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FOLHETIM

Mudei-me para São Paulo em fevereiro/1979, aos 22 anos de idade.

O álbum Água Viva, de Gal Costa, recém lançado em 78, trazia a música Folhetim.

Àquela época, tudo o que meu corpo conhecia de sexo resumia-se nos ‘malhos’, com o namorado, dentro do carro…, os quais afloravam meus desejos e fantasias pela consumação do ato.

Enquanto eu me perdia na Marginal Pinheiros, frequentemente sem saber se estava indo ou voltando, a antiga fita cassete tocava Folhetim, de Gal Costa.

Em 1979 não havia rodízio de carros e ficávamos horas parados num trânsito insuportável, momento em que aproveitava para rebobinar a fita e ouvir Folhetim, repetidamente.

Refletia sobre aquela letra, que falava de uma só mulher, mas me mostrava a faceta de várias delas: A mulher que teoricamente eu nunca seria; a mulher que faz sexo por prazer; a que o faz por profissão; a que se vê sem opção; a que através dele exercita o seu poder… ou aquela… em quem o tesão exacerbado quer te tornar, vez ou outra… E acho que era para esta mulher que a música me transportava.

A voz de Gal, de agudo aveludado, atribuiu verdades a todas as frases proferidas. Ela emprestou corpo e alma à personagem da letra desta música, criada por Chico Buarque. Ela animou a “pedra falsa”, o “sonho de valsa” e o “corte de cetim”.

Em sua doce voz eu sentia o poder daquela mulher que dizia “meias verdades” para que ele sentisse que a possuía. Mais que isso, admirava, e talvez até invejava, a meiga franqueza e firmeza com que ela “virava a página de seu folhetim e o descartava”.

Esta música foi a grande marca da Gal Costa em minha vida. Até hoje, ao ouví-la, resgato essa mulher que habita meu íntimo sombrio.

A Gal jamais será uma página virada em meu Folhetim.

https://www.letras.com.br/gal-costa/folhetim

Marisa da Camara – Bela Urbana, Administradora aposentada, que hoje atua em suas paixões: a escrita e a radiestesia. Crê nas energias da natureza e é amante da vida, dos seres humanos e ‘doidinha’ por seus 4 netos.

 

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