Dia azul. Acordou se olhou no espelho, com sono, preguiça, mas atrasada. Eu não tinha essa ruga aqui, pensou. Respirou fundo, jogou água gelada no rosto.
Dia cinza. Sim, o dia ficou cinza. Às 12h00 pontualmente hora de parar, para comer, tempo corrido, só uma hora. Se não bater o cartão na hora, perco meia hora. Menos meia hora por cinco minutos, não concordo com isso, pensou. Engoliu a comida junto com os outros.
Anoitecer frio. Vento, chuva fina, barulho na rua. Naquele terminal central, várias como ela. Ela olhava os rostos das outras, mais velhas, mais novas, moradoras de rua, trabalhadoras, crianças no colo, guardas municipais, seguranças disfarçadas, crentes, doentes, dormentes. Rugas em todas as testas…
Noite quente. No ônibus tirou da bolsa o batom vermelho. Minha boca é bonita, pensou. Olhou para as outras no ônibus. Lotado, apertado, fedido. Colocou seu batom vermelho. Olhou no espelhinho que tinha na bolsa, se sentiu bonita. A moça do lado a olhava, ela sorriu aquele sorriso cúmplice. Passou o batom para a outra, que por usa vez passou para a outra e assim por diante para todas as mulheres daquele ônibus.
Sem perceber formaram ali uma confraria e juntas se sentiram mais fortes. O batom vermelho, o escudo, a força, assim como Sansão com seus cabelos.
Cansadas, iguais, diferentes, mas depois daquele dia… os dias nunca mais foram tão iguais.
Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde escreve contos, poesias e crônicas. Publicitária e empresária. Divide seu tempo entre suas agências Modo Comunicação e Marketing www.modo.com.br e 3bis Promoções e Eventos www.3bis.com.br e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa