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Um dedo ou uma arma?

Quando recebi o convite da Adriana para escrever para a campanha de Novembro Azul do Belas Urbanas, primeira coisa que me veio foi o dilema que afeta muitos homens: A fragilidade de nossa masculinidade diante de qualquer ameaça simbólica que nos coloque em risco de nos aproximar do que é feminino.

A mulher se cuida. E vive estatisticamente mais porque se cuida. Ela cuida de si e de todos em busca de pistas sobre tudo que nos tira a qualidade e a plenitude da vida, ao ponto de esmagar seu seio numa mamografia em busca de vestígios de câncer de mama, ou se expor e ser invadida friamente num exame de Papanicolau ou num Ultrassom Intramarginal. Ela reclama? Não. Muitas dizem que é incômodo, mas não se esquivam, não se acovardam. Elas vivem!

Nós, másculos, fugimos de um dedo. Fugirmos em direção a nossa morte, preconizada por um sofrimento abissal, que não é só nosso, mas de filhos, pais, amigos, mulher e todos os que nos rodeiam. Preferimos fingir arminha com dedos em uma brincadeiras da infância, mas fugimos dos dedos que nos são ferramentas de vida na fase adulta.

Morremos por covardia de enfrentar uma situação que nos parece uma guerra do ego, da vergonha. E encampamos essa guerra sabendo que podemos perder de forma vergonhosa. Se mulheres fossem generais, talvez nosso plantel seria bem mais honroso, mais viril (câncer de próstata, se não mata, brocha). Elas sim sabem o que é a batalha de ser quem são, sangrando mensalmente uma batalha que gera, nutre e mantém a vida.  

O novembro é azul, não roxo de vergonha. E que fosse das cores do arco-íris, pouco importa. Cuide da sua vida e ria de si mesmo, sabendo que forte é aquele que luta contra si mesmo, seus medos, suas vergonhas, suas fragilidades. Forte é aquele que se mantém vivo. Forte é aquele que apoia outro homem a ter 20 segundos com um dedo apontado para as suas costas (ou regiões mais baixas) e sobrevive. 20 segundos ou menos.

Campeão, sendo direto contigo: antes um dedo apontado para seu cu que uma tampa de caixão para tua cara. Sei que não é fácil, também estou evoluindo nessa saga. Mas como homem, peço a você: Seja mais homem, mas homem de verdade, cuide-se. A distância entre a vida e a morte é de apenas um dedo de coragem. 

Crido Santos – Belo urbano, designer e professor. Acredita que o saber e o sorriso são como um mel mágico que se multiplica ao se dividir, que adoça os sentidos e a vida. Adora a liberdade, a amizade, a gentileza, as viagens, os sabores, a música e o novo. Autor do blog Os Piores Poemas do Mundo e co-autor do livro O Corrosivo Coletivo.


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Novembro Azul

Tantas vidas são perdidas pelo preconceito masculino em relação ao exame de toque da próstata !

Isso acontece pois quando começam a ter sintomas que algo vai mal, e decidem ou são obrigados a ir ao médico; o tumor está muito grave e não tem como tratar.

A vida é o nosso bem mais precioso e devemos cuidar dela sob todos os aspectos! A correria do dia dia não pode ser usada como desculpa: depois eu vou!

Alguns se permitem somente o exame de sangue:
[O PSA, conhecido por Antígeno Prostático Específico, é uma enzima produzida pelas células da próstata cujo aumento da concentração pode indicar alterações na próstata, como prostatite, hipertrofia benigna da próstata ou câncer de próstata, por exemplo].
O limite para o PSA é de 5,0 ng/ml.
E o meu resultado desse ano foi 0,6 – muito, mas muito mais que excelente.
E com relação a próstata está tudo bem.

Quem tem caso de qualquer tipo de câncer na FAMÍLIA deve redobrar o cuidado.

Para estimular o exame de próstata são criados comerciais divertidos e não contentes os sarristas (zoadores) fazem paródias de músicas.

E aproveitando o gancho seguem duas piadas, mas sem esquecer que câncer de próstata pode matar!

Um amigo me contou que queria fazer o exame diariamente e o médico após muita negociação conseguiu alterar para uma vez por mês.
Sua reação foi dizer: -Ai que raiva!

