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E O SALÁRIO OH!

Sabe esses dias que sai caminhando com as amigas numa praia da Bahia? O nome disso poderia ser saudade, mas nesse caso é só pretexto para falar sobre o que já teve graça: o dia que um pelado atrevido passou vexame na areia.

Início dos anos 90, energia e liberdade a mil e bem pouca consciência.

Estávamos em Trancoso e não era incomum cruzar com pessoas nuas nas praias quase desertas da região. A natureza exuberante, o calor e a maresia inspiravam a intensidade dos dias vividos.

Nos afastamos da turma de amigos que bebia num quiosque e fomos caminhar, de biquinis, antes do pôr do sol.

Três amigas na resenha. A conversa estava boa e lá pelas tantas vimos que vinha em nossa direção um rapaz nu. Previmos que ele não iria passar invisível e de alguma forma tentaria nos impressionar. Foi a conclusão que chegamos com apenas um olhar entre nós.

Ninguém à nossa direita, nem à esquerda. Ninguém atrás de nós e o bonitão à frente ajoelhou-se na areia, feito os príncipes de contos de fadas, com os balangandãs soltos e bradou: “Só para vocês!”

Renata, mais despachada das três, sem consulta e nem hesitação, deu uma senhora enquadrada no brinquedo do moço e soltou a pérola que nos fez rir pelo resto da temporada. Ela disse: “Lamentável” – enquanto fazia um gesto que na época era o bordão do salário do Professor Raimundo – personagem de Chico Anísio na tv.

As gargalhadas foram instantâneas e ilimitadas. Eu passei mal de rir.

O coitado se levantou com sorriso amarelo, desacreditado nos segundos infinitos de seu do mico particular. Desapareceu. Acho que foi se vestir.

E assim, termina um episódio que se fosse hoje, talvez fosse registrado pelo vídeo do celular e viralizasse nas redes – um meme ou uma denúncia ou só uma trolagem mesmo.

Abro parênteses: no contexto, a nudez era para parecer normal, mas os cosmopolitas que sonhavam em trabalhar nos prédios da avenida Paulista, circulavam beira-mar com os olhos vidrados de espanto ao ver os peitos de uma artista nacional que usava o maiô arriado na altura do umbigo.

Entretanto, a mensagem daqueles tempos era de que donos dos próprios corpos, a escolha era de quem quisesse se expor, naturalmente. E os demais que fingissem costume e seguissem adiante. O que conscientemente é o comportamento ideal – desde que o respeito seja o limite inegociável. Ali, naquela praia, naquele dia, foi assim, por isso teve graça.

Mas, como eu disse, faltava consciência, ninguém falava sobre assédio e violência sexual era somente a penetração forçada. O resto era só mal entendido e constrangimento.  

Se a consequência do nosso passeio fosse trágica, certamente, alguém diria que não deveríamos ter nos afastado dos demais e que sozinhas procurávamos confusão e blablablabla.

Porque é assim que as histórias são contadas, nos contrapés das vítimas o viés é sempre distorcido e a verdade é julgada com suspeitas e dúvidas.

Portanto, não dá para dizer que era melhor, sabendo que a tão querida liberdade ficava prejudicada pela irresponsabilidade, pela inconsequência e pela noção machista de respeito.

Essa luta continua, mas, eu digo que avançamos. Entendemos a distinção entre liberdade e abuso e, lentamente, temos alcançado a percepção sobre os nossos direitos e a noção de limites tem sido atualizada com a frequência necessária.

Que as próximas caminhadas nos permitam chegar a menos de dois passos do tal paraíso onde não faltará respeito, justiça e igualdade. Eu sonho com isso.

Dany Cais – Bela Urbana, fonoaudióloga por formação, comunicóloga por vocação e gentóloga por paixão. Colecionadora de histórias, experimenta a vida cultivando hábitos simples, flores e amigos. 
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Alguém já entrou pelado na sua casa sem convite?

Alguém já entrou pelado na sua casa sem convite?

Achou estranha a pergunta?

A pergunta pode soar estranha porque as pessoas não comentam que isso acontece, mas isso acontece, e muito! Sábado de madrugada isso aconteceu comigo.

Recebi dois vídeos, o primeiro era um vídeo pornô de um casal. O vídeo veio acompanhado da frase: “Meu pau é muito maior viu rs vou te mandar o vídeo pra provar tá rs”.

Eu não pedi para receber nenhum vídeo pornô e não queria saber qual é o tamanho do pênis de quem me mandou a mensagem. Fiquei pensando, o que passa na cabeça de um homem que aborda, que invade minha casa, meu celular, meu sossego com um vídeo assim?

Fui responder, e antes de terminar minha resposta, recebi o vídeo dele se masturbando.

É importante esclarecer que não tenho a mínima intimidade com esse homem, é um colega e tenho seu contato por questões de trabalho.

Me senti como muitas outras vezes já me senti, quando caminhando nas ruas, algum homem me mostrava seu pênis e se masturbava para que eu olhasse. Eu sempre saía correndo.

Desta vez me senti igual, foi virtual, mas a invasão e o assédio foram o mesmo.

Senti vergonha por ele, é um papel ridículo que se prestou. Sexo, nudez, namoros virtuais podem ser legais quando a via é de mão-dupla, quando a dupla está disposta a isso, mas no meu caso foi assédio, assédio baixo, de alguém com um caráter bem duvidoso.

Digo que é duvidoso por várias questões. A primeira é que não teve nenhum respeito por mim (ninguém deve chegar pelado e com convidados pelados na casa de ninguém),  não dei nenhuma liberdade para receber esse tipo de vídeo. Segundo, pela sua própria mulher. Sim, o sujeito é casado! Será que ela sabe que ele fica de madrugada assediando outras mulheres?

Soube no domingo que já abordou outras amigas que temos em comum, sempre com uma conotação sexual. A história vem de longe!

Quantas de nós nos calamos perante esses assédios para não nos expormos? Quantas vezes nos calamos por medo de sermos julgadas? Quantas vezes já ouvimos as vítimas serem culpabilizadas? Quantas de nós achamos melhor deixar para lá, porque no fundo, nós mulheres de 50 anos crescemos em uma sociedade machista, onde quem determina o querer e o poder é o homem, e quando relativizamos isso, não percebemos o quanto esse tipo de comportamento se fortifica?

Eu não vou me calar!  Hoje em dia sou muito mais consciente dessas agressões em forma de assédios. Não aceito ficar quieta. Respondi para o sujeito que não pedi para receber aquilo, que não queria receber vídeo dele gozando (ele queria ainda me mandar outro), que não acho nada legal ele ser casado e na calada da noite abordar mulheres mostrando seu “pau”, e, ainda por cima, queria saber minha opinião sobre o digníssimo membro; não dei nenhuma opinião para ele, mas agora darei uma opinião, não sobre o membro, mas sobre saúde.

Acredito que seria interessante procurar um psiquiatra ou psicólogo, nitidamente é alguém que precisa de ajuda.

A minha denúncia hoje é em forma de texto, contando o que aconteceu comigo para incentivar que mais mulheres também falem se sofrerem qualquer tipo de assédio. Não podemos mais aceitar o que não queremos, pedimos e desejamos.

Não podemos mais nos calar. Assédio é crime!

Adriana Chebabi  – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre seu trabalho de comunicação e mkt e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa. 

Foto Adriana: @gilguzzo @ofotografico
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Dois mil e vinte e uns

São só pensamentos ou são tendências suicidas? São só brincadeiras ou talvez você pense em se matar? Quem sabe quanto tempo faz que você não chora?

A realidade sufoca, o corpo implora e alma não consegue respirar. Mais um gole, mais um trago, mais uma foda, mais um remédio, mas nada faz o vazio fechar.

Você reza em silêncio, mas deseja que os céus te ouçam, em desespero estende a mão até ao diabo se ele puder te acalmar. Às vezes parece que nem o inferno pode te salvar.

Eu? Eu também não sou a solução, minhas palavras vão de encontro ao teu coração? Então, me leia com atenção.

