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EU LUTO CONTRA A CULTURA DO ESTUPRO

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Há cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil.

Um em cada 3 brasileiros acredita que a mulher é culpada por ter sido estuprada e normaliza a violência sexual contra a mulher.

Poderia eu aqui questionar os resultados das pesquisas ou a metodologia de estudo estatístico, afinal não há nenhum dado que deva ser considerado exato e imutável numa sociedade dinâmica e em constante transformação. Mas hoje não. Hoje quero falar de nossos medos, nossa luta, nossa obrigação de ensinar as futuras gerações a respeitarem e também lutarem pela liberdade das mulheres.

Desde criança fomos educadas para termos medo do nosso próprio corpo e da nossa própria condição de sermos mulheres.

Menina não senta de pernas abertas porque é feio!

Menina não fala palavrão porque isso é coisa de menino!

Menina de família não sai na rua essa hora!

Menina decente se dá ao respeito e não bebe, não fuma!

E tantas outras afirmativas que lutamos para desconstruir e ensinar às gerações seguintes que é possível ser o que queremos desde que não violemos o direito do outro.

Mas por que algumas reações ficam enraizadas no inconsciente (ou consciente) da condição de ser mulher dominada por uma sociedade patriarcal?

A mulher quando é assediada na rua, por exemplo, abaixa a cabeça, acelera o passo e só quer sumir daquele lugar o mais rápido possível. Afinal, nos sentimos culpadas por termos provocado o instinto sexual do sexo oposto e convivemos com a conivência do machismo arraigado nas entranhas da sociedade dominada pelo homem.

Ouvir um grito de “gostosa” pode ser considerado para alguns como o reflexo da aceitação da fêmea- padrão na sociedade. Não é difícil os machistas afirmarem que “nem o peão da obra achou ela gostosa”, como se esse um sinal de selvageria fosse o aval necessário para a mulher se considerar aprovada ao macho alfa.

A objetificação do corpo feminino é utilizado como meio de venda e divulgação de produtos e convivemos com isso com a mesma naturalidade que baixamos a cabeça, aceleramos o passo e nos calamos perante os assédios, abusos e estupros.

Não! Não pode ser assim! Temos que gritar, lutar, enfrentar!

Recentemente fui assediada na rua e enfrentei o assediador. Parei de andar, me virei para a direção dele, olhei bem nos olhos dele e perguntei se ele não se envergonhava de me tratar daquela maneira, de falar aquelas obscenidades a uma desconhecida. A reação dele? Pediu desculpas. Justificou que estava um pouco bêbado e pediu desculpas. Foi para o outro lado da rua, de cabeça baixa e não cruzou mais meu caminho.

Por conta disso eu continuo acreditando que ensinar quem não sabe é a melhor forma de luta. Se não pode me respeitar espontaneamente eu exijo respeito, se não pode me considerar igual porque sou mulher eu exijo igualdade, se não pode bater suas próprias asas eu alçarei voos altíssimos para exigir que todos sejam livres e responsáveis por suas escolhas.

Enquanto houver uma mulher tendo sua liberdade e seus direitos arrancados eu estarei lutando e gritando por todas nós, pois é minha obrigação me fazer entender e explicar que ser mulher é ser livre para estar aonde quiser, fazer o que quiser, com quem quiser, quando quiser.

E como disse o jornalista e escritor Xico Sá: “Por mais que você, homem sensível, diga que sente na pele, jamais sentirá o pavor de vislumbrar no beco a ameaça do estupro que ronda as mulheres no Brasil.”

Portanto, continuemos na luta, pois para nós mulheres chegarmos até aqui, muitas de nós ficaram pelo caminho.

Nossa obrigação é gritar para o mundo que exigimos respeito e igualdade para sermos verdadeiramente LIVRES.

Dedico esse texto às Simones, Marias, Fridas, Cecílias, Lygias, Clarices, Márcias, Vivianes, Luisas, Lauras, Rosas, Terezinhas e tantas outras anônimas que constroem a nossa história com coragem, ternura, lágrimas e sorrisos.

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Denise Alcântara – Bela Urbanas, socióloga e professora, pessoa livre nas ideias, no pensamento e nas atitudes. Minhas inquietações me mobilizam e motivam o meu aprendizado constante.

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Projeto de assessoria financeira – depoimento da consultora 1

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Crise tem o lado bom. Estimula a criatividade. Na crise somos obrigados a sair do lugar confortável e achar novos caminhos e saídas para as dificuldades.

