PRECISAMOS FALAR SOBRE RELACIONAMENTOS ABUSIVOS SEMPRE, essa é a série que lançamos em agosto e que ainda não fechamos. A questão que fica é: Temos como fechá-la?
A resposta é não. Não temos como parar de falar sobre isso, mas não queremos falar só sobre isso, porque temos muitas outras questões que também precisamos falar.
Aqui no Belas Urbanas, para falar sobre algo, ouvimos. Sim, no processo dessa série e de outras, ouvimos e depois tornamos públicos os textos. Entendemos que além de falar, ouvir é fundamental para nos conectarmos.
Essa segunda série sobre o tema – para quem ainda não sabe, fizemos uma primeira série que deu origem ao livro Precisamos falar sobre relacionamentos abusivos – trouxe textos sobre abusos ainda não ditos na primeira, como nas relações homoafetivas, como casamentos com gays ou bissexuais, como questionamentos sobre os abusos que são vindos de instituições e muito abuso infantil… muito mesmo, incluindo estupros.
Foi dolorido ouvir essas histórias! Algumas histórias publicamos, outras (nesse momento) só precisavam de alguém para ouvi-las e, por isso, ainda não foram publicadas. O primeiro passo nesse processo de lidar com a dor é falar sobre o assunto, geralmente em conversas privadas. Expor publicamente requer estar em um segundo estágio, porque mesmo escrito de forma anônima, é necessário coragem para lidar com o que vem depois, como julgamentos e críticas que aparecem no meio de comentários mais empáticos. É uma ferida que está aberta em busca da cura.
Vivemos em um mundo abusivo, composto por diversas relações abusivas, em diferentes graus e impactos. A pergunta que não quer calar é se a humanidade conseguirá dar um passo adiante e viver relações mais positivas e harmônicas. Hoje, dia 31 de outubro de 2023, a humanidade adoece, com diversas violências, entre elas guerras… O que podemos pensar da guerra? Das diversas agressões e abusos de uma guerra? O que podemos pensar de ataques a escolas e assassinatos? O que podemos pensar sobre tantos números, que só aumentam, de feminicídios? O que podemos pensar de tantas e tantas relações de pessoas esgotadas, sobrecarregadas, invisíveis, quando precisam tanto serem vistas?
Enfim, não iremos colocar um ponto-final nessa série, mas um ponto e vírgula, para falarmos de outros assuntos e deixarmos essa série como permanente em nossa grade. O SEMPRE que ocorreu nessa continuidade veio a calhar para continuarmos mesmo sem a série fixa.
É preciso sermos muito conscientes e cuidarmos de nós, dos que estão a nossa volta e, principalmente, das crianças. Crianças têm poucas chances de defesas. Quando o abuso vem da infância, aquele lugar onde a pureza é quase todo o indivíduo, a crueldade nessa fase é uma ENORME violência. Por isso, a consciência e a atitude de estarmos sempre atentos e protegendo as crianças, sejam elas da sua família ou não. Precisamos de menos omissão.
A vida é uma grande preciosidade, repleta de belezas em meio a tantas dores. Tem um poema do Drummond que diz: “É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”.
Vamos plantar mais flores?
Adriana Chebabi – Bela Urbana, sócia-fundadora e editora-chefe do Belas Urbanas, desde 2014. Publicitária. Roteirista. Escritora. Curiosa por natureza. Divide seu tempo entre seu trabalho de comunicação e mkt e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa.
Link do poema: A flor e a náusea
Maravilhoso…. Mas a minha opinião é de que pra limparmos a sujeira, primeiro temos que encarar a sujeira…….e a violência humana já foi pior (já existiu canibalismo), já vivemos em épocas que a escravidão era permitida…..estamos em passos de tartaruga, mas estamos indo, agora que sabemos onde está a “sujeira” podemos optar por “limpa-la”. Acredito que teremos dias melhores.
Cara amiga de longa data, Adriana,
Após refletir sobre suas considerações, resolvi abordar um pouco da semiótica com base em dois grandes “mestres” que, embora possam não explicar a humanidade como ela é, oferecem caminhos a serem trilhados. Creio que essa série nos permite tecnicamente teorizar por meio da comparação entre os conceitos de “parecer” e “ser” de Algirdas Julien Greimas e a noção de “percepção” de Charles Sanders Peirce. É complexo, pois esses termos estão inseridos em estruturas teóricas diferentes. No entanto, podemos traçar algumas conexões considerando a construção do significado:
Parecer e Ser em Greimas: Dentro do quadro teórico de Greimas, “parecer” e “ser” referem-se a modalidades da existência. Estas modalidades auxiliam na construção do significado, estabelecendo a relação entre o sujeito e o objeto de valor em uma narrativa. “Ser” relaciona-se com a existência ou identidade de um sujeito ou objeto, enquanto “parecer” refere-se à aparência ou à forma como algo é apresentado ou percebido.
Percepção em Peirce: No sistema semiótico de Peirce, a percepção é parte integrante da relação tríadica entre signo, objeto e interpretante. Ela é o processo pelo qual um signo (como uma palavra ou imagem) representa um objeto para alguém, resultando em um interpretante (o entendimento ou sentido daquele signo). Neste contexto, a percepção é essencial para a construção do significado. Foi esse o movimento da Bela (e sofrida) Urbana.
Parabéns Adriana e colaboradores! O Belas têm feito um excelente trabalho para melhorar o mundo, é preciso ouvir e falar, é preciso não se petrificar para não sentir o sofrimento do mundo, viver traz angústia e dores e também traz alegrias, deslumbramento e tantas outras descobertas boas. A arte, a leitura, as reflexões e buscas é que ajudam tudo isso valer a pena.