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A cara da mãe

Eu sempre quis ser a cara da minha mãe, mas… mas quando eu era criança era muito comum um adulto me olhar e dizer: “nossa você é cara do seu pai”, eu esbravejava e respondia na hora: “não sou, sou a cara da minha mãe”, e novamente o adulto respondia, muitas vezes rindo: “não, você é a cara do seu pai”.

Eu ficava muito triste, achava que estavam me falando que eu tinha cara de homem, era isso literalmente que eu entendia e me incomodava muito, porque eu não queria parecer homem, queria ter a cara da minha mãe. Minha mãe é mulher, minha mãe é bonita. E eu sempre gostei de ser mulher, não queria parecer homem.

Incrível como os adultos não percebiam isso! Acho que na minha infância ninguém falava ou pensava em empatia, ainda mais com uma criança….

Mas vamos lá, talvez eu não seja exatamente a cara da minha mãe, mas até hoje olho fotos e procuro semelhanças físicas com ela…. mas continuam me dizendo que sou a cara do meu pai, não vejo mais isso como um problema. Cresci e entendi, ainda bem!

Hoje, adulta, mãe de filhos moços, consigo ter um olhar sobre nossas semelhanças, que são muito mais profundas que o físico.

Posso dizer que minha resiliência vem da minha mãe. E como temos essa tal resiliência…. tenho até me questionado se ter tanto é bom, ainda não tenho a resposta. Somos matriarcais, somos mulheres fortes, as vezes até duras demais, principalmente com a gente, mas temos um grande coração. Acolhemos. Não deixamos quem amamos desistir tão fácil, damos as mãos e puxamos para frente.

Temos muitas e grandes semelhanças, imperceptíveis aos olhos, mas não ao olhar.

Se isso vem da genética como nossa pressão alta que veio na mesma idade cronológica, eu não sei, pode até ser, mas acredito mais que veio da vivência, da convivência e do exemplo.

Minha mãe sempre fez muito por nós, sempre fez questão de conhecer meus amigos e os amigos dos meus irmãos, nossa casa sempre foi um gostoso ponto de encontro em várias fases de nossas vidas. Eu tento ser assim também com meus filhos, mas não sei se consigo com tanto sucesso. É também uma grande avó presente. Sua casa é um lugar de acolhimento dos seus seis netos.

Agradeço a sorte de ter a mãe que tenho. Continuo com meu propósito de ser uma boa mãe, mas isso lá na frente só meus meus filhos poderão dizer.

Se hoje vejo alguém dizer taxativamente para uma criança que ela é a cara do pai ou da mãe, eu observo a criança e dependendo do que percebo, dou logo uma outra opinião que vá ao encontro ao que percebo que a criança quer ouvir. Se é certo ou errado, eu não sei, o que sei é que me coloco no lugar daquela criança. Empátia, é isso!

PS.: Confesso que por muitos anos, me sentia insegura e com cara de homem. Pode dar risada, mas é verdade.

Adriana Chebabi  – Bela Urbana, idealizadora do Belas Urbanas, faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre seu trabalho de comunicação e mkt e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa.

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Pãe

Dei um tempo,

Para todas as homenagens,

Pelo dia MAIOR,

Daquela que é a MELHOR,

Ontem,

Hoje,

E será no amanhã,

Cujo primeiro som,

Que o humano emana,

É MAMÃE.

No entanto,

Sem esse encanto,

E com crescente e diferença,

De atividade, tempo e idade,

Com toda ternura e bondade,

Mas, com “castralidade”,

Que vem crescendo,

E, tornando realidade,

Algo humano que mistura:

Maternidade e paternidade,

Cuidando de criança,

Adolescente ou outras idades,

O PÃE.

Tem cara de homem,

Corpo de atleta,

E coração de mãe,

Trata os filhos com muito,

Com todo carinho,

Passando menos “paninho”

Naquele (a) filhinho (a).

Bom orador e castrador,

Entendendo que os filhos,

Podem e devem sentir dor,

E o faz sem arrependimentos,

Para que no futuro,

Seja um sábio e não

Um (a) ju……………

Calma mães!

Jubilado na escola,

No trabalho,

A todo momento.

