Mudar é um coringa. O da carta, não o do cinema.
Mudar é, ao mesmo tempo, assustador e empolgante, um peso e um alívio, uma dor e um prazer… Mudar pode ser ruim quando as coisas estão boas, mas é a melhor saída quando as coisas estão ruins.
Nossa sociedade está sempre em movimento e sempre em busca de algo melhor, ainda que se torne temporariamente pior nesse processo. E nossa sociedade começou a mudar, algum tempo atrás. Uma leve melhora que provocou os egos mais conservadores que, na ânsia de proteger sua “zona de conforto”, lutaram contra essa melhora, o que fez de todos nós um pouco piores.
Mas isso é bom! Porque só quando nos sentimos desconfortáveis ou ameaçados é que resolvemos nos mexer. E nós crescemos somente quando existe um obstáculo à nossa frente. A piora é só o efeito colateral dos primeiros passos para a melhora.
Eu gosto de mudanças. De todas as mudanças! As que trazem dor e as que trazem prazer. Sim, ambas! A mudança, para mim, remete a desconforto, como para todos, mas desse desconforto surgem a excitação das novas informações e, com elas, novas possibilidades. Nossa sociedade, nossa cultura, principalmente nossos valores estão muito doentes e a cura só vem com a mudança.
Nestas eleições, eu busquei muitas mudanças e torci para que elas fossem as mais radicais possíveis. Agi até onde pude, mas fui limitado a dois míseros votos. Queria ver a maior diversidade possível nas casas executivas e legislativas deste imenso País, mas, com coerência e conhecimento, só consegui apoiar duas mulheres: uma para a Prefeitura e outra para a Câmara dos Vereadores.
Ao final, minha cidade querida terá 3 mulheres e 2 transgêneros* no seu conselho legislativo. Satisfação! No executivo, contudo, as opções sobreviventes são mais do enferrujado e hipócrita mesmo. Frustração.
Eu entendo que o momento é das mulheres e precisamos delas. Elas estão melhor preparadas para o cenário atual, pois elas não têm os vícios do poder patriarcal, têm a sensibilidade de quem é orientada para a congruência, para a união, e elas têm a virtude de dar voz a todos, coisa que anda em falta na cultura tupiniquim dos últimos tempos. O momento é também de quem não se vê lá, nem cá, ou, estando lá, sabe que seu lugar é aqui e vice-versa. Ser LGBTQI+ é ser disruptivo em essência. E a ruptura com o sistema é a mudança que nós mais precisamos!
Estamos longe ainda da diversidade que eu considero ideal, mas os resultados desta eleição, ao menos em São Paulo, trazem um avanço sem a menor sombra de dúvidas!
Parabéns a quem chegou lá e a quem contribuiu para esse princípio de mudança! Aos que tentam conter essa mesma mudança, sugiro que olhem para os dois lados, antes de atravessar a rua.
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* Fico, aqui, imaginando como cada um leu o número “2”.
REFERÊNCIAS:
RODRIGUES, Artur. Trans na política são resposta ao bolsonarismo, diz Erika Hilton, 6ª vereadora mais votada em SP. São Paulo: Folha de São Paulo, 16 nov. 2020. Disponível em: . Acesso em: 17 nov. 2020.
UOL Eleições 2020 – Apurações. São Paulo: UOL, 16 nov. 2020. Disponível em: . Acesso em: 17 nov. 2020.