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Noite de Picadeiro

A noite vinha chegando sem muito floreio… Obscura e incerta, como de costume, e apagando luzes e temperaturas com menos eficiência que o normal, mas firme nesse propósito de séculos. Eu jamais diria que não havia, ali, naquele dia comum, uma noite trivial se aproximando… Eu sempre fui meio desligado, e fosse como fosse, o que eu poderia imaginar que aquela noite me daria? Não havia mesmo muita expectativa, sabe? Um salto no inesperado. E saltei.

Até que chegou, no susto, mais cedo do que eu esperava, a tal anoitecida, o que me fez acelerar um pouco meu ritual de banho e camarim. Eu investia algum tempo nisso, confesso. Na falta de beleza genética, sempre compensei com estilo, remendando aqui e ali as fantasias da vez. Um bom palhaço entende a importância de sua pintura de guerra, e era noite de picadeiro. Rir no final era fundamental.

Com algum suspense suspenso no ar, e a tal da ansiedade que eu ocultava por baixo do perfume, sempre que era dia de festa, saí de casa rumo ao clube onde eu praticava vôlei. E aqui cabe um pouco mais de história… Vôlei havia entrado tarde na minha vida, depois de muitas outras experiências menos interessantes com esportes diversos, de futebol à ginástica olímpica, que embora eu até gostasse, pareciam nunca gostar de mim de volta. Era bom finalmente ter um que me aceitava, acolhia e divertia. E foi dele a culpa que me levou à festa que nos aguarda, e que eu guardo na superfície da memória há tantos anos, revisitando sempre, como faço agora.

A aniversariante era minha amiga de vôlei, assim como dos outros amigos com quem marquei de encontrar na porta do clube, para irmos juntos para a festa dela. Tudo entre amigos faz mais sentido, né? E a mera caminhada de quarteirões virou coleção de risadas que ecoam ainda hoje em mim, feito a mais linda moldura que antecede a mais perfeita obra de arte. Indo, sem saber, descobrir o colorido da vida, fui, ainda por cima, bem acompanhado. Tem sortes que a gente precisa mesmo emoldurar.

E chegamos… Festa de quintal de casa, com decoração despretensiosa, ali apenas para ilustrar um pouco do que acontecia de mais importante: as interações. E como sempre acontecia nas chegadas, liguei meu radar para entender melhor o lugar, as pessoas que eu conhecia, as que eu não conhecia, banheiro, comida e “espelhos”. Espelhos, entendam, eram aqueles caras descolados que serviam de inspiração para meus desajeitados passos de dança… Eu era um pot-pourri de passos surrupiados discretamente, mas nunca colocados em prática como deveriam. Mas era festa, e ser feliz sem muitos cuidados era obrigatório.

Eu já estava nessa, de ser feliz e livre entre amigos e risos na pista de dança, há um tempo já quando ela chegou… Não sei dizer o motivo real de tê-la visto entrando, de longe, tão rápido. Talvez meu radar ainda estivesse ligado, procurando algum salgadinho diferente dos que eu já tinha provado, ou o rodopio copiado do garoto de topete maneiro tenha me deixado de cara com ela… Não sei. Acho que tudo isso… Ou talvez nada disso fosse mesmo preciso, já que eu não era o único sob os efeitos da hipnose. Mas quis acreditar que ela era meu feitiço particular.

Não foi a primeira vez que a vi. Na estreia, alguns anos antes, a conheci como amiga da minha cunhada e, portanto, presa a ser apenas isso, embora houvesse já algum desconforto nessa limitação. Ela foi sempre dessas pessoas que roubam o fôlego da gente, sabe? Quando a vi pela primeira vez acho que desaprendi a respirar, e agora ali, naquela festa de quintal, zonzo por rodopios nada dominados, senti voltar com tudo o poder da inspiração.

Caramba! e agora? Pernas bambas mesmo, que deixavam aquela cópia fajuta de coreografias alheias ainda mais descabida… Será que ela lembrava de mim? Será que ela tinha me visto? E será que eu estava dando pinta demais daquele interesse incubado por tanto tempo e tantos “não possos”? Me vi um enorme e desajeitado ponto de interrogação, com a sensação de que estava piscando florescente, e ainda por cima fora do ritmo da música que tocava. O que estava acontecendo?

