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Quando não temos respostas

A violência contra a mulher, infelizmente é algo recorrente no Brasil. Estamos em uma época em que se fala muito sobre o assunto, mas até o momento esse triste episódio aumenta a cada dia.

Os meios de comunicação denunciam todos os dias violências físicas, verbais, patrimoniais. Lis foram implementadas, aumento da punição penal, além da medida protetiva. Alertam como tudo isso acontece, o padrão que muitas vezes quem está dentro de um relacionamento tóxico e violento não percebe ou até percebe, mas, muitas vezes, já é tarde demais.

São situações que as mulheres são enganadas e talvez até se deixam enganar por vários motivos que aqui não devem ser julgados.

Quando essa situação acontece longe da gente, o sentimento é de indignação, tristeza pelo outro; agora, quando se trata de alguém que amamos profundamente, aí a situação muda completamente.

Essa história é da minha mãe, uma mulher forte, firme, altruísta, de um coração gigante e uma sabedoria incrível. Passou por situações na vida muito difíceis, como, por exemplo, três abortos espontâneos. Hoje ela tem a mim e ao meu irmão, que é do segundo casamento dela, e esse foi o problema: o segundo casamento dela.

Nos anos iniciais do casamento já mostrou comportamentos, ou preferiu não ver, não sei. Atitudes como: você não sabe cozinhar, não tenho condição de sair com você, você é incapaz, a culpa é sua, palavrões. Exigências de casa limpa como condição para qualquer coisa.

A partir disso, quando de alguma forma ele se sentia contrariado,  porque minha mãe fazia o máximo para que isso não acontecesse, as reações dele eram murros na parede, na porta de vidro, nos mostrando o sangue nas suas mãos e colocando a culpa na família. A violência física, até onde eu sei, não aconteceu.

Minha mãe é aposentada, mas não tem o gosto de receber seu próprio dinheiro. Ele recebe, desconta uma parte que ninguém sabe para que seja usado e entrega o restante do valor a ela. Fora um valor de herança que ele administra, segundo o seu argumento, está aguardo para a velhice, só que a velhice já chegou, ele tem 70 anos e ela 73.

Aos poucos, minha mãe foi perdendo a identidade, ficou mais ansiosa, foi aos poucos se retraindo a cada grito, grosseria e desrespeito. Chegou o momento em que as atitudes dele passaram a ser perto das outras pessoas, que observavam e se afastavam de nós por não aguentarem tantos maus-tratos com a minha mãe.

Quanto a mim, como filha, briguei muitas vezes, coloquei minha mãe para fazer terapia, mas ele conseguiu tirá-la. Tentamos, eu e meu irmão, o diálogo, mas sem sucesso. Tentei resolver judicialmente e nada; minha mãe nunca quis denunciar, já que o argumento dele que sempre a convenceu era de que ela tem uma casa confortável e não falta comida em casa. Por fim, tentamos também junto a várias denominações religiosas, todas as tentativas impedidas por ele, por falta de crença e por discordância na forma de se resolver, já que, para isso, também seria necessário que ele mudasse suas práticas.

Hoje ela está com Doença de Alzheimer, está tratando com remédios. Faço o meu possível para que essa doença demore a progredir, quem sabe, com os estudos, possa ter cura.

Ela faz musculação, pilates e curso de internet para aprender a manusear Whatsapp e redes sociais.

Nas crises, que já estão começando a acontecer, ela fala com o marido tudo o que não falou por 39 anos. Hoje ela grita e ele se coloca na posição de vítima e de alguém que está fazendo o favor de cuidar dela. Esse cuidado é feito xingando, querendo que ela se comporte, muitas vezes, como se não estivesse com a saúde mental debilitada.

Com tudo isso, fica a pergunta: por que tudo isso acontece com uma pessoa de coração tão bom quanto ela? São perguntas sem resposta, mas prefiro viver cada momento que podemos juntas, fazendo o meu melhor como filha, já que ela fez o seu máximo como mãe.

Quando não temos a resposta, cuidamos, abraçamos e amamos até o fim!

Anônima – Mulher, mais de 35 anos, filha.

1 thought on “Quando não temos respostas

  1. Nem tenho como comentar, a não sei dizer o quanto sinto quando me deparo com um relato tão triste quanto esse. Tive a sorte, em 50 anos de casamento em ter um companheiro amoroso, carinhoso, em todos os momentos. E me pergunto, porque grande parte dos homens tem demonstrado essa violência que são diariamente retratados? Muito triste, …😢😢😢

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