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E eu fiquei, conscientemente, com o sapo!

 

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Neste mês completo 36 anos. Anos bem vividos, aproveitados, suados, com dias de puro êxtase e outros de tristeza dramática… Durante boa parte desses 36 anos, ouvi as histórias de amor, do tipo “foram felizes para sempre” em que a princesa necessita terminantemente ficar com o príncipe. Mas não qualquer príncipe. Ele tinha que ser o mais belo, o mais forte, o mais encantador, vir montado em um cavalo branco, fazer juras de amor eterno. Dos príncipes das histórias infantis (que menina nunca quis ser a princesa?), passamos para os príncipes mais modernos, também da ficção. Quem nunca quis um Richard Gere em Pretty Woman, ou Hugh Grant em Notting Hill??? Um sonho, não?

Nãooooooo!!! Passei anos, involuntariamente, procurando o príncipe encantado… Me apaixonei perdidamente, vivi histórias lindas, outras tensas… outras que preferia apagar. Vivi. Mas nunca o príncipe era o príncipe. Em algum momento, ele deixava o cavalo, a roupa, o charme e virava o sapo. E eu descia do sapatinho de cristal e subia nas tamancas para sair do conto de fadas e entrar na história da vida real.

Até que de repente, não mais do que de repente, aparece o sapo. Sapo mesmo. Lindo, é verdade, mas avesso a tudo o que príncipe sugere. Ele não é um ogro, é somente normal. Me faz flutuar com pequenas coisas e me estatela com a cara no chão quando me dá um choque de realidade. Há algum tempo, chamei ele de príncipe. E ele fez uma careta. Daí corrigi… Sapo… e ele me abriu aquele sorriso encantador que nem o príncipe mais lindo da Disney tem. E depois do tão esperado beijo dos contos de fada, ele seguiu um sapo. Não se transformou em estereótipo algum. Isso não é bárbaro?

O meu sapo está aí, todo santo dia, para me mostrar que a vida não é um conto de fadas e que a fada madrinha pode errar na medida do vestido. Mas ele é capaz de ficar acordado para me acalmar quando estou triste, de me fazer rir das pequenas coisas, de me enervar porque não responde na hora que eu quero as minhas mensagens, até de me mandar desencanar de algo que nem sei ainda que estou encanando. Um sapo tão doce e tão normal. Que me lembra também que eu não preciso ser a princesa a todo e qualquer momento da minha vida. Que, às vezes (no meu caso quase sempre), posso estar sem maquiagem, de rabo de cavalo e dormindo de meias.

Esses meus 36 anos me serviram para mostrar que os príncipes no cavalo branco, resgatando a princesa são mesmo coisa da Disney. E que, apesar de amar o salto, o vestido e o baile, não estou em apuros para ser socorrida. Muito pelo contrário.

Desisti do príncipe. Escolhi, conscientemente, o sapo. E que seja eterno enquanto dure esse coaxar… Hoje, ele me faz feliz em nossa lagoa e em nossa história de amor imperfeita. Se ele sair saltitando amanhã, vou chorar, como uma donzela indefesa, mas vou ter a certeza, que vivi momentos mágicos ao lado justo daquele que é sempre tão maltratado. Viva o meu sapo!

12507504_864760573644811_8622203985550743298_n Marina Prado

Marina Prado – Bela Urbana, jornalista por formação, inquieta por natureza. 30 e poucos anos de risada e drama, como boa gemiana. Sobre ela só uma certeza: ou frio ou quente. Nunca morno!

 

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Quando você virou estrela

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Quando você virou estrela

Pairava reticências no ar

A pergunta não respondida

A frase nunca dita

Uma conversa interrompida

 

Quando você virou estrela

Descia água dos céus

Um ser de luz é assim

Rega o solo sem fim

 

Estrela que brilha

Estrela que ofusca

Estrela sempre presente

Estrela temperamental

 

Quando você se foi

Na virada de um milênio

Seu neto me perguntou

O que acontece quando alguém vai

 

Vira estrela, meu filho

No céu sempre haverá um ponto

Eu ainda não sabia que você se fora

Mas respondi de pronto

 

Na virada de uma nova era

Um telefonema de ano novo

Uma conversa para continuar

De algo que nunca saberei

Da gargalhada gostosa

Sobraram reticências

Um até logo

 

E você mãe

Sempre tão forte e bela

Deixou a lembrança dessa voz

E virava estrela

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Synnöve Dahlström Hilkner Bela Urbana, é artista visual, cartunista e ilustradora. Nasceu na Finlândia e mora no Brasil desde pequena. Formada em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda pela PUCC. Desde 1992, atua nas áreas de marketing e comunicação, tendo trabalhado também como tradutora e professora de inglês. Participa de exposições individuais e coletivas, como artista e curadora, além de salões de humor, especialmente o Salão de Humor de Piracicaba, também faz ilustrações para livros. É do signo de Touro, no horóscopo chinês é do signo do Coelho e não acredita em horóscopo.

 

 

 

 

 

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Fragmentos de um diário – 17

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Lembro muito de uma história da infância, onde eu e minha irmã plantamos feijão em vasinhos com algodão molhado. O meu feijão eu cuidava nos mínimos detalhes, molhava todos os dias. Minha irmã já não, nem a via molhar o tal do feijão. Porém, apesar de todo o meu cuidado, era o feijão dela que crescia mais rápido e mais forte e quando percebi, me causou um imensa insatisfação. Não me lembro ao certo o fim da história, se meu feijão morreu afogado de tanta água (por zelo) que colocava nele ou se antes disso minha mãe interferiu e me falou que eu não precisava molhá-lo todo dia (lembro-me disso), mas não me lembro em que ordem foi.

Concluindo, o que tiro é que não devemos superproteger, mas como podermos ter essa consciência que estamos superprotegendo?

25 de agosto – Gisa Luiza – 32 anos

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Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde escreve contos, poesias e crônicas nesse blog. Publicitária e empresária. Divide seu tempo entre sua agência Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa :) . A personagem Gisa Luiza do “Fragmentos de um diário” é uma homenagem a suas duas avós – Giselda e Ana Luiza

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Conselhos do Kiabo

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Não vou dizer sim, nem que não…. vou ficar assim no meio da navalha, em cima do muro, causando tensão…… não, peraí, e ainda digo mais….nem pensem que vou parar de usar vermelho, nem os verdes, todos os amarelos, laranjas lindos e também roxo. Sequestrar cor é coisa de texto de peça infantil. E por falar nisso até encenei num espetáculo com este tema: uma bruxa terrível, roubava as cores do mundo, e o enredo se desenvolvia em cima de tentar recuperar estas cores… ou seja a cor do mundo todo. Entendeu porque vermelho é lindo ?

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Jeff Keese – Belo Urbano, é arquiteto, produtor de exposições de arte, e durante 7 anos foi consultor do mapa das artes de São Paulo. O Kiabo é um personagem que criou na adolescência para dar conselhos para as mulheres, por isso os conselhos do Kiabo estão sendo divulgados no Belas Urbanas.

 

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Janelas do tempo

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Às vezes falo, às vezes calo.

Às vezes mudo, às vezes nulo.

Às vezes nada.

Às vezes tudo.

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Gil Guzzo – Belo Urbano, é autor, ator e diretor. Em teatro, participou de diversos festivais, entre eles, o Theater der Welt na Alemanha. Como diretor, foi premiado com o espetáculo Viandeiros, no 7º Fetacam. Vencedor do prêmio para produção de curta metragem do edital da Cinemateca Catarinense, por dois anos consecutivos (2011 e 2012), com os filmes Água Mornas e Taí…ó. Uma aventura na Lagoa, respectivamente. Em 15 anos como profissional, atuou em 16 peças, 3 longas-metragens, 6 novelas e mais de 70 filmes publicitários. Em 2014 finalizou seu quinto texto teatral e o primeiro livro de contos. É fundador e diretor artístico do Teatro do Desequilíbrio – Núcleo de Pesquisa e Produção Teatral Contemporânea e é Coordenador de Produção Cultural e Design do Senac Santa Catarina. E o melhor de tudo: é o pai da Bia e do Antônio.

