deslocamento.
No começo do relacionamento “eles” não mostram sua verdadeira face, mas aos poucos começam as manipulações. No meu caso, ele foi se utilizando de cada área onde eu era forte e as áreas que foi me afetando foram: relação familiar, minha carreira, visão que tinha sobre meu próprio corpo, meus relacionamentos interpessoais, forma que eu utilizava meu dinheiro, tudo isso regado a muita manipulação, cinismo, comentários passivos-agressivos. A grande porcaria de um relacionamento manipulador é que ele não vem como uma faixa na testa falando “sou um covarde abusador”. Geralmente são pessoas calmas e “centradas”, na visão de todos, mas que são verdadeiramente monstros.
Vou discorrer seu mecanismo e forma de agir em cada área. Espero ajudar pessoas que estejam passando por cada situação de abuso. Relação familiar: Pessoas abusivas vão se utilizar de artimanhas para te colocar contra sua família, falando que sua família é a errada sempre, e que você nunca deve se parecer com as características da sua família. No meu caso, ele fez isso, pois não suportava o fato da minha família ser unida. Quando tínhamos algum problema familiar, o que é normal, ele me colocava sempre contra meus pais e me fazia sentir inadequada o tempo todo, como se o único modelo de vivência era a forma como a mãe dele levava a vida. Diversas vezes ele me pressionava a agir como ela, falava que odiaria me ver como a sua tia, alguém que era comunicativa e extrovertida. Isso foi me desgastando, mas eu acreditava nele e, por vezes, me afastava, ficava mais na minha. Comecei a não falar mais das situações que passava com ele. Minha mãe não gostava dele, mas sempre o respeitou. O abusador vai querer te isolar da sua base, afinal, um alvo isolado é muito mais fácil de atingir e derrubar, e ele não tem escrúpulos para isso.
Carreira: Eu sou uma menina que veio de uma família de classe média-baixa, que passou por muitas privações quando era criança e sempre aprendeu o valor do dinheiro; por conta disso, desde muito nova sempre ajudei meus pais, sempre trabalhei, com o que fosse, sempre quis ter meu dinheiro. Ele era uma pessoa que, próximo aos 30 anos, não tinha quase trabalhado com carteira assinada, e quem pagou a faculdade integral dele foram os pais, assim como cada gasto. Então, ele se afetava muito por eu já trabalhar dando aulas particulares, fazendo faxinas, ensaios fotográficos para conseguir pagar meu curso. Constantemente ele queria que eu desistisse do curso, disse que eu não conseguiria me formar na faculdade, sempre tinha comentários passivos-agressivos que faziam eu me sentir incapaz e duvidar do meu potencial em tudo que eu domino.
Visão do meu corpo: Ele me conheceu quando eu tinha um corpo extremamente magro. Tinha 16 anos quando o conheci e ele na casa dos 24 anos. Com o passar dos anos, meu corpo mudou. Mesmo sendo atletas, nós mulheres temos nossas particularidades. Sua forma de me magoar era com comentários como: “Você até que está bem, mas precisa emagrecer uns quilos para ficar melhor” (eu estava sete quilos abaixo do ideal para o meu IMC). Sou alta, e mesmo que tivesse um corpo fora do padrão, ninguém tem direito de falar que você é deformada. Mas ele sempre tinha um comentário malvado, com uma calma na fala. Eu fui me vendo no espelho e me odiando, com a autoestima cada dia mais afetada. Nessa altura ele já estava com domínio de três áreas da minha vida. Sem minha base familiar e perspectiva de valor, caí nessa cilada emocional.