L.C. Bocatto– Belo Urbano. Diretor do Instituto IFEM – Instituto da Família Empresária. Criador da Ferramenta de Análise Científica Individual e Familiar. Formações – Mestre em Comunicação e Mercado, MBA em Controladoria, Contador, Psicanalista Terapeuta com foco em famílias e indivíduo com problemas Econômicos (perda de riquezas) e Financeiros (saldos negativos de caixa)
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Descoberta Tardia dos Excessos

Tinha uma mãe braba. Não é brava de brincadeirinha, dessas que a gente fica entre a chinelada e o xingo engraçado clichê. Ela era BRABA mesmo. Arrumava encrenca com vizinhos, gritava com todos que a contrariasse, perdia amigos e intimidade com parentes. Não se preocupava em entender, se fazia entender por qualquer método, até quando não havia como.

Até meus 14 anos, tudo que queria fazer deveria ser escondido. Até brincar na rua era proibido e coibido. Não tinha privacidade, tudo que tinha era vasculhado. O que eu pensava era errado e melhor eu ficar quieto. Ela era imperativa e se algo saísse do controle, alguém pagaria. Meu pai não era flor que se cheirasse, mas tinha que abaixar a cabeça, se não quisesse perdê-la.

Ela não era só essa brabeza, tinha uma ternura ali. Mas uma ternura cega e surda, que não percebia os sentimentos ao redor. Ela abraçava, mas como seu eu fosse um boneco, e não gente. Ela cuidava, como seu eu estivesse para morrer, e não com os olhares dialogais de atenção aberta e sensível ao que os filhos realmente precisavam. Me sentia, de certa forma, só em cada abraço e desamparado em cada cuidado.

Por mais que muita gente possa se identificar com esse relato, ele é triste, pois esse tipo de atitude priva os filhos de uma amizade pródiga e uma confidencialidade saudável. Sentia-me muito solitário, com baixa autoestima e com uma necessidade de autossuficiência que me prejudicaria por décadas.

E por esses arroubos de intemperança, desenvolvi um comportamento defensivo muito arraigado, principalmente com ela. Até hoje posso dizer que não abro certas coisas com ela, pois se que ela não sabe lidar e não me ajudará de fato, podendo até prejudicar.

Mas deixo claro que não são atos deliberados dela. Ela é inocente. Uma inocência infantil, delicada que não vê maldade do que faz. E faz porque acha que o que faz é o bem. É um excesso de tudo: amor, carinho, cuidado, defesa… como se ela fosse nos perder a qualquer instante.

Não vamos fugir, mas é como se estivéssemos fugindo dela. Não vamos morrer, mas é como se qualquer descuido dela, morrêssemos. Não estamos sob perigo, mas é como se o mundo fosse uma ameaça letal, que precisa ser combatido com gritos e violência. É um exagero de boas intenções, com ações inocentemente desastrosas.

Aos poucos, ano após ano, fui descobrindo minha mãe. Descobrindo em meus traumas, meus traços, nos traços da minha irmã e no meu pai. Fui descobrindo essa mulher castrada moralmente por uma geração conservadora, por um marido puritano, por uma sociedade opressora e por uma série de medos e inseguranças que, ao redor dela, não recebia a devida atenção. E por não ter tido atenção, como ela iria aprender a ter atenção com os outros?

Viver uma adolescência nos anos de chumbo dos 70, uma juventude na década perdida na década de 80 e uma menopausa nos 90 pode ter impactado. A frustração de um casamento falido, de uma carreira interrompida, de não ter sonhos de consumo e experiência realizados também. Minha mãe é uma mulher que sofre, que é apagada. E que grita para existir.

Me incomoda ver ela agindo dessa forma hoje? Sim. Me dói e me faz falta a mãe que sempre projetei. Mas quem gosta de projeto é arquiteto, engenheiro (que sabem bem o que fazer com eles) eu não sei o que fazer com projeções.

Minha mãe é essa e rio quando consigo, para lidar com aquela mãe que grita por pouco, que dá vexame e que é a mãe mais particularmente amorosa do mundo. E esse amor particular, por mais que me fez sofrer a vida toda, me fez enxergar as formas de amor mais estranha e fora do padrão hollywoodianos possível. E a isso sou grato. Grato por ver amor onde ele se esconde.

Me dói essa descoberta tardia dos excessos dela. Me alegra que ainda tenho algum tempo para descobrir e amar em excesso. Assim espero.

