Eu era adolescente quando pela primeira vez ouvi a música ‘O Amor’ cantada pela Gal. Confesso que naquela época não entendia profundamente e conscientemente cada palavra e contexto daquela canção, mas o fato é que ela me tocou profundamente! A ponto de, mesmo sem entender por que, ficar com os olhos marejados (OK, puxei à minha mãe, músicas me fazem chorar…). Versos como ‘para que não mais existam amores servis’ são carregadas de significado. E até hoje ela me causa isso, principalmente porque hoje a entendo.
Só mais recentemente fui buscar a origem da música, o autor e tal, e minha admiração por ela aumentou mais ainda, ao descobrir que é uma adaptação feita por Caetano Veloso de um poema do poeta russo Maiakóvski, que lindamente protestou contra o comunismo em sua obra. E o final, ah… o final…
Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme
E o pai
seja pelo menos
o Universo
E a mãe
seja no mínimo
A Terra
Tove Dahlström – Bela Urbana, mãe, avó, namorada, ex-mulher, ex-namorada, sogra, e administradora de empresas que atua como coordenadora de marketing numa empresa de embalagens. Finlandesa, morando no Brasil desde criança, é uma menina Dahlström… o que dispensa maiores explicações. Na profissão, tem paixão pelo mundo das embalagens e dos cosméticos, e além da curiosidade sobre mercado, tendencias de consumo, etc., enfrenta os desafios mais clichês do mundo corporativo, mas só quem está passando entende.
O ano era 1982, eu com quatorze anos. A cidade, Campinas. Era o primeiro carnaval que eu iria pular as cinco noites no Clube Cultura, além das três matinês. Os carnavais aconteciam em salões sociais dos clubes das cidades, era o acontecimento do ano, formavam-se os blocos, todo mundo se fantasiava, a energia era infinita, os hormônios borbulhavam, tudo era novidade, tudo era lindo, maravilhoso, era assim que eu me sentia.
Lembro perfeitamente a sensação de liberdade e alegria que tomava conta de todos. Eram tempos das famosas marchinhas de Carnaval, contando não dá para descrever, só quem viveu sabe da nostalgia de velhos carnavais. Festa do interior, música da Gal Costa embalou muitos dos meus carnavais, assim como os de uma geração. Ser Mulher 50 mais tem dessas coisas, ter vivido intensamente os anos 80, desculpe a sinceridade, mas os melhores anos que existiram para se viver uma juventude. Musicalmente, culturalmente e politicamente, lutávamos por felicidade, simplesmente cantávamos e dançavamos sem parar. Eram tempos de Titãs, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Blitz, Ira, Engenheiros do Havaii.
Nas minhas doces memórias, Gal me remete a Carnaval, minha juventude dourada, pele bronzeada, sem medo do sol, das primeiras paixões, corpo torneado, dos sonhos e das fantasias, lembro que o delírio das meninas era quando os meninos nos erguiam pela cintura e nos levantavam pelos ares dos salões. Clichê de cinquentona: “Bons Tempos”.
Daniela Martini Naufel – Bela Urbana, formada em Direito pela PUCC, Oficial de Promotoria do Ministério Público há 29 anos. Alma de artista, apaixonada por Artes, fotografia e pela escrita. Mãe do.Davi, Vinicius e Raul .
As primeiras vezes que escutei a canção “Negro Amor”, na interpretação de Gal Costa, o que mais me chamou atenção foi perceber um jeito estranho do que eu estava acostumado a ouvir na voz da cantora tropicalista. Esse estranhamento se deu, talvez porque o timbre da voz era dissonante; mesmo assim gostei da música.
“Negro Amor” foi gravada por Gal Costa no álbum “Caras e Bocas”, lançado em 1977. É uma versão de Caetano Veloso e Péricles Cavalcanti, para a canção de Bob Dylan “It’s all over now, baby blue”. A voz sedutora de Gal, chama a atenção pelo distanciamento dissonante que ela imprime em sua competente interpretação. Bem diferente de outras músicas da cantora, quando a doçura predomina, nessa música Gal confere um tom de voz sarcástico, que não busca imitar Bob Dylan, mas transpor a textura árida característica da voz do cantor estadunidense. A composição do trovador pop flutua num fluxo de consciência e monta uma justaposição de frases sustentadas por uma melodia caudalosa e remete à cultura pop dos anos 1960.
