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Primeiro de Abril

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Naquele 1º de abril, antes de amanhecer o dia e já acordada, ela se dá conta da mudança que ela enfrentará naquele mês. Seria impossível terminar abril como começava…

Olhando-se no espelho depois de lavar o rosto, ela avalia quem está lá olhando para ela. Os mesmos olhos, a pele meio marcada do travesseiro… No geral, gosta do que vê, não resiste e sopra um beijo ligeiro.

Enquanto o aroma de café inunda a cozinha, pensa e pensa, não veria o jornal da manhã na tv hoje e do jornal impresso, só olharia a charge do Dálcio e talvez a página de Cultura. O mundo dela se agitava e o mundo se agitava. Desafios que ela enfrentaria seriam bem-vindos, mesmo sendo fontes de grande ansiedade. O que tivesse que ser seria e ela faria o seu melhor para que o resultado fosse positivo, seja lá qual fosse. Seria Bom.

Mas o mundo lá fora estava dividido entre nós e eles, com articuladores criando discórdia… Aquilo certamente levaria a algum extremo que nem era bom pensar. Aliás, pensar era algo complicado em épocas de ânimos acirrados e turbas descontroladas. Faltava bom-senso e sobravam rótulos.

No caminho para o trabalho, ela se indaga quando aquilo ferveria de fato. Mas, por algum motivo estranho, o que seus olhos veem são outras coisas.

Um carro quebra, atrapalhando o trânsito. Ninguém xinga. Um moço, de bicicleta, para e ajuda a tirar o carro da via, alguém pode ser elite, alguém pode ser plebe, mas naquele momento são amigos desconhecidos, ajudando-se, apertando as mãos e sorrindo. Ela sorri também.

Mais adiante, uma filha tenta atravessar a rua com seu pai idoso, alguns carros param e esperam pacientemente aquele senhor, de pernas frágeis, alcançar a calçada do outro lado. Ninguém buzina nem faz cara feia. Alguns devem ser coxinhas, outros esquerdopatas, nunca saberia.

A moça lhe entrega o jornal Metro no semáforo, sorri e lhe deseja bom-dia.

Alguém segura o elevador, alguém dá licença, ninguém espera nada em troca. Pessoas que se organizam para tornar as suas vidas e as dos outros mais fluída… Independente de idade, cor, religião, visão política, gênero ou orientação sexual. Gentileza gerando gentileza num círculo sem fim.

Só que teria fim e seria antes do fim de abril. Aquelas mesmas pessoas urgiam por mudanças e se enfrentariam, xingariam e rotulariam uns aos outros, independente do desdobrar dos acontecimentos.

Mas hoje é 1º de abril e ela escolhe viver a verdade daquele momento bom, início de um novo ciclo.

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Synnöve Dahlström Hilkner Bela Urbana, é artista visual, cartunista e ilustradora. Nasceu na Finlândia e mora no Brasil desde pequena. Formada em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda pela PUCC. Desde 1992, atua nas áreas de marketing e comunicação, tendo trabalhado também como tradutora e professora de inglês. Participa de exposições individuais e coletivas, como artista e curadora, além de salões de humor, especialmente o Salão de Humor de Piracicaba, também faz ilustrações para livros. É do signo de Touro, no horóscopo chinês é do signo do Coelho e não acredita em horóscopo.

 

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