Espera, que audácia, absurdo, obscuro, e mudo, ouço pedir que escreva sobre o que é envelhecer… como pode, agora ela irá ver.
Deixe-me achar meus óculos, não sei direito onde os coloquei, terei que levantar neste vento frio, já é bastante tarde, passando das vinte e uma horas meus ossos doem um pouco e também quando o tempo muda.
Sem querer, me levanto, distraído pelo barulho do vento, me pergunto: O que era mesmo que iria fazer? Sim, algo em torno dos meus óculos ou alguma coisa sobre envelhecer.
Paro na frente do espelho, a barba branca, algumas, muitas rugas que insistem em nascer, tem agora um tal de “butoxe” que pode as rugas esconder, me recordo calado que o meu primeiro neto furou a orelhar. Como pode? Ele já tem nove anos e além dele, ainda tenho mais dois.
O vento continua a soprar na minha janela, melhor me deitar, mas aonde está mesmo meus óculos. O que queria fazer? A sim, escrever!
Foi aquela moça do Belas Urbanas que falou sobre a velhice, ela é tão bacana, talvez eu ficar bravo seja mesmo tolice.
Afinal, não é tão ruim envelhecer, eu estava lá nas Diretas Já, vi Jânio Quadros varrer, vi Collor abrir o mercado, vi o Brasil florescer.
Se pensar bem, talvez eu esteja mesmo um pouco mais adiante, talvez já não corra mais a maratona, mas aprendi degustar um vinho como ninguém, talvez eu não dance mais aquela balada, mas o cheiro dos livros me leva muito mais além.
Então, olha que bacana, o tempo passou e envelheci também, talvez um coração de criança, talvez a maturidade que se tem, mas não escondo a minha idade, apenas não conto para ninguém!