Crido Santos – Belo urbano, designer e professor. Acredita que o saber e o sorriso são como um mel mágico que se multiplica ao se dividir, que adoça os sentidos e a vida. Adora a liberdade, a amizade, a gentileza, as viagens, os sabores, a música e o novo. Autor do blog Os Piores Poemas do Mundo e co-autor do livro O Corrosivo Coletivo.
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Feliz Mês das Mães para a mulher que não é mãe

E chega maio, o Mês das Mães e do meu aniversário. 4.2 neste ano…

Estranho ver como as cobranças externas desde os 30 não mudaram muito: o sucesso na profissão (check It), a independência financeira (check It), os cuidados com o corpo que já não é mais o mesmo dos vinte (check It – com parcimônia), o marido e os filhos…. Xiii, daí complicou!

Será que complicou? Vou me ater aos fatos, aos meus fatos (lembrando, cara leitora e leitor, que não estou querendo polemizar ou caçar likes, apenas refletir)…

Como quase toda menina da minha geração, anos 80, cresci ainda acreditando no príncipe encantado (como já expus em outro texto, meu negócio acaba sempre sendo o sapo… Enfim… Vai lá ler se te interessar)! E dentro do mundo encantado do príncipe, fiz meus planos contando com o seguinte roteiro: me formar, arrumar um emprego, casar e ter filhos. Ah, como eu queria ser mãe. Era um sonho e era um sonho real!

Pois bem, cheguei aos trinta com a profissão e o emprego que escolhi e sem marido. As cobranças internas e externas vieram… Depois, chegaram os quarenta… E a pressão do corpo aumentou.

Vieram os sobrinhos e vi que sou sim um ser maternal e cheio de amor… Mais cobranças…

Durante uns bons anos, essa foi uma questão delicada… Eu diria até que motivo de frustração. Muitas horas e horas de terapia depois, veio a consciência de que minhas escolhas, entre elas as profissionais, me afastaram do modelo encantado do casamento e dos filhos. Flertei com o primeiro, nunca cheguei perto do segundo.

Já me senti muito menos mulher por isso. Já me peguei pensando: “quem vai cuidar de mim na velhice?”

Eita pensamento besta! Basta eu lembrar de quantos idosos são abandonados pelos filhos em casas de repouso, clínicas como são chamadas agora! Essa cobrança passou!

“E quem vai perpetuar minha existência?” Eita pensamento egoísta! Se eu preciso de outro ser humano, uma mini me ou um mini me, para ser lembrada, daí que ferrou tudo de vez!

Pensei até em adotar para cumprir o roteiro da Marina adolescente. Daí vi novamente o egoísmo me bater com tapa de luva de pelica… Eita mulher caprichosa!

Chego aos 4.2 festejando o Dia das Mães com a minha mãe, graças a Deus; lembrando das minhas avós que já se foram; celebrando a minha irmã, que me deu os meus pitucos mais amados, e comemorando a oportunidade de ter minhas “mães” de coração, que me adotaram como filha e zelam por mim.

Passei o Dia das Mães em festa, sem o peso das cobranças internas ou externas… Sem me culpar por ser uma mulher com mais de quarenta sem filhos. Não me lembro de ter feito isso em outros anos, sem as amarras da culpa.  E como foi bom festejar e brindar a isso, sem me amargurar, muito menos sem me sentir menos mulher.

Marina Prado – Bela Urbana, jornalista por formação, inquieta por natureza. 42 anos de risada e drama, como boa gemiana. Sobre ela só uma certeza: ou frio ou quente. Nunca morno!
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Uma receita de vida

Minha memória da infância tem cheiro, tem sabor, tem brilho nos olhos, tem o barulho da colher de pau batendo a massa daquele bolo feito no sábado à tarde por minha mãe – Dona Dora.

A expectativa já começava com o anúncio de que teríamos algo especial para o café da tarde.

Era comum ficarmos, eu e meus irmãos, pertinho da nossa mãe, enquanto ela separava cada ingrediente e aproveitava para contar suas histórias da infância na Fazenda Império na Bahia, descrevendo suas memórias também ligadas aos bolos e doces que eram feitos por sua mãe.