E esta é clássica;
Durante o exame o urologista perguntou a outro amigo meu:
-Fulano de tal está sentindo alguma coisa?
-Sim. Sinto que te amo Doctor!

Eduardo Gozales Domingo – Belo Urbano. Formado em Educação Física. Atuou com voleibol em todas faixas etárias, recreativamente e competitivamente. Há 14 anos atua como Corretor de Imóveis em construção, ama o que faz, pois ente que é facilitador para as pessoas realizarem o sonho da casa própria. É fiel as amizades, de bom coração e fanático por esportes e música.
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Dia difícil…

Nunca fiz exame da próstata o do TOQUE ATRAVÉS DO RETO, confesso por machismo mesmo; bienalmente faço uma investigação ampla do meu aparelho urinário, porém esses dias estava sentindo que minha bexiga sempre estava cheia, resolvi juntar a fome com a vontade de comer e já fazer logo tudo, mas lembrei: E O BENDITO EXAME DO TOQUE? Resolvi tomar coragem e passei uma semana me preparando psicologicamente após marcar a consulta, no dia do exame, de manhã, dei uma geral a mais no “ÁS DE COPAS” durante o banho e até forcei pra chamar o Ari Barroso pra não fazer feio diante do médico.

Chegando na clínica havia a opção de esperar lá fora, aproveitei e fui ver os passarinhos pra ver se me encorajava ou ainda me distraía ante ao que estava por vir. Com meia hora me chamaram, o doutor era alto devia ter mais de 1,90m MÃOS GRANDES e tinha olhinhos azuis que se destacavam por causa da máscara, aproveitei tirei o foco da mão dele e coloquei nos olhinhos azuis até pra ver se rolava “UM CLIMA” para que eu ficasse mais a vontade. Expliquei sobre as dores e ainda falei que aproveitaria pra fazer a AMPLA INVESTIGAÇÃO do trato urinário, ele fez perguntas sobre alimentação, idade, hábitos físicos, hereditariedade, acho que ele estava também procurando um clima mais amigável para poder fazer a invasão de domicílio, após uns cinco minutos de conversa, eu já resignado tomei coragem e larguei a frase constrangedora:

– Doutor eu nunca fiz o exame do toque e hoje QUERO FAZER! Ele olhou pra mim, deu uma pausa…. e disse:

– Eu já prescrevi exame de sangue, urina, ultrassonografia dos RINS, BEXIGA, PRÓSTATA e o mais importante o PSA , então você não precisa fazer o exame do TOQUE sem falar que é recomendado após os 50 anos.

Eu pensei : F.D.P! que ingrato! e eu passei uma semana de tormento, lavei a Firofa caprichadamente, deslizei o moreno pra ficar tudo em ORDEM e o ele me emplaca com uma dessas?

Perguntei: – Tem certeza?

Ele: – SIM, estão aqui as requisições traga-me os resultados e a gente se fala, passar bem. Saí do consultório entristecido… tanta concentração, contemplação de passarinhos, desvio de foco, e dias de angústia em vão….

P.S : Há três anos atrás fui a um médico fazer a mesma investigação urológica mas NEM PENSAR em dedo na CUÍCA, falei com o médico expliquei tudo e antes de terminar minha explanação ele já foi logo falando que iria fazer o exame do toque, eu me recusei, ele insistiu mas eu me fiz de desentendido e NÃO FIZ o exame, e ainda pensei que cara mais INTRO-METIDO!

Agora estou pensando, teria eu perdido o CLIMA IDEAL?

Hugo Vidal – Belo Urbano, é jornalista, ator e diretor há 29 anos, gosta muito de descobrir novas paisagens rodando com sua moto, aliás uma de suas paixões é o motociclimo. 
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Na internet eu consigo fazer tudo

Eu já usava a internet todos os dias, por algumas horas, mas agora na pandemia comecei a usar bem mais. Antes eu não tinha tempo pra isso, pois além da escola tinha várias atividades a tarde, trabalhos escolares e minha vida pessoal, então não dava tanto tempo. Agora até a aula é on-line, então dá bem mais tempo. 

A internet, me ajudou muito para me comunicar com minhas amigas nesse momento em que estamos passando. Passamos horas conversando quase  todos os dias às vezes por mensagem mas normalmente por ligação. Conversamos sempre pelo Whatsapp ou pelo Instagram.

