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MOSAICO – 1º EPISÓDIO – Ligue depois

Ela andava pelas ruas. Era madrugada, estava só.

A noite tinha sido uma sucessão de desencontros. Primeiro com os amigos, o que ela entendeu não foi o que eles entenderam e ela foi parar em outro bar com o mesmo nome.

Gente estranha tinha por lá. Esperou, tomou uma cerveja, nada de chegarem, olhou o relógio, nada ainda, mais uma cerveja. Como era fraca para bebidas, já no final da segunda estava meio zonza, resolveu ir para a terceira, começou a rir de tudo que observava por ali.

Chegou um carinha na sua mesa, com uma dessas cantadas baratas e abobadas, mas como ela estava só, aceitou a cantada e que ele sentasse na mesa. Falaram do Japão, nenhum era japonês, e o lugar mais distante que ela conhecia era bem perto, mas atrevida que era, não se fez de rogada e do Japão falava sem parar e ria, porque quem bebe um pouco além da conta ri.

Lembrou da turma de amigos que nunca chegava. Pensou no celular, mas como de costume, sem bateria. Xingou as velhas gerações por não ter comprado aquele carregador que pode carregar em qualquer lugar, mas sabe como é, grana curta.

O carinha que só falava do Japão lá estava a falar sem parar e aquilo parecia uma boca nervosa que precisa ser calada e acalmada; sem pensar lascou-lhe um beijo. Há dois anos atrás ela jamais faria aquilo, mas agora, as águas rolaram e era só um beijo em uma noite de verão, em um alguém, sabe-se lá quem.

Ele ficou boquiaberto e ela foi embora, deixando a mesa e a conta para ele. Foi embora a pé, rodando aqueles bares, sem celular, cabeça acelerada, fala lenta.

Pensava nele, tinha saudades dele, do beijo dele. Não, não era do carinha de cinco minutos atrás não, aquilo era nada, era do outro, do antigo, do que grudava na sua pele, mas que estava longe, do que tinha a melhor pegada, pele a pele.

E esses amigos onde estão? Cabeça ia, vinha, voltava e vinham risadas, ânsia de vômito. Ela era fraca para beber, ficava engraçada, mas assim na madrugada, sozinha na multidão, com quem podia compartilhar?

Podia passar uma cantada e usar o celular de alguém, mas não adiantaria porque não sabia ‘de cór’ nenhum número. Eram quase três horas da manhã, resolveu andar e ir para a praça perto da faculdade, não tinha combinado de dormir na casa de ninguém, e não queria voltar para a casa da mãe porque garantiu que dormiria na casa das amigas.

Então, foi para a praça esperar o nascer do sol, a vista era linda! Já tinha feito aquilo uma vez com ele (ele de novo nos seus pensamentos), ela ria e tinha vontade de dançar, melhor não, estava zonza mas não totalmente sem juízo, dançar na rua era um sonho de infância, mas sem companhia não teria graça.

Na praça, sentou no mirante. Ela, o céu e um celular que tocou. Sim, tocou um celular que estava perto, ninguém ali, só ela, o céu e o celular.

Não atendeu. Tocou de novo. Atendeu: – Alô, não, não é ela. Não, não é ela que está falando. O quê? Como assim? Não, não sou. Ah, por favor, não sou, ligue depois.

Desligou, esperou e o sol começou a clarear o dia, assim como a mente clareava para seu estado normal.

Adriana Chebabi  – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre seu trabalho de comunicação e mkt e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa. 
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Um ano depois, o que aprendemos?

Eu gostaria de começar este texto com uma pergunta, mas como a gente ainda não se conhece, considero que essa não é a melhor maneira para começar este texto. Melhor eu me apresentar primeiro: Olá! Eu sou a Geovana Pavanelli, mãe do Vicente, de três anos e meio, esposa do Daniel, Relações Públicas por formação (e paixão) e atualmente atuo como Gerente de Pessoas de uma empresa de tecnologia. Muito Prazer!

Agora que você me conhece um pouco vou direto para a pergunta: O que você estava fazendo em 25 de fevereiro de 2020?

Se você não estava em algum bloquinho (ou qualquer evento em grupo) por aí, curtindo a terça-feira de carnaval, talvez esteja, assim como eu, arrependida por não aproveitar a última oportunidade que tivemos de aglomerar sem medo. Parece que foi ontem, mas há quase um ano, em 26 de fevereiro, estávamos recebendo a notícia do primeiro caso de Coronavírus no Brasil.

