Quando eu era pequena, entre 3 e 4 anos, discuti feio com meu irmão sobre qual de nós dois era o mais velho e por não termos argumentos suficientes, recorremos à nossa mãe que sem pestanejar deu a vitória a ele por um ano e meio.
Arrasada, eu chorei copiosamente, me sentindo impotente, preterida e declaradamente, a mais nova. Em minha imaginação e sentimento, ser mais velha era uma prerrogativa poderosa – mais oportunidades, mais sabedoria, o privilégio da dianteira. Eu digeri a mágoa dessa derrota, mas persegui o propósito de ser amanhã mais velha que hoje.
O tempo de ir à escola, de escrever e ler, de estudar fora da cidade natal e de ver essa distância se ampliando à medida que a idade avançava.
Eu comemorei cada ano, os meses, os dias. Eu mais velha não precisava da confirmação de ninguém.
A percepção do envelhecer como crescimento e desenvolvimento me assegurava que não precisava ter medo da passagem do tempo. Eu sempre acreditei que seria capaz de vencer as dificuldades com o saber/poder adquiridos ao longo da vida e fui me empenhando para construção da minha maturidade.
Até me dar conta que meu pensamento segue na contramão do mundo jovencêntrico, que amaldiçoa a velhice e se agarra na estúpida ideia de que é possível viver sem envelhecer – onde tudo é anti-idade e antienvelhecimento: Forever Young.
É curioso porque de certo modo é como se todo desejo estivesse sentenciado a fracassar – as rugas vêm, os hormônios baixam, os músculos cedem e não adianta negar, falsificar a data de nascimento, plastificar o rosto, o abdômen, o tempo é implacável e a experiência tem seu peso (os nossos joelhos sabem disso).
Por outro lado, enrugada, flácida, mais lenta e mais esquecida, ainda assim, viva! O tempo não nos torna descartáveis, apesar de a todo instante nos enviarem mensagens sobre a determinação social do prazo de validade humano, sobretudo, para as mulheres. Desde a insuportável publicidade, os apelos midiáticos, a incongruência do mercado de trabalho e toda eloquência dos preconceitos velados que chegam fantasiados de elogio ou de piada inconsequente que define velhice, exclusivamente, como o declínio do corpo e da mente.
O preconceito nos encontra quando nos habita e eu posso provar.
Pedi aos amigos no Instagram que completassem a frase “Eu envelheço quando…”
- Deixo de sonhar
- Me limito
- Deixo de ver beleza no que é simples
- Não reconheço a beleza de viver com saúde, socializada, atuante e informada
- Esqueço a minha criança interior
- Paro de aprender
- Não me reconheço mais
- Deixo de sonhar com novas possibilidades
- Me deleito com a confirmação de que na prática a teoria é outra
Olhando para essas frases, com exceção da nona que revela bom humor para encarar as dores e delícias da singularidade do envelhecimento, todas as anteriores expõem o medo e a descrença no processo natural da vida, com delineado preconceito. O limite, o abandono, a paralisia são um decreto injusto da “homeopática” instalação da morte pelo perecimento do ser.
Eu, com 51 anos, tenho consciência do sofrimento (físico, psíquico e social) causado pela passagem do tempo, mas ainda assim, escolho saudar as maravilhas da maturidade e completo a frase, eu envelheço quando VIVO, quem morre não envelhece.
Sigo mantendo a convicção de que sou hoje mais velha do que fui ontem e, serei muito mais velha, enquanto houver amanhã.