Bendito o fruto do vosso ventre, bendita sois vós entre as mulheres, bendita são as mulheres, aos milhares, ao mero esmero do seus bons corações, donas de toda imensidão – e ainda assim são tantas as ilusões.
Belas ilustrações, filhas da esperança à espera de crianças que não vão voltar. Mortas antes de nascer, violentadas durante a primavera ou outra estação qualquer, entre violetas e a depressão, pós parto, pré-nupcial, pré-histórica, pós-moderna, hemorragia interna, fratura exposta, vidas vazias preenchidas com socos, ódio, beijos e rancor dados pelo marido exemplar, na boca, batom sem cor. Falta amor, sobra hipocrisia, lágrimas acumuladas com a louça na pia.
Vadia! Vai criar a criança sozinha, putinha, ave maria, ninguém ouve a reza sussurrada, ninguém ouve os gritos contidos, os gemidos, os tiros, todos tapam os ouvidos: em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher.
Você não tem bom humor? Tá naqueles dias? Não sabe aceitar elogio! É uma louca, psicopata, é pica que te falta, mal-comida, mal-amada, mágoas bem alimentadas, surras bem dadas. Sociedade (ben)dita as regras – cuidar de um bom marido, igreja aos domingos, não responder aos patrões, seguir os padrões. Seja o que a moda impõe. Não dê motivos, não dê razões, seja aos estupradores ou aos ladrões.
Venha me dê a mão, confie em mim, eu sei o que é bom, aborte apenas o seu coração, não se esqueça que bendita sois vós entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre, não esqueça a sua função – nascer, parir e morrer, não sonhe, nem pense em achar que sabe o que é viver.