E agora eu te convido a uma reflexão… Além do kit básico (distanciamento, máscaras e álcool em gel), o que mais mudou na sua vida de lá para cá? Nós tivemos que nos adaptar a um mundo novo. Profissionalmente falando, as mudanças foram ainda mais intensas, e o trabalho remoto passou a fazer parte (se é que ainda não fazia, como é o meu caso) da realidade de muita gente.

Atuando na área de pessoas, posso garantir que a cultura do trabalho remoto (que é diferente do home office) é o futuro das organizações, principalmente na área de tecnologia. Mesmo muita gente voltando ao trabalho presencial com a flexibilização das medidas de proteção da pandemia, mais de 86% das pessoas preferiram continuar no modelo remoto e 52%  mudariam de trabalho se recebessem uma oferta full remote (pesquisa da Robert Half realizada em 2020). As empresas terão que aceitar esse “novo” modelo de trabalho, principalmente porque, sem ele, em um futuro próximo poderão perder talentos e desmotivar equipes.  

Nesse cenário de pandemia muito se ouviu falar de como as pessoas precisaram se adaptar ao trabalho remoto, mas pouco sobre como as empresas precisam se posicionar e orientar a sua liderança sobre esse novo modelo. Tornar uma empresa remota ou híbrida não é fácil e muito menos automático, exige maturidade do empregador, confiança no time e preparação da liderança.

Se aquele modelo de “chefe” que faz microgerenciamento já estava ultrapassado, e as empresas que viam os seus colaboradores apenas como recursos já estão ficando cada vez menos atraentes, no modelo de trabalho remoto esses posicionamentos simplesmente não funcionam. É responsabilidade das empresas entender esse novo cenário, preparar os seus times para o trabalho remoto ou híbrido, motivar e alinhar todos os colaboradores na busca do mesmo propósito e, principalmente, investir na gestão do trabalho remoto, afinal, ele é completamente diferente do presencial.

E me conta, como foi essa experiência do trabalho remoto para você? A sua empresa estava preparada?

Eu posso responder pela empresa em que eu trabalho: por lá o trabalho remoto foi um processo normal e até que relativamente simples, até porque já fazia parte da nossa cultura, mas vi muitos absurdos sendo relatados por colegas que atuam nos mais diversos segmentos, tais como: empresas que não respeitam horários e acreditam que o trabalho remoto é sinônimo de exaustão obrigatória; que cobram por ambientes 100% silenciosos, quando na verdade é impossível controlar a reforma do vizinho; que não respeitam que você vive em uma casa com outras pessoas (por mais que você zele para evitar interrupções) e dão advertência quando seu filho aparece para pedir para fazer cocô; ou que obrigam mulheres grávidas a trabalhar em ambientes fechados, mesmo quando a atividade é totalmente compatível com a atuação remota.

Há um longo caminho pela frente para que as empresas estejam preparadas para o trabalho remoto ou híbrido, mas a meu ver, elas terão que se adaptar, pelo amor ou pela dor, esse será o futuro.

Já como mãe de uma criança de três anos e meio, nada foi mais desafiador do que exercer o lado maternal e profissional ao mesmo tempo e no mesmo ambiente. É maravilhoso poder estar perto do meu filho por mais tempo; no modelo presencial era impossível almoçar com ele todos os dias. Mas também é doloroso vê-lo mais tempo na televisão do que eu gostaria (e do que é indicado), ouvir ele pedindo minha atenção, quando é impossível parar uma tarefa.

É uma balança difícil de equilibrar: culpa materna x profissionalismo. Eu sigo tentando fazer o meu melhor nos dois lados, mas confesso que dificilmente o dia termina com a balança equilibrada e, na maioria das vezes, um dos lados pesa mais. Como profissional também há um longo caminho pela frente, e eu também tenho que me adaptar (pelo amor ou pela dor), afinal, esse é o meu futuro.

Geovana Capovilla Pavanelli – Bela Urbana. Relações Públicas, especialista em comunicação e recentemente apaixonada pelo universo de gestão de pessoas. Mãe do Vicente, de três anos, que é a minha razão de viver. Sou uma pessoa intensa que ama trabalhar, ama o filho, ama a família, ama os amigos e, principalmente, amo a mim mesma.  

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A MÚSICA FAZ A CABEÇA!