© Gil Guzzo – Proibida qualquer tipo de reprodução das imagens sem autorização. Imagens protegidas pela Lei do Direito Autoral Nº 9.610 de 19/02/1998

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Finja naturalidade…

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Passamos com frequência por situações que mexem com os mais diversos tipos de emoção, mas aprendemos desde bebês a ‘fingir naturalidade’. Aja como se aquela situação fosse a coisa mais natural do mundo… e às vezes até é, mas por estarmos vivenciando nós pela primeira vez, temos um turbilhão de sentimentos nos enlouquecendo, às vezes.

Primeiro dia de escola. Claro que é natural, todos vão pra escola!! Mas para aquela mãe e aquele filho essa separação não é natural! É o nosso bebê deixando de ser bebê e começando a vida adulta. Estamos com o coração apertado e muitas vezes aquela criança está insegura, com medo do desconhecido, sente nossa falta. Mas… finja naturalidade, faz parte do desenvolvimento daquelas pessoas.

Primeiro bailinho, festinha, baladinha… nada mais aterrorizante!!! Não sabemos como é, se seremos chamadas pra dançar, se ‘aquele’ menino vai estar lá, e se estiver vai prestar atenção em mim? Mas, por via das dúvidas, finja naturalidade, aja como se fosse a sua rotina! Claro que é divertido! Bem, quase sempre… mas aqueles momentos de incerteza são cruéis!!

Primeiro beijo… mil borboletas no estômago, a cabeça girando… mas finja naturalidade, não saia pulando e gritando de euforia, afinal isso daria na cara a inexperiência, além de deixar o autor do beijo muito seguro… não, não podemos… mas provavelmente ele também está tão eufórico quanto você e adoraria um sinal de que agradou. Mas como fingimos naturalidade, ele finge também… simples assim! E aquele primeiro beijo perde metade da graça por termos que fingir naturalidade!

Primeira entrevista de emprego. Ah, as mãos tremendo, o coração aos pulos, a insegurança da avaliação, da competição, da ‘autoridade’ representada pelos recrutadores. Mas… finja naturalidade! Finja que aquela vaga nem é tão importante pra você, que essa aprovação não vai fazer toda a diferença no seu futuro, que é só mais um processo seletivo qualquer.

E assim, segue… casamento, filhos, carreira, promoções, demissões, perdas… passamos pelas mais variadas experiências, grande parte delas fazendo de conta que está tudo bem, que é tudo natural, quando na verdade estamos eufóricas ou quebradas por dentro. Fingimos uma naturalidade que beira o absurdo em determinadas situações.

Porque a vida segue o seu curso, porque no fim as coisas se ajeitam, porque no fim as coisas são mesmo naturais e acontecem todos os dias… com os outros! Com os nossos pais! Com os nossos amigos! E por isso, quando é a nossa vez, fingimos naturalidade… Embora nossos corações estejam aos pulos! Embora tenhamos mil perguntas ao mesmo tempo em nossas mentes!

E ao ler esse texto, por favor, finja naturalidade… afinal é mais um texto qualquer que alguém qualquer escreveu!

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Tove Dahlström – Belas Urbana, é mãe, avó, namorada, ex-mulher, ex-namorada, sogra, e administradora de empresas que atua como coordenadora de marketing numa empresa de embalagens. Finlandesa, morando no Brasil desde criança, é uma menina Dahlström… o que dispensa maiores explicações. Na profissão, tem paixão pelo mundo das embalagens e dos cosméticos, e além da curiosidade sobre mercado, tendencias de consumo, etc., enfrenta os desafios mais clichês do mundo corporativo, mas só quem está passando entende.

 

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Formatei o Computador e a Vida

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Deu pau no computador! Tudo demorado…. Algo corrompido…. Alguém falou em desfragmentar o disco rígido…

Então resolvi eu mesma fazer um back-up no hd externo e formatar. Foram dias em que eu sentia que meu pc era quase como um bichinho virtual, precisando de atenção constante a cada 20 minutos e depois de perder e recuperar a senha, vários dias haviam se passado.

Agora era repor o que estava no back-up. E era nesse ponto que eu entendi o processo. Eu só iria colocar de volta os dados que me eram úteis ou interessantes. Nada do que já era defasado voltaria. O computador era meu e eu decidi que nenhum software que não fosse original ou que pudesse de alguma maneira interferir negativamente no meu sistema, seria baixado.

Investi em qualidade. Devolvi as imagens e documentos que me eram queridos e deixei no hd externo aqueles que não me serviriam, mas deveriam ser recordados em algum momento. Sim, o hd externo me permitiria acessar informações necessárias em alguns casos, apenas para não cometer alguns velhos erros ou me lembrar do motivo de estarem guardados como segurança. Era a simples ideia “não guardo rancores, mas guardo fatos”.

Não digo que a organização ficou 100%, mas de um modo geral ficou bom. Tudo funciona de forma mais fluída, sem tanto estresse… O hd externo está acessível para consulta, mas é o disco principal que dita a ordem do dia, as cores que pinto, as palavras que digito, as imagens que crio.

Tudo o que era obsoleto ou prejudicial foi eliminado, só permiti que o que fosse construtivo permanecesse. E mesmo me dando uma grande dor de cabeça e demorando a ponto de me fazer chorar, adorei esse processo e o resultado final.

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Synnöve Dahlström Hilkner Bela Urbana, é artista visual, cartunista e ilustradora. Nasceu na Finlândia e mora no Brasil desde pequena. Formada em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda pela PUCC. Desde 1992, atua nas áreas de marketing e comunicação, tendo trabalhado também como tradutora e professora de inglês. Participa de exposições individuais e coletivas, como artista e curadora, além de salões de humor, especialmente o Salão de Humor de Piracicaba, também faz ilustrações para livros. É do signo de Touro, no horóscopo chinês é do signo do Coelho e não acredita em horóscopo.

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E você, se nega a que?

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Os últimos acontecimentos na política nacional e na minha própria vida me levara a uma reflexão, que não me gerou conclusões (não aquelas as quais ansiamos), mas me suscitou dúvidas pertinentes.  Despertou máximas que estavam arraigadas em mim e que por um motivo qualquer (ou medo ou comodismo) eu sequer costumada a pronunciá-las, seja em voz alta ou mentalmente.

Eu me nego a acreditar que num país com tantos corruptos (em todas as esferas da sociedade e não só na política), a corrupção seja a única saída ou escolha;

Eu me nego a acreditar que as desilusões com as pessoas, em todos os níveis de relacionamento, são argumentos para se desistir de tentar e confiar;

Eu me nego a acordar todos os dias para viver uma rotina besta de trabalho ou vida só para me financiar, como muitos querem me fazer crer que é preciso;

Eu me nego a ler as notícias no jornal, os estereótipos na mídia e achar que o mundo é tão só e simplesmente isso;

Eu me nego a viver pensando que em quanto mulher só tenho dois caminhos me ensinados na infância: ou ser a princesa de contos de fadas, esperando o príncipe e o “felizes para sempre”, ou ser a profissional bem sucedida e emocionalmente frustrada;

Eu me nego a colocar o sapato de cristal, esquecer o sapo, servir ao outro, a não cantar em voz alta a música que estiver na minha cabeça (seja eu desafinada ou não), a não dormir o quanto o meu corpo pede, a não chorar por vergonha, a ter que ser forte porque assim alguém espera que eu seja.

Ando me negando tanta coisa, que já nem tenho mais certeza real do que ando me permitindo. Mas, saber o que não quero já é um bom começo para se chegar ao que anseio, mesmo que isso esteja meio nebuloso no momento, assim como a política e a vida…  Por enquanto, a certeza máxima é seguir tendo fé no ser humano (no outro e em mim) por mais que o mundo, as pessoas e as situações nos desencoragem!

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Marina Prado – Bela Urbana, recém chegada ao time. Jornalista por formação, inquieta por natureza. 30 e poucos anos de risada e drama, como boa gemiana. Sobre ela só uma certeza: ou frio ou quente. Nunca morno!