A letra de “It’s all over now, baby blue” está contaminada de influências da poesia simbolista de Artur Rimbaud. Estudiosos da obra de Bob Dylan acreditam que provavelmente o compositor faz referências às diversas personalidades que orbitavam no seu círculo de convivência em 1966, época em que a música foi incluída no álbum “Bringing it all back home”.
Caetano Veloso em seu livro “Verdade Tropical” lembra que muitas vezes entendeu erradamente o texto das canções de Bob Dylan e, mesmo sabendo que ele não estava dizendo o que Caetano supunha ouvir, o compositor baiano chegou a frases e ideias que lhe soavam maravilhosas que, talvez tenha usado como sugestões para letras de suas próprias canções. Para escrever sua versão para a música de Bob Dylan, Caetano fez uma tradução livre da música de Bob Dylan, a começar pela feliz transposição do título “Negro Amor” no lugar de “Baby Blue”.
Passaram-se muitos anos e, apesar de conhecer e gostar de “Negro Amor”, na voz de Gal Costa, eu não registrei a canção na minha memória, o que aconteceu com muitas outras músicas da cantora baiana que sempre estiveram presentes nas minhas seleções musicais. Sempre gostei da Gal Costa, como uma das minhas cantoras prediletas.
Em 1996 fui ao cinema assistir ao filme “Basquiat – traços de uma vida” dirigido por Julian Schnabell: uma cinebiografia de Jean-Michel Basquiat (1960-1988), artista conhecido por suas pichações e grafites nas ruas de Nova York. De origem haitiana Basquiat foi descoberto por Andy Warhol, teve uma ascensão meteórica na cena da pop-arte, tornando-se uma estrela no mundo das artes.
O filme imperdível de Schnabell tem uma trilha sonora fantástica. Logo no início, numa cena em que Basquiat assiste vídeos na TV, ouve-se em back-ground uma música familiar. Trata-se da gravação de “It’s all over now, baby blue” na voz do cantor Van Morrison. Ao reconhecer a melodia da música, imediatamente lembrei da versão cantada por Gal Costa, voltei à escutar a música e fiz uma comparação entre as duas versões.
Vale a pena conferir alguns versos da canção, pois permite perceber esse paralelo entre o filme sobre Basquiat e a canção de Bob Dylan-CaetanoVeloso e Gal Costa:
The highway is for gamblers Better use your sense Take what you have gathered From coincidence
The empty handed painter from your streets
Is drawing crazy patterns on your sheets.
Na versão de Caetano:
A estrada é prá você, e o jogo e a indecência
Junte tudo que você conseguiu, por coincidência
E o pintor de rua que anda só
Desenha maluquice no seu lençol
Esse “pintor de rua” que aparece nas duas versões pode ser uma referência a Jean-Michel Basquiat: uma vida enunciada em pichações, depois, descoberta como nova arte, pop arte, ou arte pós-moderna. Traços de uma vida em plenitude criativa.
Tanto o filme de Schnabell, como a canção de Bob Dylan na tradução de Caetano Veloso, lindamente interpretada por Gal Costa apresenta figuras undergrounds, num desfile de pessoas que perambulam à deriva ignorados pela sociedade. Filme comovente, canção comovente pra quem frequenta a arte, não como mera representação e entretenimento, mas antes de tudo como porta voz de uma época e ao mesmo tempo como um grito de pedido de socorro. E não tem mais nada, negro amor!
Último capítulo de “Vale Tudo”, talvez a melhor novela de todos os tempos. O Brasil em frente aos televisores, quando as famílias assistiam TV juntas depois da janta, e, na ausência do controle remoto, as crianças eram escaladas pra mudar o canal nas brilhantes chaves seletoras, eu inclusive.
