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Envelhecer e se transformar

Minha mãe tem 68 anos e eu 51, minhas filhas 13 e 15 anos, obviamente somos de
gerações muito diferentes, embora a diferença de idade entre minha mãe e eu não
seja tão grande assim temos um estilo de vida muito diverso, ao longo dos anos nossa
convivência passou por muitos momentos conturbados, ela me alimentou, me ensinou
os bons modos, me transmitiu seus valores, me ajudou e eu fui dependente dela por
muitos anos, me revoltei, discuti, reagi e depois voltei atrás e agradeci e conforme fui
crescendo nossa relação se inverteu e em muitos momentos fui eu a quem passou a
ajudá-la em vários aspectos e também a dar sermão, assim, com a idade as relações
próximas vão se transformando e isso está diretamente relacionado com nosso
envelhecimento enquanto seres humanos, nós aprendemos e depois transmitimos
esse conhecimento, agora sou eu a ser mãe e a minha mãe a ser avó e assim vamos
trilhando a caminhada da vida, nossos papéis são outros e com eles outras
responsabilidades, outros saberes.

Tenho sido abençoada em minha trajetória, eu vivi e vivo uma vida cheia de amor e
aventuras, amizades, sonhos realizados, grandes paixões e viagens incríveis e por
isso me sinto muito agradecida, entretanto, houve um tempo que não era assim, foi um
tempo de angústia, pequenas tragédias e muitos lamentos, um tempo que mais
reclamava do que me sentia grata e era o tempo da imaturidade, dos sonhos que não
se concretizavam na rapidez que eu queria, era o tempo da juventude, era o tempo do
desespero quando um namoro era desfeito, de sentir que nunca mais amaria com a
mesma intensidade, era o tempo de bater o telefone na cara dos amigos durante uma
discussão, era o tempo das intensidades, dos desejos vorazes, era o tempo das
longas horas no trabalho e estudar muito e dançar, beber e papear até de madrugada,
era também o tempo das paixões mais intensas do mundo, de amar tanto que o
coração sentia que não caberia tanto sentimento, era querer ficar magra, fazer as
dietas mais malucas e ter muita vaidade, muita energia física, era querer agarrar o
mundo com as mãos.

O tempo passou e já não tenho a mesmo energia, os sonhos mudaram e as paixões
suavizaram, veio a calma e uma alegria mais contida porém mais constante, vieram os
filhos para desconstruir tantas crenças, tudo se transforma com a idade e o lado bom
de tudo isso é que no meio de tantos desafios diários a vida vai explodindo, vai nos
empurrando para descobertas e surpresas que nem podíamos imaginar, obviamente
há perdas, sofrimentos e tragédias, o corpo também se transforma e quantas
mudanças ocorrem mas isso é viver: é doce, é amargo, luz, sombra, alegrias e
tristezas, ás vezes tudo junto, a criança que nasce, o pai que morre e quem tem o
privilégio de envelhecer é porque ainda está por aqui apreciando a beleza dessa
dicotomia. E para terminar cito Lulu Santos: “Hoje o tempo voa amor, explode pelas
mãos…e não há tempo que volte amor…vamos viver tudo o que há prá viver, vamos
nos permitir.”

Eliane Ibrahim – Bela Urbana, administradora, professora de Inglês, mãe de duas, esposa, feminista, ama cozinhar, ler, viajar e conversar longamente e profundamente sobre a vida com os amigos do peito, apaixonada pela “Disciplina Positiva” na educação das crianças, praticante e entusiasta da Comunicação não-violenta (CNV) e do perdão.
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