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Meu Homem…

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Falar de homem? Existem tantos? Homens maridos, homens filhos, homens vizinhos, homens chefes, homens padres, homens “consertadores” de fogão, homens professores…

Estes são os homens que me cercaram nesta semana, mas um, eu deixei para comentar separadamente. O Homem PAI, meu pai!

Ele é doce, meigo, forte, trabalhador, divertido, animado, ético simples…nesta semana faz 50 anos que se casou com minha mãe. Imaginem o que ele já passou? Como ele já deve entender de mulheres, principalmente da minha mãe? Imagina como é a vida deles hoje?

Com vários “arranca-rabos” o tempo todo….afinal, entender as mulheres, nem que seja uma…deve levar mais de 100 anos!

Obs: a foto acima é dele quando conheceu minha mãe….a de hoje? Fica na sua imaginação…

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Roberta Corsi –  Bela Urbana, coordenadora do Movimento Gentileza Sim que tem como objetivo “unir pessoas que acreditam na gentileza” e incansavelmente positiva. Para conhecer o movimento acesse https://www.facebook.com/movimentogentilezasim 

 

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Trem da Madrugada

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Antenor entrou decidido na sala assim que a recepcionista abriu a porta e foi logo disparando, antes mesmo de dar bom dia: “Doutor, eu gostaria de solicitar a vossa senhoria o obséquio de pleitear junto ao metrô uma indenização por perdas e danos à minha pessoa”. Cláudio, um jovem advogado e de carreira brilhante apesar dos poucos anos de profissão, era experiente e perspicaz o suficiente para saber que aquele homem simples ali parado na sua frente, deveria ter elaborado minuciosamente a frase proferida. E pelo certo embaraço e rapidez com que foi dita, deixava claro que aquelas eram palavras emprestadas de um outro vocabulário. Nesse caso era necessário quebrar o gelo para se aproximar do seu talvez futuro cliente e tentar entender afinal do que se tratava tal pedido. Não teve tempo de dizer nada antes que Antenor, que estava ansioso e sentia o calor úmido e frio de suas mãos, perguntasse: “Então doutor, o senhor pode me ajudar?”. “Claro que sim. Por favor, sente-se”. Antenor puxou a cadeira de um jeito tão tímido que parecia estar pedindo desculpa por se sentar numa cadeira tão imponente e cujo revestimento do assento e do encosto deveria custar mais do que todo seu guarda-roupa. Olhou ao redor e começou a se dar conta que nunca havia visto um lugar como aquele. Era tudo muito moderno, diferente da imagem que fazia de um escritório de advocacia, com suas salas escuras, carpete verde musgo e madeira por todos os lados. Ali era tudo branco, iluminado, com uma enorme parede de vidro que revelava uma São Paulo gigantesca, do tamanho de um mundo. Um mundo ao qual fazia parte como um ser minúsculo perdido no meio da multidão. Antes que entrasse em transe nesse universo desconhecido, foi acordado pela voz cortante de Cláudio: “O senhor?”. “Antenor, esse é meu nome. Antenor da Luz e Silva. Luz por parte de mãe e Silva por parte de pai”. “O senhor Antenor aceita um café, uma água?”. “Água sem gelo e café com adoçante por favor”. Nunca tinha tomado água sem gelo nem café com adoçante, mas havia ouvido essa frase num filme, achou chique e resolveu que ali era o lugar exato para usá-la. Cláudio o olhou com um certo sorriso enigmático enquanto fazia o pedido a sua recepcionista. “Mas vamos lá seu Antenor da Luz e Silva, me explique o motivo pelo qual o senhor quer ser indenizado por perdas e danos”. “É por causa do trem da madrugada”. “Seja mais claro”. Antes de continuar, foram interrompidos pelas batidas na porta da recepcionista que trazia a água e o café. A água veio num copo triangular e o café numa xícara quarada. Ficou olhando sem entender essa geometria das coisas simples num mundo sofisticado. Para ele, copo e xícara são redondos. Bebeu a água de uma vez e deixou o café pra depois. “É assim doutor, o senhor sabe que sábado é dia de namorar. Não sabe? Tem gente que namora com dia marcado. Uns na segunda, quarta e sábado. Outros na terça, quinta e sábado. O senhor vê, sempre tem sábado. Até pra quem não tem dia certo, sábado é dia de namorar. É dia de tomar sorvete, ir ao cinema, beber uma cerveja. É dia de passear com a namorada. Sábado sem namoro não dá. O senhor me entende, doutor?”