Um jovem empresário rico e influente é acusado de estupro. A culpa é da vítima, que não é nem rica, muito menos influente. A vítima tem provas, vídeos chegando e saindo do local do estupro, conduzida pelo estuprador, ela, visivelmente desorientada. Exame que comprova que ela foi penetrada e perdeu a virgindade, esperma com DNA do sujeito no vestido e corpo,
mensagens de texto pedindo ajuda a amigos. Mas ela não tem o exame toxicológico positivo, visto que algumas substâncias ficam pouco tempo no organismo e, por isso é condenada. Durante a audiência, a vítima é torturada pelo advogado de defesa do réu. O juiz e demais presentes permitem, calados, quase em deleite, que ela seja humilhada pelo representante machista do que a nossa sociedade patriarcal tem de pior exemplo, na tentativa visível de lhe roubar a dignidade por total.
E o papel do promotor, que deveria representar a justiça contra o réu o que fez? O primeiro promotor do caso e que acusava o estupro, foi convenientemente promovido e precisou deixar o caso. O promotor que assumiu, apresenta a absurda tese do estupro sem dolo, ou seja, o
pobre réu não poderia saber que o estupro não estava sendo consentido.
O caso escancara o que há de pior numa sociedade. A influência do réu, amigo de herdeiros da mídia brasileira e empresário de grandes jogadores, mostra a facilidade com que o caso não foi evidenciado nos grandes canais jornalísticos. A situação financeira lhe dá acesso aos advogados mais caros. Uma bancada de justiça representada unicamente por machos. E pior, a
humilhação da vítima, que foi totalmente massacrada por quem deveria tê-la acolhido.
Muitos se perguntam por que as vítimas de estupro, em tantos casos, não denunciam seu agressor. No caso de Jurerê Internacional, Mari Ferrer foi violentada de tantos modos que só com muita coragem, uma mulher encara uma situação dessas. A justiça é que foi violentada!
O juiz absolveu o empresário por falta de provas, mas a tese da promotoria de estupro culposo abre precedentes perigosíssimos para as mulheres e demais potenciais vítimas de estupro. Estuprar sem intenção de estuprar. Eu diria que existe também o julgamento culposo: julgar a vítima sem intenção de condenar o réu.