Curta, falhada, perfeitinha, pontiaguda como um cactus, messiânica, patética, grande e emblemática, terrorista, pueril, tracejada, lenhador, ruivinha, grisalha, preta, loira, branca Noel, grossa, rala, sistematicamente cortada ou mal ajambrada como um naúfrago.
Não importa.
Um dia todo homem quer deixar a barba crescer e ver o que a genética guardou para seu rostinho.
Pra saber como é. Ou não é.
Minha relação com a barba (dos outros) começou cedo quando pedia para passar o creme Bozzano no rosto do meu pai, pincelando tudo, menos o bigode. Ele fazia religiosamente a barba, mas deixava o bigode intacto aparando e medindo como num momento sacro.
Gostava de olhar.
Meu avô também assim fazia. Do mesmo jeito.
Depois vi meu irmão brigar, conversar e renegar sua barba por anos a fio, já que dividíamos o mesmo banheiro.
Depois alguns namorados.
E daí o marido, que também teve várias facetas desde a mais lisinha até a mais áspera. E hoje sei muito bem o que vai acontecer com meus filhos um dia. E acho incrível!
Nós mulheres, não sabemos o que é isso. Deixar os pelos crescerem, aflorarem e dominarem, mas deve ser ótimo isso poder acontecer quando se quer.
A barba é uma verdade. Ela existe pra quem quiser. Os homens têm um privilégio em usufruir dessa condição social que boa parte das mulheres, verdade seja dita, gosta e muito.
Tive um tio que pouco falava, mas quando passava a mão na barba parecia ter todos os argumentos do mundo. Ele tinha um ar “fodão”, meio Sean Connery e uma reputação de namorador, um dia tirou a barba porque perdeu uma aposta. Acabou-se a magia.
“O que aconteceu com o Arnaldo?”
“Ele tirou a Barba?”
” Por que?”
Indagavam as moçoilas inconformadas da rua Maria Monteiro.
Era criança, mas atenta.
Acredito que como as mulheres usam seus cabelos, os homens usam a barba para criar pontos fortes e ocultar algumas fraquezas.
Acho incrível o número de barbearias que estão tomando conta da cidade dando aos homens formatos e texturas. Mas também acredito que como muitas mulheres, os homens devam atentar- se a realidade. Ou seja, não adianta querer ter a barba cheia do Ben Affleck se você só tem três pelinhos lindos. Melhor investir em outros aspectos e não sofrer com isso. Disso entendemos bem.
Novamente o difícil equilíbrio entre desejo e realidade.
Dentro desse mar de pelos não custa lembrar que atrás de toda essa barba que dia a dia brota dos poros dos novos homens a grande tendência é mesmo entender esse novo homem plural e contemporâneo convidado diariamente a discursar não somente sobre sua barba, mas também sobre si mesmo.