Relacionamentos interpessoais: Esses abusos ainda foram mais intensos. Ele ficava com ciúmes que eu fosse amiga dos meus amigos de anos e também não gostava das minhas amizades da faculdade, dizia “por que eu tinha que me relacionar e ter amigos sempre homens?”. Eu não queria conflito, então deixei meus amigos e me esforcei para ter mais amizades femininas, mas nunca tive muita afinidade. Ele falava que era meu jeito que me afastava das mulheres, dizia que elas eram recatadas e menos expansivas, por isso eram amigas entre si, e que por isso, eu não conseguia me enturmar. Ele que nunca estava satisfeito com nada, falava que eu tinha que ter uma vida além dele. Os abusadores não querem que você tenha amigos, querem te humilhar, querem ter você na palma da mão para que eles brinquem com seu emocional para satisfazer seu sadismo cruel. Nesse processo, comecei a ter episódios de síndrome do pânico, ele causava os gatilhos e sumia por dias; depois manipulava toda a situação e eu sempre pedia desculpa, mesmo quando não tinha como eu ser culpada pelos seus desvios de caráter. É uma prisão que é muito difícil ver as algemas, mas se você precisa abrir mão de quem você ama por outra pessoa, isso não é amor, é posse.
Vida financeira: Sempre tive menos poder aquisitivo que ele, os pais dele têm uma vida estável e segura financeiramente, e eu, como era a única responsável pelas minhas finanças, tinha que fazer aquele malabarismo para pagar todas as contas. Sendo autônoma, não tendo carteira assinada, ele sempre questionava cada gasto que eu fazia, sempre queria uma justificativa, falava como eu tinha que gastar meu dinheiro, motivo de inúmeras brigas que me desgastavam internamente. Sentia-me culpada por cada centavo que eu gastava, pois sempre era questionada em como utilizava meus recursos. Ele se sentia menosprezado, e um dia até disse: “Ainda bem que fui chamado no concurso antes de você ter carteira assinada”. Que tipo de pessoa fala algo assim? Alguém que se odeia e quer te fazer se odiar e viver culpada e frustrada. Como na vez que fomos ao shopping para jantar, eu pedi de sobremesa um sorvete do Mc Donald’s de R$ 10,00 e ele me respondeu: “Você merece uma casquinha”. Não era em tom de brincadeira não, ele tinha um vale de R$ 900,00. Você deve estar pensando, mas casquinha é legal, seria sim, se fosse o que ele pudesse me oferecer, eu aliás, tomaria com enorme felicidade, como em todas as vezes que paguei minha parte nas contas no namoro em todas as nossas saídas, mas essa situação foi única e exclusivamente para me humilhar e constranger.
Defraudação emocional: Como mulher cristã, meu maior sonho era casar e ter uma família. Não existe nada de errado com meu sonho, ele é legítimo, mas foi usado diversas vezes para me manipular quando eu não atendia às expectativas dele e ouvia a seguinte frase: “Você está quase pronta para eu te amar incondicionalmente e te pedir em casamento, mas isso eu não gosto”. E eu, como já estava com a minha vida nas mãos desse monstro, tentava me adequar a todas as exigências que eram inalcançáveis, pois ele nunca iria casar comigo, era sempre para me ver subjugada a ele. Chegou a vir na minha casa falar sobre os planos de como queria a cerimônia, fez uma lista de casamento junto com meus pais, até com um cerimonial tínhamos marcado, ou seja, eu não estava criando expectativas do nada. O amor a esse sonho me fez aceitar o inaceitável, pois estava empolgada com o casamento. Todo abusador faz um ciclo à ofensa, te faz pedir desculpa a ele. Não é podre o tempo todo, afinal, precisa te dar algumas migalhas para poder continuar com os jogos emocionais e fazer tudo novamente, então, ele sempre vai falar que você que é louca para casar, que você que o está pressionando, sendo que ele nunca quer se comprometer de verdade. Não tem capacidade de amar e de cuidar de alguém. Irá brincar com seus sonhos mais puros e te fazer se sentir culpada por sonhar. Um relacionamento abusivo é sempre recheado de culpa, infelizmente.