Sempre que aguardávamos a deliciosa guloseima em forma de bolo, às vezes de laranja, às vezes como um bombocado ou como uma torta, minha mãe descrevia, e ainda descreve todo o ritual para se preparar os doces quando ela era criança. Naquele tempo, tinha que pegar a lenha e acender o forno, juntar os ingredientes muitas vezes produzidos ali mesmo. O coco, que não pode faltar na culinária baiana, tinha que ser quebrado e ralado. O milho, que também sempre teve presença obrigatória no cardápio, precisava ser colhido, para ser limpo e ralado. Já se sabia quem ficava por perto, porque sobrava coco e milho ralado para todo lado.

Durante esse momento cheio de magia,  eu e meus dois irmãos ouvíamos as histórias contadas por minha mãe e ficávamos pensando na quantidade de bolos que eram feitos por minha avó, afinal, eram 15 filhos das mais variadas idades, e sempre havia outras pessoas por lá.

Minha mãe, a sexta filha de Dona Anita e Sr. Manoel Gomes, junto com suas irmãs mais próximas em idade, ficava muitas vezes encarregada de tomar conta dos irmãos mais novos para que minha avó pudesse se dedicar aos muitos bolos feitos durante aqueles dias especiais.

O trabalho para acender o fogão à lenha e organizar tudo só se justificava se fosse para fazer realmente muitas fornadas de bolo, afinal a família era grande.

Minha avó prometia um bolo em miniatura como prêmio extra para quem tomasse conta dos mais novos. É óbvio que minha mãe fazia questão de ganhar esse prêmio.

Às vezes, quando o irmão ou irmã mais nova não dormia logo, Dona Dora colocava na rede, ficava balançando e assoprando os olhos da criança, esperando que o truque funcionasse, com o objetivo deter uma pausa para brincadeira.

Ouvindo essas histórias, eu e meus irmãos ríamos muito e imaginávamos a fazenda, o forno à lenha, a rede, o rio próximo, o cheiro dos bolos.

Engraçado como ficamos não apenas com as lembranças que vivemos, mas também com aquelas que nos são contadas. Tenho a impressão de ter vivido quase tudo que minha mãe já viveu.

Nós, que não morávamos em fazenda, tínhamos um espaço bem delimitado para brincar e, talvez por isso, estávamos sempre bem juntinhos, ouvindo cada história, cada detalhe e nos transportando para esses cenários descritos de forma tão minuciosa a ponto de sentirmos o gosto e o cheiro dos doces e das comidas ali preparadas.

Após esse ritual em volta do bolo feito por minha mãe, aguardávamos para raspar a tigela onde a massa tinha sido preparada.

Aquela massa crua até hoje tem para mim sabor de infância. Uma infância cercada de amor, de histórias, de sonhos, de cores, de cheiros sentidos e imaginados.

No final, a alegria vinha em forma de bolo apreciado primeiro com os olhos. Depois, levar à boca um pedaço de algo preparado com tanto carinho e recheado com tanta história nos dava certeza do quanto tudo aquilo permaneceria na vida de cada um de nós.

Dona Dora tem cumprido bem o papel de perpetuar sua história e de seus antepassados. Fico pensando se serei capaz de cumprir essa mesma missão com tanta maestria, para que minhas filhas continuem a contar suas histórias tendo como ponto de partida tudo o que as tem precedido.

Maria José da Costa Oliveira – Bela Urbana, pesquisadora, autora de livros e artigos, além de docente e profissional da área de Comunicação. Mãe de três filhas e valoriza cada um dos papéis que exerce, incluindo o de esposa, filha, irmã e amiga.

O texto Uma receita de vida integrará o livro-coletânea Gostosuras de Mãe, a ser lançado em junho deste ano pela Editora Ponto Z, tendo Edmilson Zaneti como organizador.

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“Eu sou sua mãe”

Eu sou sua mãe. 

Desde que me entendo por gente. Ninando, dando banho, fazendo comida, vestindo, penteando,  ensinando, proseando, dando bronca, brincando, amando, amando e amando!

Eu sou mãe.  

Das bonecas que tive, dos cachorrinhos que tive e tenho, dos pacientes que cuidei, das amigas que acudi e prozeei,  nos olhares tranquilos e felizes que de forma cúmplice troquei, dos filhos que sonhei.

Eu sou mãe.

De mim mesma, quando me cuido, me paparico, me enfeito, me permito ter defeito, me deixo sonhar, chorar, refletir, decidir.

Eu sou sua mãe. 

No exato momento em que seus sonhos superam meus desejos ainda não realizados. 