E cabeças pensantes demais e afiliados à hipocrisia, fazem com estupidez as cabeças rolarem, entre o curso da reta, do rumo, da seta e da poesia.

E quando cabeças se envergam diante de letras melodiosas, e as fazem sucumbir nas malhas odiosas, saiam da frente que a pipoca estoura e cada um imerge eletricamente tirando seu abadá durante o frenesi da intolerante discórdia.

E nem é preciso pular em delirante carnaval, que as avenidas diplomáti…camente perfeitas e corretas abolem o abalo da sintonia fatídica e começam a construir, os reencontros vorazes de poetas que nos fazem relembrar, questionar e tratar em súmulas com um “VAR” desenfreado nas pautas bem ritmadas e assimétricas, de acordo em acordes do pleito cênico inquisitivo.

E seguindo a narrativa carnavalesca, vejo-me inquirida sobre a proposta que me implele a responder.

Não, eu nunca fiquei pensando e raciocinando sobre o que cantava durante a alegria do carnaval. E não me machucavam os encontros silábicos da poesia, que hoje se descabelam ao rimar para não cair na rompante demagogia. Ontem, naqueles momentos os olhos febris em sonetos descomplicados, regiam a banda na mesma praça com as negas malucas trazendo no colo o filho bastardo.

E mulatas cadenciavam nos quadris, o rebolado de bundas com carnes reais e Sargentelli é que o diga.

E assim, passei em fases diversas, até chegar no século XX e ter que mudar a trajetória de um gato de dona Chi ca ca, e de um briga de casal debaixo de uma sacada os famigerados cravo e a rosa, e claro que muitas outras poesias, de muitos outros poetas que nos cercam e nos embalaram em palcos, telas, e por aí vamos.

Seguindo essa viagem quando alguns mestres seguem provocando as mentes, e se construindo nas pendências e alegorias pessoais.

Vivemos em estado de trio elétrico…

Joana D’arc de Paula – Bela Urbana, educadora infantil aposentada depois de 42 anos seguidos em uma mesma escola, não consegue aposenta-se da do calor e a da textura do observar a natureza arredor. Neste vai e vem de melodias entre pautas e simetrias, seu único interesse é tocar com seus toques grafitados pela emoção.
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O carnaval em Portugal ontem e hoje

O carnaval em Portugal começou como um período para aproveitar tudo, antes do início da Quaresma, momento de jejum e sacrifícios. Antigamente, a Igreja exercia enorme poder sobre as pessoas e, no período da Quaresma, era proibido música, dança, etc. Logo, foi a própria Igreja Católica que serviu de estímulo para a criação do carnaval em Portugal.

Na época do renascimento, iniciou-se a fase das máscaras e bailes.

Hoje em dia, as festividades carnavalescas são conhecidas por “entrudo”, ou seja, entrada. Preparação para a entrada da Quaresma.

Nunca houve plumas ou mulheres sem roupa no carnaval antigo. Muito pelo contrário, nas aldeias, as pessoas trocavam as roupas. Por exemplo, homens com roupas de mulher e vice-versa.

As ruas ficavam enfeitadas com luzes como no período do Natal.

Em algumas localidades, não passava de brincadeiras e gozações. Em outras freguesias, chegavam a ter carros enfeitados e muita alegria.

Em algumas cidades, há o desfile dos cabeçudos e gigantones. Em Estarreja, temos escolas de samba. Também há freguesias que optam pelo carnaval luso-brasileiro, com participação de brasileiros e desfiles inspirados nos sambódromos. Em Torres Vedras, a farra fica por conta das Matrafonas, homens vestidos de mulher e carros alegóricos. Em vários lugares há sátira à política. Varia muito de um lugar para o outro.

No entanto, não se parece muito com o carnaval brasileiro.

Nas escolas, apenas as crianças mais novas podem usar fantasias. Aos estudantes maiores cabe a tarefa de observar e recordar. Muitas pessoas aproveitam a época para viajar e descansar. Há uma comida típica muito forte apreciada pelos portugueses no dia do carnaval (terça-feira). Trata-se de um cozido com muitas carnes, legumes e verduras.

Apesar de ser diferente, acho que vale a pena conhecer e conferir a diversidade que existe em cada canto do país! Há um calendário próprio com a programação de cada região.

Espero por vocês em carnavais futuros.