Essa crise financeira de 2016 atingiu muitas pessoas e empresas. Tenho conversado com pessoas que estão enfrentando esse novo cenário econômico, pessoas que perderam seus empregos, pessoas que tiveram que renegociar seu modelo de trabalho, pessoas que estão partindo para outras áreas, pessoas usando suas reservas etc. A crise existe, mas as contas não param.

Eu mesma estou me reinventando nesse cenário e outro dia em uma dessas conversas com uma amiga, recebi a proposta de atuar como sua consultora financeira pessoal, pois me disse que está muito preocupada com suas reservas e com suas contas que nunca fecham. Detalhe, é uma pessoa muito competente em sua profissão e que tem um bom salário.

No primeiro momento fiquei com um certo receio, afinal sou publicitária. Como gosto de um desafio e tenho meu próprio negócio, há 24 anos, aceitei o convite, afinal, sempre cuidei também da parte administrativa das agências Modo e 3bis e sempre tive empresas saudáveis financeiramente.

Já fizemos alguns encontros para eu entender o cenário que ela se encontra. Coloquei alguns questionamentos que prontamente ela não soube me responder. Confesso que fiquei um pouco assustada com a falta de conhecimento da sua própria vida financeira, pois são questões tão básicas e simples que o correto é que todos saibam, mas ela não sabia, como imagino que muitas pessoas não saibam. Meu papel agora é ajudar, orientar, ensinar, se ela não tivesse essas dificuldades eu não estaria aqui prestando esse serviço.

Então, nessa crise, estou usando esse meu conhecimento que sempre utilizei somente para meu benefício para ajudar outra pessoa e vejo que existe uma oportunidade disso ser algo que eu possa também vender como serviço.

Bom, combinamos que vamos relatando os sentimentos, os passos dados, a visão dela e a minha. Ela preferiu não se expor e eu concordo com ela, mas no meu caso, posso me mostrar.

Vou escrever uma vez por semana sobre esse projeto. Adorei o desafio, espero que gostem também e que tirem lições, pois eu tenho certeza que tirarei novas. Vamos em frente.

12308453_10205306926782378_7964104893761853478_n foto Dri para perfil

Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde escreve contos, poesias e crônicas. Publicitária e empresária. Divide seu tempo entre suas agências Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br e 3bis Promoções e Eventos www.3bis.com.br e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa :)

 

 

 

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Quando a alma está nua

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Se você quer me conhecer, além do que vê por fora, além da casca do corpo, vou te contar um “segredo”. Sou daquele tipo “menina normal”, sem grandes mistérios, com muitas fases. Mas acima de tudo, sou de um tipo raro: eu tenho a alma nua. Não, não se choque com isso e nem me venha com pudores.

Olhe mais a fundo. Mistérios solucionados. Não disfarço alegrias, tristezas e indignações. Não controlo isso. Minha alma tem vontade própria e fala…

É fácil entender um sorriso, a agitação das minhas mãos quando falo ou quando estou em silêncio, o meu bufar quase imperceptível quando estou contrariada. É tão simples. Basta olhar para dentro da casca, que está tudo ali. Um mapa de emoções cristalinas. Alma tão nua, a ponto de ser tola perante muitos.

Uns dizem que sou boba por ser tão transparente… outros dizem que é mostra do meu coração gigante. Não sei e na verdade não me importo. É assim que sou em essência. E isso não se muda e ponto. E mudar para que? Um curso no Tablado quem sabe me faça aprender a disfarçar.

Mas aonde isso me levaria?

Sigo sendo eu: de alma nua. Confundindo quem não vê além da casa… pois é melhor a nudez incompreendida do que uma vida pela metade.

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Marina Prado – Bela Urbana, jornalista por formação, inquieta por natureza. 30 e poucos anos de risada e drama, como boa gemiana. Sobre ela só uma certeza: ou frio ou quente. Nunca morno!

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Processo de assessoria financeira – depoimento pessoal 2

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Hoje tive o primeiro encontro com a consultora financeira. Sim, uma mulher, afinal, com certeza terá sensibilidade para entender algumas das minhas fraquezas.

Engana-se quem pensa que estou falando de bolsas e sapatos, falo de gastos com filho, família e amigos.  Sim, me rendo às necessidades do meu filho, que muitas vezes não são necessariamente necessárias. Rendo-me a  bons restaurantes com a família, e por fim, me rendo a encontro com os amigos!

Nota 3 – rendida (se tiver curiosidade, a nota 1 e 2, encontram-se o depoimento pessoal  1.