Eu sou sua mãe. 

Quando todas as noites, antes de dormir, peço a Deus (essa energia pura carregada de amor) um mundo em paz, empatia entre os humanos, saúde para todos.

Eu sou sua mãe, se neste momento, lendo meu texto, você me entendeu. 

Me acolheu como minha mãe. 

E então, finalmente, teremos um momento de paz. 

Ruth Leekning – Bela Urbana, enfermeira alegremente aposentada, apaixonada por sons e sensações que dão paz e que ama cozinhar.  Acredita que amor e física quântica combinados são a resposta para a vida plena.
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Filhos da Mãe

Mãe fala cada uma, enquanto filhos respondem cada coisa!

O Amor declarado, o Comércio bombando e, esses mistérios flopados?

Haja vista que não, pois ontem pré do pré dia das Mães, a minha filha foi até o centro da cidade, eeeeeee… Chegou assustada e incomodada com o que visualizou, sobre a população interina desse central universo que é Campinas/SP neste virtual Século XXI.

Pois bem, eu tenho tantas histórias sobre o Estado Mãe, que precisei buscar baus e mais baus ativando a minha Inteligência Mental, abrindo-os e regozijando com a minha Inteligência Memorativa plena e a Emocional!

Anos 70, Juliana a filha mais velha, recebeu o irmãozinho Oliver com uma gula de ensiná-lo a viver intensamente! E, o primeiro passo foi estimular o menino a ser um SERVIÇAL… Dela claro!

Então, ela mamava “deitadona” no sofá e quando terminava, se levantava e dizia com voz de comando: Nê (apelido que ela deu, diminutivo de Nenê) leva na cozinha pra mim? E, o menininho a obedecia imediatamente…

Podem dizer, normal… Ela pedia e ele fazia.

Nãooooooooooo meus leitores!

Ela mandava, ele fazia o que ela man da va. Mas, se puderem responder a minha pergunta, vamos lá:

E por quê, ela ia JUNTO para a cozinha e andando em sua frente, com uma postura de GENERAL? Ora essa é muito boa! Já se via uma Ativista… ANGELA DAVIS?

Homens nos devem obediência, chega de preconceitos estruturais. 

Anos 70!

Histórias de Família… Todos as temos, é só abrir os baus! FILHOS DA MÃE!

E o menino Oliver cresceu, e se deu e se dá bem com a amizade fraterna. E também aprontou cada uma!Abrindo um dos baus, eis que nos anos 70 após começar a trabalhar como Educadora na Escola Infantil Pica Pau, fui me integrando com os funcionários e, logo depois a amizade fermentou e polvilhou sobre nossas famílias, e fomos nos apresentando a vida pessoal!

E quando fui até a residência de minha nova amiga Dodô e seu marido Dilson, pela primeira vez e levando a criançada… Juliana 05 anos e Oliver 03 anos, com toda a pompa de Mãe que educa seus Filhos para a Vivência Social! E lá fomos nós quatro, para a casa da Titia e do Titio!

E, claro que fiz aquela ORAÇÃO DE MÃE DIRETA E RETA sobre o evento presencial, na casa d’outro! E, claro que vestidos com elegância. Oliver de Kichute… o Bummmm da época/um tênis na cor preta, em borracha pura, que por onde passava deixava rastros.  Coqueluche divinal e apoteótico! Detalhe: Ele escalou as paredes do quintal na cor branca e, a cozinha da Titia tinha o chão na cor branca. Ave Maria! Bem, a cada visita muito aconteceu! Que até hoje está em nossos baus, sendo o tesouro de nossas Vidas.

Nessa primeira vez, jamais esquecida, quando Oliver veio até a mim e disse: Mamãe, a gente quer “bananas” (estavam na fruteira) pode comer? E, a Titia respondeu: Pode. E eu retruquei: Mas, jogue a casca no lixo! Claro, PRIMEIRA VEZ… PRIMEIRA VISITA!