Na internet eu consigo fazer tudo, eu vejo minhas redes sociais, converso com as amigas,  jogo jogos,  ouço música e entre outras coisas. 

Além disso, tem as aulas on-line, eu prefiro presencial pois gosto de estar com minhas amigas e acho mais fácil. Mas acho que on-line,  para reuniões de trabalho em grupo ou de projeto literário,  é melhor. 

Julia Morais Andrade – Bela Urbana -13 anos, gosta de dançar, ouvir música, tirar fotos, fazer lettering, maquiagem, viajar e também de conversar, jogar estar com suas amigas,



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O WhatsApp nos Tempos do Covid

-Mas é pavê ou pacomê? – Imagine aquele tio das festas de Natal podendo marcar presença em todos os momentos de seu sagrado confinamento social.

Entre grupos de família ou de amigos, de pais da escola, do condomínio, da academia e tantos outros, surge uma nova habilidade social nessa tortura do isolamento: Driblar o WhatsApp!

Começa com um “BOM DIA!” Seguido de uma imagem fofa, em seguida vem as piadas, “para alegrar o dia”, geralmente vídeos longos, sotaque carregado, nordestinês tem a preferência, mas tem também gaúchês, mineirês, caipirês, interiorês de São Paulo, qualquer um que instigue o que tem de melhor nos preconceitos. Tem piada machista, misógina, política e,
tantos mais. O que elas têm em comum? Essas piadas nunca alegram o dia. E mulher gostosa que conta piada machista então? E o tiozão completa, “mas até elas pensam assim”. Você:

-Tio, não é que elas pensem, elas estão lendo um texto para o deleite de véio babão.

Na sequência, vem a opinião de cada um do grupo, tios, primos, cunhados, sobrinhos e agregados, cada um com sua opinião e, do nada, é claro, estamos falando de política. Creio que a frase inicial é algo como:

-Então, o que vocês preferem é ver mulher feia, né? E segue:

-Feia é a mulher do Macron, por isso ele está contra o Brasil do Mito, que tem mulher bonita.

Quando você diz feia ou bonita, só para eu me encaixar na conversa, é para olhar, comer ou ter uma conversa produtiva?

-Mas você é esquerdista mesmo, não?

-Demorou para chegar nessa conclusão?

A discussão já tem conversa paralela, definição de esquerda, feminismo, feio e bonito, entra rachadinha, 89 mil e stf na feed. Entre fake news e boatos, com seus respectivos desmentidos, alguém lembra que estamos em 2020, que ano! Tomara que acabe logo. Não adianta nada dizer que o ano pode mudar, mas que, sem vacina, continuaremos em isolamento.

-Você tomaria a vacina chinesa?

-Talvez, mesmo porque gosto do nome sinovac, lembra o meu (hehehe). Mas eu não tomaria a russa, que não foi testada a ponto de se confiar nela.

-Por que não, você não é comunista?

-: /

Outra discussão está se definindo no horizonte, mas, antes que ela comece, aviso que preciso levar o cachorro para passear. Não tenho cachorro, mas preciso caminhar. Visto minha máscara e aproveito o sol da manhã. Logo, na esquina, escuto a voz de uma criança, na varanda de um prédio:

-Vai para casa sua arrombada.

E é por isso que eu fico com a pureza e a inocência das crianças.

Synnöve Dahlström Hilkner – Bela Urbana, é artista visual, cartunista e ilustradora. Nasceu na Finlândia e mora no Brasil desde pequena. Formada em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda pela PUCC. Desde 1992, atua nas áreas de marketing e comunicação, tendo trabalhado também como tradutora e professora de inglês. Participa de exposições individuais e coletivas, como artista e curadora, além de salões de humor, especialmente o Salão de Humor de Piracicaba, também faz ilustrações para livros. É do signo de Touro, no horóscopo chinês é do signo do Coelho e não acredita em horóscopo.
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Pense bem, você está sendo observado.

Um dia desses, após uma caminhada com meu amigo no bairro, coloquei a mão no bolso e percebi que meu celular não estava, assim que isso ocorreu voltamos imediatamente todo o trajeto que tínhamos feito, olhando para o chão, ligando para o celular e nada! O celular havia sumido, não estava no bolso, na rua e nem no terreno que havíamos entrado, ligávamos para o número e ninguém atendia.

