Há alguns anos, comecei com uns calores horríveis, exames de rotina e POF: estava na “menopausa”, era o conhecido fogacho!
Mais exames, conversas com meu médico, leitura de artigos científicos sobre o tema, histórico materno de câncer de útero… algumas decisões a tomar…
Mas, pior do que a onda de calor, irritabilidade, às vezes, um cansaço absurdo e algumas paranóias que vão surgindo: “Será que vou perder o tesão?” Será que vou perder a lubrificação?” “Será que esse calor não vai passar nunca?” “Será que esse ressecamento dos pés, das mãos e da pele em geral vai ser sempre assim?” “Será? Será? Será?”
Na realidade, essa fase entre ser fértil e deixar de ser fértil é o climatério – definida como “fase crítica”, a menopausa é definida pela ciência como: “fim dos ciclos menstruais, fim da idade fértil, fim do ciclo reprodutivo, perda da atividade folicular.”
Os nomes e definições não ajudam a mente pensar positivo, tudo leva ao fim doloroso, vexatório… falta dignidade nesses termos e conceitos.
Mas todas as alterações hormonais, todas as possibilidades de mudanças neste período na vida e no corpo da mulher não se comparam ao fato, de ainda, em pleno 2021, nós, as próprias mulheres, termos o preconceito de falar que estamos na menopausa.
Frequentemente, sou repreendida por alguma amiga: “Adriana, para de falar que estamos na menopausa!” Como se fosse uma fase vergonhosa, a ser escondida, tanto de outras mulheres, quanto dos homens! Não é assunto recorrente nas mesas de bares somente com mulheres!
Entrar na menopausa ainda tem um marco forte de preconceitos contra a mulher, da mesma forma que assumir a idade… é como se fôssemos predestinadas a permanecermos eternamente na juventude! Entrar na menopausa de forma assumida é ter orgulho da nossa história percorrida, da nossa vida de menina que virou mulher com a primeira menstruação, das nossas experiências sexuais, do nosso prazer em transar, gozar sem travas, sem preconceitos, de assumirmos para nós mesmas e para a sociedade: estou na menopausa e tenho orgulho da trajetória da minha vida que me fez chegar até aqui!!!!
Aliás estou melhor com quase 50 anos do que estava ao fazer 40, e melhor ainda do que quando tinha 30 anos! A menopausa não é o fim: é o início de um momento em que nós, mulheres, poderemos ser tudo que queremos ser, podemos até não ter tanta certeza do que queremos, mas temos convicção do que não aceitamos! Então vamos nos libertar e viver sem amarras, sem preconceitos contra nós mesmas! Menopause-se!
Sou cartunista, mas não leio o futuro nas cartas. Desenho o presente com lápis e humor.
Minha formação acadêmica é em Comunicação Social, Publicidade e Propaganda e já trabalhei na área. Depois, aliando o mundo business e o meu conhecimento fluente em alguns idiomas, passei a dar aulas. Também trabalho com construção civil, junto com a família.
Porém, a minha grande paixão é a arte! Já sofri muito pela falta de tempo de produzir o que minha mente criativa pedia. Cores, tintas, lápis, papéis, dá até água na boca de pensar.
Juntando a arte com a veia de humor, que sempre esteve presente em mim, nasceu a cartunista. Há alguns anos tomei coragem e inscrevi uma ou duas caricaturas em salões de humor, que foram selecionadas e eu passei a amar esse novo mundo que se abria. Com o passar do tempo, o vício foi dominando e, charges, cartuns, até tirinhas foram surgindo. O Brasil é uma terra rica em matéria-prima para essa arte, seja pela homenagem às nossas grandes figuras ou pela crítica à política do momento. E tem o mundo.
Nunca pensei ser a ‘mulher cartunista’, mas, aos poucos, acabei me tornando uma ativista cultural também. Fui percebendo a pouca representatividade feminina na área e procurei entender os motivos para isso, visto que o mundo do cartum é uma bolha masculina. Os grandes chargistas são majoritariamente homens – procure “cartunistas do Brasil” no Google – e nem mesmo eles parecem perceber esse círculo fechado em que vivem.
Sabemos que, há muitos séculos, existe um trabalho por parte de sociedades, principalmente as religiosas, para destruir a relevância do papel da mulher. O sexo frágil, a bela, que deve ser também recatada e do lar. No seu papel de procriadora, ela acabou sendo dominada e o seu conhecimento ancestral foi chamado de bruxaria e queimado nas fogueiras da inquisição e outras semelhantes.
Quando surgiu o movimento feminista, toda a luta foi desmerecida. O que se buscava era a igualdade de direitos, como poder votar, trabalhar, ter direito à herança, sair à rua desacompanhada e sem ouvir bobagens. Mas denunciar o machismo é coisa de “histérica”, ela é feia, tem sovaco cabeludo, não gosta de homem, mal-amada, não conseguiu segurar marido, a lista é longa… O humor que ela desenha é, também, desmerecido como arte inferior.
Uma vez, em uma feira de quadrinho, na Alemanha, Maurício de Sousa foi indagado sobre a falta de mulheres quadrinistas em sua comitiva. Ele respondeu que, no Brasil, “Mulher ainda não tem essa liberdade sem vergonha que homem tem, de trabalhar até tarde, tem que cuidar da casa, dos filhos, quadrinho exige muito tempo de dedicação”.
A mulher, como protagonista de seus próprios desenhos de humor precisava ser resgatada e furar a bolha.
Na procura por essas cartunistas, salões de humor, exclusivos para mulheres, surgiram, como é o caso do “Batom, Lápis & TPM”, que acontece todo mês de março, em Piracicaba e que reúne artistas, que, mesmo espalhadas pelo mundo, são muitas e seus desenhos e mensagens são impressionantes. Sororidade passou a ser um lema. Esse ano, 2021, houve a tentativa da secretaria de cultura de Piracicaba de cancelar o Salão. Quando tomei conhecimento de que não haveria uma edição inédita, entendi que era a hora de mobilizar os cartunistas e passei a enviar mensagens e e-mails mundo afora e, assim, conseguimos reverter a situação. Preciso dizer que também recebi algumas reações estranhas, de negação, como se o salão fosse realmente algo inferior e que não merecia atenção, por parte de pessoas que eu admiro. Não guardo rancores, mas guardo nomes…
Trata-se de um precedente perigoso. O primeiro corte é nas mulheres. Era preciso agir para que não houvesse corte (ou censura) a outras exposições de humor. O Salão de Humor de Piracicaba tem uma longa tradição de resistência política. Nasceu no auge da ditadura militar no Brasil e está em sua 48ª edição, em 2021. Todos os anos o Salão Batom, Lápis & TPM, abre a temporada, em março. Em seguida, sai o regulamento e as inscrições para o salão principal, que acontece em março. Muitas atividades são levadas às escolas da cidade, e existe o salãozinho, para crianças. Quem sabe o que mais pode ser cortado, alegando custos e organização, mas sabe-se que é política. E parece que a atual política é tendenciosa à censura do humor questionador.
Há 3 anos, eu fiz a curadoria da exposição “Humorosas”, que reuniu 20 artistas. A ideia original foi do amigo artista, o Robinson, para expor as mulheres artistas que fazem humor. Foi um sucesso, a abertura foi no MACC, Museu de Arte Contemporânea de Campinas, depois passou por mais 3 locais, antes de encerrar. Estamos programando uma nova edição de Humorosas para logo, pois temos um problema recorrente. Hoje, nas páginas das redes sociais, que anunciam festivais de humor, pouquíssimas mulheres são mencionadas. Quando uma de nós levanta a questão, denunciando o clube masculino, a recepção é sempre fria e negado o machismo. Acabo de ver um cartaz com “cartunistas do Brasil”, com umas 100 fotografias. Não cheguei a ver 3 mulheres entre os grandes.
O trabalho de charges, cartuns e caricaturas que realizo, estão muito ligados a essas situações, de sexismo e política, basicamente. Recebo prêmios e críticas pelo meu trabalho. Prêmios no Salão Internacional de Piracicaba e, ano passado, 2020, o “Prêmio Destaque Vladimir Herzog Continuado”, junto com 110 cartunistas (6 mulheres), por uma charge continuada, em apoio a um cartunista, ameaçado pela Lei de Segurança Nacional. Críticas vem nas formas mais variadas. Tem gente que acha que eu não devo criticar o governo, que acha que estou torcendo contra. Tem gente que pergunta se eu não tenho medo. Medo do quê, amigo?
Enquanto conto os números de mortos na pandemia, a cada charge ou texto que publico, nunca terei medo de expor as mazelas e irresponsabilidades de um governo genocida. Não é um prazer desenhar o terror que estamos vivendo e ainda tentar agregar humor. Para mim, é um dever. Estamos em março de 2021 e nadando a braçadas para os 300 mil mortos pela Covid-19.
O ano começou ótimo para ela. Pretendia se formar na faculdade. Sim, essa era sua prioridade, já que seus pais sempre lhe disseram o quanto ter seu próprio diploma era importante; o quanto independência intelectual e financeira eram tudo na vida de uma mulher. Por isso, ela também ia encontrar um emprego. Um bom, daqueles que se tem possibilidade de crescer e orgulho de contar para a família. Família. Ela pretendia visitar seus avós toda semana. Agora, ela podia dirigir! Parte da tão cobiçada independência já estava bem encaminhada. Esse ano ela poderia ir sozinha pra a faculdade; poderia visitar os amigos; ir a festas; viajar com o amor de sua vida. Tão jovem, e já havia encontrado o amor! E ela planejava aproveitar naquele ano. Aquele ano prometia… além de tudo isso, sua autoestima estava melhor do que nunca, ela acabara de começar a fazer aulas de dança, ela tinha idade para ir aos bares e começar a explorar a vida.
E que vida ela tinha planejada! E começava agora!
Que ano era esse? Esse ano era 2020.
Em março, tudo estava caminhando em direção a um ano de sucesso, quem sabe o melhor de todos? Era isso que ela prometia para si mesma todo Ano Novo: fazer esse ano ser o melhor da sua vida.
Até que, um dia, tudo se despedaçou. A faculdade foi cancelada, e todos foram mandados para casa. Ela deu adeus a um emprego, já que não tinha mais ninguém contratando. Pior de tudo, ela nem podia sair de casa! Como veria seus avós? Como os poria em risco? Sairia de casa para que, então? E suas viagens? Seus amigos? A dança? As festas e bares? De que serviria a carteira de motorista que ela lutara tanto para conseguir?
E a distância doía…
A solidão aumentava a cada dia, como se ela fosse uma mochila cada vez com um livro a mais dentro de si. Pesava. E sufocava. Que importava o que ela pensava sem ninguém para compartilhar? E no que ela poderia pensar, se nenhum dos objetivos dela podiam mais ser alcançados? E a cada dia, ela sentia que aquilo que, um dia, ela sonhou, importava menos e menos… até que ela se tornou um recipiente vazio.
Sem forças, comia menos. Não estudava mais tanto, porque não importava. Se afastou dos amigos e perdeu contato com a família. A cada dia ela entrava mais e mais dentro de si. E a cada dia ela encontrava menos e menos para ver.
Um dia ela acordou no meio da noite. Estava fraca e sem vontade. Estava sem ar. Abriu a janela de seu quarto. Olhou para as estrelas. Olhou para as ruas vazias. Viu a lua. Viu as árvores. E se espantou. Tudo ainda estava lá! Ela havia se esquecido! Esquecera-se de tudo fora de sua janela! Esquecera-se da linda paisagem que a aguardava! Esquecera-se das pessoas que esperavam por ela! Esquecera-se do mar, que ela não podia ver, mas tinha certeza de que estava lá! Esquecera-se de quem ela prometera ser! Esquecera-se de viver! Afinal, havia esperança, e estava lá! Tudo que ela queria estava lá, quieto na calada da noite, pausado, à sua espera, suspenso, mas o vento disse a ela que não era tarde! Que amanhã ela teria uma nova chance de sonhar! Uma menina, uma criança, 20 anos não é tempo de desistir de tentar!
Ela não dormiu mais naquela noite. Estava atrasada. Sem tempo. A vida esperava por ela. Ela sentia saudades do sabor! Do seu prato favorito; de um abraço de seu pai; de um beijo de amor; de fracassar! Mas de tentar de novo. Ela tinha tanta energia armazenada e queria começar a gastar agora! Ela tinha saudades do saber! Da fome dos livros! Da ambição que tinha antes! Ia demorar um pouco para reconquistá-la, mas aquela menina ainda estava lá! Pouco a pouco, a vontade brotou dentro dela como uma pequena muda, pronta para se tornar uma frondosa árvore. E ela a regou. Ia garantir que crescesse e que ela pararia de ser a sombra em seu caminho. Ela seria luz.
Ela abriu a porta de casa. Respirou o ar puro. Não, não era tarde. Ela guardou aquela vista. Guardou as memórias. Com o gosto de liberdade na boca, ela entrou de novo. Sorriu.
Agora, ela era uma mulher de 20 anos. E estava pronta.
Que muitas vezes se transforma em duas e em “dois”, de pai e mãe.
Que suporta as dores da vida com solidez de algo másculo e que mesmo assim, é capaz de sorrir para a vida, sem deixar as amarguras vividas abater o teu semblante de esperança constante.
Viva a essa mulher artista!
Nós homens, somos conquistados pelo seu carinho, seu jeito e não conseguiríamos viver sem você no mundo inteiro, como mãe, namorada, esposa, amiga e guerreira de um mundo pandêmico, se inventando e reinventando aos mares da vida econômica, a dois ou a sós, mas sempre com verdade estampada no peito.
Sim, é preciso ter peito!
É preciso ter voz!
É preciso ter coragem para ser MULHER!
Mulher não é somente geradora, é energia da vida, é raça, é sangue e é coração!
E que coração!
Aquele que guarda de tudo e mais um pouco nos refazeres e desprazeres da vida.
Que se monta de beleza e por dentro é fortaleza, embora não saibam algumas, que a luz do sol faz-se brilhar muito mais diante de tanta grandeza.
A humanidade sem a mulher eu não sei, mas mulher na humanidade é tudo!
Sim, essa humana de tantos papeis de uma só.
Ela existe para uma humanidade sã de coração e razão, para nos encantar com seu olhar de aconchego, num mundo que anda cada vez mais complicado, desarticulando todo o medo.
Seu perfil, majoritariamente feminino, provavelmente
atrairia histórias e reflexões desse público. Mas como o prêmio era um ensaio
fotográfico, arrisquei enviar minha participação, para dar de presente a minha
esposa. Não ganhei. Havia textos bem melhores. Mas a influencer e seus
parceiros julgadores consideraram a iniciativa e o relato, presenteando minha
amada com uma sessão, que fez muito bem a ela!
Hoje, dedico esse texto a todas as mulheres. Mulheres
múltiplas em personalidade, em força e em alegrias. Mulheres que, de fato,
carregam o mundo nas costas. Hoje é só um ano novo, de 365 dias que são delas.
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Mulher Bordada e com Crochê
Uma boneca de pano, chamada Ana, bordada e com crochê, é
designer, mas sonha com moda. Sorri como criança, luta como uma adulta, sofre
como uma sábia anciã. Sonha como quem está no chão, conquista como quem está
nas nuvens de algodão-doce.
Para quem nasceu em São José e mora em São Paulo, o que já é o suficiente para uma anja bela e caída. Eu a amo assim, incongruente e incoerente em uma vida de impermanências, inconsequências e alegria. Afinal, apesar de tudo, vivemos em um mundo bonito.
No
início deste texto, pensei em colocar as mudanças que fazemos no decorrer das
nossas carreiras, sejam profissionais ou pessoais. Sim, o fato de darmos conta
dos nossos lares é sim uma profissão, talvez a mais digna delas.
Quando
escolhemos nossas profissões, muitas vezes ainda jovens, vamos na intuição e no
impulso das nossas paixões. Muitos prevalecem nelas, outros percebem que
adequações ou até mesmo mudanças radicais redirecionam nosso olhar sobre o que
queremos de fato, o que podemos fazer por nós mesmos, para os outros e para a
sociedade em geral.
Por
muitos anos me dediquei à carreira de Relações Públicas. Era muito feliz
fazendo o que fazia. Entendia, me destacava, ganhava espaço, promoções e
dinheiro. Foram anos de longas jornadas diárias e um certo dia, minha filha fez
15 anos e aquilo me assustou:
_
Caramba, não vi a minha filha crescer!
Nesse
momento, comecei a pensar em como poderia mudar esse contexto. Trabalhava numa
boa agência em São Paulo. Um certo dia, me chamaram para uma viagem ao Nordeste
para conhecer o espaço onde seria construído um enorme empreendimento
imobiliário de luxo. Lindo!!! Conhecendo locais, percebi que estavam inseguros,
que aquela natureza exuberante seria derrubada, que muitas pessoas teriam suas
casas “compradas” e começariam uma vida distante e sem a estrutura que passaram
a vida toda construindo. Ali era uma comunidade rica de pessoas, de
trabalhadores, de talentos natos e pouca coisa seria aproveitada. Minha função
era fazer o Planejamento Estratégico de Comunicação e orientação criativa para
que a propaganda de lançamento resultasse em muitos compradores,
principalmente, europeus. Sinceramente, passei dias sem escrever. Não conseguia
colocar no papel como aquilo poderia ser benéfico.
Foi
então que, aproveitando um frágil momento financeiro da agência, resolvi voltar
ao Rio de Janeiro, onde morava antes de me separar.
O
objetivo era diminuir meu tempo, me dedicar a casa, à família, a minha filha…
e à reconciliação do casamento.
Mas
a questão humana daquele trabalho não saia da minha cabeça, até que fui
apresentada para uma fundação sem fins lucrativos no Rio de Janeiro.
BrazilFoundation. Pensei:
_
É isso! Terceiro Setor! Sustentabilidade! Responsabilidade Social!!
Sempre fui muito engajada no social, mas trabalhar diretamente seria maravilhoso. E lá fui eu, como voluntária, três vezes por semana, como parte da Comunicação. Aos poucos, fui fazendo meu trabalho e acabei sendo contratada. Foram 5 anos. Dois diretos na Fundação e outros três dando capacitações para gestores de organizações pelo Brasil afora. Experiência maravilhosa. Em outros textos, virão histórias que terei muito prazer em contar.
Só
sei que escolher o Terceiro Setor e o engajamento em questões sociais foi a
coisa mais rica que pude fazer na minha vida.
Porém,
aquela questão da família acabou ficando pra trás, porque eram tantos
trabalhos, horas de dedicação que mal via a família também.
Tive
problemas pessoais, pois gostava mesmo era de subir morro: Vidigal, Rocinha,
Maré, Cantagalo, Macaco, entre tantos outros em vários Estados diferentes e até
eventos internacionais. Claro que isso tudo teve um impacto financeiro muito
grande, pois aquela que ganhava bem, passou a ganhar pouco, bem pouco. Mas a
realização era enorme. Mas não bastava. Aí surgiram os problemas no
relacionamento, as cobranças, todo aquele trabalho lindo que tinha prazer em
fazer era diminuído pelo contraste financeiro. Me tornei uma mulher dependente.
E a dependência traz correntes, amarrações, conversas cruéis e discussões que
enfraquecem qualquer relacionamento. Foi aí que me vi numa completa depressão e
fui me afundando cada vez mais. A verdade é que essa depressão já existia, mas
estava escondida, preparando o momento certo de aflorar. Isso também contarei
num outro momento.
A
crise de 2018 veio forte e com ela a ajuda financeira aos projetos diminuíram,
assim como a violência nas comunidades cariocas aumentaram e acabei me
afastando. Mas a depressão ainda estava ali, forte, corroendo. Me via trancada
num lindo castelo, cercada de tudo que uma “rainha” poderia ter. Porém, nada
daquilo era suficiente. Tudo estava a beira do caos. Bebidas, remédios e um bom
quarto escuro era o que segurava a minha onda. Certo dia, numa séria discussão
com meu marido, tomei a decisão de me afastar, separar, tentar recomeçar. Saí
vazia, com muito menos do que deveria. Fiz a escolha e, acredite, acertei.
Não
recomecei. Comecei do zero, pois fui para um lugar menor, sozinha, três
cachorros, com dinheiro que teria que fazer escolhas do que comprar para
sustentar a casa, os animais, minha saúde etc. Troquei novamente a profissão. Reencontrei
a antiga dona de casa, lavando, passando, cozinhando, fazendo faxina, cuidando
dos cães e de suas enormes “montanhas” espalhadas pelo jardim.
Descobri
uma força enorme dentro de mim e sim, a “Força Enorme de Ser Duas”, ser três,
quatro…
Hoje,
estou na linha de frente da minha vida. Com tantas experiências vividas nesses
últimos 20 anos, desde meu casamento até seu término, me sinto mais completa,
mais feliz. A liberdade de escolha sem críticas, sem opressões, me fez uma
mulher mais forte, mais segura, mais bonita e muito mais profissional. Carrego
o meu dia a dia no colo, cuido de tudo do jeito que posso, que quero, que sou.
Comecei a escrever um livro, estou roteirizando um documentário. Fiz muitas
amizades, acordo cedo e faço meus esportes. Não tenho que justificar cada
passo. Me responsabilizo por eles. E, acredite, sou feliz assim. Claro que tem
horas que quero entrar num quarto escuro novamente, choro, me sinto frágil. Mas
isso é a vida. Como tem que ser. A outra opção seria uma vida sem problemas,
sem medo, sem angustia. Completa ilusão. Nada real.
O
cuidado e o carinho com si mesma te levam de um lugar para o outro. Tudo bem,
dá pra aguentar!
A
minha compreensão hoje é que minhas antigas atitudes foram substituídas por
pontos de vista novos, renovados acerca de quase tudo. E pela primeira vez na
minha vida, tive a chance de parar de me chocar com muros que eu mesma criei e,
em vez disse, aprender a atravessá-los.
Tudo
isso não quer dizer que estar sozinha é ter força, é poder. Temos força quando
nos juntamos a outras pessoas. Quando estamos juntos, não podemos ser
quebrados, divididos, não estaremos cansados!
Junte-se
àqueles que dão ferramentas para te construir emocionalmente, pessoalmente,
profissionalmente. Junte-se àqueles que se deparam perante a vida com humor.
Porque sem humor, a vida não tem graça e é preciso sorrir de dentro pra fora,
sempre!
Mãe Era meia noite quando chorei a primeira vez. Me senti seguro quando você me acolheu. Você me deu amor e me ensinou a ser. Você me protegeu até na rua e mostrou verdades com exemplos de uma vida digna. Você virou estrela, mas antes sempre me disse “siga em frente, a vida vale cada segundo”.
Irmã Não consigo falar de ti sem lacrimejar meus olhos. Sua bondade é tanta que lembro que Deus existe. As músicas que veem dos seus dedos me recordam da alegria da nossa infância até hoje. Até na viagem à terra de CABRAL você estava lá me apoiando como fez em toda minha vida. Obrigado.
Esposa Você apareceu na primavera florida. Eu esperava uma flor, mas ganhei um coração, um furacão e uma inteligência ímpar, capaz de me levar aos sonhos. Você me deu tanta felicidade que se passaram 30 anos e nem percebi. Nós construímos uma família e demos a luz mais brilhante de nossas vidas. Eu pensava que seria pra sempre, mas vivemos juntos intensamente cada segundo.
Filha Você é o maior dos meus sonhos. Você mudou meu sentimento pelo mundo e pela vida. Você é um amor que não cabe dentro de mim, incondicional. Me realizo com o que te deixa feliz, gosto até do seu namorado. Tenho a minha vida, mas tenho você.
Mulheres: parabéns e obrigado, cada respiração minha, cada movimento meu e cada decisão minha foram vocês que me ensinaram.
Uma quinta-feira quente e as meninas estão brincando fora da quadra.
Pode parecer uma grande bobagem, mas não é. Sendo a quadra de cimento uma só,
elas nem tentam ocupá-la, elas nem tentam brincar com a única bola, elas nem
tentam usar o espaço da quadra… Elas brincam “pelas beiradas”, na grama, na
escada…
Decido sugerir delicadamente que os meninos abram espaço para elas. Faço
o convite e elas prontamente correm em direção a bola, um misto de entusiasmo e
alegria toma conta do cimento. Rapidamente elas organizam uma queimada.
Três minutos depois meninas e meninos se misturam. Alguns outros minutos
depois e começo a perceber nessa mistura, qual é a voz mais forte? Quem eu
escuto tentando organizar a brincadeira? Quem fica com a bola mais tempo? Não
são elas. E não por falta de habilidade, elas são ótimas! Não pela amplitude no
tom da voz, as suas vozes são potentes! Mas…
Coisas que podem parecer tão bobas para uma professora que tem tantas
coisas para pensar, mas não são. Muitas de nós cresceram assim, “existindo
pelas beiradas”, tentando e muitas vezes não conseguindo ocupar espaços,
tentando colocar a sua voz no mundo, algumas vezes nem tendo a coragem de
tentar, brincando com brinquedos e brincadeiras “de menina”, tendo
que ficar feliz e satisfeitas com o “cor de rosa”, com o desenho da princesa, mesmo
que quisesse muito o do homem aranha, duvidando da nossa habilidade, da nossa
potência, ou mesmo do nosso simples desejo de brincar de outras coisas, de
subir numa árvore, de brincar com uma bola.
Isso não é pouco, isso vai nos dizendo como nos comportar no mundo. Isso
vai nos mostrando qual o lugar que acham que podemos ocupar.
Quem vai mostrar a possibilidade de existir de outra forma? Qual a
importância de dar voz a elas? Qual a importância de prestar atenção em como as
tratamos, em que lugar as colocamos, nos julgamentos que fazemos com relação ao
tamanho do short de uma criança e não dos olhares que meninos são ensinados a
ter desde pequenos (meninos também crianças, mas essa é uma outra discussão).
Montsserat Moreno escreveu um livro que se chama “Como se ensina a ser
menina na escola” e ela nos diz que “Para cada um só é possível o que pode
imaginar, só é real o que pensa que existe e só é certo aquilo que acredita” e
justamente por isso cada vez mais acredito ser impossível estar no mundo e principalmente
na escola e não prestar atenção em como nos posicionamos em relação a situações
como essas.
A escola, para além do espaço no qual acontece a formação intelectual e
social das crianças, ela pode e precisa ser também o espaço no qual se
questione, se crie alternativas, se busque novas maneiras de interpretar o
mundo que nos cerca e também de criar outras formas de estar nele e
organizá-lo.
Olhando para elas, agora dentro da quadra, penso que nem imaginam que eu estou aprendendo tanto ainda… Como professora e também como mulher.
Você concorda que somos seres criados
para conexão?
Concorda que precisamos da conexão para
dar sentido e propósito à nossa vida?
E que sofremos sem uma conexão genuína
e verdadeira?
Se você disse sim a pelo menos uma das
três perguntas acima, talvez você também tenha se questionado em algum momento
da vida:
“Por que será que tenho essa sensação
de vazio mesmo quando estou conectada no ambiente, pessoas ou situação?”
“Talvez eu seja inadequada ou
insuficiente…”
“Talvez eu esconda seus sentimentos
atrás da vergonha, da ansiedade e do isolamento…”
Você já pensou nisso?
Para aceitar de verdade quem somos,
nossas origens e a natureza imperfeita das nossas vidas, é preciso iniciar a
travessia do encantamento.
E a partir do encantamento, restaurar
conexões enfraquecidas, fazer novas fortes e verdadeiras, ou ainda romper as
que não fazem mais sentido.
Para essa travessia você precisa
desenvolver 3 das suas habilidades naturais:
Aceitação: Ato de amar incondicionalmente e do desapego.
Resiliência à vergonha: praticar a consciência crítica.
Amor próprio: formado por 3 elementos fundamentais:
A generosidade consigo mesma;
A humildade;
A consciência.
Bora nessa jornada?!
1º Passo: Ficar em frente ao espelho e
restaurar a conexão primária e mais importante:
Com você mesma, usando as frases:
Eu te vejo. Eu te Respeito. Eu te amo.
Por favor, me veja. Me respeite. Me
ame.
2º Passo: Examine os dois lados da “ponte”
e escolha para onde seguir.
No lado A:
Tem suas dores do abandono, da rejeição
e exclusão.
Tem seus traumas e frustrações.
É um lugar onde para você existir,
precisa usar máscaras ou armaduras o tempo todo.
Para ser aceita, “tem que” carregar o
peso do mundo nas suas costas e ainda ser perfeita em todos os papéis de
atuação.
Esse lado é chamado “O que os outros
vão pensar?”
No lado B:
Você pode ser quem nasceu para ser, do
jeitinho que você é.
Seja espontânea ou mais reservada,
emotiva ou racional, com suas limitações e imperfeições.
Aqui você se encoraja a viver sua
natureza imperfeita, se sentindo inteira, amada, digna de todo cuidado,
respeito e reconhecimento do seu valor humano.
Deste lado você pode escolher se quer
ou não carregar pesos alheios.
Você pode se expressar e existir sem
máscaras e armaduras.
Esse lado é chamado: “Eu sou o
bastante.”
Com a travessia do encantamento, você
desenvolve a arte de se relacionar livremente, de fazer as conexões que dão
sentido à sua vida e minimizar as dores dos seus sofrimentos.
Minha proposta para você MULHER é viver
com ousadia, apreciando a beleza das suas falhas, assumindo os riscos das suas
escolhas a partir do que te faz feliz.
Você, mulher de quarenta, contemporânea, mas muito à frente
do seu tempo, chegou muito mais longe do que a sociedade previa. Saiu das
sombras dos homens para um lugar de protagonismo na história, sem perder a sua
doçura.
Você chegou exatamente aonde deveria estar. Linda,
exuberante e independente, ainda um pouco frágil, pelo grande coração que tem,
mas perfeita!
Um modelo para uma nova geração, ideais muito bem definidos,
consciência política e visão. Nossa, você foi muito mais longe do que a maioria
das mulheres de quarenta! É claro que a sociedade em si monta um modelo
mentiroso, de mulher da propaganda de margarina, mas eu nem gosto de margarina
mesmo, prefiro manteiga.
Pode ser que dentre todos esses moldes, você olhando as
pessoas ao redor, venha sentir, eventualmente, que lhe falta algo. Mas, minha
cara, pare e pense: você estagnada, esperando que homem a sustente? Ah, isso
não! Risos… Você vai muito mais além.
Agora, não concordo que o príncipe encantado não exista. Ele
existe e teve que se reinventar também, para poder acompanhar a mulher de
quarenta. Esse príncipe de hoje faz comida e lava roupa, não depende da mulher.
Até mesmo por que você, de quarenta, não iria querer. E pode até ser que esse
príncipe encantado da mulher de quarenta seja também uma bela mulher… Mas tem
que ser forte, você não aceitaria nada abaixo disso.
Esse príncipe de hoje, moldado para você, está menos
interessado em futebol. Ele prefere entender o que você pensa e por que você
pensa, compartilhar com você ideais. Você nunca iria caminhar atrás dele, no
mínimo ao lado, e muitas vezes na frente dele.
Mas aí você irá me perguntar: Amigo, onde está este par
perfeito? E minha resposta simples e óbvia será: Se preparando para poder
encontrá-la! E quando encontrá-la, ele, este par, se tornará ‘um’ com você e
seus mundos estarão completos.
Então, minha cara, parabéns por ser este exemplo de mulher
de quarenta, parabéns por ser esta força a ser seguida, parabéns por mostrar
para nós, estes homens ainda em construção, o tanto que falta para chegarmos
aos seus pés.
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