. Antes de ouvir a resposta de Cláudio, atento e incrédulo, continuou. “E como sou um sujeito que respeita a tradição das coisas, não abro mão de namorar no sábado. Chova ou faça sol, todo sábado eu saio com a Ritinha e com a Alessandra”. Cláudio o interrompe. “Um momento, por favor. Marcela, uma água com gás bem gelada”. Colocou o telefone no gancho, afrouxou um pouco a gravata, recostou-se na sua cadeira e com ironia interessada voltou à conversa. “Me diga, Antenor, se eu entendi bem até aqui, você afirma que sábado é dia de namorar e que você tem duas namoradas.Certo?”. “Sim senhor”. “Mesmo?”. “Certamente doutor”. “Duas namoradas?”. “É..sim…tem algum problema?”. “Não..quero dizer..sim…bem, eu não atuo na vara de família..”. “Peraí doutor, que história é essa de vara de família?”. “Calma, eu só estou dizendo que a minha área de atuação é outra. O senhor me entende?”. “Mais ou menos”. “Mas vamos continuar a sua história, por que eu ainda não entendi o que o metrô tem a ver com o senhor e suas duas namoradas, e também o que eu tenho a ver som isso tudo”. “Ué, o senhor não é advogado?”. “Parece que sim, não é?”. “Então, preciso que mexa as coisas pra processar o metrô”. Cláudio, um pouco irritado, toma um gole na sua água com gás que sua recepcionista havia colocado na mesa, respira fundo e pede que Antenor seja mais claro e objetivo porque ele não tem o dia todo. Antenor toma o café, que já está gelado e vai direto ao ponto. “Doutor, esse tal de trem da madrugada que o metrô acabou de inventar, me acarretou sérios problemas na administração interna dos meus relacionamentos afetivos. O senhor já teve duas namoradas? O senhor já teve que sair com as duas no sábado? Pois bem, antes do pessoal do metrô inventar de prorrogar os horários de funcionamento aos sábados até a uma da manhã, tudo era perfeito. Vou explicar: No sábado de tarde eu ia pra casa da Ritinha e ficava na casa dela ou em algum lugar por perto até umas onze da noite. Depois me despedia e pegava o metrô na estação Jardim São Paulo. Descia na Sé e pegava outro até Arthur Alvim. Pra ela, a Ritinha, eu trabalha numa distribuidora de jornal lá na Zona Leste e entrava às 4 da manhã pra entregar o jornal de domingo. E como o metrô parava meia noite e eu não podia bobear, era preciso sair mais cedo para garantir meu transporte até o trabalho. O senhor tá me acompanhando?”. Cláudio empurrou a cadeira para trás, levantou-se, foi até a parede de vidro, olhou a cidade lá embaixo. “Essa cidade é gigante não acha? Como o senhor chegou até mim?”. “Lista telefônica doutor”. Desolado, voltou a cadeira sem dizer palavra. “Veja só doutor, aí é que tava a jogada. Não existia trabalho de entregador de jornal pra ganhar grana extra. Na zona leste estava a minha Alessandra me esperando. Pra ela, eu dizia que trabalhava numa padaria da Zona Norte até as onze da noite. E como o senhor já sabe, sábado é sagrado pra mim. Eu chegava na casa dela às onze e quarenta e três da noite, ou seja ainda era sábado. A minha pimentinha, a Alessandra, também pensa como eu. Sábado é dia de namoro e ela valorizava meu esforço em chegar a tempo. Doutor, tudo funcionava como um relógio até sábado retrasado”. “Seu Antenor, seja mais rápido”. “Resumindo: no sábado retrasado cheguei na casa da Ritinha e ela estava radiante. Estava