Olhando daqui do futuro, penso que eu havia acabado de receber o golpe… Cambaleando ainda do choque com aquela paixão gigante que despencou sei lá de onde, e foi tomando todo o quintal, desrespeitando qualquer limite que via pela frente. E de repente, era só eu, ela e os escombros daquela paixão, espalhados por todo lado, saindo sem controle de mim. De uma coisa eu sabia… Era impossível esconder aquele troço. E eu também não queria esconder.

Ok, ok. Eu estava entre amigos, e ficava sempre mais a vontade nesses casos… Havia meu figurino de festa, elaborado com dedicação para superar a natureza, e havia aquela composição de estilos, remixados com a trilha sonora que tocava, mas por baixo daquilo tudo, eu era um cara tímido pra essas coisas. Ótimo nas palavras que ziguezagueavam atrás dos olhos, mas super enrolado na hora de fazê-las sair. O coração começava a descompassar, e junto dele, as poucas que saiam pareciam não saber mesmo o que dizer. E por acaso, naquela simples ocasião, parecia que toda a minha vida estava em jogo… E, de novo aqui do futuro, sei que estava mesmo.

Fiquei então ali… No esconderijo da roda de amigos, criando coragem como quem cultiva o mais complexo dos grãos… Arando aquele terreno de poucos metros que nos separava, e que parecia tão maior e mais arisco. Lava imaginária, creio ter visto até. E dali, do outro lado da pista, ficava lançando olhares como quem pede socorro, em SOS, esperando alguma fisgada de coragem. Nunca soube pescar.

Mas, como tudo entre amigos faz mesmo mais sentido… Numa jogada inesperada, e na mais incrível levantada que já recebi na partida de vôlei da minha vida, a aniversariante veio até mim, vencendo aquele terreno ilusoriamente flamejante, e perguntou o que eu achava da garota fulana, justamente aquela que havia me sequestrado da festa e da razão. Oi? Lembro de ser pego mesmo desprevenido… Acho que engasguei… Certeza que gaguejei… Mas consegui formular algo que foi suficiente pra declarar meu total interesse. E completei com “por que?”. Eu precisava saber porque… E mais, o porque tinha que me levar até os lábios dela.

A resposta veio. E sei lá pra onde me levou naquele instante. Minha amiga de vôlei, que era já tão mais que isso, disse que ela, a feiticeira, havia perguntado de mim… Em algum momento dos poucos que a perdi de vista. Por que? Estaria interessada também? Curiosa? Eu estava encarando além do saudável? Tudo isso passou feito um calhambeque numa rua de paralelepípedo, trepidando em minha total incredulidade. Era, enfim, uma coragem fisgada.

O que se desenrolou desse momento em diante é difícil de descrever. Acho que por haver, não sei, alguma coisa de magia mesmo, dessas névoas de encantamento sobrevoando aquela cena de encontro. Nos aproximamos, os dois, vencendo uma distância que nem parecia mais real… Ela vindo mergulhada no sorriso mais lindo que já vi até hoje, e eu indo por já não poder mesmo segurar aquele impulso de ir, até ela, pra ela. Cataclisma. A pele dela, imantada, exercia uma atração impossível… E resistir seria imperdoável.

Já próximos, enlaçado pelo perfume dela, descobri ali meu aroma preferido. Engraçado como há coisas que marcam, feito ferro incandescente… Fecho hoje meus olhos, cansado pelo tempo, e sinto ainda aquele perfume, cravado em mim, permanente. E agora um na órbita do outro, mudamos a trajetória indo juntos para fora daquele quintal. Outra dessas coisas que não consigo explicar. Simplesmente fomos, com uma certeza impossível de que era o que o outro também queria. Rua vazia… Sozinhos abarrotados de tanto o que dizer e fazer… E a noite, ali perdida, sem saber para onde olhar.