E a educação dos FILHOS DA MÃE, onde fica? Continuamos na conversa e eles foram para a cozinha, seguindo a vivência! Oliver já estava sem o famigerado KICHUTE! Até que chegou a hora do café, o tão esperado lanche! RESPIREM… Ao chegar na cozinha de piso branco todo riscado, olhei para a fruteira e pasmem…nenhuma BANANA. E a Titia e eu ficamos em estado de choque, perguntei na maior finesse: VOCÊS COMERAM TODAS AS BANANAS? E o menino Oliver, no alto de sua EDUCAÇÃO e OBEDIÊNCIA respondeu ao lado de sua irmã Juliana, a ATIVISTA numa potência jamais vista:

“SIMMMMM MAMÃE, MAS JOGAMOS TODAS AS CASCAS NO LIXO. “Por hora, nem preciso contar mais uma história de FAMÍLIA que está em meu BAU FILHOS DA MÃE!

(e não é loucura da joaninha).

Joana D’arc de Paula – Bela Urbana, educadora infantil aposentada depois de 42 anos seguidos em uma mesma escola, não consegue aposenta-se da do calor e a da textura do observar a natureza arredor. Neste vai e vem de melodias entre pautas e simetrias, seu único interesse é tocar com seus toques grafitados pela emoção.
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Mãe Canguru

Oito meses…levantei para ir ao banheiro e senti a bolsa rompendo. Gelei…Tinha receio que
algo acontecesse, ainda me recuperava de um câncer. Medo de te perder, mas ao mesmo
tempo uma certeza absurda de te encontrar, pois nos meus sonhos você já estava lá.

Avisei a médica e segui para o hospital. Quando entrei, as pernas bambearam, me colocaram
numa maca e vi muito sangue escorrer. Um enfermeiro gritou: “ ruptura de placenta, cirurgia
de emergência!” Olhou para mim e ordenou: “fique de lado, não se mexa, por nada”.
Falei com você: “logo eu vou te ver, meu anjo”.

A médica chegou e avisou que você precisaria nascer chorando, isso demonstraria que os
pulmões estariam preservados. Dentro do meu interior me comuniquei com você e pedi:
“Grita, filha!”E você nasceu gritando.

E a partir daquele momento iniciei minha jornada como mãe canguru, por quarenta dias na uti
neonatal.

Ficávamos em silêncio, junto às outras mães e seus bebês na mesma situação, por doze horas
seguidas, ao som de músicas tranquilas que o hospital disponibilizava para nos relaxar.

Cada manhã, bem cedo, todas as mães já estavam a espera para se higienizar e iniciar a
jornada, mas cada atraso em nos chamar era motivo de angústia…pois sempre que um bebê
prematuro morria, demoravam para permitir a entrada. Nos fitávamos apreensivas, e uma dor
horrível, de gelar os ossos, quando uma mãe era chamada em particular. Ao mesmo tempo,
um alívio no peito, quando não era o nosso nome.

E assim seguimos…Até aquela música tocar, a nossa música, certeza que era nossa!
“Eu não sei parar de te olhar, não vou parar de te olhar”( é isso aí, Seu Jorge).

Passei a cantar para você, todos os dias, até o instante em que te vi abrir os olhinhos pela
primeira vez, após 15 dias do seu nascimento. Nossa! Meu Deus, que emoção! Ver teus olhos
me fitando, me acalmando, me encantando.

Mais 25 dias de UTI, até o momento em que ouvi que podíamos ir para casa.

Ouvi isso no dia em que percebi que minhas forças tinham acabado, pois eu não suportava
mais dormir longe de você, queria dormir com você nos meus braços.

Íamos para casa…

Lembra o que eu te disse naquele dia?

“ Meu amor, nós vamos para casa. E essa história é nossa, uma história de duas mulheres
fortes e é uma honra estar ao teu lado”.

Siomara Carlson – Bela Urbana. Arte Educadora e Assistente Social. Pós-graduada em Arteterapia e Políticas Públicas. Ama cachorros, poesia e chocolate. @poesia.de.si
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Mães e suas histórias

Tinha tantas histórias pra relatar aqui sobre mãe e filho. Sobre Bel e Gui. E se tem algo que gosto é ouvir e contar histórias. Brinco que nasci mulher, normalmente com um dom para a oratória, e ainda escolhi o jornalismo como profissão. Portanto, sentem que lá vem história! Brincadeira. Essa é curtinha, gostosa, ilustra a ingenuidade das crianças que a cada nova descoberta, frase, comentário deixam nós mães ainda mais apaixonadas.