com um jornal na mão me mostrando que o horário do metrô havia sido estendido até a uma da manhã, o tal do trem da madrugada. E que como comemoração a isso, ela me daria um presente especial naquela uma hora a mais. Não tive como fugir, ela usou de artimanhas que só as mulheres têm…o senhor sabe, né? Com isso, em vez de sair as onze saí meia noite. Em vez de chegar onze e quarenta e três, cheguei meia noite e quarenta e três. A Alessandra já tava doida de preocupação. Me deu um abraço apertado logo no portão e antes de perguntar o que tinha acontecido, sentiu um cheiro forte de perfume de mulher. Doutor, eu tomo sempre o maior cuidado pra não sair cheirando perfume da casa da Ritinha. Sempre tomo um banho na casa dela antes de sair, com a desculpa de ir pro trabalho. Mas naquele sábado, ela queria me dar o tal presente na uma hora a mais que havíamos ganhado. E que presente doutor…mas não deu tempo de tirar o perfume dela e a Alessandra matou de cara. Eu falei que ela era pimentinha. Me encheu de tapas, arranhou meu braço e me puxou pra dentro de casa. Aos prantos, exigiu explicações. Congelei. Por favor, olha só a minha situação: O que eu iria falar pra ela? Que meu chefe tinha aumentado meu horário de trabalho e que caiu um vidro de perfume que tava na última prateleira do balcão do caixa e que era da mulher do dono da padaria. Sem essa. Mulher nenhuma acreditaria nisso, por mais apaixonada que fosse. Paralizado, olhei nos olhos dela e comecei a chorar. Doutor, como eu amo a minha pimentinha. O ataque de fúria começou de novo, ela pegou a bolsa, me agarrou pelo colarinho e disse: vamos conhecer essa vagabunda. Eu ainda tentei dizer que não dava tempo. Ela disse que dava sim, que o metrô tava ficando aberto até a uma da manhã e enquanto tivesse gente dentro, tinha trem. Olha, eita serviço bom, mas que desgraça. Como quem caminha pra forca, pegamos o trem rumo a estação Jardim São Paulo. O metrô estava praticamente vazio, e sentamos em bancos separados. Um em frente ao outro. Ela me fuzilava com os olhos, eu olhava pra baixo. Bom, nem precisa dizer o que aconteceu na casa da Ritinha. Elas descobriram tudo e veio abaixo uma linda história de oito anos. A Ritinha eu comecei a namorar no carnaval de 1999 e a Alessandra na Páscoa do mesmo ano. Eu a conheci no supermercado. Eu comprando ovo de Páscoa pra filha da Ritinha e ela pro seu afilhado. De lá pra cá não consigo nem dormir direito. To arrasado. Eu amo aquelas duas mulheres. Parece loucura, mas não vivo sem as duas. O que eu faço agora? Um amigo meu me chamou de banana, que não deveria ter levado a Alessandra na casa da Ritinha. Disse que fui bobo, que perdi as duas porque marquei bobeira. Mas veja, não tinha como dizer não a Alessandra. Eu nunca disse um não a ela, nem ela a mim. Éramos felizes, os três. Agora não sou nada, sozinho. Senhor doutor Cláudio, por isso o metrô me deve uma indenização. Estou na rua da amargura graças a eles. Eu sei que eles não quiseram fazer mal a mim, mas é possível prejudicar alguém mesmo sem ter intenção, não é mesmo? E aí, como é que eu fico? Alguém tem que pagar por isso? O trem da madrugada passou em cima da minha cabeça. Me ajude por favor”. A sala estava completamente em silêncio. Antenor imaginava que Cláudio estava preparando alguma resposta pro seu caso. Cláudio só imaginava o que poderia dizer a Antenor. Por mais que não fizesse sentido mover uma ação dessas, que a motivação era absurda e baseada num adultério, aquele homem tinha sido prejudicado por um terceiro. Isso era um fato. Além disso, Claudio não estava ali pra julgar a ética e a moral daquele sujeito. Ele poderia ou não aceitar o caso. Mas que caso. Por um instante pensou que estivesse enlouqeucendo. Tirou os óculos, esfregou demoradamente os dois olhos ao mesmo tempo, levantou-se e andou sem rumo pela sala. Antenor o acompanhava quieto com os olhos. O caso dele era complicado e o doutor deveria estar pensando numa estratégia. Sentou-se no sofá atrás de Antenor, que virou-se imediatamente em sua direção. “Meu caro Antenor, o seu caso é realmente complicado. Eu realmente nunca vi uma situação assim. Sinceramente eu vejo sinceridade no senhor. É possível imaginar o amor que sente por essas duas mulheres. Sendo assim, por que não tenta reconquistar o amor delas em vez de tentar ser ressarcido de um suposto prejuízo?”