Todos nós estamos sós, todos nós somos filhos de deuses e demônios, somos feitos de luz, água e decepção. mas acredite em mim, não desista agora, o amanhã nos espera e é certeza que talvez sejamos um pouco mais que meros mortais.

Talvez você sorria para uma foto, chore com uma série, se frustre comigo, vai ficar tudo bem, desde que estejamos vivos para ver o crepúsculo dos medos morrer e o jardim dos sonhos e das ilusões florescer no amanhecer.

Lucas Alberti Amaral – Belo urbanonascido em 08/11/87. Publicitário, tem uma página onde espalha pensamentos materializados em textos curtos e tentativas de poesias  www.facebook.com/quaseinedito  (curte lá!). Não acredita em horóscopo, mas é de Escorpião, lua em Gêmeos com ascendente em Peixes e Netuno na casa 10. Por fim odeia falar de si mesmo na terceira pessoa.
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Em branco

Para terminar, talvez ponto e virgula, mas o certo é ponto final.

Para esse final, virar a página.

Começar um novo capítulo, em branco.

Em branco sem saber o que vem por aí.

Para esperar uma luz com qual volts?

Para o sorriso voltar e a lágrima secar.

para ouvir seu coração, para ouvir sua intuição… ouvir… ouvir…

Repouso, resposta. PoUso. PoRta.

Talvez livramento, talvez lamento.

No meio do talvez, tal ou vez.

Adriana Chebabi  – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre seu trabalho de comunicação e mkt e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa . 

Foto Adriana: @gilguzzo @ofotografico



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Confinement

Isolada

Deitada

Esperando

Mensagens

Angustiada

Levanto

Respiro

Devoro

Vejo

Nada

Um

Dois

Três

Quatro

Passos

Geladeira

Celular

Je

Te

Veux

Ici

Avec

Moi

Une

Deux

Trois

Quatre

Distante

Apago

Deleto

Desisto

Não

Quero

Fernando Farah – Belo Urbano, graduado em Direito e Antropologia. Advogado apaixonado por todas as artes!
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DOR

Quando falamos em dor pensamos em algo que machuca, mas a dor as vezes cura, fortalece e faz você perceber que aquilo que estava te trazendo tristeza pode ser o começo de uma mudança, pois aquilo mexe, bagunça e até dilacera dependendo da sua intensidade. Hoje foi o início de uma nova era, pois toda essa dor enraizada por um motivo que muitos tentam negar quando acontece, parece que dói na alma e que alguns deixam essa dor se transformar em doença, vou fazer todo esse mal virar amor, pois quem gosta cuida e não machuca.

Só tenho que dizer que é com seu desprezo que vou esquecer o que no fundo não teve significado nenhum para você.

Giovanna Finatti Domingo – Bela Urbana, é bem tímida, não consegue às vezes se expressar bem em palavras, mas a escrita a fez evoluir muito. Amo animais e não vive sem o seu cachorro, o Flocks.

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Carta pequena para a mãe

Sempre teve um tom de dificuldade

Até porque sempre fomos tão diferentes e com ideias tão distantes

Se uma era o vermelho,  a outra tinha que preferir os azuis

Distâncias de dedos e até dos enfrentamentos, cada um deles

Enfim, fui crescendo e te busquei quase a vida inteira. A vida inteira te busquei

Há pouco te vi cada vez mais longe,

através das grades do portão…

Quase um ano inteiro assim.  Que loucura!

Foi como não te encontrar mais nem nos meus próprios medos

Um dia desses fui te ver com uma máscara toda colorida, era tão visível

E foi o dia em que você menos me viu ou mais me viu tão nua

Foi o dia em que a lágrima escorreu

Escorreu pela falta, pela insensatez do momento

Escorreu pela vida que insiste em passar tão estranha

E algumas vezes tão violenta

Escorreu em tom de saudade, mesmo.

Siomara Carlson – Bela urbana. Arte Educadora e Assistente Social. Pós-graduada em Arteterapia e Políticas Públicas. Ama cachorros, poesia e chocolate. @poesia.de.si





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“SÓ SEI QUE NADA SEI”

O amor por cachorros me acompanha desde sempre. SÓ NÃO SEI se foi por influência paterna ou por minha própria natureza.