Assim que minha mãe chegou em casa, fizemos o mesmo trajeto novamente, olhando para o chão, ligando para o celular etc., o celular tocava mas nada acontecia. Após isso, já tinha desistido e achava que nunca mais o veria de novo, fiquei muito triste pois ali estavam, muitas fotos e arquivos importantes, porém…

Quando voltamos para casa, recebi uma foto no meu e-mail com a cara de uma estranha que estava com meu celular e sua localização, por conta de um aplicativo, toda vez que alguém tentava desbloqueá-lo e não conseguia, eu recebia um e-mail com a foto da pessoa e a localização do telefone, em questão de minutos eu já sabia quem tinha achado meu celular, qual era a casa da pessoa e quem era o filho dela, ao longo da noite recebi mais de vinte e-mails com fotos da cara dela e sua localização.

Nós ligávamos e ligávamos mas ela não atendia, percebemos que ela estava agindo de má fé, eu queria ir logo na casa dela e pegar meu celular de volta mas minha mãe resolveu fazer um boletim de ocorrência, estávamos prestes a enviar uma viatura na casa da mulher. Quando ela finalmente percebeu que não ia conseguir desbloquear o celular, resolveu atendê-lo, era meu amigo ligando, conversou com ela e ela decidiu devolver o celular no dia seguinte, a mulher trabalhava no condomínio que fica na frente ao meu. Por isso, pense bem antes de fazer algo errado, você está sendo observado em todo canto.

Pedro de Andrade Nogueira -Belo Urbano. Filho do meio. Estudante do ensino médio. Gosta de assistir séries, sair com seus amigos, viajar e ir para o clube.

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Justiça Violentada – A sentença de Mari Ferrer

Um jovem empresário rico e influente é acusado de estupro. A culpa é da vítima, que não é nem rica, muito menos influente. A vítima tem provas, vídeos chegando e saindo do local do estupro, conduzida pelo estuprador, ela, visivelmente desorientada. Exame que comprova que ela foi penetrada e perdeu a virgindade, esperma com DNA do sujeito no vestido e corpo,
mensagens de texto pedindo ajuda a amigos. Mas ela não tem o exame toxicológico positivo, visto que algumas substâncias ficam pouco tempo no organismo e, por isso é condenada. Durante a audiência, a vítima é torturada pelo advogado de defesa do réu. O juiz e demais presentes permitem, calados, quase em deleite, que ela seja humilhada pelo representante machista do que a nossa sociedade patriarcal tem de pior exemplo, na tentativa visível de lhe roubar a dignidade por total.

E o papel do promotor, que deveria representar a justiça contra o réu o que fez? O primeiro promotor do caso e que acusava o estupro, foi convenientemente promovido e precisou deixar o caso. O promotor que assumiu, apresenta a absurda tese do estupro sem dolo, ou seja, o
pobre réu não poderia saber que o estupro não estava sendo consentido.

O caso escancara o que há de pior numa sociedade. A influência do réu, amigo de herdeiros da mídia brasileira e empresário de grandes jogadores, mostra a facilidade com que o caso não foi evidenciado nos grandes canais jornalísticos. A situação financeira lhe dá acesso aos advogados mais caros. Uma bancada de justiça representada unicamente por machos. E pior, a
humilhação da vítima, que foi totalmente massacrada por quem deveria tê-la acolhido.

Muitos se perguntam por que as vítimas de estupro, em tantos casos, não denunciam seu agressor. No caso de Jurerê Internacional, Mari Ferrer foi violentada de tantos modos que só com muita coragem, uma mulher encara uma situação dessas. A justiça é que foi violentada!

O juiz absolveu o empresário por falta de provas, mas a tese da promotoria de estupro culposo abre precedentes perigosíssimos para as mulheres e demais potenciais vítimas de estupro. Estuprar sem intenção de estuprar. Eu diria que existe também o julgamento culposo: julgar a vítima sem intenção de condenar o réu.

