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Um olhar terapêutico sobre o relacionamento abusivo

Um dos grandes desafios da vida é conseguir identificar se o que estamos vivendo nos faz bem, ou se estamos simplesmente acostumados com o que estamos vivendo.

Relacionar-se é uma manifestação constante de sentimentos, sonhos, admiração e respeito.

Por sua vez, quando começamos a pensar:

  • Que a relação irá melhorar;
  • Que a promessa um dia irá acontecer;
  • Que a esperança é um sentimento que sustenta “o nada”; e
  • Que nos apaixonamos por uma expectativa.

Temos que nos conscientizar se isso é saudável ou se é somente uma expectação (relacionamento abusivo).

A seguir, irei enumerar alguns sintomas sobre relacionamento abusivo e gostaria de que seja feita uma simples reflexão:

  • A pessoa costuma a humilhar e desvalorizar?;
  • Costuma deixar confusa(o) em relação ao ocorrido, justamente para não chegar a nenhuma conclusão e com o intuito de manipular a percepção da vítima?;
  • A crítica passa ser usual e quando a vítima propõe alguma conversa, a pessoa se recusa a falar do relacionamento?;
  • O controle passa a ser uma condição para continuar o relacionamento (comportamento de dominância)?;
  • O afeto não existe e o único sentimento que a vítima vivencia é a culpa?;
  • A pessoa, intencionalmente, isola a vítima de seus familiares?;
  • O dinheiro é um fator de controle?;
  • Sempre são ditas frases do tipo: “Eu te amo, mas…”?;
  • Há mal humor extremo?;
  • A pessoa faz piadas constantes sobre as suas características?;
  • Enfrenta relações extraconjugais?;
  • Controla vestimentas, postagens nas redes sociais?;
  • Exige senhas de e-mails, redes sociais e celular alegando amor?;
  • Há um sentimento de impotência, sem esperança?;
  • Sofre ameaças para fazer algo que não queira fazer?;
  • A pessoa convence a vítima de que ela nunca encontraria nenhum relacionamento bom como esse?;
  • A vítima tem o outro como alguém superior a ela?;
  • Investe muito tempo pensando e se dedicando à vida do outro?

Se a reflexão é afirmativa para alguns desses pontos, cuidado, pois são alguns sintomas clássicos de quem está em um relacionamento abusivo.

Há 6 (seis) tipos de violência, de acordo com a Cartilha “Mulher, valorize-se: conscientize-se de seus direitos”, publicada pelo Núcleo de Gênero Pró-Mulher da Coordenação dos Núcleos de Direitos Humanos (2012, Ministério Público do Distrito Federal e Territórios – MPDFT, 6ª edição, Dezembro/2015), a saber:

  • Psicológica: Qualquer ação ou omissão destinada a controlar ações, comportamentos, crenças e decisões de uma pessoa por meio de intimidação, manipulação, ameaça, humilhação, isolamento ou qualquer outra conduta que implique em prejuízo à saúde psicológica. Vale lembrar da vítima que é proibida de trabalhar, estudar, sair de casa ou viajar, falar com amigos e familiares;
  • Física: Qualquer ação ou omissão que ofenda a integridade física, por exemplo, quando o corpo é agredido, beliscões, tapas, socos ou qualquer outro golpe dado com um objeto;
  • Patrimonial: Qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
  • Moral: Qualquer ação destinada a caluniar, difamar ou injuriar a honra ou a reputação da mulher;
  • Sexual: Qualquer ação que obrigue uma pessoa a manter contato sexual físico ou verbal com uso da força, intimidação, coerção, chantagem, suborno, manipulação, ameaça ou qualquer outro meio que anule ou limite a vontade pessoal. Pode ser praticada por conhecido ou desconhecido; e
  • Simbólica: Que se expressa por meio da força da ordem masculina já instalada na cultura e convenções sociais.