Não nessa noite! Ninguém nem ameace nem passar na frente da TV, quanto mais mudar o canal…
Eis que a impactante, dramática e moderna introdução de “Brasil” enche a sala e arranca aplausos e assobios da “platéia”. Vai começar!
De repente a voz. Aquela voz.
Uma interpretação transbordando energia, veneno, afinação, revolta, autoridade, sagacidade… humanidade.
Nos versos precisos de Cazuza, ela reclamava não termos sido convidados pra “festa pobre” da escolha do presidente sem a participação do povo.
Recém saídos do absurdo da Ditadura, o país quebrado e o presidente que queríamos, Tancredo, morto, exigíamos o básico do básico em uma democracia: Votar.
O Brasil unido pelo direito ao exercício da Democracia, quem diria…
E lá estava ela, atenta e forte.
A mesma voz que cantou as belezas tropicais com “sua voz enternecida”, e pedia atenção em um tempo escuro: “tudo é perigoso, tudo é divino, maravilhoso”.
Cantou o bem e o mal de cada um, literalmente. “Paixão e carnaval”.
“Cada uma sabe a dor e a delícia de ser o que é.”
“Respeito muito minhas lágrimas, mas ainda mais minha risada.”
Eu tenho pra mim que essa geração absolutamente brilhante e livre, teve o talento de ouvir, talvez até mais que cantar.
Construíram uma obra desconcertante e inimaginável em um país onde arte, até hoje, pasmem, é considerada vagabundagem.
Inventaram algo que hoje chamamos de MPB, que o mundo reverencia e aplaude como uma das mais finas e complexas formas de música e expressão.
Anos depois, minha queridíssima amiga Eliete me convidou pra ver “Gal canta Jobim”. Eu, fã alucinado do Maestro Soberano, com que eu viria a ter a honra de conversar demoradamente anos depois (sei que não vem ao caso, mas não resisti à lembrança).
Foi uma das noites musicais mais deslumbrantes da minha vida, e virou um disco ao vivo que ouço até hoje com requintes de obsessão.
Gal se vai em um momento que me lembra um pouco aquela época. “Tente entender em que ano estamos…”
Agradeço ao Universo a honra de estar vivo ao mesmo tempo que ela e esses verdadeiros faróis de lucidez e integridade a nos oferecem reflexão e beleza, uma beleza profunda.
Na novela, a cena icônica do personagem de Reginaldo Farias, corrupto, fugindo do país de helicóptero e “dando uma banana” para o Brasil, tem mais uma vez a voz cortante dela colorindo o quadro que, de tão triste e tão real, chegava a provocar risos envergonhados.
E quem matou Odete Roitman, ora, ora, quem diria, já perigosa e doentia, foi a Cássia Kiss…
Tico Vicente – Belo Urbano, diretor de filmes, ama gatos, leonino, se divide entre a mega metrópole São Paulo e sua chácara no interior. Festeiro, músico, vocalista da banda Ginger. Não se considera charmoso, mas sabemos que é sim 🙂
Em 1999, conheci um rapaz muito especial, começamos a sair, nos conhecer melhor, após algumas semanas ele me convidou para viajar, o destino: Monte Verde, e eu encantada que estava com o desenrolar de nossos encontros fui, no caminho entre risos e conversas ouvi no rádio uma música que me chamou muito a atenção, escutava a inconfundível voz da Gal Costa, aquele timbre maravilhoso que só ela tinha, também foi nesse momento que ouvi Zeca Baleiro pela primeira vez, ele fazia uma participação especial nessa versão da música “Vapor Barato”, que letra, que interpretação, fiquei extasiada, senti uma emoção muito grande, olhava a paisagem maravilhosa, o Celso ali do meu lado, eu me apaixonando a cada dia mais por ele, a voz da Gal, a música soava triste, intensa, profunda de uma maneira incomum, meu coração se enterneceu, óbvio que continuei a conversa e dei total atenção ao meu querido futuro namorado e mais futuro ainda marido mas não conseguia parar de pensar naquela canção.