Synnöve Dahlström Hilkner – Bela Urbana, é artista visual, cartunista e ilustradora. Nasceu na Finlândia e mora no Brasil desde pequena. Formada em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda pela PUCC. Desde 1992, atua nas áreas de marketing e comunicação, tendo trabalhado também como tradutora e professora de inglês. Participa de exposições individuais e coletivas, como artista e curadora, além de salões de humor, especialmente o Salão de Humor de Piracicaba, também faz ilustrações para livros. É do signo de Touro, no horóscopo chinês é do signo do Coelho e não acredita em horóscopo.
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Cada um tem seu tempo

Geração Z. O que muitas vezes pode ser um incentivo para o mundo modernizado e global, pode vir a se tornar um tormento. Receber mensagem e não pegar o celular para responder, ou pior, mandar mensagem e não ter a resposta em frações de segundos. A verdade é que nossa geração está acostumada com o imediatismo da era digital, com o ter e fazer acontecer em questões de segundos. Mais verdade que isso é o fato de que nem sempre as coisas acontecem na hora e do modo como a gente quer.

Lidar com o diferente demanda sempre uma tremenda força de vontade, já que não se está acostumado ao novo. O novo gera angústia, ansiedade. Esperar causa esses sentimentos para quem está acostumado à agilidade do dia a dia moderno e tecnológico. A mudança mexe com o que é confortável dentro de nós, com o que é seguro.

A segurança movimenta os nossos pensamentos e gere grande parte da vida. Sem ela é difícil sair do lugar. Sem termos segurança é difícil lidar com opiniões divergentes das nossas. E como viver no mundo sem lidar com as diferenças? A mensagem que não é respondida na hora para mim pode ser algo devastador, mas para quem demora a enviar um retorno pode ser algo natural.

Conviver com modos de levar a vida diferentes faz parte também do ser globalizado e do saber lidar com as pessoas e suas vivências. Ser empático e lembrar que o que me tumultua nem sempre é o que bagunça a outra pessoa é fundamental para o convívio.

Afinal de contas, a minha dor nem sempre é a dor do outro!

Juliana Manfrinatti Bittar – Bela Urbana. Bióloga. Gestora empresarial em formação. Apaixonada por livros, se arrisca às vezes na escrita. Tem como um dos objetivos de vida conhecer todas as maiores e mais bonitas bibliotecas e livrarias do mundo.
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O que um aplicativo de relacionamentos me ensinou

X X X X X X X X X X X X ❤…– … Match!!!

–x–

Cara do Match: – Oi, nossa estamos bem perto hein?

Meu pensamento: – Mas que raios? Porque não vi isso? 4km de distância. Deus me livre se for um Serial Killer, ou pior, pode ser alguém que vai ficar me mandando mensagens a cada meia hora, perguntando onde estou…Nossa, e não tem nada a ver comigo…devia estar muito carente meia hora atrás. Melhor dar Unmatch?

Meu dedo na ação: – “unmatch”

–x–

Bom, melhor antes de mais nada explicar algumas funcionalidades dos aplicativos de relacionamentos para quem não sabe como isso funciona:

Tinder: Você monta seu perfil, colocando suas preferências: homem ou mulher, faixa de idade, etc… aí escreve uma pequena biografia (se quiser), coloca seu Instagram (se quiser), coloca músicas (se quiser). Por fim, adiciona fotos bonitas ou esquisitas, porque acho que às vezes essa é a decisão de algumas pessoas, e pronto, você pode começar a brincar.

Happn: Igual o Tinder, porém ele mapeia quem cruzou o seu caminho ou passou perto.

Nos dois apps, se você não gosta do perfil que te aparece, é só apertar o X e ele sai da sua linha do tempo. Se você gosta, manda um coração. Se ele também te mandar um coração, vocês formam um Match! Que lindo!! É aí que podem começar a conversar. Agora, se você se arrependeu do match, é só apertar unmatch, e a pessoa some da sua lista.  Foi o que eu fiz ali em cima.

Ah a decisão de apertar o X ou o Coração tem que ser imediata, nada de deixar para depois (péssimo para indecisos como eu).

Tem outros jeitos também de falar que você gostou da pessoa, mas aí você tem que pagar e isso tá fora de cogitação pra mim.

De uma forma geral, se você ainda não entendeu, imagina um catálogo da Avon, da Tupperware ou da Natura, em que no lugar de todos esses produtos que essas marcas oferecem, há homens “se oferecendo” em um catálogo online e no celular. Tipo isso.