O fim do meu relacionamento veio após sucessões de humilhações, uma delas da minha ex-sogra, que tinha comportamentos extremamente inadequados, como oferecer resto de comida do próprio prato para que eu não realizasse um pedido em restaurante (mesmo eu tendo dinheiro para isso), com medo dela ter que pagar a conta. Aquilo foi muito humilhante. Muitas vezes ela ficava medindo a quantidade de comida que eu colocava no meu prato, fazia pouco-caso das comidas que minha família fazia em datas comemorativas, situações de extremo desagrado. Mas o estopim foi ela reclamar e falar que iria me cortar de uma foto de família, pois segundo ela, eu não estava adequada (um shorts que “não era vulgar” era na metade da coxa), na opinião dela. Como ele me queria como uma mãe dele parte 2 , brigou comigo por eu ter ficado chateada, e fez eu me sentir como uma garota de programa por um shorts. A partir daquele momento me enchi e perdi o medo, comecei a falar do que não gostava e não deixei ele me tratar mais daquela forma. Dois meses depois tivemos um desentendimento por ele não ter consideração por mim, ele sabia que estava errado e sumiu por uma semana, sabia que isso me gerava pânico.
Neste relacionamento foram três internações por crise de asma devido ao stress que ele me causava, tamanha era a pressão que fazia sobre mim. Ele me encontrou pessoalmente e disse que queria terminar, conversei com ele por algumas horas, porque mesmo ele sendo um monstro, eu não sabia viver sem ele, era como um parasita me sugando energias e eu não sabia mais a minha identidade. Eu tinha aberto mão de tudo por conta do meu sonho de ser esposa e mãe, não entrava na minha cabeça que mesmo abrindo mão de tudo, eu era descartável.
Um dia ele comprou bombom e disse que iríamos nos acertar, me levou em casa. No dia seguinte, ele disse que estava terminando comigo, que a culpa de tudo que ele me fez era minha e me bloqueou em todas as mídias digitais, ele e todos os membros da casa dele, que sempre passaram pano para tudo que ele fez. Meses depois, ele viu que tinha sido exposto e que as moças não se aproximavam dele. Eu descobri que eu não era sua única vítima. Fez isso com outra, abandonando da mesma forma covarde, só que o e-mail foi para a mãe da moça, que graças a Deus superou o que ele fez e hoje tem uma vida estável emocionalmente.
Ele me pediu perdão e disse que tudo que fez foi porque se sentia insatisfeito com quem era e como estava a sua vida, por isso agia assim comigo. Um conselho: se passar por algo assim, perdoe, mas não mantenha contato, pois esse tipo de pessoa infelizmente não muda. Caráter ou você tem ou não tem.
Este é o meu relato! Tiveram vezes que preferia ter apanhado a ter o dano emocional que ele me causou. Foi um longo caminho e ainda tenho uma enorme caminhada para me curar, mas cada dia é um passo para me perdoar. Acho que essa é uma das partes mais difíceis, se perdoar pelo que você passou e não se culpar. Jamais a culpa é da vítima. Quero voltar a me amar e saber o meu valor. Espero que tenha ajudado alguém.
MaluZaparoli –Bela urbana, 22 anos, cristã, formada em fotografia, professora de informática, líder de um projeto social que atende pessoas em situação de vulnerabilidade social
Quando a
Adriana perguntou sobre escrever um relato da minha história aqui no Belas
Urbanas, sabia que seria um desafio e tanto, pois senti um frio na barriga em tornar
público o que vivi e que pouquíssimas pessoas conhecem.
Para mim a
palavra “abuso” estava associada somente ao sexual, mas hoje sei que há muitos
e muitos tipos de abuso.
Hoje, com 53
anos me lembro de quando criança com uns dois anos em um canto da casa,
amedrontado e fechado em meu mundo.
Meu pai, dedicado
ao trabalho, provedor, tinha uma gráfica.
Minha mãe era trabalhadora também, da casa. Dedicada em viver em função
da família.
Meu pai quando
em casa, mostrava sua austeridade. De pouco sorriso no rosto, e quando tinha
era de sarcasmo ou ironia, gostava de beber uma cerveja para relaxar, o clima
pesava e a agressividade verbal e física corria solta. O nível de tensão era
sempre alto. Não apanhei muito, mas minha mãe sim.
