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Projeções para a velhice

Antes de mais nada um spoiler: “quase todo mundo vai ficar velho e morrer no final.” Quantas músicas do cancioneiro popular brasileiro tratam da velhice. A ideia de olhar a idade avançada como um peso é comum. Porém, a boa idade sempre vai trazer muitas superações e conquistas, bem como o entendimento de muitas abstrações aprendidas nas etapas mais jovens da vida.

Uma vez participei de uma enquete sobre envelhecimento e constatei que eu tinha uma admiração pela velhice. Uma curiosidade sobre como seria envelhecer. Acho interessante ambicionar a sabedoria serena de um preto velho.
Lembro do “Seo Antero”, um apelido que ganhei quando fui vocalista de uma banda de rock. Era por causa de um pullover que eu usava e ficava parecendo um velho, só faltava a boina, rsrs. O “Seo Antero” era o meu alter ego quando velho. Era uma projeção que os amigos da banda fizeram para quando eu fosse idoso. Um jovem com alma de velho. Entendi que deveria evitar subir no palco com aquele pullover, afinal, naquela época rock’n roll era música de jovem.

De acordo com o Seo Antero envelhecer é sério. Para ele envelhecer bem talvez fosse envelhecer com alma jovem. Jovem de alma? Se você tem que ficar jovem na alma é porque é melhor ser jovem. Entendo perfeitamente a força de expressão “velho com alma jovem”. Entretanto, penso que aí nessa locução “velho com alma jovem” reside uma problemática interessante.

Os velhos adquirem manias que, na idade em que estão podem transformar-se em T.O.C.’s, em tiques, em excessos, em hábitos, em virtudes etc.

Imagino o Seo Antero falando sobre seu estado de saúde:
“Hoje estou precisando de ajuda. Minhas artroses e hérnia de hiato estão dando trabalho. Muita tosse quando deito à noite. Continuo na mesma, mesmo tendo tomado um monte de remédios essa semana. Estou sem voz e dormi muito mal esses dias. As noites têm sido difíceis. Melhorei um pouco mas parece que as secreções estão se acumulando na garganta; não sei se na traqueia ou mais pra baixo. Será que são sequelas da COVID? Preciso ficar quieto em casa. Envelhecer não é gostoso. As dores começam a chegar para ficar e tem que ter muita paciência.”

Passar a ver a vida com mais paciência é uma vantagem de envelhecer. O difícil é manter a paciência, porque paciência também tem limites. Nesse e em muitos outros aspectos a relação entre envelhecimento e maturidade é forte. Desejo uma velhice com leveza. Mas ainda não encontrei o segredo para atingir essa meta. Se alguém souber me avisa!

Penso também que vamos caindo de moda e ficando ultrapassados. No processo de envelhecimento começamos a perceber a vida que era cheia de gente mais velha passa a ter mais gente jovem. Aos poucos, pessoas que considerávamos velhas, são quase da nossa idade ou mais jovens. Fica mais difícil identificar os mais velhos que nós e as idades vão se equalizando. Pessoas com sessenta anos que estão mais próximas da nossa idade.

Pensar na velhice como melhor idade é um desafio. Juntam muitas vibrações acumuladas ao longo da vida. Elas podem começar a doer. Então, é muito bom idealizar uma velhice tranquila. Um velho com alma de jovem é uma boa opção, mas não a única. É engraçado pensar que aos quarenta anos muita gente já se considera envelhecida. Quanta gente jovem na faixa dos quarenta! Aos ciqüenta nós ainda estamos em pleno jogo, aliás na flor da idade para pensar no passado, viver o presente e sonhar com o futuro.

João André Brito Garboggini – Belo Urbano. É publicitário, ator e diretor teatral e tem três filhos.
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