. Enquanto falava, Cláudio se revirava por dentro. Não acreditava que estava ali dando conselhos sentimentais a um completo desconhecido, mas preferia isso a aceitar o caso e conquistar um vexame profissional. “Não tem mais jeito doutor. O encanto quebrou. Agora o que me resta é dor e sofrimento. Tudo por culpa do metrô”. Cláudio levantou-se, foi até sua mesa, apoiou os dois braços em cima do tampo de vidro e olhando bem no fundo dos olhos de Antenor disse: “O senhor cometeu adultério e o metrô não pode ser responsabilizado pelo término de um ato ilegal aos olhos da lei. Juiz nenhum do mundo vai aceitar uma coisa dessas e ainda é capaz do senhor ser processado pelo estado. Apesar disso concordo que o senhor está no prejuízo, mas não posso fazer nada”. Pensou que foi duro demais com aquele homem, mas disse o que deveria ser dito sem nenhum julgamento. “Aceita mais uma água ou um café?”. Antenor percebeu que sua consulta tinha chegado ao fim. Levantou-se e foi em direção a porta. Antes de sair, abriu um sorriso que era um misto de dor e esperança. Voltou alguns passos e estendeu a mão ao jovem advogado. “Obrigado por ter me ouvido”. Saiu sem fechar a porta. A história daquele homem ficou martelando na sua cabeça a semana toda. Não teve coragem nem de contar para os amigos. Fez o certo, mas aquele homem tinha sido prejudicado sim e tinha, como cidadão, o direito de reclamar. Na sexta-feira deu de cara com aquele homem na recepção do seu escritório. Sentiu um frio na barriga, mas foi logo perguntando se poderia ajudá-lo. Ele disse que não, mas que me seria eternamente grato e que de alguma forma tinha sido muito bem indenizado. Sem entender nada, Cláudio entrou na sala. Invadido por uma curiosidade que não lhe é costumeira, não fechou a porta. Mais do que isso, esforçou-se pra ouvir o que se passava do outro lado. Não demorou muito para saber o que de fato Antenor da Luz e Silva estava fazendo ali se não queria nada com ele. “Então fica assim: como eu não gosto de sair cedo no sábado, te encontro lá pela meia noite e meia na estação Saúde. O metrô funciona até a uma e depois só volta a operar lá pelas cinco da manhã. Tempo suficiente pra gente aproveitar a noite antes de voltar pra casa. No domingo, tenho que ir a missa cedo e almoçar com minha família, mas quem sabe a gente não toma um sorvete de tarde”. Cláudio, aliviado e inconformado com o que ouvia, simplesmente fechou a porta. Antenor não era mais problema dele. Dali pra frente seria da sua secretária.

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Gil Guzzo – Belo Urbano, é autor, ator e diretor. Em teatro, participou de diversos festivais, entre eles, o Theater der Welt na Alemanha. Como diretor, foi premiado com o espetáculo Viandeiros, no 7º Fetacam. Vencedor do prêmio para produção de curta metragem do edital da Cinemateca Catarinense, por dois anos consecutivos (2011 e 2012), com os filmes Água Mornas e Taí…ó. Uma aventura na Lagoa, respectivamente. Em 15 anos como profissional, atuou em 16 peças, 3 longas-metragens, 6 novelas e mais de 70 filmes publicitários. Em 2014 finalizou seu quinto texto teatral e o primeiro livro de contos. É fundador e diretor artístico do Teatro do Desequilíbrio – Núcleo de Pesquisa e Produção Teatral Contemporânea e é Coordenador de Produção Cultural e Design do Senac Santa Catarina. E o melhor de tudo: é o pai da Bia e do Antônio.