Agora, esses aplicativos nunca foram do meu gosto, exatamente pela ideia formada em minha cabeça de estar escolhendo homem em um catálogo, algo um pouco bizarro na minha opinião. Mas vamos combinar né? Essa quarentena acabou temporariamente com o jeito tradicional de conhecer pessoas, e também acabou com a minha “lista de possíveis contatos”. No começo, lá por maio, até baixei o Happn, mas depois de poucos dias deletei. Ahh me deu preguiça e decidi respeitar meu tempo e minha necessidade de ficar sozinha. Percebi que meu coração precisava de um respiro, um tempo isolado pra terminar de se curar, pra se conhecer e finalmente se abrir a um outro alguém, fosse para compromisso sério ou não.

Depois de um término de relacionamento, cada um tem seu tempo de cura. O seu pode ser diferente do dele, dela. E traumas ficam, assim como aprendizados. Aprendizados doloridos, mas que me fizeram enxergar a necessidade de me olhar por inteira, de compreender minhas vontades e equilibrá-las entre meu orgulho e meu amor próprio.

Minha intenção é ser sincera primeiro comigo. Me entender e assim estar apta e aberta a entender o outro. Não quero mais jogos. Não quero ter que fingir desinteresse ao demorar para responder uma mensagem. Não quero ter que continuar com alguém por carência. E tem dias que não quero falar com ninguém, não quero conhecer ninguém. Tem dias que quero ficar solteira e gosto disso. Não quero me sentir obrigada a entrar em um relacionamento porque com essa idade a sociedade diz que eu devia estar namorando, noiva, casada, grávida ou com filho.

Não quero ser o padrão que a sociedade impõe. Quero criar o meu próprio padrão.

Também não vou ser hipócrita e falar que quero ficar sozinha pra sempre, ou que eu me preencho e não preciso de mais ninguém. Estou cansada desse discurso que às vezes pregam de que temos que ser exclusivamente autossuficientes. Quando que ser autossuficiente virou sinônimo de deixar de incluir um outro na nossa vida? O ser humano precisa de vínculo com outros seres humanos e ponto, e se você discorda vai dar uma lida no livro da Brené Brown, “A coragem de ser imperfeito”.

Entendo que esse tipo de discurso é pautado em nossa história, por termos sido caladas por muito tempo. Porém, se continuarmos proclamando a “Guerra dos Gêneros”, onde vamos parar?

Independente de gêneros, cada um tem suas feridas, suas ideias, seus pensamentos, suas vulnerabilidades, formando histórias únicas e particulares.

É lógico que em alguns dias minha presença será suficiente, assim como em outros dias a presença de alguém ao meu lado será importante e necessária. Não importa se ainda é só uma paquera, um casual, uma amizade com benefícios ou algo que vire por fim um relacionamento sério. Mas o que tá faltando acima de tudo é respeito. Quero oferecer respeito e ser respeitada, porque a falta dele desencoraja.

No passado deixei de tocar em meus sentimentos, deixei de me fazer entender. Não me permiti falar sobre o que me afligia, e por imaginar o que o outro estava pensando através de suas ações ou ausência destas, me confundi. Desrespeitei a mim e a ele, e vice versa. Meu orgulho e meu ego cresceram, e ao invés de antídotos, seus excessos viraram alimento para minha insegurança.

Quando consegui falar tudo que queria, já era tarde.

Eu mesma tapei meus buracos, e eu mesma estou aprendendo a lidar com os vazios deixados por outro. Não quero ser a responsável por deixar um buraco no coração de ninguém.

Dali amadureci e aprendi a não me fazer calar.

É, não imaginava que um “unmatch” ia cavar em mim labirintos. Apesar disso tudo ter saído de um pensamento cômico do meu cérebro, encontrei pelo caminho medos reais oriundos de um passado ainda presente. Medo da rejeição, do abandono e da traição. Medo de me fazer sufocar por mim mesma, e de esquecer quem eu sou.

E entre essas lembranças e pensamentos, estou aprendendo a me ler por completo. Estou aprendendo o significado da empatia. É assim que o respeito passa a ter propósito, passa a ser consciente, e é assim que a coragem de mandar aquela mensagem pra aquele alguém nasce no peito, mesmo que aquele alguém seja por agora só o match de um aplicativo.

Ariela Maier – Bela urbana. Uma empreendedora e escritora que ama viajar. Se encontra e se desencontra pelas palavras e gosta de pensar que através da escrita, ajuda almas perdidas que carecem de emoções e histórias cheias de vida. @Arielamaier
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MUITO MAIS DE NÓS MESMOS

A vida é uma dádiva e a existência um fenômeno extraordinário. A existência em nosso planeta obedece regras da natureza, confirmadas e imutáveis por milhares de anos.