Eliane Pacheco Engler – Bela Urbana, luso brasileira, vive em Portugal a quase 7 anos. Fonoaudióloga de formação de coração, mas atualmente o seu maior amor é pela família. Dedicação quase que exclusiva. Tem se aventurado pelo YouTube e pela área imobiliária.
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Esse ano…

Você que acorda cedo pra pular Carnaval. Que vai tarde adentro, noite afora. Que esperou ansioso para camelar ao sol e ao som de batuques. Não vai poder entrar na folia este ano, porém não passará de bar em bar pisando em urina fresca, não vai levar passada de mão gratuita e terá seu dinheiro guardado na pochete no fim do dia.

Brincadeiras à parte, o carnaval foi cancelado! A pandemia não!

Ainda na espera dos blocos vacinados muita gente vai ter que reinventar a passagem sem o batuque horas a fio.

O que faria no carnaval será feito em casa e sem o agravante de ser assaltado ou ferido. Brincadeiras à parte, este texto satírico é só pra deixar mais ameno o fato de que o brasileiro, folião por definição, terá que brincar de pijama mesmo. Do Oiapoque ao Chuí.

Mas não se lamente, ouça um álbum novo, ou velho, faça uma playlist, entretenha-se num podcast, leia um livro engavetado, veja um clássico.

Seu carna vai ser diferente porque todos somos hoje. Não haverá festas, nem manchetes e fuzuê.

Seu amor sambista vai aguardar a vacina chegar.

Fantasia de coronga nem à vista. A gente não aguenta mais ver essa praga.

Não há festa. Nem manchetes dos títulos, alvoroço nas ruas.

Tô fria? Não. Realista.

Cozinhe seu prato preferido, sambe na sala até calejar. O importante é que estaremos vivos para pular feito doido quando o mundo deixar a folia voltar.

E tá tudo bem! O samba é maior! E tá dentro da gente oriundo que só ele, guardado e protegido.

Meg Lovato – Bela Urbana, formada em comunicação social, coreógrafa e mestra de sapateado americano e dança para musicais. Tem dois filhos lindos. É chocolatra e do signo de touro. Não acredita em horóscopo mas sempre da uma olhadela na previsão do tempo.

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Vou falar de infância e carnaval, no ano de 1984

Em relação ao carnaval, nesse ano, o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro passava por grandes mudanças, entre elas a inauguração do Sambódromo na Sapucaí. Já quanto à infância, eu com apenas 11 anos e meus primos com idades entre 6 e 14 anos, não estávamos interessados no principal acontecimento do carnaval do Rio de Janeiro, ou seja, que o samba deixaria de acontecer no asfalto de grandes avenidas e passaria a ter a sua própria casa.

Naquela época, a chegada do feriado do Carnaval era muito esperada pelas famílias que viviam no interior de São Paulo, principalmente pelas crianças. Um feriado prolongado nos dava a possibilidade de viajar e a torcida era para que pudéssemos sempre ir à praia. O que aconteceu por vários anos consecutivos…

Tínhamos um tio muito querido que adora viajar e sempre convidava a família toda… Digo tínhamos porque esse meu tio nos deixou ainda muito jovem, com apenas 35 anos de idade, vítima de um aneurisma cerebral.

Não quero falar de tristeza, porque meu tio era pura alegria, e falar desse ano, especificamente, me faz homenageá-lo ao lembrar de algumas situações engraçadas que vivenciamos na cidade de Itanhaém, município da Baixada Santista, e que ficaram marcadas para sempre.

A aventura começou já na descida ao litoral, pois como íamos em várias pessoas e, naquela época, os lugares para compras de alimentos eram escassos, tínhamos que levar muita comida para dar conta da fome do povo todo, e para ter espaço para outras coisas que levávamos, meu tio acoplava ao carro uma carretinha.

Saímos de casa de madrugada, e quando estávamos na Marginal Pinheiros, um dos pneus da carretinha se soltou e correu na estrada. Eram só crianças gritando e adultos correndo em direção ao local da parada do pneu. Graças a Deus, a pista estava tranquila (acredito que pelo fato de estar muito cedo) e nenhum acidente foi provocado.

Euforia total nos carros, começava ali o nosso carnaval… muitas risadas, gritos e correria para sairmos da pista o mais rápido possível.

