Escrevo, agora, outubro 2001, na estação Perrache de Lyon, com a ansiedade de uma adolescente. Na espera de embarcar num trem para Florença. Esta é a segunda vez que faço esse trajeto, e agora para realizar um sonho. Algo a mais que me fez desejar tanto e me esforçar para vir morar e estudar, aos 50 anos, na Europa, ou seja, a possibilidade de conhece-lo melhor e, quem sabe, passar alguns dias com ele. Queria confirmar aquela sensação do primeiro encontro em janeiro de que seria uma pessoa ideal para mim. Seu convite foi para passar uma semana e comemorar seu aniversário, e eu, louca, nem bem cheguei na França já fui aceitando. Algo me diz que tem que ser assim (anotações do meu diário).
E assim foi o início… Quinze anos intensos. Muita parceria e felicidade.
Refletindo sobre o tema envelhecer, em 2022, revelo um pouco da minha história. Na juventude, jamais imaginaria a possibilidade de me apaixonar assim de novo nessa fase da vida nem sobre o modo como tudo aconteceu. As surpresas me animam, e sempre me permiti ser livre para percebê-las. Quando menos esperava, sozinha no Uffizzi, em Florença, um italiano bonito chega ao meu lado, e diz gentilmente: posso accompagnarti? Como negar?
A emoção das obras dos pintores florentinos e dos cantinhos mágicos da cidade são fonte de magia e clima de romance que eu já havia assistido em muitos filmes, como “Uma janela para o amor”. Acho que é normal ficarmos propensos a sentir algo forte naquela cidade. Isso fez acender uma luzinha propícia para aceitar a possibilidade. Foi lindo, mas, tendo ido para um Congresso, não tivemos muito tempo para encontros e tive que partir após dois dias.
Na época, não havia ainda tantas facilidades de internet. Mas a gente se falava por telefone quase todos os dias. Porém, havia muitas barreiras pra uma continuação do relacionamento. Entretanto, quando o universo conspira a favor, tudo pode acontecer. Muitas barreiras inesperadamente foram sumindo, ideias novas e licença do trabalho por um ano e meio. Penso hoje na coragem que tive de me mudar para Toscana em 2003. A licença, porém, tinha um
limite, assim, meu amado deu um jeito, pedindo transferência, e me acompanhando no retorno. Felizmente, conseguiu ficar até 2015.
Um período de convivência lindo e emocionante; muitas viagens, troca de conhecimento, e tantos momentos de união e alegria; muita sincronia, adivinhações um do outro, como se já tivéssemos vivido algo parecido antes deste tempo.
Na memória, hoje, só recordações maravilhosas desse período que voou. O término foi tranquilo, sem mágoas, tinha que ser desse modo. Penso: a maturidade nos faz saber aceitar bem separações e entender o momento certo de mudar de novo. Nossa certeza é que esse amor perdurará para a eternidade. Consideramos ter sido algo especial para a evolução da nossa existência espiritual. Questões de vidas passadas? Talvez.
Conforme meu querido poeta, Vinicius: “que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”. Um amor infinito pode acontecer em qualquer fase da vida, mesmo por volta dos 50, 60, ou até mais. Nunca devemos achar impossível, mesmo no entardecer da vida que é sempre surpreendente.