Meu pai em
sua ausência, se fazia presente determinando e controlando a minha vida (imagino
que dos meus irmãos também, somos em 04, todos homens). Ainda menino, com mais coordenação motora, comecei a trabalhar
na gráfica, independendo da vontade ou não. Já nasci com um trabalho e futuro
determinado…..pelo meu pai.
Conforme fui
crescendo, as coisas foram complicando. Fazia judô, não gostava, queria jogar
basquete. Pedi para mudar de esporte, mas como meu pai era meu pai e diretor de
judô no clube, fui obrigado a continuar no judô. Mas um belo dia, não aguentei
e fui conversar com o professor de basquete, fiz o teste e passei, mudei de
esporte. Joguei por quase 10 anos e ele nunca assistiu um jogo se quer.
Nunca levei um amigo para casa, não podia, tinha vergonha. Além do meu pai extremamente bravo e meus amigos terem medo dele (um amigo relatou isso mês passado), minha mãe vivia a realidade dela, via e escutava o que ninguém via e escutava. Ela tinha esquizofrenia.
Meu pai era
bom para lidar com máquina, não com gente. Autoridade e autoritarismo são
coisas distintas, um vai pelo respeito e outro pelo medo. E pelo medo abafei
minhas emoções, me preservei me tornando submisso, fazia de tudo para pertencer
e agradá-lo, mas a ferida emocional da rejeição e desvalorização já estavam
abertas. Vesti a armadura do guerreiro solitário e fui pra vida.
O que trago
aqui é somente alguns pontos macros, mas no dia a dia o negócio era punk, em
qualquer momento do dia poderia acontecer algo de ruim e tinha que dormir com a
porta do quarto trancada para não ter surpresas. A ameaça, a tensão era uma
constante e convivi com o sentimento de medo e tensão no corpo até poucos anos
atrás. Tive momentos de um frio congelante que me paralisava, o racional se
desligava, perdia o chão ficando sem rumo, sensação de não existir, era
desesperador. Tive vários dentes quebrados por bruxismo e muitas fronhas de
travesseiro amareladas devido ao suor exalado pelos traumas vividos em forma de
pesadelos.
Isso
refletiu em todas as minhas relações na vida, não tem como. Mas com elas
aprendi.
Aprendi que não
nasci na família errada, aliás, acredito que ninguém nasça na família errada. Aprendi
que os meus pais fizeram o que estava dentro de suas possibilidades, das suas
suficiências. Aprendi que por pior que tenha sido uma situação, muito falava de
mim e que poderia me melhorar como ser humano. Aprendi a perdoar e aceitar a
vida, a me amar, respeitando mais os meus limites, capacidades e valores
maiores e que eu sou o responsável pela minha vida e evolução e que ninguém
pode tomar uma decisão por mim. Aprendi que a vida é mais como respondemos a
ela do que acontece com a gente.
Sou um
buscador e através da observação de mim mesmo, dos meus pensamentos, das minhas
atitudes, emoções, dos sonhos, praticando meditação e pedindo ajuda para
terapeutas integrativos competentes, venho me transformando, evoluindo, vivendo
mais a minha coerência e mais em paz, leve, mais disposto, com criatividade e
propósito.
A vida não tem chegada e fim, só ida e nessa ida, respeitando e honrando de onde vim, faço um caminho de escolhas mais conscientes, resgatando a minha inteireza no amor e respeito com a minha esposa, minhas duas filhas, as cachorrinhas e todas as pessoas que me relaciono, que juntos, geramos o mundo que vivemos.
Wlamir Stervid ou Boy,para aqueles que o conhecem pelo apelido. – Belo urbano, apaixonado pela sua família, por gente e natureza. Sua chácara é seu recanto. Devido ao seu processo de transformação, trabalha com desenvolvimento humano, é Coach Ontológico e idealizador do Homens de Propósito, um movimento entre homens para o autodesenvolvimento e transformação do masculino.
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