Ao chegarmos na praia, outra situação atípica… Como era a primeira vez que meu tio tinha alugado aquela casa, estávamos acostumados a ir em outro imóvel, demoramos um pouco para encontrá-la. O lugar era distante e com poucas construções, o que deixava o local um pouco sombrio. Os adultos, imediatamente, começaram a comentar o quão difícil ia ser sair dali para ir ver o carnaval de rua, e as crianças mais velhas começaram a falar dos perigos da noite para os pequenos. Muitas risadas e choros.

Meu tio quis alugar uma casa maior para acomodar melhor a família toda, mas também queria nos fazer uma surpresa: na casa tinha piscina com escorregador, o que era uma novidade para todos e acabou causando muito contentamento, principalmente para as crianças, e os choros de minutos atrás se transformaram em muita alegria e euforia.

Durante os dias, as crianças ficavam divididas entre ir à praia ou ficar na piscina. E o carnaval de rua durante a noite? Ah, esta é outra história!

Vou contar aqui o que aconteceu em um dos dias, com duas situações engraçadíssimas…

A família toda foi assistir ao desfile de rua e, chegando lá, havia um público bastante animado. Pessoas desfilando em trajes engraçados e uma considerada plateia acompanhando, dançando, cantando… até que em certo momento, um grupo que estava desfilando começou a jogar no público algumas coisas, o que me lembro eram casca de banana, tomate, farinha, fubá, ovos, entre outros. Minha família toda aglomerada, isso em 1984, certo? Não sabia o que fazer.

Os adultos queriam correr, mas tinham as crianças que para enxergar melhor estavam um pouco distanciadas. Como era carnaval, o público entrou na brincadeira e não era mais possível saber de onde vinham as coisas que estavam sendo atiradas. 

O carnaval acabou cedo para a minha família, tivemos que voltar para casa porque muitos foram atingidos naquela brincadeira, até ovos estavam espalhados pelas roupas. Chegando em casa, foi aquela correria para o banheiro, os atingidos queriam se livrar das roupas e tomar banho.

Lembro que uma das minhas tias teve a ideia de ir usar o banheiro de fora da casa, que era um pouco afastado, e algumas crianças, inclusive eu, resolvemos ir com ela. Afinal, aquele seria um local mais tranquilo, uma vez que a casa estava bastante agitada.

Minha tia entrou correndo porque estava com vontade de fazer “xixi”, mas ela mal entrou e começou a gritar desesperadamente. Nós, crianças, não sabíamos o que fazer e fomos chamar os adultos da casa. Depois de algum tempo, minha tia abriu a porta e mostrou a perereca que se encontrava em um canto do banheiro, tão assustada quanto ela. De acordo com minha tia, assim que ela abaixou o short e foi sentar, viu a perereca… O que aconteceu não preciso contar. Que noite!

Os dias transcorreram e a pauta das conversas era só a perereca no vaso, todos se esqueceram do que aconteceu no desfile, e nem de volta às nossas casas a perereca nos deixou.

São muitas lembranças do carnaval de 1984! Minha família se lembra até hoje dessa viagem, enquanto, certamente, a comunidade da Portela deve se lembrar do título do Carnaval do Rio de Janeiro (conquistado na primeira noite dos desfiles), assim como a escola verde e rosa (Mangueira) também deve trazer nas lembranças a conquista do título na segunda noite e a premiação da campeã das campeãs.

Enfim, enquanto minha família foi surpreendida com arremessos de coisas pelos foliões em plena avenida, os mangueirenses surpreenderam ao dar meia-volta no final da passarela e cruzar a Sapucaí “na contramão”, encantando os presentes.

Pensando neste ano, 2021, em que estaremos isolados, sem comemorações e viagens, vamos ficar em casa e contar histórias. Acredito que assim como eu e minha família, muitas pessoas da minha época, e que viviam no interior, devem ter muitas histórias engraçadas experienciadas no carnaval. Resgatar as memórias da infância é vivê-las um pouco no presente!

Experimente, a festa familiar pode ser muito animada!

Adriana Silva – Belas Urbana. Pedagoga de formação, apaixonada pelo poder transformador da educação e movida por desafios, propósitos e pessoas, há sete anos está no terceiro setor atuando em Programa de Primeira Infância.
Nunca pensou em escrever, mas trabalhou durante anos com crianças em processo de alfabetização e, talvez isso, tenha sido a inspiração para aceitar o convite e compartilhar uma história da sua infância
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Meus carnavais e a machista que fui sem saber.