Quando voltei para Campinas, procurei informação sobre a letra e descobri com surpresa que a música já tinha sido gravada muitos anos antes pela Gal Costa mas, infelizmente eu só fui me abrir para a beleza e profundidade dela muitos anos depois, soube também que foi composta logo no inicio da Ditadura e por isso soa tão triste e sem esperança, quase um lamento, tenho que confessar que na primeira escuta só pensei em romance pois a música dizia “minha Honey baby! Baby! Com tal intensidade que somente a Gal poderia trazer, e eu feliz e envolvida que estava com o Celso só pensei no amor, amor esse que se transformou, cresceu e deu em casamento e filhos.
Obrigada Gal por sua passagem tão linda pela Terra, por essa memória tão doce que guardo de um tempo precioso da minha vida, sua arte mudou e enriqueceu a vida de muitos, seguramente engrandeceu a minha vida, me trouxe alento em momentos de tristeza e me presenteou com faíscas de amor em formato de memórias da minha história com meu hoje e espero sempre marido Celso.
Gosto de pensar que tem um céu dos meus cantores preferidos e agora Renato Russo, Cássia Eller, Elis Regina e o Paulinho do Roupa Nova entre outros te receberam com música da melhor qualidade. Vá em paz minha querida “Honey baby”.
Eliane Ibrahim – Bela Urbana, administradora, professora de Inglês, mãe de duas, esposa, feminista, ama cozinhar, ler, viajar e conversar longamente e profundamente sobre a vida com os amigos do peito, apaixonada pela “Disciplina Positiva” na educação das crianças, praticante e entusiasta da Comunicação não-violenta (CNV) e do perdão.
Mudei-me para São Paulo em fevereiro/1979, aos 22 anos de idade.
O álbum Água Viva, de Gal Costa, recém lançado em 78, trazia a música Folhetim.
Àquela época, tudo o que meu corpo conhecia de sexo resumia-se nos ‘malhos’, com o namorado, dentro do carro…, os quais afloravam meus desejos e fantasias pela consumação do ato.
Enquanto eu me perdia na Marginal Pinheiros, frequentemente sem saber se estava indo ou voltando, a antiga fita cassete tocava Folhetim, de Gal Costa.
Em 1979 não havia rodízio de carros e ficávamos horas parados num trânsito insuportável, momento em que aproveitava para rebobinar a fita e ouvir Folhetim, repetidamente.
Refletia sobre aquela letra, que falava de uma só mulher, mas me mostrava a faceta de várias delas: A mulher que teoricamente eu nunca seria; a mulher que faz sexo por prazer; a que o faz por profissão; a que se vê sem opção; a que através dele exercita o seu poder… ou aquela… em quem o tesão exacerbado quer te tornar, vez ou outra… E acho que era para esta mulher que a música me transportava.
A voz de Gal, de agudo aveludado, atribuiu verdades a todas as frases proferidas. Ela emprestou corpo e alma à personagem da letra desta música, criada por Chico Buarque. Ela animou a “pedra falsa”, o “sonho de valsa” e o “corte de cetim”.
Em sua doce voz eu sentia o poder daquela mulher que dizia “meias verdades” para que ele sentisse que a possuía. Mais que isso, admirava, e talvez até invejava, a meiga franqueza e firmeza com que ela “virava a página de seu folhetim e o descartava”.
Esta música foi a grande marca da Gal Costa em minha vida. Até hoje, ao ouví-la, resgato essa mulher que habita meu íntimo sombrio.
A Gal jamais será uma página virada em meu Folhetim.
Marisa da Camara – Bela Urbana, Administradora aposentada, que hoje atua em suas paixões: a escrita e a radiestesia. Crê nas energias da natureza e é amante da vida, dos seres humanos e ‘doidinha’ por seus 4 netos.