Nao sei mais o que esperam de mim nesse relato… Esperam que eu conte como foi o beijo? O que eu disse? E o que ela falou? Não posso. Não há nas palavras que eu conheço alguma combinação que consiga traduzir aquela paixão. Antíteses… Um tanto de incêndio, com uma dose de céu… Perdido completamente naquele lábio que parecia meu, ganhado, absorvido… Embaralhando desejos, sonhos, mãos e gostos, como se não houvesse mesmo amanhã. E hoje, alguns amanhãs depois, sei que não haveria mesmo nenhum que pudesse ser maior que aquele instante.

Tudo parece ir e voltar daquele ponto. A vida, o volei, os amigos e antigas namoradas, a rua e a noite me levando como se me devolvessem àquele beijo, que volto também, com a vida em curso hoje, sempre que preciso me refazer, respirar, e me reencontrar. Origens…

De volta àquela festa, da amiga do volei…
De volta àquela rua, vazia e tão perfeitamente à espera de nós dois…
De volta, ao começo de absolutamente tudo.

Paixões como essa são feito estrelas, que estendem seu brilho no manto da nossa história e seguem iluminando e atraindo passe o tempo que passar.

E hoje?
Hoje essa estrela dá novos sinais, novos horizontes, de novas chances e novos encontros.

Reencontros…
E reencantamentos.

A noite vem aí, obscura e incerta, como já conheço, e agora aprendi a não deixar na mão do universo o desfecho do meu espetáculo. É noite de picadeiro, e rir no final é fundamental.

Bernardo Fernandes – Belo Urbano. Um gêmio canceriano, e um ingênuo de 35 anos, nesse contínuo processo insano de se descobrir. Achou na Comunicação uma paixão e uma labuta, e vive nessa luta de existir além do resistir, fazendo diferente e diferença… Ser feliz de propósito, sabe? Sem se distrair desse propósito. E vai assim, escrevendo o que a alma escolhe dizer, tocando o que a viola resolve contar, fazendo festas com cachorros e amigos perdidos, e brincando de volei, de pique, e de ser feliz na aventura da sua viagem. Vai uma carona?

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Meu primeiro amor

Meu primeiro amor tinha o cabelo castanho lisinho, olhos castanhos e era um pouquinho maior que eu. Provavelmente devia ser alguns meses mais velho, já que eu era uma das mais novas daquela classe. Eu amava! Sentia uma emoção que nem sei descrever, mas lembro sim que a sentia.

Uma vez ouvi algum adulto, uma mulher, que falou para mim: – Criança não ama! – eu fiquei muito brava e me lembro de protestar: – EU AMO! – disse em alto e bom som. – Amo sim, e amo o Rogério!

Não me lembro quem era a adulta, talvez minha mãe, talvez minha tia Marta… Eu era bem pequena, tinha só quatro anos. Sim, você entendeu bem, tinha quatro aninhos! Estudava no jardim da infância e minha professora, que eu achava linda, se chamava Regina. Para seus alunos, Tia Regina.

Tia Regina me deu uma grande alegria. Os pares da festa junina para a dança da quadrilha eram escolhidos por ela. Quem vocês acham que ela escolheu para ser o meu par? Ninguém menos que o Rogério. Meu coração pulou de alegria, e me lembro da emoção e também de querer disfarçar que estava tão feliz. Fico hoje me perguntando, por que algumas vezes temos vergonha e queremos disfarçar nossa felicidade?

Como eu me lembro de tudo isso? Eu simplesmente me lembro… E, mesmo hoje (melhor nem contar quantos anos já se passaram daquele junho, algumas décadas), ao lembrar, consigo recordar da emoção sentida.

Dançamos aquela quadrilha e foi lindo! Aliás, essa foi até hoje a quadrilha que mais gostei de dançar na minha vida.

Dizem que somos feitos de emoção. Eu acredito nisso. Acho que emoção nos molda. As boas nos moldam para sermos mais doces, para algo interno que nos resgata e conforta nos momentos difíceis da vida. Até hoje eu discordo da adulta que me disse que criança não ama. Eu sei hoje que ela se referia a um amor romântico, mas mesmo assim, eu discordo mesmo, porque eu amava o Rogério, do meu jeitinho, de uma menininha de quatro aninhos, da forma mais pura e autêntica que é o amor. Simplesmente o querer bem, o encantamento e a vontade de estar do lado.

