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Cadê todo mundo?

-Onde está o pessoal?

-Que pessoal?

-O pessoal que estava aqui. Já foi todo mundo embora?

-Não tinha ninguém aqui… estamos só nós dois.

Ele olha confuso para ela. Ela olha para ele com um sorriso triste.

Já faz alguns anos que ele vem perdendo a noção do que se passa ao seu redor, perdendo sua memória e sua identidade. Quem sabe por onde andarão seus pensamentos?

O médico lhe disse que agora ele tem a mentalidade de uma criança de 5 anos. Ela já não é mais a sua esposa; é sua mãe, ou sua avó!

Ela se pergunta indignada: Por que isso foi acontecer com ele? Mas está cansada, e logo resigna-se: É melhor aceitar e aprender a conviver com esta nova realidade.

Seus filhos moram longe e contrataram uma cuidadora para passar as noites com eles. Ela não gosta de ter estranhos em casa, mas aceita, porque entende que precisa de ajuda.

Às vezes ainda sonha em realizar coisas, sair, viajar, mas sabe que não pode deixá-lo sozinho, e não quer que estranhos cuidem dele sem a sua supervisão.

Todos os dias parecem iguais. Dias de semana e de fim de semana se confundem.

Ela liga a TV para assistir as notícias. O mundo está louco! Coisas estranhas acontecendo. Há assuntos que já não consegue acompanhar mais. No jornal local, ela lê o nome de mais uma pessoa conhecida nas notas de falecimento.

Gosta de cuidar de suas plantas – vê-las vicejar e florescer lhe dá prazer. Também se distrai com o gato, que roça suas pernas, pedindo comida ou carinho.

No feriado, seus filhos vêm visitá-los. Ela fica feliz por isso. Os dias por fim são diferentes e mais interessantes! Mas eles não podem ficar muito tempo; têm seus compromissos, seus trabalhos, suas famílias para cuidar.

Quando os filhos voltam para as suas vidas, a vida dela volta à mesmice de sempre, e a espera pela próxima visita recomeça.

Aí ele lhe pergunta de novo: Cadê o pessoal? Cadê todo mundo?

E ela responde: Já foram todos embora. Agora somos só nós dois…

Anônimo – Escrito pelo filho(a), é um conto, mas baseado nos fatos reais
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