” O tempo urge”, e assim falava o saudoso Professor Conde, durante as provas de matemática, colocando “pilha” em nós alunos na época do ginásio. Sim, na década de 80 quando cursei o ensino fundamental II, a nomenclatura do curso era ginásio.
E como o tempo urge, os nomes foram mudando como os costumes. Rock para os adolescentes de hoje é música de velho, é o que já escutei do meu filho, mas como música é algo atemporal, minha filha gosta de ouvir rock. E eu aprendo com eles músicas novas em outros diversos estilos. Boas e ruins como existiram em todas as décadas e em todas gerações. Música para a moçada consumir.
Moçada!?
Moçada também já não se fala mais. A palavra ficou na geração dos anos 80/90, assim como a palavra paquera. Pois é, paquera também não se fala mais….. aliás tenho a dúvida se só a palavra que não se fala mais ou se o ato de paquerar deixou de existir. Afinal, os namoros dos adolescentes de hoje são diferentesdo que eram na minha geração. Se existe melhor ou pior, não sei dizer…. tudo está dentro de um tempo, do hoje. Acredito que o melhor, o que é bom e que nunca mudará, independente do ano, é se sentir bem, confortável e feliz dentro de um relacionamento.
Se algumas palavras morreram, nasceram outras, e ainda, algumas outras somente foram renomeadas para dar um ar de novidade, assim como alguns comportamentos, mas quem já viveu algumas décadas, sabe a diferença do que é uma nova embalagem para um produto já existente. Marketing meu amigo.
Aliás, como marketing é meu trabalho, posso dizer que muitas ferramentas foram inventadas desde minha formatura até hoje. O mundo digital não existia e hoje é tão presente que precisamos ficar muito mais atentos para saber o que é real de verdade. Fake news voa e nos assola sem piedade. “É preciso estar atento e forte” como já diz a música Divino Maravilhoso para não sermos engolidos vivos ou passarmos vergonha compartilhando falsidades.
É professor, o tempo urge mesmo, e cada vez me parece mais rápido. Sinto pressa. Sinto saudades. Sinto alegrias. Sinto medos. Sinto compaixão. Sinto amor.
Nessa jornada da vida, sou uma andarilha com o coração aberto. Nesses dois meses da série Envelhecer aqui no Belas Urbanas, aprendi muitas coisas com os textos escritos, dois meses intensos, onde tantas coisas aconteceram na minha vida e no mundo. O adeus à Rainha Elizabeth, um ícone de uma época, uma mulher a frente do seu tempo, que partiu aos 96 anos, mostrando de forma viva e atuante com seu exemplo que o etarismo é só mais um preconceito que precisa ser combatido.
Mas como o tempo urge e sempre continuará urgindo, a principal coisa que quero deixar aqui como mensagem, é que: A VIDA É HOJE!
– Adriana: presente!
Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza. Divide seu tempo entre seu trabalho de comunicação e mkt e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa.
Ultimamente vem ocorrendo muitas sincronicidades e uma delas foi a Adriana Chebabi falar que o tema da nova temporada do Belas Urbanas era envelhecer, e ter chegado a mim o maravilhoso livro, que foi indicado na mesma semana por duas pessoas, o Amadurecer Luminoso, do Norbert Glas. Este livro não é dirigido somente para as pessoas da terceira idade, mas sim para todas as pessoas de qualquer idade, pois uma coisa é certa….todos envelhecemos, já amadurecer não, pois depende de cada um fazer uma escolha.
Um dos ensinamentos trazidos neste livro é a atividade dos “sentidos” em nossos corpos físico e espiritual. E falo espiritual porque Norbert Glas coloca o seu olhar para os Doze Sentidos(sim, mais do que os cinco tradicionalmente conhecidos) trazido por Rudolf Steiner que desenvolveu a Antroposofia, que é a ciência do ser espiritual que somos.
