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VIZINHANÇA MUSICAL

Antes de mudar para uma nova casa ou apartamento todas as pessoas deveriam ter acesso ao ‘gosto musical’ dos vizinhos. Esses seres que habitam nosso entorno, quer você queira, quer não. Vizinho, não se escolhe e as portas e muros são delimitações apenas parciais.

Eles vão ouvir nossas discussões e nós as deles. Vamos descobrir seus hábitos, horários e, inevitavelmente, suas preferências musicais! E aí, meu caro ouvinte, é uma loteria!

Só que eu… Ganhei na Mega Sena!

Meu vizinho mais próximo, casa com casa, um cara franzino, calado, pontepretano doente, ouve blues toda manhã. Blues!

Aqui por perto, um pianista toca música clássica todas as tardes. Quando saio com os cachorros, sigo a música numa busca vã, nunca consegui descobrir de onde vem. Só sei que vem do alto.

Numa casa com muros altos na travessa ao lado, vira e mexe rola uma banda. Às terça até umas onze e às sextas até de madrugada, uma boa parte do bairro curte rock’n roll honesto de todo tipo.

Isso sem falar no corneteiro! Um cara (suponho!) que passa pelas ruas do Bosque, sempre a noite. Toca músicas conhecidas de todo tipo usando uma corneta tosca. É emocionante!

Diz aí? Eu sou ou não sou abençoada por Chuck Berry, Jota Quest, Chopin, Queen, Raul Seixas?

PS: É claro que por aqui passam carros tocando músicas do tipo ‘aquelas que não devem ser nomeadas’, parece que quanto pior a música, mais alto o som. Mas isso dura apenas alguns segundos, as janelas estremecem, os cachorros protestam e depois tudo volta ao normal.

 Santa Cecília que continue me protegendo… Em nome de Chico, Caetano, Gil e João, Amém.

Carla Dias Young – Bela Urbanas, tem 46 anos é jornalista, (tenta ser) escritora e trabalha na empresa ‘Young.comunicação Consultoria em Comunicação e Licenciamento Ambiental’. Nasceu em Santos, mora em Campinas, é casada e tem dois cachorros e uma gata, todos vira-latas.

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Opinião: Livro ‘A Elegância do Ouriço’

Eu sempre gostei de ler, desde criança. De um tempo pra cá resolvi escrever um livro e descobri que o lado de lá é bem mais complicado. Agora, outra novidade: um convite do blog ‘Belas Urbanas’ para escrever sobre um livro!

No meio da proposta já pensava no romance ‘A elegância do ouriço’, primeiro livro da francesa Muriel Barbery, lançado em 2006 com grande sucesso lá na França, e em 2008 aqui no Brasil pela editora Companhia das Letras.

O romance conta o dia a dia de um prédio luxuoso num elegante bairro de Paris. Um livro bem francês, com um pouco de filosofia e toques de humor-negro.        As 352 páginas são divididas pelas narrativas de duas mulheres: Renée Michel, zeladora de meia idade que guarda segredos sobre quem realmente é e Paloma Josse, uma menina calada e revoltada que planeja o suicídio no aniversário de 13 anos.

Os capítulos são intercalados pela rotina de Renée e as escritas de Paloma em uma espécie de diário. A edição muda o tipo de letra quando cada uma protagoniza a história o que ajuda no entendimento, mas não torna o livro totalmente ‘fácil’.

Por conta de uma velha mania de sublinhar trechos e listar personagens, logo nas primeiras páginas me peguei fazendo o desenhinho de um prédio de seis andares, que foi sendo preenchido no avançar das páginas: os Pallières no 6o, os Josse no 5o, os De Broglie no 1o.

Os personagens são muitos, mas a concierge Renée é a minha preferida e provavelmente será a sua. Ela possui um mundo interno que vai muito além da percepção das pessoas que a cercam, e é assim que deseja que continue a ser. Tudo nela é singular. O gato se chama León em homenagem ao escritor Tolstói, porém essa associação simplesmente nunca foi feita no número 7 da Rue de Grenelle.

A amizade com Paloma rende uma troca fantástica de experiências e a chegada de Kakuro Ozu, um simpático senhor japonês, torna a história irresistível. É o Sr. Ozu que vai desvendar Renée e libertar o que há de melhor nela. A descrição do momento em que ele flagra a verdadeira personalidade da concierge através de uma citação de Anna Karenina é um primor.

Eu poderia descrever em alguns parágrafos o teor do livro, o comportamento das pessoas, mas não é isso que importa. É a forma como elas vem e vão e passam e ficam.

Experimente ‘A elegância do ouriço’! Confesso que nem todos os que leram por minha sugestão se identificaram de cara com o livro, porém os que chegaram ao final se encantaram e é por esse encantamento que eu continuo a indica-lo por aí.

Quando faltavam dez, quinze páginas para terminar a primeira leitura que fiz desse livro, eu me senti tensa, comecei a ‘economizar’ lendo devagar, desejando que demorasse um pouco mais para chegar ao fim.

Isso para mim, é a melhor sensação que um livro pode transmitir.

 

Título original: L’ ELÉGANCE DU HÉRISSON

Autora: Muriel Barbery

Tradução: Rosa Freire d’Aguiar

 Capa: Kiko Farkas / Máquina Estúdio e Elisa Cardoso/ Máquina Estúdio

 Páginas: 352

Selo: Companhia das Letras

Foto Carla Dias Young

Carla Dias Young, tem 44 anos é jornalista, (tenta ser) escritora e trabalha na empresa ‘Young.comunicação Consultoria em Comunicação e Licenciamento Ambiental’. Nasceu em Santos, mora em Campinas, é casada e tem dois cachorros e uma gata, todos vira-latas.