Já a existência humana representa uma aventura igualmente extraordinária, dinâmica, complexa, dialética, ainda assim submete-se a regras da natureza, mas sobretudo, da natureza humana.

O avanço de nossa espécie sobre este planeta exigiu de nós esforços seculares que, um dia após outro nos trouxeram a este momento e patamar civilizatório e evolucional fundado em nossa capacidade de criar, superar e trilhar novos e inovadores caminhos.

Conseguimos ao longo de milhares de anos, por nossa capacidade intelectiva e de iniciativa, o relativo domínio da natureza em favor de nosso desenvolvimento e bem estar. Vencemos as adversidades do clima, as doenças, a fome, tudo resultado de nosso progresso civilizacional alcançado pelo esforço de todos e de cada um dos que participam deste avanço da condição humana.

Ainda que marcada pela imprevisão e incerteza, a aventura humana no planeta atingiu níveis outrora impensáveis algumas décadas atrás. Tudo construído por nós, pela nossa perseverança e imaginação.

O momento atual é marcado por avanços tecnológicos atingidos em velocidade nunca antes alcançados em nossa trajetória. As inovações se sucedem em ritmo quase indescritível e diário, servindo de base para outras que igualmente alicerçam outras que nos trazem novas percepções sobre o conceito de futuro. Vivemos uma época em que o futuro é hoje.

Na esteira de tais inovações temos hoje, absolutamente incorporadas a nossas vidas cotidianas várias novas formas de comunicação e contato entre as pessoas, notabilizando-se dentre estas as nossas já inseparáveis redes sociais.

Difícil nos dias de hoje encontrarmos pessoas que não mantenham diária relação e atuação com quatro ou mais ambientes virtuais de convivência social. Uma moderna e agora essencial relação de comportamento social.

A velocidade das informações e nossa interação não somente como receptores mas sobretudo como reprodutores delas nos inserem na condição de condutores, de agentes ativos do diário turbilhão de assuntos. A um só tempo somos agentes passivos e ativos desse fluxo frenético de informações.

Mas a despeito desta modernidade prosseguimos sendo humanos e, nesta condição, trazemos para nosso momento de modernidade quem somos, quase que reproduzindo e validando aquelas regras da natureza, contudo da natureza humana.

O complexo caminhar de nossa civilização resulta de comportamento social individual que, enfeixado ao comportamento dos demais se unifica em comportamentos coletivos.

Uma das indisfarçáveis características de nossa natureza humana presente em nosso comportamento coletivo, e agora, relevada pela dinâmica das redes sociais (notadamente) é nossa tendência ao julgamento.

Participamos todos, todos os dias de julgamentos instantâneos, recebendo e emitindo juízos de valor sobre temas dos mais variados, pessoas, situações, integrando-nos a maiorias ou minorias dependendo do tema. Mas estamos sempre julgando.

 A “opinião” e repercussão das redes sociais compõe hoje quase uma entidade imaterial de indiscutível importância para tomada de decisões que influirão em nossos caminhos. São quase uma terceira pessoa coletiva, uma posição de suma importância que paira sobre todos nós. Mas quais seriam a utilidade e benefício disso?

Difícil supor quais os efeitos desse fenômeno, mas ele já velho conhecido.  

Praticamos nossa tendência humana de julgar não é de hoje. Nos jogos romanos a era pré cristã a indulgência do imperador para quem iria viver ou morrer era decidida após ouvir as galerias das arenas. Os cidadãos decidiam instantaneamente pela vida e pela morte.

Um pouco adiante na história tivemos outro exemplo clássico do nosso julgamento popular quando decidimos entre dois sujeitos, um chamado Barrabás, e outro chamado Jesus. Sabemos bem o resultado.

Assim, ainda que entendamos o advento de inimagináveis formas de comunicação de que dispomos atualmente, inescusável também constatarmos que toda essa modernidade está a nosso serviço, a serviço de quem somos e da forma como vivemos e agimos, em suma, de nossa natureza humana.

É ai que toda essa modernidade por vezes parece muito velha para mim, pois apesar de todo o avanço ela somente consegue nos trazer muito mais de nós mesmos.         

André Guimarães – Belo Urbano, advogado, é um materialista histórico dialetico