Em nossa jornada da vida, naturalmente a maioria de nós é dragado pelo mundo exterior da materialidade e praticidade e entramos numa rotina estonteante de trabalho para ganhar dinheiro para proporcionar o melhor para nós e os nossos familiares, os boletos não param de chegar. E também faz parte do viver o namorar/casar e separar, maternidade e paternidade, conquistas e perdas, sucessos e fracassos, alegrias e tristezas e vivemos a vida que vivemos pelos hábitos que criamos por nossas interpretações que fazemos por tudo que nos chega por meio dos nossos sentidos.
A maneira de viver se transforma quando muda a relação entre o corpo e a alma. Podemos simplesmente vivermos apegados ao passado e à materialidade e bloquear as possibilidades de futuro ou podemos escolher trabalhar o mundo interior, o poder da espiritualização das forças inerentes da nossa alma pela atividade dos nossos sentidos e com isso abrir possibilidades de futuro.
Com a espiritualização dos sentidos encontraremos o poder sensorial no âmbito da nossa vitalidade e experimentaremos um certo rejuvenescimento. Primeiramente precisamos distinguir o órgão do “poder” dos sentidos, por exemplo, o olho vê e o poder enxerga, o ouvido ouve e o poder escuta. Este poder se torna ativo e pode ser captada para uma atividade de outra ordem.
Por exemplo, o sentido vital transmite informações sobre o estado do nosso corpo, bem-estar ou mal-estar e quanto mais idade tem, mais intensamente são sentidos os processos corpóreos e mais os estados de humor variam. Um problema digestivo pode levar ao desânimo, uma dor de cabeça comprometer o bem-estar geral, uma fadiga reduz o interesse às coisas que se dá valor e a atenção volta para si mesmo que acaba se isolando e muitos jogos de cena começam para chamar a atenção dos familiares. Para não ficarmos presos às sensações e variações do humor, que muitas vezes recorremos a medicamentos ou outros vícios, mas que geram um bem-estar passageiro, podemos apoderar deste sentido cultivando a virtude da serenidade e equanimidade, conquistando um equilíbrio de humor e físico.
O sentido do movimento. O quanto nos sentimos livres quando nos movimentamos para lá e para cá, fazemos o que e como queremos? A nossa individualidade é dada por este sentido em nosso corpo. Muitas vezes nos movimentamos pela força da juventude, praticamos maratonas profissional, esportiva e sexual. Se ficar preso às sensações deste sentido, pode-se sentir infeliz ao se aposentar ou perder mobilidade. Muito do nosso movimento é para atender as expectativas dos outros e do mundo. Nos tornamos poderosos ao evoluir para uma liberdade do movimento moral e espiritual. Adquirimos uma força interior quando começamos a escutar o coração, vivermos os nossos sonhos e seguimos o nosso destino de alma.
No sentido da visão, podem observar, são raras as pessoas que não precisam de óculos. O cristalino quando levemente achatado ou arredondado, conforme olhamos respectivamente de perto ou de longe, trabalha a satisfação do olho. Num amplo sentido e do ponto de vista da alma é a própria imagem de satisfação e paz. Quando alguma ameaça chega até nós, de perto ou de longe, e não falo somente o da violência física, mas qualquer coisa que faça perdermos a satisfação e a paz. A vida em sua totalidade deveria trazer contentamento, incluindo também as perdas. Podemos nos apoderar do poder da visão ao olhar além da superficialidade e estética, olhar para a essência de cada ser e olhar o mundo interior, o nosso lado luz e sombra, transmutar as questões emocionais não resolvidas, a nossa criança ferida, ver a nossa própria beleza e grandeza para ver a beleza e grandeza nos outros.
O poder do sentido da palavra é irmos além da palavra somente falada, mas no sentido emocional e espiritual da linguagem. Através da palavra demonstramos quem somos, o que acreditamos, o que nos motiva, o que sentimos, o que queremos e através das conversas criamos o mundo que queremos viver. A palavra tem poder e o quanto poderoso é dizermos um sim para o que nos satisfaz ou um não para respeitarmos os nossos limites. Dizer um não sei ou pedir ajuda e jogarmos fora a capa do super-homem ou mulher maravilha. Pedir perdão a si mesmo e a todos que causamos alguma dor nos liberta do passado, recuperamos a nossa paz e entusiasmo por um futuro melhor.
