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Um caminho chamado existência

Em certo instante, tomada por um” sei lá”, deixei-me conduzir até um parque da cidade que há anos permanecia esquecido em minha memória. Caminhei devagar, permitindo que o olhar se demorasse em cada detalhe, até que me sentei em um banco silencioso. Então, um raio de sol, ao atravessar delicadamente as frestas entre as árvores, revelou-me um lago recém-descoberto aos meus olhos. Sobre suas águas, cisnes deslizavam em serenidade, deixando atrás de si pequenas ondas que faziam vibrar a própria vida.

O movimento da vida me conduziu a um passeio pelo parque. Caminhei lentamente, deixando que meus sentidos acolhessem o sopro do vento e o calor do sol. Subi, então, um morro coberto de verde, e lá do alto um novo parque se desvelou diante de meus olhos, como se sempre tivesse estado ali à minha espera. Como não o percebera antes?”

Uma brisa suave veio ao meu encontro, como mãos invisíveis a acariciar meus cabelos soltos, que dançavam livres ao sabor do vento. Baixei os olhos ao chão e senti que algo ainda me separava da inteireza daquele instante. Então, me recordei da passagem bíblica, quando Moisés diante da sarça ardente fica surpreendido pelo fogo que não a consumia, reconhecendo a sacralidade do lugar e, em reverência, descalçou os pés para tocar a terra com a nudez da alma.
Assim também me perguntei: não seria aquele chão, diante de mim, igualmente sagrado?”.

Assim aconteceu comigo: descalcei os sapatos e senti o contato direto da pele com a terra. Não havia mais separação — eu estava mergulhada no cenário. Diante de mim, novas perspectivas da vida se desvelavam como um horizonte nascente. Tudo parecia girar reacomodando-se em novas configurações; o tempo se dissolveu. Eu estava solta, finalmente livre para ser, e simplesmente ser.

Naquele lugar, escuto o canto dos pássaros, o sopro do vento, as batidas do meu próprio coração. Uma sinfonia se compõe, e sou atravessada por memórias de uma vida que se inicia e reinicia infinitas vezes, em múltiplas possibilidades. Ao olhar do alto da minha trajetória posso compreender que tudo foi necessário para que avançasse até aqui.

Passado, presente e futuro se enlaçam, e sinto-me conduzida de volta à fonte primeira da vida, sempre ali, silenciosa, aguardando a hora de transbordar. Meu solo, agora fértil, deseja espalhar sementes por outros campos — ainda que o impossível se insinue. Afinal, quem ousaria negar que, até nas fendas do chão mais árido, flores podem nascer?

Envolvida pela experiência, deixei o parque tomada por uma alegria serena, como se o mundo tivesse alargado seus horizontes. Agora compreendo: o caminhar caminha, e só se revela a mim quando volto os olhos e descubro as pegadas deixadas na areia. Para onde sigo, não sei. Apenas me abandono a essa luz que brota do meu próprio ser e, como um farol íntimo, aponta para o sol.

Envolvida pela experiencia saiu do parque com um sentimento de alegria, pois agora sei que o caminhar caminha e apenas posso percebê-lo, quando olho para trás e vejo as pegadas na área. Para onde vou não sei apenas sigo essa luz que de mim emana apontando para o sol.

Maria das Graças Guedes de Carvalho – Psicologa. Ama a vida e suas dádivas como ser mãe, cuidar de pessoas e visitar o mar.

2 thoughts on “Um caminho chamado existência

  1. Lindas e sábias palavras,entendo que a vida sempre pode se renovar e que a liberdade é o maior poder para trazer a alegria de viver , você sempre superando para melhor bjs

  2. Simplesmente verdadeiro e tocante. Ingressa na alma e nos convida a mergulhar dentro da relação espaço tempo eu. Parabéns!

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