Lembro de muitas histórias de carnaval. Na infância, esperava ansiosa minha tia Marta e minha prima Gi chegarem do Rio de Janeiro, com a fantasia que minha tia trazia pra mim igual ao da minha prima. Sempre tão lindas! Lembro de nós duas na matinê, no salão do clube à espera para desfilarmos no concurso de fantasias… já fomos baianas, bruxinhas, ciganas etc.

Na adolescência, a primeira vez que fui a um baile à noite estava de melindrosa, tinha 12 anos e fui uma única noite. Queria porque queria ir, já que minha prima ia, mas não gostei. Não me senti pertencendo, ainda gostava da luz da matinê e de ficar jogando confetes e serpentinas… A noite ainda não era para mim!

Com 13 anos, passei as cinco noites com um grupo de uns 40 adolescentes como eu, fantasiados de egípcios e gritando: “Alalaooooo, mas que calor”. Aquilo para mim foi o máximo! Passei as cinco noites junto com o grupo, correndo pelo salão, cantando sem parar aquele refrão e sem olhar para nenhum garoto. Eu era mais criança que adolescente ainda.

Já no ano seguinte, 14 anos, começaram a ser mais divertidos os bailes de carnaval. Nesse ano, lembro que junto com minha amiga Alexandrina, ficamos “apaixonadas” platonicamente por um mocinho no salão, que nunca nem sequer dançou uma música com nenhuma de nós. Acho que nem nos via, era “gatinho”, como dizia a gíria da época dos anos 80 quando era para fazer referência a alguém bonito. Ali eu descobri que gostei do colorido que a paixão nos traz, mesmo quando não é correspondida. Ainda era uma menina que nunca tinha beijado na boca.

Com 15 anos, já era mais encorpada, bem morena, e novamente com minha prima e amigas fizemos fantasias iguais para algumas noites. Éramos piratas com meia arrastão preta, top vermelho com lantejoulas e um pano de cetim vermelho que servia de saia, biquine por baixo, porque tudo era bem curto, era moda. Ano que comecei a ser vista pelos mocinhos. Dançava com um, depois com outro e com outro pelo salão. Funcionava assim: Tinha uma grande roda e quando parávamos de dançar com o par, ficávamos no entorno dessa roda dançando até outro convidar para dançar. Sempre nós, as meninas, esperando passivamente sermos convidadas. Eu nunca convidava ninguém, poderia justificar com minha timidez – de fato era tímida demais para chegar em algum moço –, mas não era só isso, era algo que no fundo estava enraizado em mim. “Isso não é papel de moça, os homens é que devem tomar a iniciativa”.

Os homens podiam escolher e nos tirar para dançar, mas nós, moças mais recatadas, jamais faríamos isso. Isso nunca passou pela minha cabeça como algo a ser questionado, nunca nem pensei, e se quisesse dançar com alguém, por que não ir tirá-lo também? Nesse ano, me lembro de dois mocinhos que ficavam “me disputando”… Uma vez, dançando com um deles, um amigo o chamou para brigar, e ele, como ‘bom macho e fortão’, falou pra mim: “– Tenho que brigar agora, depois eu volto, me espera”. Eu sei lá qual o motivo da tal briga, na hora o achei muito valente. “Nossa, uau, ele vai brigar, como é forte! Como é valente!”, esses eram meus pensamentos.

Bom, os dois que me “disputavam”, o valentão e o outro, eram amigos, esse outro tinha uma namorada… mas passava por mim quando não estava dançando comigo e me media de cima a baixo, jogava charme, fazia comentários, mesmo dançando com ela, sem nenhum respeito por ela. Eu, na verdade, também não percebia que isso não era respeitoso nem com ela e nem comigo.

Na última noite, a banda tocava até quase o raiar do sol, e nas repetições do mais um, eu estava dançando com outro mocinho. A música parou e ele veio todo para cima de mim tentar me beijar, quando o tal que me “disputava” com o amigo fortão, o que tinha namorada, disse em alto e bom som: “Não mexe com essa moreninha que eu vi primeiro!”. Como se eu pertencesse a ele, como se eu fosse um mero objeto.

Como me senti? Sinceramente, naquele dia, me senti desejada, importante, e estava gostando das investidas do garoto que levou um sinal amarelo do outro. Eu fiquei passiva, esperando que os meninos decidissem de quem eu era. Como assim de quem eu era? Eu que deveria escolher! Afinal, eram dois pretendentes, mas eu não tinha essa percepção e talvez até achasse interessante ser “disputada como um prêmio”. Hoje consigo enxergar o quanto eu era machista e não tinha consciência de nada disso. Sou uma desconstrução dessa machista.