Inesquecível a história do cão que após ser levado para morar em uma chácara, voltou sozinho após dias andando e raspou a porta do apartamento de meu pai para reencontrá-lo.

Quanto desafio para um ser que costumamos chamar de irracional.

Mas o que será que é ser racional? Sinto na irracionalidade de um cão uma profunda razão.

SÓ SEI que na racionalidade do ser humano, muitas vezes existe uma falta de noção.

Cachorro gosta de amor e carinho. Não entende nada essas coisas de tendência em tentar humanizá-lo com nomes de gente e produtos similares aos dos seres racionais. A linha é imensa pois cada dia o mercado pet lança um produto diferente: cerveja, gelatina, bolo de caneca, brownie, sorvete, bolos e velas de aniversário, fantasias…e por aí vai.

NÃO SEI se essa crítica mais filosófica do que construtiva nos leva a algum lugar, mas SEI que para o cão, o que interessa é a troca de carinho. No mais ele não entende nada de toda essa humanização.

Parando para refletir sobre os relaciomentos de… não tão antigamente… e toda essa modernidade tecnológica como app’s para tudo com direito aos relacionamentos virtuais e imaginários, é fácil dizer o que SEI:

Todo esse mercado pet, que também sou consumista, é simplesmente o espelho da carência da humanidade por calor humano e contato presencial, sincero, simples e puro.

É na tentativa de humanização de seus novos “filhos” que muitos afagam sua carência por afeto e liberam a ocitocina*, que traz bem estar e aconchego.

Somos racionais e os pets irracionais? Há quem hoje em dia já discorde dessa afirmação. NÃO SEI se isso pode ser considerado agora liberdade de expressão. Talvez, contudo, entretanto…

“SÓ SEI QUE NADA SEI” **

  • Algumas formas de aumentar a ocitocina naturalmente:
    Contato físico. O contato físico na forma de abraços, massagem, cafuné e carinhos estimulam a produção de ocitocina, e é uma das causas do bem estar quando é realizado.
    Adotar um animal de estimação.

** Frase que Sócrates nunca disse segundo a História da Filosofia.

Angela Carolina Pace – Bela Urbana, publicitária, mãe, apaixonada por Direito. Tem como hobby e necessidade estudar as Leis. Sonha que um dia as Leis realmente sejam iguais para todos.
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Permitir…

Não deixes que termine o dia sem teres aprendido algo, sem teres tido um dia feliz.

Não permita que alguém retire o direito de te expressares, enxergues como um dever.

Não deixes de acreditar que você é capaz de escrever poesias, contos, livros.

Acredite que você é capaz de mudar algumas situações, até mesmo o mundo.

Aconteça o que acontecer, por mais que alguém possa tentar lhe depreciar, a Sua Essência não mudará.

Somos seres cheios de paixões e sonhos.

Não permita que alguém lhe machuque com palavras ou atos.

Você é um ser único e precioso.

Se permita!

Marianne Kachan – Bela Urbana. Formada em artes, apaixonada pela sua filha, sua família, paisagismo, animais, novas culturas, poesias e gastronomia.




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Fragmentos de um diário – 32

As vezes preciso estar só. Para acalmar a mente. Para prestar atenção na minha respiração. Para desacelerar meus pensamentos. Para ouvir música e escrever.

Às vezes preciso ficar só para olhar o horizonte à frente. Deixar a lâmpada acesa ou mesmo beber água saboreando devagar.

Preciso. Às vezes preciso muito. Como nesse exato momento.

Fecho meus olhos, meus lábios sorriem e eu escuto “eu tô voltando pra casa outra vez”, mas eu tô em casa e gosto muito.

Giza Luiza – 52 anos – dia 29 de agosto

Adriana Chebabi  – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre seu trabalho de comunicação e mkt e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa . 

A personagem Giza Luiza do “Fragmentos de um diário” é uma homenagem a suas duas avós – Giselda e Ana Luiza