A todo momento, a vida é um convite para um relacionamento novo consigo mesmo, com o outro, com o mundo. Certamente não permaneceremos eternamente jovens, mas podemos escolher amadurecer desde jovem para a nossa alma estar eternamente viva.
Wlamir Stervid ou Boy (para aqueles que o conhecem pelo apelido) – Belo urbano, apaixonado pela sua família, por gente e natureza. Sua chácara é seu recanto. Devido ao seu processo de transformação, trabalha com desenvolvimento humano, é Coach Ontológico e idealizador do Homens de Propósito, um movimento entre homens para o autodesenvolvimento e transformação do masculino.
O envelhecer é inevitável, então aceite. Aproveite os privilégios e benefícios que a idade nos traz, como por exemplo: As vagas de carros para idosos, meia entrada para todos os espetáculos, seja teatro, cinema e outros.
Procure um grupo de mulheres, que a faça sentir-se acolhida e as acolha também. Procure não falar de doenças (é difícil, mas tente)! Não se torne uma idosa rabugenta, triste, amarga e rancorosa! Pratique o perdão, fará melhor a você do que ao perdoado! Não ache que a idade lhe permite dizer o que pensa totalmente sem filtro, isso é falta de educação! Facilite a vida de quem convive com você, seja leve! Procure também, não ser repetitiva, isso é muito desagradável, eu sei por experiência que não é de propósito, esquecemos mesmo, então antes que lhe digam que você já falou, pergunte se já contou que perdeu o carro no estacionamento do shopping, as cirurgias que fez (lembre-se, doença não), de quantas vezes perde os óculos por dia, as chaves do carro, o celular e que é viúva! Faça um trabalho voluntário, a maior beneficiada será você! Seja útil sempre que possível, você consegue e pode! Fica a dica! Seja independente, acostume-se com a idéia que poderá chegar o momento que você será sua única companhia, então seja a melhor! Olhe-se no espelho, aprecie o que vê e orgulhe-se, se veja, se toque e perceba quanta vida há em você! Cada ruga ou marca de expressão trazida pelo tempo, tem uma história vivida e sorria lembrando das coisas boas que viveu. Mostre e diga ao espelho, que ele não sabe nada sobre você e do que você ainda pode fazer, assim você estará selando a paz com seu espelho e serão grandes amigos e cúmplices! Portanto, dance, cante, pinte, escreva, estude trabalhe, ocupe sua mente! Ou simplesmente não faça nada, e está tudo bem! Você é dona do seu tempo! Jogue todas as regras sobre o que uma idosa, pode ou não fazer na lata do lixo…. Mas sem perder o bom senso e a dignidade! Aprecie um bom vinho, adquira o hábito de tomar um cálice de Vinho do Porto, após o jantar (café excita e dá insônia)! Viaje, vá há uma cafeteria sozinha mesmo, veja um filme, uma série recomendada pelas amigas mais antenadas, ouça música (excelente terapia)! Tenha pensamentos positivos, exercite-se, alongue-se, tenha uma alimentação saudável, qualidade de vida, leva a longevidade! Se atualize, aceite as mudanças, interaja com os jovens, converse com seus filhos e netos sem pudores ou críticas, comprenda-os, escute-os, se perguntada dê sua opinião, com certeza a troca será prazerosa para ambos! Na atual fase da vida, já vimos e vivenciamos de tudo um pouco e queremos muito mais, com muita alegria e sorrisos fartos! Amigos e amores, vão e vem, alguns são pra toda vida, outros foram missões ou aprendizado, mas cada um um deles deixaram suas marcas que estarão sempre guardadas em nosso coração!
Aproveite a vida com carinho, sabedoria, autoestima e muita gratidão! Ame-se, só assim poderá dar amor! Procure deixar marcas e saudades por onde andar! Mulher não tem idade, ela sempre terá cheiro de rosas e fêmea! Afinal, você não veio aqui para ser mero coadjuvante da sua história, e sim a Estrela!
