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Dia dos nAMORados

Ela era dessas pessoas confusas. Confusas e centradas. Coisas dúbias em uma só pessoa e talvez isso fosse o que a tornava mais interessante.

André era apaixonado por ela, dizia isso. Ela gostava dele, já foi também apaixonada, mas hoje já não mais. A paixão secou, como a água da torneira da sua cozinha por culpa do encanamento do vizinho. A pia ficou com as coisas para lavar, sujas, mas não tem o que fazer, até a água voltar.

Jantou o macarrão de ontem, frio, nunca gostou de comer comida requentada. Hoje só queria ficar só, e estava… André, estava por aí e ela nem aí, não ligou, apesar do dia merecer uma comemoração especial.  Dia dos namorados. Ela hoje não liga para datas, na adolescência sim, mas hoje, tantos anos depois da adolescência não mais.

Depois do jantar, mais um prato, copo, garfo e faca para a pia suja, ela olhou tudo aquilo com desgosto e sem ao certo saber o que fazer para resolver. Terá que resolver com o tal vizinho.

E por falar em vizinho se não fosse tão esquisito seria interessante. Era interessante, mas era esquisito. Quantos anos tinha? Acho que era um pouco mais novo que ela e sempre a olhava quando estavam no elevador.

Resolveu tomar banho, colocar seu perfume favorito. Usava seu perfume até para dormir sozinha. Era para ela. Amava aquele cheiro. Tentou dormir cedo, mas seu relógio biológico não ajudava para isso. Foi para a sala, ligou a TV, a TV sempre dava sono, mas nada. Foi para internet e ali despertou de vez, com ele, aquele que agora fazia ela sorrir, gargalhar. Ela só observava o que ele postava e quantas eram as que respondiam para ele. Muitas…

Ele era história antiga. História dela com ele. Dele com ela. Cada um pelo seu olhar. Seguiam suas vidas separadamente. Ela lembrou da música da adolescência “no balanço das horas tudo pode mudar”, cantava com a amiga da escola em um dia 12 de junho de muitos anos atrás. Ela lembrou e confusa que era pediu para o “Papai do Céu”, sim, ela ainda se referia a ELE como “Papai do céu”, pediu com fervor, pedir com amor e com um certa dose de dor.

Pediu que tudo fosse para o lugar certo. Que a água voltasse. Que a comida nunca faltasse. E que a alma dela encontrasse a dele frente a frente. Cara a cara. Corpo a corpo. Olhos nos olhos. Que pudesse ser seu nAMORado. Que esse tempo, esse das horas da música,  que enfim, chegasse para eles. Coragem.

Pegou no sono. Sonhou com merda. Sim, merda. Não estranhem, isso é um sonho que traz sorte. Presságio bom. É o que dizem…

Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre as consultorias de comunicação e marketing e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa :)

Foto Adriana: Gilguzzo/Ofotografico.