Neste primeiro encontro, fui questionada em relação as minhas entradas e saídas, quanto ganho e onde gasto.

Essa parte me pareceu fácil, se não fosse por alguns detalhes que não soube responder prontamente, como por exemplo?

_ A conta que tem no banco, quanto custa? Você participa de programa de recompensa de seu banco? Seu cartão é internacional? Quanto custa?

_ Você tem a média dos gastos que não são fixos, mas são previstos?

Hummmm, a essa altura, percebi que nada sei em relação ao meu orçamento.

E por aí foi… foram muitas perguntas, algumas respostas certeiras e muitas questões a descobrir!

Resultado? Lição de casa!

Durante todo o mês de setembro, será necessário registrar todo e qualquer gasto e ainda, apontar a forma de pagamento, à vista, cartão de crédito, usou o ticket refeição, cheque, enfim…

Para a primeira semana de sontrole, tenho que  identificar o tipo de conta que possuo no banco, se disponho de um programa de recompensa, quanto pago pela conta, bem como identificar quais produtos, como investimentos diversos, ou ainda, empréstimos que no meu banco.

Conclusão: A primeira coisa é compreender o meu status financeiro atual!

Por enquanto é só, semana que vem tem mais!

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Mirela N. – Bela Urbana, faixa dos 30 e tantos anos, que está em busca do equilíbrio financeiro, principalmente agora que está com medo de só poder se aposentar com 65 anos. 

 

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Fragmentos de um diário – 19

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Mudanças no ar.

Quantas tem acontecido nos últimos dias! No trabalho, na minha vida pessoal, de todo lado mudanças.

Uma especialmente me pegou de surpresa, como é a vida, como sempre digo que tudo tem seu momento certo, mas nem sempre de onde estamos entendemos isso e aceitamos isso. Essa notícia é boa, é muito boa, mas confesso que ainda estou um pouco assustada com a rapidez dos fatos e como vou organizar minha vida.

Na Bíblia tem um texto muito bonito que fala que tudo tem seu tempo, não sei as palavras certas desse texto, mas fala que temos a hora de descansar e a hora de trabalhar.

Tenho trabalhado bastante, mas também tenho estado mais presente com meu filho, ainda não é o que acho ideal, mas já melhorei muito.

Apesar de ninguém ainda conhecer meu blog (só a C) prefiro dar a notícia pessoalmente, mas depois que eu me sentir mais tranquila.

Estou feliz, bem feliz.

15 de setembro – Gisa Luiza – 36 anos

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Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde escreve contos, poesias e crônicas nesse blog. Publicitária e empresária. Divide seu tempo entre sua agência Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa :). A personagem Gisa Luiza do “Fragmentos de um diário” é uma homenagem a suas duas avós – Giselda e Ana Luiza

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Minha Opinião

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Minha opinião é minha

Precisa ser respeitada

Por mim

Principalmente por mim

Às vezes é deixada de lado

Mas grita, esperneia

Até se fazer respeitada

Até ser ouvida sentida

Dolorida ou divertida

Ou blasé

Enfim

Que assim seja

É a minha opinião

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Synnöve Dahlström Hilkner Bela Urbana, é artista visual, cartunista e ilustradora. Nasceu na Finlândia e mora no Brasil desde pequena. Formada em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda pela PUCC. Desde 1992, atua nas áreas de marketing e comunicação, tendo trabalhado também como tradutora e professora de inglês. Participa de exposições individuais e coletivas, como artista e curadora, além de salões de humor, especialmente o Salão de Humor de Piracicaba, também faz ilustrações para livros. É do signo de Touro, no horóscopo chinês é do signo do Coelho e não acredita em horóscopo.

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Processo de Assessoria Financeira – Depoimento pessoal 1

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Como é difícil administrar o orçamento! Principalmente em tempos de crise.

Nossa não foi uma, nem duas, mas várias vezes que tentei organizar as minhas despesas e meus ganhos de modo que fossem administrados eficientemente, com reserva financeira.

Me divirto só de pensar em como algo tão simples, é atropelado pelo cotidiano que me apresenta imprevistos que não constavam no planejamento inicial.

A vida é dinâmica, algumas coisas são para hoje, outras para ontem e daí eu pergunto, como dar gerenciar a vida de forma tão previsível?

Ai que chato viver assim!

Por outro lado, a sensação de descontrole é inadmissível, afinal, contar com a aposentadoria hoje em dia seria uma loucura. E vou parar por aqui, para não entrar em pânico, afinal, o cenário social e econômico atual pode desestruturar qualquer cidadão com um pouquinho de bom senso.