P.S. Eu não sou louca, ou sou? Aí já é outra história,
Heloísa Tavares – Bela Urbana, atualmente residente em Vinhedo, divorciada, mãe de três filhos. Empresária aposentada, Conselheira Municipal Dos Direitos da Mulher em Vinhedo, é terapeuta holistica, um grande hobby é a leitura.
Escrevo, agora, outubro 2001, na estação Perrache de Lyon, com a ansiedade de uma adolescente. Na espera de embarcar num trem para Florença. Esta é a segunda vez que faço esse trajeto, e agora para realizar um sonho. Algo a mais que me fez desejar tanto e me esforçar para vir morar e estudar, aos 50 anos, na Europa, ou seja, a possibilidade de conhece-lo melhor e, quem sabe, passar alguns dias com ele. Queria confirmar aquela sensação do primeiro encontro em janeiro de que seria uma pessoa ideal para mim. Seu convite foi para passar uma semana e comemorar seu aniversário, e eu, louca, nem bem cheguei na França já fui aceitando. Algo me diz que tem que ser assim (anotações do meu diário).
E assim foi o início… Quinze anos intensos. Muita parceria e felicidade.
Refletindo sobre o tema envelhecer, em 2022, revelo um pouco da minha história. Na juventude, jamais imaginaria a possibilidade de me apaixonar assim de novo nessa fase da vida nem sobre o modo como tudo aconteceu. As surpresas me animam, e sempre me permiti ser livre para percebê-las. Quando menos esperava, sozinha no Uffizzi, em Florença, um italiano bonito chega ao meu lado, e diz gentilmente: posso accompagnarti? Como negar?
A emoção das obras dos pintores florentinos e dos cantinhos mágicos da cidade são fonte de magia e clima de romance que eu já havia assistido em muitos filmes, como “Uma janela para o amor”. Acho que é normal ficarmos propensos a sentir algo forte naquela cidade. Isso fez acender uma luzinha propícia para aceitar a possibilidade. Foi lindo, mas, tendo ido para um Congresso, não tivemos muito tempo para encontros e tive que partir após dois dias.
Na época, não havia ainda tantas facilidades de internet. Mas a gente se falava por telefone quase todos os dias. Porém, havia muitas barreiras pra uma continuação do relacionamento. Entretanto, quando o universo conspira a favor, tudo pode acontecer. Muitas barreiras inesperadamente foram sumindo, ideias novas e licença do trabalho por um ano e meio. Penso hoje na coragem que tive de me mudar para Toscana em 2003. A licença, porém, tinha um limite, assim, meu amado deu um jeito, pedindo transferência, e me acompanhando no retorno. Felizmente, conseguiu ficar até 2015.
Um período de convivência lindo e emocionante; muitas viagens, troca de conhecimento, e tantos momentos de união e alegria; muita sincronia, adivinhações um do outro, como se já tivéssemos vivido algo parecido antes deste tempo.
Na memória, hoje, só recordações maravilhosas desse período que voou. O término foi tranquilo, sem mágoas, tinha que ser desse modo. Penso: a maturidade nos faz saber aceitar bem separações e entender o momento certo de mudar de novo. Nossa certeza é que esse amor perdurará para a eternidade. Consideramos ter sido algo especial para a evolução da nossa existência espiritual. Questões de vidas passadas? Talvez.
Conforme meu querido poeta, Vinicius: “que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”. Um amor infinito pode acontecer em qualquer fase da vida, mesmo por volta dos 50, 60, ou até mais. Nunca devemos achar impossível, mesmo no entardecer da vida que é sempre surpreendente.
Flailda Brito Garboggini – Bela Urbana, aquariana. Formação e magistério em marketing e publicidade na PUC-Campinas. Doutora em comunicação e semiótica. Dois filhos e quatro netos. Hobbies: música, leitura e cinema. Paulistana por nascimento, campineira de coração.
Utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência, de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.