Saí da escola no ano seguinte, como eu disse, era das mais novas e a lei tinha mudado. No outro ano, quando voltei, nunca mais o vi. Acho que mudou de escola.

Se sofri por que amava? Não. Se fiquei pensando no Rogério? Não. Eu brincava, e brincava muito, e isso também era feito de amor.

Brinco com essa história a vida inteira. Outro dia peguei as fotos da quadrilha e mostrei para meus filhos. Eles riram, e ficamos perguntando na mesa: – Cadê o Rogério? Inventamos mil destinos para ele e jantamos dando boas risadas.

Desejo do fundo do meu coração que o Rogério tenha sido um menino feliz, assim como eu fui, e desejo que onde quer que esteja, que esteja bem.

Como disse Drummond: “Amar se aprende amando”.

Adriana Chebabi  – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre seu trabalho de comunicação e mkt e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa.

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A linguagem do amor…

Estes dias estava estudando com meu filho os temas de redação para vestibular. Um deles era a linguagem neutra. Eu nem sabia o que era e quando fui buscar no dicionário é basicamente a utilização de uma terceira letra (E) para se referir a todos, sem particularizar gênero com a letra A para feminino e O para masculino. No início achei absurdo, afinal, mais uma diferenciação? Este povo está maluco? Onde isso vai parar?

Foi aí que comecei a pensar no assunto e quando chega o dia dos namorados, reflito sobre o que leva as pessoas a se enamorar é o amor…ah, aí sim, cabe uma observação.

Quando queremos amar, será mesmo que queremos ter filhos? Será que amar só pode ser entre homem e mulher? Será que amar significa sexo? Sexo significa “penetração”? Nossa….tenho dois filhos adolescentes e nem sei o que vai ser nesta área da vida deles, mas muitas pessoas têm conceitos muito fechados para o AMOR.

Claro que temos vários tipos de amor… amor de mãe, de filho, de avó… mas o amor de namorado? Este também, no meu ponto de vista poderia ser mais livre…. já que acredito que amor para namorar é:

  • Estar junto
  • Trocar carícias
  • Ajudar um ao outro
  • Conviver bem
  • Construir coisas juntos
  • Sonhar juntos
  • Viver juntos…
    Para fazer tudo isso acima e curtir o dia dos namorados, só posso ser homem e mulher? Não pode existir AMOR de outra forma? É isso mesmo? O que vale a pena são os gêneros criados pelos homens? Acho que a palavra gênero, não deveria nem existir. Ela deveria ser trocada por “humanos”. Somos humanos, e como humanos devemos AMAR. Esta é a razão do porque estamos aqui. Amar, ser simples, gentil e evoluírmos.
    Sou casada à 25 anos, tenho uma família linda e escolhi um SER HUMANO maravilhoso para me acompanhar nessa caminhada. Qual o gênero que ele é? Hoje eu digo… isto não faz a menor diferença!

AME ACIMA DE TUDO! ENCONTRE ALGUÉM PARA DIVIDIR SUA VIDA, PRA SONHAR E SER FELIZ!

Roberta Corsi – Bela Urbana. Fundadora e coordenadora do Movimento Gentileza Sim, que tem por objetivo “unir pessoas que acreditam na gentileza” e incansavelmente positiva. Mãe da Gabi e do Gui. Gosta muito de reunir a família ao redor de uma boa mesa.

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Marina

Acredito que esteja relacionado a forma como você olha;

Um certo ar de coração, profundo, de quem carrega a dor do mundo;

Este jeito meio moleca, meio menina, traz ainda mais empatia a este olhar;

Acredito que seja isso que cause nas pessoas está gigantesca vontade de estar ao seu lado;

Ou será que não é em todos e eu talvez sinta alguma coisa igual a você?;

Não dá, não tenho o seu coração, mas sou também carregado de emoção;

Hoje olhei os seus olhos e vi um certo ar de pureza nesta linda sexualidade pulsante;

Antagónico este olhar, mas completamente pertinente a quem te observa;

Significa dar sentido aos pensamentos mais profundo e depois se arrepender;