Pensando nesse cenário, todo ano faço questão de iniciar com um belo planejamento. Começo bem organizada, faço planilhas, adoro um excel, o que ajuda bastante. Faço lista dos gastos previstos, procuro deixar reserva para gastos que não são fixos, até me arrisco a listar desejos.

Nota 1 – eu tento!

Ah, como é difícil manter o controle. Motivação inicial eu tenho, faço a tal planilha, olho para o cenário, organizo gastos, mas controla-lo é algo bem diferente. Exige hábito, cultura, empenho e eu, cansada de tanto controle, desisto dessa brincadeira que sempre me parece injusta.

Nota 2 – desisto.

Foi pensando em tudo isso que decidi pedir ajuda! Desta vez, a ajuda foi profissional, contratei uma assessora financeira.

Serão cinco meses! De agosto a dezembro! Será que dessa vez vai dar certo?

Será que conseguirei enfim, ter uma reserva financeira para não ficar tão vulnerável a um sistema econômico? Será possível ter controle financeiro sem necessariamente ter uma vida sem graça e privada de diversão, encontro com amigos, almoços em famílias, atividades de cultura?

Está posto o desafio…

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Mirela N. – Bela Urbana, faixa dos 30 e tantos anos, que está em busca do equilíbrio financeiro, principalmente agora que está com medo de só poder se aposentar com 65 anos. 

