Saudade passa?
Não, não passa, engana-se que crê que já a viu passar, algum dia, em algum lugar.
Saudade é para sempre, conforme-se.
Pelo menos as saudades das grandes. Estas são definitivas.
Acomodam-se, é verdade, ou melhor, arrancham-se, sem a menor cerimônia, e ficam ali, sem data de partida, despachadas, mas com um olhar insistente, que a tudo observa.
Sentinelas atentas ao menor movimento do coração.
Há dias em que parecem mais luminosas, mais leves, como manhãs de verão, e até as achamos belas.
Há dias em que são mais macias, como travesseiros de plumas, e nelas nos recostamos, em busca de algum aconchego, de algum descanso, mansidão.
Há dias, porém, que são como tempestade, vento forte, violenta inundação.
É fato: saudades são como seres mutantes, imprevisíveis.
Ora amigas serenas, ora impiedosas, brutalmente insensíveis,
ansioso turbilhão.
Convém, sim, acalmá-las.
O tempo, normalmente, é bom nisso.
Uma vez sossegadas, as saudades nos devolvem os momentos,
abraçam-nos com lembranças, enxugam-nos os olhos e nos sorriem.
Sim, saudades às vezes sorriem.
Um sorriso silencioso, complacente,
desses que só a Alma enxerga,
só a Alma compreende.