Não porque você não vale a pena, pois seria mentira, mais sim porque você parece tão frágil a ponto de quebrar;

Mas, se te quebro, junto a você, despedaço-me, fico só um caco, para depois você me montar;

Mas talvez eu já esteja em frangalhos e aí você já não parece mais tão frágil, e isso seja só uma desculpa para me aproximar;

Dentre todas as formas ou pensamentos que eu possa ter isso sempre termina do mesmo jeito;

Cacos, frangalhos, sentimentos e emoções, tudo destemperado, sentido, rasgado, apaixonado por querer-te;

Este sentido que vem de nos, de dentro de nós, meio como um trem desgovernado;

Causa o maior estrago no nosso ser, isso é quem somos, nervos expostos a sentir tudo que se possa ter;

Sentimos tanto que o nosso calor queima mais forte;

O nosso beijo beija mais profundo;

O nosso resumo conta uma longa história;

A nossa história abre espaçado para muitos vários resumos;

Então ao pegar o meu barco e navegar neste vasto oceano por mais de anos, só;

Dentre muitas tempestades, ventos, ondas, mares e saudades;

Talvez o que o marinheiro realmente queira e ancorar numa bela Marina;

Se perder neste profundo olhar, beijar até quase desmaiar e quase desmaiando só pensar em amar-te;

André Araújo – Belo Urbano. Homem em construção. Romântico por natureza e apaixonado por Belas Urbanas. Formado em Sistemas, mas que tem a poesia no coração. 46 anos de idade, com um sorriso de menino. Sempre irá encher os olhos de água ao ver uma Bela Mulher sorrindo.
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Conselhos da Madame Zoraide – 24 – Amor

Olá Consulentes, hoje vamos falar sobre o amor.

O AMOR é barriga.

Barriga tanquinho, gordinha, com estrias, flácida.

Barriga que gera filho. Barriga que tem umbigo.

Amor é barriga.

Barriga que tem fome. Barriga que fica apertada.

Barriga morena, branquinha, pretinha, manchada e machucada.

Amor é barriga e se você não entendeu nada caro Consulente, só posso te dizer que você precisa comer e fazer abdominais.

Depois disso se ainda não entender… difícil heim!

O AMOR não se entende, só se sente, como a barriga. Entendeu agora?

Madame Zoraide – Bela Urbana, nascida no início da década de 80, vinda de Vênus. Começou  atendendo pelo telefone, atingiu o sucesso absoluto, mas foi reprimida por forças maiores, tempos depois começou a fazer mapas astrais e estudar signos e numerologias, sempre soube tudo do presente, do passado, do futuro e dos cantos de qualquer lugar. É irônica, é sabida e é loira. Seu slogan é: ” Madame Zoraide sabe tudo”. Atende pela sua página no facebook @madamezoraide. Se é um personagem? Só a criadora sabe 

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Carta Aberta ao Amor

A quem possa (des) interessar sobre o amor,

Amor é jazz nova-iorquino. Um hino. Contratempos graves marcam o rítmo. Assim dedilhado, com cuidado e sem medo.

Saltam delicadamente, os amantes, entre teclas pretas e brancas de um piano. Oh! Abraços! Quentes confortáveis. Som dos metais a anunciar o refrão: Dancing cheek to cheek! Oh! I’m Heaven!

Oh, amar! Nada mais é que enxergar a si próprios na menina dos olhos da pessoa amada. E neste poço se afogar. Sem ar. Morrer até viver. Todo amor é Narciso.

Para um amor é necessário estar por inteiro. Alma gêmea é o espelho. É a descoberta da nossa música.

Leitor (a), você já esteve na neve de Nova Iorque? Eu não.

Por enquanto fico no calor. Procurando por um cheiro no cangote. Um baião de dois. E danço xote com a garrafa de Corote.

Liliane Messias – Bela Urbana, é pagadora de profissional: bancária. Cresceu na hoje vacinada cidade de Serrana-SP. Fez Letras em Araraquara. E adora dançar.