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Meio Metro

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Alberto era um homem alto, magro e beirava os quarenta e tantos anos. Quarenta e tantos porque já havia passado dos quarenta e cinco, como ele mesmo disse numa festa de fim de ano do banco. Era um homem discreto, de poucas palavras e vida social praticamente inexistente. Seu contato com o mundo exterior quase que se resumia ao trajeto que fazia diariamente de casa para o banco e do banco pra casa. Tarefa que ele exercia com a obstinação de um monge e um olhar perdido de felicidade que pairava entre as seis estações que separavam seus dois grandes amores. Marieta, com quem era casado há 25 anos e o banco, com quem era casado há 21 anos. Alberto nunca reclamava de nada, a não ser da dificuldade de achar sapato número 46. Ele era muito alto e tinha um pé enorme. Fato que o incomodava muito e que talvez tenha moldado a sua personalidade discreta, quase invisível. Um homem de quase dois metros de altura e feio assim chama a atenção demais. Nesse caso o melhor a fazer é ficar calado para não aumentar o estardalhaço da minha presença. Foi exatamente isso que ele me respondeu um dia que perguntei a ele porque ele era tão quieto. Mas havia algo mais do que isso. Parecia que ele carregava um peso maior. Tudo bem, o sujeito pode ter vergonha da altura, da feiúra, mas nenhum sorriso é tão triste à toa. E isso eu era testemunha. Nunca vi alegria em seu olhar. Decidi investigar. Coloquei em prática o curso de detetive a distância que havia feito. Primeira lição: siga o investigado com descrição. Foi isso que fiz. Todos os dias, às seis da tarde, ele saía do banco e eu ia atrás. Descia a ladeira Porto Geral e entrava na estação São Bento. Pegava o trem no sentido do Tucuruvi e eu atrás, discretíssimo. Descia na estação Santana e caminhava até a sua casa. Entrava, fechava a porta e a partir daquele momento era uma incógnita. Por vezes eu fiquei até tarde esperando gritos, briga, tiros ou que fosse. E nada. Nada acontecia. Não é possível, eu pensava. Tem alguma coisa errada nisso. Como pode um sujeito que teoricamente tem um bom casamento, um bom emprego, uma vida pacata, ter tanta tristeza estampada no rosto? Não era cabível que fosse só por causa da sua altura e de sua suposta feiúra. Mas eu estava longe de desistir. Cada dia que passava minha curiosidade aumentava mais e mais. Agora já era questão de honra. Iria, custe o que custar, descobrir o que se passava com Alberto. Comecei convidá-lo pra almoçar todos os dias. Quem sabe a intimidade o faria revelar algum segredo. Nada. Absolutamente nada. Ele falava da Marieta, do trabalho e até de futebol, sempre com comedimento. Mas revelações? Nenhuma. Ele era impenetrável. Mas um dia minha busca teve um lampejo de luz no fim do túnel. Num dos nossos almoços, ele estava sentado de costas pra rua. Tudo transcorria normalmente, como todos os dias, até que um sujeito desconhecido passou pela porta do restaurante e ao ver um amigo, entrou e logo disse: Rapaz, quase morri hoje. Um carro quase passou em cima de mim. Se eu tivesse meio metro pro lado, tinha sido atropelado. Naquele instante, querendo romper o silêncio habitual, surgiu a primeira grande pista. O rosto de Alberto ruborizou e seus olhos encheram-se de uma tristeza ímpar. Algo naquelas palavras aparentemente sem importância, pelo menos pra ele, o colocava em contato com alguma coisa amarga. Era como se tivesse trazido à tona alguma lembrança do passado. Tive o ímpeto de perguntar, mas achei melhor me conter. Alberto estava num momento sublime. Sem dizer nenhuma palavra, levantou-se e saiu desnorteado pela Rua Boa Vista de volta ao banco. Daquele momento até o final do expediente, o silêncio de Alberto chegava a arrepiar. A hora não passava. Estava ansioso demais em segui-lo. Seria o grande momento. Me enchi de expectativas e fantasias. As seis em ponto tomei meu rumo atrás dele. O que será que havia naquela frase? O que seria motivo suficiente pra tanta tristeza? Pra detonar o ar sombrio daquela tarde? As palavras seriam a chave pra o que eu tanto procurava? Eu estava zonzo. Quanto mais eu tentava juntar os cacos mínimos, menos fazia sentido aquilo. Eu já não sabia se fazia sentido eu querer achar sentido naquilo tudo. Mas era tarde. Estava envolvido e queria ir até o fim. Fiz o meu trajeto discreto como todos os dias. Quando cheguei a casa dele resolvi ir adiante. Depois que ele entrou, pulei o muro em silêncio. Fui até a janela e sem pestanejar estiquei o pescoço e olhei pro lado de dentro. Mais do que ver, senti. Mais do que sorrir pela descoberta, chorei. Mais do que ficar extasiado, fiquei estarrecido. Pela janela, contemplei um homem de quase dois metros de altura, sentado no degrau da escada, chorando copiosamente e conversando com uma foto em um porta-retrato. As palavras escorriam quentes pelos meus ouvidos. Marieta  – dizia ele -, que vida poderíamos ter tido. Jantares românticos, passeios no fim da tarde no jardim da luz, noites de amor. Cinema, teatro, filhos. Juntos, não fazer nada, sentados no banquinho do quintal a escolher estrelas e dar a cada uma o nome de um sonho. Sonhos não realizados, sonhos vãos, sonhos com cheiro de morte. Naquele dia faríamos um ano de casados. Era um domingo abafado de calor. Saímos de mãos dadas, distraídos pelo amor e pelo picolé, que de tanto calor, derretia e escorria por entre os dedos. Lembro-me como se fosse hoje. Você com um sorriso de menina, lambendo os dedos sem querer desperdiçar nada. Você adorava picolé de chocolate. Eu de abacaxi. Caminhávamos ao local do nosso primeiro beijo. Ao passar ao lado das obras da nova estação do metrô, vi uma árvore. Uma sobrevivente da natureza perdida naquele emaranhado de concreto a se enraizar sob nós. Afastei-me de você por um instante e fui buscar aquela flor perdida num galho mais alto. Quando virei, vi o chão sumir sob seus pés. Um acidente, foi o que disseram. Junto com você, mais três pessoas foram engolidas pela cratera que se abriu. Atônito e agarrado a árvore, vi o mundo desabar sobre a minha cabeça. Chorei, desesperei. Quis morrer. Todos os dias me lamento. Poderia ter ido com você escolher de perto as estrelas. Meio metro. Foi a distância que nos separou. E eu só queria te dar uma flor. Desejo todos os dias te encontrar de novo. Há mais de 20 anos anseio por alguma tragédia. Não tenho coragem de me suicidar. Mas hoje, especialmente hoje, tudo me veio a mente de um jeito arrebatador. Como eu queria ser aquele desconhecido, como eu queria estar a meio metro dele na frente daquele carro. Como eu queria uma vez mais ouvir tua voz. – Por um instante Alberto calou-se. Apenas chorou. E eu com a garganta seca, quase sem respirar, fiquei paralisado. Aquele era o motivo da sua tristeza. Uma tristeza que ele alimentava diariamente durante anos. Para todos do banco, Alberto era muito bem casado. Sim, era muito bem casado com suas lembranças e uma vida inteira de tristeza. Esse era o ponto. Esse era o segredo. De repente Alberto levantou-se, enxugou as lágrimas, colocou o porta retrato em cima do piano e saiu. Mais que depressa o segui. Ele foi até a estação e entrou no trem como se estivesse indo ao banco. Ele passou pela estação São Bento e não desceu. Eu resolvi descer na Sé e ele se foi. Tomei o trem sentido Paraíso. Era quase meia noite. No silêncio do vagão quase vazio em enchia de pensamentos contraditórios. Estava satisfeito com a descoberta, mas tinha um nó na garganta difícil de desatar. Tentei imaginar pra onde teria ido Alberto aquela hora. Não importa. Fosse onde fosse ele tinha suas razões. Tinha o direito de estar só. De ir ao encontro de Marieta se assim o quisesse. Ao chegar em casa, desmaiei de sono e cansaço.

