Não sei se foi o tempo nublado, a chuva fina que caía, os armários brancos e a pedra preta na cozinha ou o vento fresquinho que soprava através da cortina…. O fato é que segunda passada fui fazer um café à tarde e, de repente, por um segundo, uma fração de segundo, eu não estava aqui. Eu estava lá, no apartamento de São Paulo, na João Julião.
O tempo parou e me ofereceu seu ombro.
Finalmente pude descansar meu coração, meus olhos, no exato momento que repousei minha cabeça em seu ombro.
Finalmente as sensações de paz, de aconchego, segurança e felicidade há muito desconhecidos. Finalmente.
Apenas uma centelha divina que o tempo me ofertou. Apenas uma saudade matada de forma deliciosa.
E essa sensação ainda me acompanha, quase uma semana depois – não posso e não quero perdê-la.
Que abraço mais amigo que o tempo me deu!
Naquele microssegundo, minha mãe e minha tia estavam na sala, fazendo os bordados de ponto cruz, falando amenidades e esperando o meu café…
Voltei para a sala, já neste tempo e neste lugar – meu lugar – e me deliciei com o amor imenso que se apoderou de mim.
A única testemunha foi a Nina. Quietinha, mas tenho certeza que seu coraçãozinho também entendeu aquela magia que aconteceu.
Nada deveria ser acrescentado ou tirado daquela centelha divina. Foi perfeito.
E, como num delicioso passe de mágica, à noite sonhei que estava na cozinha fazendo um bolo com a mamãe.
Talvez porque tenho sentido uma vontade grande de fazer o “bolo de aniversário” que, mesmo fora de datas específicas, às vezes fazíamos. Com camadas de recheio, leite condensado cozido, creme holandês com morangos, glacê de antigamente, chocolate branco.
O fato é que este ombro tão carinhosamente me ofertado, deixou saudades. Mas saudade da boa, daquela que provoca um leve sorriso e brilho nos olhos.
Saudade da boa!