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Sobre um amor bom

Ela sentiu a nuca arrepiar ao olhar para aquele par de olhos azuis. Aquele era um indício de muita confusão em sua vida e de uma entrega que nunca havia vivido. Eram apenas algumas horas para viver essa louca paixão estrangeira, sem freios.

E assim foi. Foram exatas 10 horas de êxtase, gargalhadas, alguns problemas com o idioma, a descoberta que ele realmente não gostava de pimenta e que ela era louca em vinho Carménère e não podia tomar cerveja daquele jeito maluco e que eles dançavam forró lindamente, apesar dos dois pés esquerdos dele.

Jogo de Copa do Mundo no Brasil, festa na arena São Paulo. E lá estava o hermano mais charmoso que ela havia visto. Tudo começou com um irreverente e –inocente – acreditou ela, pedido de “saca uma foto, por favor?”. Claro! Pronto, feito o primeiro contato aqueles olhos não se desgrudaram mais. Conversa vai, conversa vem, em bom portunhol. Pois sim, ela só achava que as aulas de espanhol tinham feito algum efeito. Ele brincou com ela e a pediu tirar uma foto com o chapéu azul e branco. Ela tomou outro gole da birra e topou a brincadeira. A “irmã caçula” que a acompanhava, achando tudo lindo, incentivou a brincadeira.

Ela torceu pelos hermanos… O Brasil não jogava naquele dia, já havia acontecido o fatídico 7×1. Entre uma tentativa e outra de tentar ensinar o dançarino de tango forrozear, ele lhe roubou um beijo. Ela parou. Ele, sem graça, pediu desculpas. Ela riu e roubou outro beijo. A irmã, os amigos só se olharam e seguiram tarde e noite a fora rindo.

E eles pararam de ver a Copa, os jogos, as pessoas e se fecharam num mundo só deles. Conversaram, riram, dançaram. Até que ele teve que ir embora. Era domingo à noite. Ele tinha uma fronteira para cruzar e ela, uma hora e pouco de estrada pela frente.

Se abraçaram como se não existisse amanhã. Até hoje ela é capaz de sentir o cheiro do perfume dele se pensar naquele momento. Os olhos marejaram. Os dela e os dele. Trocaram juras de se ver. Ele prometeu voltar, ela prometeu ir. Passaram a se seguir nas redes sociais e conversaram horas a fio durante a volta dele. Se falam até hoje. A promessa de se encontrarem não foi cumprida. Ele namorou, ela também. Mas ainda se conversam esporadicamente. Numas dessas conversas a revelação mais surpreendente: ele guardou o guardanapo que ela escondeu no bolso da sua calça com um bilhete, ainda ouve a aquele forró de Gil e lembra dela. Ela ainda bebe o vinho Carménère e sabe o trecho que ele ensinou do hino argentino. Um torce pelo time do outro (quando não são rivais na partida) e guardam os copos de cerveja daquela Copa.

Uma história linda, de um encontro inusitado, que até hoje move sentimentos em dois corações distantes.

Marina Prado – Bela Urbana, jornalista por formação, inquieta por natureza. 40 anos de risada e drama, como boa gemiana. Sobre ela só uma certeza: ou frio ou quente. Nunca morno!
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De J’teaime moi non plus à Amor I love you

Tempos de bailinhos na garagem com vitrolas revestidas de vinil, long. plays, compactos de sucesso, tudo sempre preparado para se dançar livre ou coladinho.
 
A cidade pequena, turma do colégio, turma de sair, de frequentar a casa… se tivesse um aniversário todos eram convidados; “bicão”, como se dizia na gíria da época, só se não fosse da turma, mas se fosse, poderia chegar em qualquer festa e levar a irmã, porque essa também era da turma.
 
E lá fui eu com meu irmão, num domingo à tarde, na festa do aniversário do novo menino da turma, filho da professora de OSPB, (para quem não sabe, OSPB – Organização Social Política Brasileira) que se mudara de Campinas com a família porque o pai advogado, com clientes na cidade, e a mãe efetivada no colégio. 
 
Aniversários na garagem eram assim:  nada de álcool, adultos supervisionando, músicas tocando… e a música proibida que causava “frisson” era “Je t’aime moi non plus”, Canção de Jane Birkin e Serge Gainsbourg, e ele me tirou pra dançar.