No dia seguinte, Alberto não foi trabalhar.

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Gil Guzzo – Belo Urbano, é autor, ator e diretor. Em teatro, participou de diversos festivais, entre eles, o Theater der Welt na Alemanha. Como diretor, foi premiado com o espetáculo Viandeiros, no 7º Fetacam. Vencedor do prêmio para produção de curta metragem do edital da Cinemateca Catarinense, por dois anos consecutivos (2011 e 2012), com os filmes Água Mornas e Taí…ó. Uma aventura na Lagoa, respectivamente. Em 15 anos como profissional, atuou em 16 peças, 3 longas-metragens, 6 novelas e mais de 70 filmes publicitários. Em 2014 finalizou seu quinto texto teatral e o primeiro livro de contos. É fundador e diretor artístico do Teatro do Desequilíbrio – Núcleo de Pesquisa e Produção Teatral Contemporânea e é Coordenador de Produção Cultural e Design do Senac Santa Catarina. E o melhor de tudo: é o pai da Bia e do Antônio.

 

 

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Porque SIM

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A sorte é que o mundo dá voltas e a vida ensina…

Talvez não com a agilidade e destreza que a gente quer ou precisa… Mas num tempo certo, que uns dizem ser determinados por Deus, outros pelo Universo, que conspira…

Cansei de tentar entender o sentido de tudo… Por que A ou B falam determinada coisa, julgam e não tem a hombridade de falar na cara? Porque hombridade ou se tem ou não! E o tempo se encarrega de mostrar a verdade. Às vezes tarda, mas não costuma falhar…

Por que o reconhecimento no emprego não vem quando acho que deveria? Porque, moça, talvez você esteja no lugar errado, por mais que ache que está fazendo tudo certo.

São tantos os porquês que a gente se faz e olha para o Céu em uma tentativa enlouquecida de tentar buscar uma resposta. Eu não sei se sou caso de internação, mas por mais que eu seja 100% coração, sou 100% ansiosa em tentar entender os porquês e, às vezes ou quase sempre, eles não existem.

Quando eu era pequeninha, perguntava insistentemente para minha o porquê das coisas e em algumas situações ela dizia, categoricamente: “porque SIM. Por definição”.

Ah, minha sábia mãe… Ela é tão parecida comigo… Como eu nunca me atentei a essa resposta que tanto me irritava na infância?! Quantas dores de cabeça e conversas com o travesseiro eu teria evitado… Sabe por que as coisas acontecem ou não acontecem? Porque SIM… na grande maioria das vezes. Não adianta filosofar, entrar no “Fantástico Mundo de Bob” para tentar entender, bolar teorias dantescas… Às vezes as coisas e as pessoas são como são e ponto. Porque SIM…

Acho que entrei numa fase da minha vida que, quando mais nova, criticava. Aquela que a gente começa simplesmente a viver… sem tentar entender… Achava que isso era conformismo… Hoje? Hoje acho que isso é coragem… Viver sem entender todos os motivos, sem razão pré-determinada para tudo, sem saber muitas vezes aonde aquilo vai me levar… Simplesmente, porque SIM, por definição e ponto!

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Marina Prado – Bela Urbana, jornalista por formação, inquieta por natureza. 30 e poucos anos de risada e drama, como boa gemiana. Sobre ela só uma certeza: ou frio ou quente. Nunca morno!
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SETEMBRO

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Se tem

Flores

Calor

Frescor

TEM

Amor

Comida

Casa

Se tem

Brincadeira

Beleza

Leveza

TEM

Setembro

Se tem, nós temos.

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Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde escreve contos, poesias e crônicas. Publicitária e empresária. Divide seu tempo entre sua agência Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa :)