Nesse momento tem sido muito difícil organizar os pensamentos e colocar em palavras aquilo que estamos vivenciando.
Quando resolvi trabalhar com gastronomia muitos propósitos e sentimentos se juntaram e cristalizaram na minha mente…
Juntar todos numa mesma mesa, mesmo com gosto, filosofias e propósitos diferentes…
Acolher as diferenças…
Mostrar que é possível ter um negócio e ao mesmo tempo fazer parte de uma corrente de conscientização em prol do nosso planetinha…essas foram algumas das coisas que nos guiaram.
Para um Chef de cozinha tudo importa, desde a procedência do ingrediente (nossa base), passando pela confecção de prato (a obra) à reação das pessoas (nosso guia).
Não poder ver nossos propósitos realizados dói, não ter as pessoas ao nosso redor para compartilhar das experiências as nossas mesas dói, mas sabe o que mais dói? Não saber o que esperar do futuro, ter que pensar se vamos conseguir manter nossos colaboradores, pensar quantas pessoas fazem parte da nossa rede e que se tornaram família para nós e não sabemos como garantir a subsistência de toda essa rede.
Trabalhamos lado a lado todos os dias…rimos, choramos, nos apoiamos, mas e agora?
Num primeiro momento nos reinventamos, passamos a não atender no restaurante … saímos na frente e começamos a produzir marmitas…estávamos vendendo horrores, mas … e o pavor de não saber se estávamos levando esse vírus para nossos familiares e clientes?
Optamos por parar…não sei se quando tudo isso passar terei um restaurante…mas a cada dia estou aprendendo mais e mais o que realmente me importa…e cheguei a conclusão que sempre será a vida.
Continuarei pagando meus funcionários enquanto for possível…quando não for mais, vou dividir meu pão… negócios vem e vão… a vida tem que continuar a qualquer custo.
Que ao final disso tudo tenhamos regatado nossa tão frágil humanidade.