A vítima exposta à situação aversiva, por um período considerado longo, apresenta um senso de realidade afetado e com isso se mantém nessa relação, pensando que todos os comportamentos ruins da relação são causados pela má compreensão da vítima para com o(a) agressor(a), sendo que o sentimento de culpa se instala de forma constante, recorrente e que se engrandece mais e mais.

Neste ciclo de violência instalado somente com a conscientização é que se poderá haver a discriminação dos aspectos do comportamento do(a) agressor(a).

Ainda, de acordo com a Cartilha “Mulher, valorize-se: conscientize-se de seus direitos”, citada anteriormente, 3 (três) fases do comportamento do podem ser identificadas:

  • Fase 1: Tensão – Nessa fase acontecem incidentes menores, como agressões verbais, ameaças e destruição de objetos. A vítima geralmente acredita que pode contornar o problema e que a situação está sob controle;
  • Fase 2: Explosão – A tensão acumulada na fase anterior evolui para agressões físicas de variadas intensidades. A constatação da violência pela vítima pode levá-la(o) a denunciar o(a) agressor(a) e a procurar ajuda;
  • Fase 3: Lua de Mel – Nessa fase ocorre a manifestação de arrependimento do(a) agressor(a), que geralmente se dispõe a mudar e justificar as agressões em diversos fatos, tais como: ciúme, desequilíbrio emocional, estresse, alcoolismo, dentre outros;

Infelizmente, a vítima acredita que o episódio foi um incidente e acaba se reconciliando com o(a) agressor(a), o que reforça ainda mais o relacionamento abusivo.

As consequências da violência doméstica/relacionamento abusivo são delicadas e podem permanecer durante muito tempo. Além das marcas físicas, ainda poderá haver influência na vida sexual da vítima, baixo autoestima e dificuldade em criar laços com outras pessoas.

Alguns sintomas como insônia, falta de concentração e memória, irritabilidade, falta ou aumento do apetite, aparecimento de depressão, ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, comportamentos autodestrutivos, como o uso de álcool e drogas, ou mesmo tentativas de suicídio tendem a aparecer, com frequência.

Por certo, para que possa ser obtida a conscientização sobre o problema da violência doméstica, bem como para o empoderamento da vítima, torna-se primordial o auxílio especializado, psicoterapia, a qual é um pilar fundamental do processo de desvinculação do relacionamento abusivo, sendo que a ausência de referida ajuda acaba por atrasar, sobremaneira, a libertação da vítima.

Com a psicoterapia, a vítima passa a encontrar um objetivo de vida e começa a traçar metas para alcançá-las, dedicando o seu tempo a isso; passa a frequentar outros lugares sem o(a) agressor(a), com o intuito de aumentar o seu círculo social e não ter apenas uma pessoa como pilar de “alegrias”.

Ainda, no âmbito da psicoterapia, é trabalhada a “rigidez” da vítima, a autoestima e o autoconhecimento, sendo que a vítima é levada a refletir sobre os pensamentos, aprendendo a avaliar os seus sentimentos, a motivação de suas escolhas, o resgate de seus desejos e vontades, os quais ficaram escondidos por conta do relacionamento abusivo.

Nesses aspectos de revisita a si mesma, de reflexão sobre o ocorrido e aprendizagem na busca da variação/mudança do comportamento, imprescindível que a vítima de violência, fruto do relacionamento abusivo, seja auxiliada por um(a) profissional da psicologia, que é quem possui diversas “ferramentas”, técnicas científicas e métodos corretos para auxiliar na desvinculação do relacionamento abusivo, inclusive podendo a psicoterapia ser complementada por outros tipos de ajuda especializada.

Clarissa Saito Lopes – Bela urbana. Psicóloga Comportamental, Terapeuta clínica há 17 anos. Especialista em Terapia Comportamental pela USP. Formada pela PUC-Campinas. Casda,mãe do Heitor. Gosta de estar com sua família, viajar e ama o mar e o sol.
Contato: e-mail: clarissafyds@gmail.com
Celular: 19 991120055
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