Nada ocorreu de mais próximo durante os anos que fomos amigos de turma. Meu irmão e ele, sim, se tornaram grandes amigos, andavam de bicicleta, viajavam juntos, aprontavam juntos.

Ele, um menino diferente, com hábitos de cidade grande (Campinas, na nossa imaginação, já era uma Metrópole), namorou amigas em comum; enquanto eu me mantinha fiel a uma “paixonite” de adolescente que me acompanhou por anos. (Mas essa é uma outra história). Ele fazia a sensação entre as meninas por ser diferente (articulado, inteligente) e tinha amigos e primos “gatos” que sempre trazia nos finais de semana para ficar na sua casa. 
 
Desde aquele dia quando dancei com ele a proibida “Je t’aime mói non plus”, nada aconteceu entre nós, a não ser um episódio, 10 anos depois (1979), num encontro rápido  de amigos saudosos que, em função da distância, (já que agora ele estudava na USP) e não se viam há tempos, teve muito beijo na boca… beijos que nenhum dos dois havia programado … e não passou disso.
 
Vida que segue. A minha. A dele. Não nos vimos mais.
 
Anos e anos depois, eu, divorciada, passei a ser o interesse de um também amigo; amigo daquela turma da cidade onde morei (até hoje tenho vínculos porque lá residem boas amigas e a minha família).

Esse amigo pretendente ao cargo de namorado sério numa insistência que, para mim extrapolava, buscava situações e conhecidos para que me decidisse ao compromisso. Era bombardeada diariamente com telefonemas pela manhã, tarde e noite… inúmeras mensagens para que eu acordasse, comesse, dormisse; era bom dia, boa tarde, boa noite e tudo mais… só eu não estava “de boa” porque me sentia vigiada… Cercava amigos, família, vó, vizinha… todos que pudessem me convencer a aceitá-lo como namorado. (Afff…)

Mas, como tudo na vida tem um “mas”… eu que estava buscando tropeçar no homem que seria meu amor, tal qual a cigana tinha previsto quando leu a minha mão, eu seguia fugindo do amigo que queria o compromisso sério e,  ao responder a uma  amiga em comum, via privado do Facebook,  que ele também procurara pra me convencer… na página chamou minha a atenção aquelas janelinhas  de amigos, pois havia um nome conhecido e muito único… só podia ser ele… o amigo que não via há quase 23 anos. 

Mando um convite solicitando amizade e encaminho uma mensagem…  a resposta veio imediatamente. (Era 03 de junho de 2011).

Naquela sexta-feira trocamos mensagens de oi, como vai, onde estás e, cinco dias depois um convite para nos encontrarmos…. Sugeri um café, ele, um jantar. 

Às 20:30 passou em casa.

Comida italiana, vinho, conversa e 2 telefonemas do amigo insistente candidato a namorado; saímos da Tratoria e a música era “Amor I love you”.

A cigana acertou quando leu o meu destino. Casamos!

E o fim da história não é: “e foram felizes para sempre”, porque felizes para sempre não existe. Mas felizes, sim!

Shirley Andreuccetti – Bela Urbana. Professora de formação, por amor e por paixão. A Psicanálise e a Mediação são adendos para complementar o trabalho na Educação, o verdadeiro ópio. Canceriana com ascendente em Peixes e 7 Planetas em Leão, um mapa astral cheio de intensidade e contradições. Paixão pelo filho e pelo Mauridinho. Gratidão eterna aos meus avós, uma vez que fui uma criança criada por eles.
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Sempre é tempo de dançar

Synnöve Dahlström Hilkner – Bela Urbana, é artista visual, cartunista e ilustradora. Nasceu na Finlândia e mora no Brasil desde pequena. Formada em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda pela PUCC. Desde 1992, atua nas áreas de marketing e comunicação, tendo trabalhado também como tradutora e professora de inglês. Participa de exposições individuais e coletivas, como artista e curadora, além de salões de humor, especialmente o Salão de Humor de Piracicaba, também faz ilustrações para livros. É do signo de Touro, no horóscopo chinês é do signo do Coelho e não acredita em horóscopo.