Enfim, me despedi, fui embora com minha prima e amigas. Já com saudades daquele carnaval, que me traz lindas lembranças, mas com água na boca de um beijo que não aconteceu, mas… a vida é um caixa de surpresa e o primeiro beijo veio no carnaval do ano seguinte… Mas essa história é outra…

Adriana Chebabi  – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre seu trabalho de comunicação e mkt e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa. 

Foto Adriana: @gilguzzo @ofotografico
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Meus olhos no Carnaval

Não me recordo há quantos anos, e contá-los seria só um detalhe, quando fui pra rua atrás de Blocos de Carnaval.

Os grandes não me interessavam muito porque sentia fobia – pequena que sou, mal via o chão.

Procurava a Agenda Carioca e também o “disse me disse” a respeito de um bloquinho de esquina.

Fazia meu roteiro. Adorava ver a criatividade do povo, mas a minha não ia além de um short velho, uma mini camiseta, tênis velho e uma rosa no cabelo. Pochete também (rs). Totalmente ninguém na multidão!

Rio de Janeiro, fevereiro, sempre mais de 35 graus, dias de sol. Sábado à tardinha, concentração do Cacique de Ramos, o mais antigo bloco que mantém a tradição de desfilar entre cordas, com a ala da Velha Guarda e apenas uma marchinha. Saí às 7 da noite – se não tem a camisa do bloco e está fora das cordas, siga ao lado, farra igual, batucada, cantoria e pé no asfalto… Lá vai o bloco! Uma vez sentada no meio-fio com uma latinha de cerveja na mão, um vendedor perguntou se eu estava bem. Meus cabelos brancos denunciavam mais uma coroa na avenida. – Estou ótima!

Domingo, 8 da manhã, e o sagrado Boi Tá Tá na Praça XV, famosa praça no Centro da cidade do Rio de Janeiro. Bloco parado com toques políticos, artistas engajados em causas sociais, músicos famosos. Uma mistura perfeita! Marchinhas antigas e novas, sambas, rock, frevo, de tudo um pouco. Nesse bloco, já abandonei namorado velho para ver Teresa Cristina na beira do palco, no meio da muvuca. Acho que ele ainda está me procurando. Ali também já beijei namoradinho de escola que não via há anos. Sumiu também.

Agora é lei, e se é multado caso faça xixi na rua. Mas sou do tempo em que não existiam banheiros químicos… Xixi atrás dos carros, muitos!

O roteiro mudava conforme a disposição, acompanhar o tradicional Escravos da Mauá pelas ruas do Centro da cidade, esse com samba-enredo que se cantava com papelzinho na mão. Gosto pouco!

Partindo Zona Sul, o hilário: “Largo do Machado, mas não largo do copo!” Bloco pequeno que dá a volta em duas ruas e volta para o Largo. Ali se vai atrás de uma bandinha, cujos integrantes se somarmos as idades dá uns 1000 anos. Dos prédios, as pessoas cantam e acenam: momento sambódromo! Só diversão!

Suor, fome indo embora num pastel de queijo, cachorro-quente sem salsicha e sucos duvidosos. Não existe cansaço, não dá pra ser politicamente correto, é carnaval! São dias pra se esquecer e vestir vários personagens.

Gosto de ir sozinha, não sei andar em fila com amigos e filhos. Gosto realmente de ser ninguém. Dançar com estranhos, rir das performances. Me dar o direito de sentar no chão, lavar o rosto com água mineral, cantar alto e desafinado e ir “carnavivendo”!

Atravessar a Baía de Guanabara no bloco da Barca, que vai de uma cidade a outra flutuando e batucando.

A cada ano o Rio de Janeiro se reinventa na criatividade, nos nomes dos blocos.

Agora muitos tomaram grandes proporções que já não me agradam mais. Fico de olho nos batuques de esquina antes que cresçam. Os ouvidos sempre atentos a qualquer batucada e o corpo vai seguindo com faro de perdigueiro até encontrar sua caça.

Maria Nazareth Dias Coelho – Bela Urbana. Jornalista de formação. Mãe e avó. É chef de cozinha e faz diários, escreve crônicas. Divide seu tempo morando um pouco no Brasil e na Escócia. Viaja pra outros lugares quando consigo e sempre com pouca grana e caminhar e limpar os lugares e uma das suas missões.
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Saldo de um carnaval

Carnaval de 1997. Era uma viagem de uma turma de amigos recém-formados. Éramos em doze no total, enfiados em um apartamento de um quarto em Caraguatatuba. Havia gente dormindo até na cozinha.

Na terceira noite eu fiquei com um dos colegas. Romance improvável, não fosse o clima de carnaval. Graças a Deus na manhã seguinte já era dia de eu ir embora. Precisava voltar mais cedo pois havia levado uma prima minha, que não era da turma da faculdade e já trabalhava e tinha que retornar a São Paulo. Hoje em dia ninguém se importa mais. Mas na época era estranho ficar com colega de faculdade, depois de tantos anos sendo apenas colega de faculdade.

Algumas semanas depois, como de costume, a turma se reencontrou em mais uma baladinha. O constrangimento inicial não durou muito. Ficamos novamente. Nesse dia, já fomos embora de mãos dadas.

Depois da nossa segunda “ficada”, combinamos de sair para jantar e pela primeira vez após tantos anos, estaríamos somente nós dois. E nesse dia, ele me disse que precisava falar algo muito importante, que seria melhor falar antes que eu soubesse por terceiros. Diga-se terceiros, todos os demais colegas da turma.

Pois ele me revelou que no carnaval ficou comigo porque havia feito uma aposta com os amigos. O choque foi tão grande que francamente eu não sabia se ria ou chorava. Ele se desculpou, disse que não queria que tivesse começado dessa forma e eu meio desconcertada dei um sorriso amarelo e fingi ter achado engraçado.

Isso passou. Às vezes durante algumas brigas eu ainda escavava essa história, mas com o tempo isso deixou de ser importante. Após cinco anos esse romance gerou um casamento, que após mais dois anos gerou uma filha e um ano depois, gerou a nossa empresa. Foi um relacionamento de 17 anos. Hoje já estamos separados há 6 anos.      

O casamento acabou, mas a filha ficou, a empresa ficou e a amizade ficou.

O que teríamos feito das nossas vidas se não fosse o carnaval de 1997?

Impossível saber.

Noemia Watanabe – Bela Urbana, mãe da Larissa e química por formação. Há tempos não trabalha mais com química e hoje começa aos poucos se encantar com a alquimia da culinária. Dedica-se às relações comerciais em meios empresariais, mas sonha um dia atuar diretamente com público. Não é escritora nem filósofa. Apenas gosta de contemplar os surpreendentes caminhos da vida.

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Todos os dias são dias de Carnaval.

Parece loucura mas já parou para pensar que a festa mais importante de fevereiro só é um reflexo do que acontece nos tantos outros dias do ano?

Todos os dias acordamos, nos espreguiçamos, meia volta no quarto, dente escovado e a máscara na cara que é para manter o humor escolhido para o dia. 

Ao longo do tempo troca-se as personagens e no descanso do lar é onde as fantasias perdem formas. 

Todos os anos a mesma rotina, as promessas quase que impossíveis desejadas no novo ano que se inicia e lá estamos nós aguardando ansiosamente pelos novos enredos, novas histórias.

Seria cômico se não fosse trágico a semelhança gritante com que a nossa vida se parece com um verdadeiro carnaval invertido e basta observar.

Todos os dias são dias de carnaval. 

Da alegoria ao passista, na pista a rainha de bateria dá um verdadeiro show. A máscara de riso esconde o choro de luta de quem sabe que não pode fraquejar. 

Aqui fora da avenida os fanfarrões não sabem brincar. O confete é bala e a púrpurina é dor.

Aqui fora da avenida todos os dias são  dias de carnaval, e nem de longe lembra a alegria das crianças.

Aqui é selvageria, carnaval na raça, só sobrevive quem dança conforme o dança. 

E por isso não dá para desafinar, é preciso ter samba no pé e gingado.

É preciso ter molejo e sacudir a poeira.

Na avenida da vida saber passar e chegar sem perder o ritmo.

Ir para avenida, desfilar, carnavalizar. Pois todos os dias são dias de carnaval.

Gi Gonçalves – Bela Urbana, mãe, mulher e profissional. Acredita na igualdade social e luta por um mundo onde as mulheres conheçam o seu próprio valor.