Bom, estava uma tarde sentada na sala escrevendo algo no computador, concentrada no que estava fazendo, ele com seus 7 pra 8 anos, no quarto brincando, televisão ligada em algum desenho animado, aliás, daqueles bem animados, podia ouvir a barulheira da sala. Ele chegou abruptamente, atenção ao gesto, isso faz toda a diferença no drama, com as mãos na cintura, semblante tenso, e me perguntou: “Por quê você e o papai não transaram mais que uma vez? “

Gente do céu! Não tive tempo sequer de responder, de processar em tempo rápido aquela pergunta tão inesperada e totalmente fora de contexto, chegou a explicação.
Mais inusitada ainda.
“Porque queria tanto um irmão!”

Meu Deus! Precisei só de alguns segundos para cair em uma das minhas gargalhadas mais gostosas da vida e entender tamanha indignação. Ele ficou em pé ao meu lado sem entender nada, procurando a graça da situação. Levantei correndo, dei um abraço ainda morrendo de rir.

Bom, os anos passaram, a ingenuidade deu lugar a descobertas maravilhosas. Tento não esquecer que já tive essa idade. A tal temida adolescência chegou. E as perguntas continuam aos 15 anos. Cada uma que nem ouso publicar aqui. Tenho muitos erros como mãe, que a cada semana procuro melhorar, mas tem um ponto que me deixa orgulhosa, o diálogo que mantemos desde sempre. Por aqui nunca houve pergunta sem resposta. Qualquer que fosse. Claro, tudo de acordo com a idade. Assim mantemos até hoje. E assim espero pra todo sempre. Que quando estiver casado, com problemas no trabalho, venha compartilhar os medos, tristezas, alegrias com a mamãe. Será que estou sonhando acordada? Acho que não. Só mais um desejo doido de mãe.

Isabel Oberg – Bela Urbana. É jornalista, Jornalista. Apresentadora, repórter, mestre de cerimônias e locutora. É muito alegre, de família isso. Tirando graça das situações mais difíceis, mas muito chorona. E ficando cada vez mais. Tem uma frase que a define: “Vivo com o chora na porta, mas com o riso na janela”
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Mãe na Rave

Eu já passara dos cinquenta e me via empenhada em organizar a vida monetária da filha que iria se mudar para a Europa.

Eu a primeira na fila da empolgação por essa mudança. Pai pouco presente e zero comprometido com as escolhas da filha. Eu sonhava alto, minha filha não era daqui, precisava conquistar o mundo.

Formada em moda ia pra Londres fazer um curso de especialização. Aqui no Brasil já fazia trabalhos de customização de roupas e acessórios em uma época em que poucos faziam. Eu era sua fã, participava com ela de feiras na Lapa no Rio de Janeiro, ajudava como podia: montava barraca, passava o dia em sobrados com calor e barulho ensurdecedor. Ia feliz, tinha ela ao meu lado.

Nesse caminho em busca de dinheiro, nos deparamos com uma situação dúbia; ela tinha feira em um sábado e uma festa rave, na sexta. Pensei, faço a festa e vou dormir. Ela trabalha no sábado inteiro.

E lá fui eu, o trabalho era vender tickets em uma bilheteria improvisada com mais três pessoas. Comecei a me dar conta na roubada que vinha pela frente. Me assustava a quantidade de bebida, bebados, dinheiro, sujeira, loucuras juvenis. Demais para os olhos? Não, tristeza talvez.

Não tinha tempo de beber, comer, xixi… o cansaço, o barulho, a fumaça era tudo demais para ver e sentir, mas sabia que dali iria sair com o dinheiro, pouco talvez, mas era para ela. Faria de novo e de novo.

Noite foi virando madrugada que virou manhã e chegou a hora de ir. Peguei um ônibus que me deixou uns vinte minutos de casa. Fui caminhando morta de cansada e ainda atordoada com o barulho. Mal me dei conta de um carro passando com bêbados gritando e para fechar a noite, me atiraram uma lata de cerveja nas costas.

Como mãe, fiz tudo pelo seu sonho. Foi, não volta mais. Saudade e todo dia lembranças, as melhores.

Voou pra longe do ninho como deve ser.

Maria Nazareth Dias Coelho – Bela Urbana. Jornalista de formação. Mãe e avó. É chef de cozinha e faz diários, escreve crônicas. Divide seu tempo morando um pouco no Brasil e na Escócia. Viaja pra outros lugares quando consigo e sempre com pouca grana e caminhar e limpar os lugares e uma das suas missões.