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Caminhe e o caminho aparece

“Quando você começa a caminhar, o caminho aparece.” Rumi

Incontáveis vezes ao longo da trajetória desse inevitável acordar, respirar, comer, trabalhar, sonhar e amar me percebo congelada e sofrendo, incapaz de tomar uma decisão, nem sempre tão importante, porém muitas vezes crucial, dispendo uns bons minutos (mas já passei anos) nessa pausa tensa, com pavor de tomar uma decisão ruim: preparo sopa ou sanduiche? Saio agora ou deixo para depois? Ter ou não ter filhos? Férias em Fortaleza ou Nova Iorque? Impressionante como em cada minuto da vida há uma decisão a ser tomada, e a partir daí os desdobramentos delas: come-se muito, engorda-se, falta de exercício pode resultar em sofrer as consequências ruins do sedentarismo, não economiza dinheiro pode passar uma situação de desemprego e não ter reserva financeira e por aí vai. Essa dinâmica da vida se faz até rotineira quando já se caminhou um bom tanto de anos, mas será que a angústia de tudo isso suaviza? Será que a experiência faz com que as incontáveis escolhas fiquem mais fáceis? A escolha pressupõe sempre ganhar e perder, se eu comer sopa, adeus ao sanduiche, e enquanto humanos e vivos essa escolha sempre haverá de ser feita, mas a maneira como farei e como vou lidar com isso é que fará a diferença no caminhar pela vida. É assim que a nossa trajetória vai sendo forjada, não há respostas sempre certas, há variadas setas indicando direções e um sem-fim de encruzilhadas e qual o melhor caminho ninguém sabe, essa é a resposta que todos procuram.

Nesse labirinto que é a vida, acredito que pouco importa a direção, o que realmente importa é decidir dar o passo, um de cada vez, em movimento sempre, seguramente chega-se a algum lugar, se fico parada tempo demais buscando a alternativa certa, corro o risco de nada fazer, de perder oportunidades, de me angustiar demasiadamente, nosso caminho vai sendo traçado por nossas escolhas e não há como fugir disso, na maioria das vezes não sabemos se a escolha resultará boa ou não, e pior ainda, ás vezes demora anos para ter-se essa resposta mas através desse misterioso infinito leque de opções que vão se apresentando dentro das limitações existentes no destino de cada ser, o caminho vai aparecendo, vai se fazendo de acordo aos passos que cada um decide trilhar.

Aprendi no caminhar contínuo da vida que posso descansar observando a paisagem, conversar, observar, aprender e trocar experiências com os outros caminhantes, mas o ritmo do meu passo pertence à minha sina e às minhas escolhas, a marca que eu imprimo na estrada é única e acredito que um caminho bom sempre vai aparecer enquanto eu deixo minhas pegadas por aí.

Eliane Ibrahim – Bela Urbana, administradora, professora de Inglês, mãe de duas, esposa, feminista, ama cozinhar, ler, viajar e conversar longamente e profundamente sobre a vida com os amigos do peito, apaixonada pela “Disciplina Positiva” na educação das crianças, praticante e entusiasta da Comunicação não-violenta (CNV) e do perdão.
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Para ler e refletir

Em tempos de intolerância como os vividos e vistos nos dias de hoje, especialmente nas redes sociais, minha dica de leitura é o “Diário de Anne Frank”.

O livro é uma história verídica escrito pela jovem judia Anne Frank no período de 12/06/1942 até 01/08/1944 de dentro do esconderijo, um sótão de uma casa/escritório em Amsterdã. Anne Frank ficou escondida nesse “anexo secreto” como chamavam o esconderijo juntamente com sua família (irmã, Mãe e Pai), a família Van Pels (o casal Auguste e Hermann e o filho Peter) e também o dentista Fritz Pfeffer. Contaram com a ajuda externa de algumas pessoas entre elas Miep Gies e Bep Vos Kuijl, duas secretárias da empresa que estava instalada no prédio,  sem as ajudas de pessoas externas teria sido impossível sobreviver por esse período escondidos.

Anne começou a escrever o diário com 13 anos, passou anos preciosos das novas descobertas da adolescência presa no esconderijo, com medo. O livro relata o seu dia a dia neste local, a visão de Anne em relação a guerra, as dificuldades que cresciam com o passar do tempo dentro do esconderijo, a forma que cada um lidava com essa situação limite e as comemorações com as notícias positivas vindas de fora. Ela também descreve seus conflitos internos, a dificuldade de conversar com mãe, a admiração pelo pai e o encantamento e amizade por Peter, o jovem que também estava escondido e que era da sua idade.

Li o livro duas vezes, na primeira eu tinha a idade de Anne e me colocava muitas vezes no seu lugar,  isso me causava uma grande tristeza ao imaginar a situação de estar presa  em anos tão maravilhosos da juventude, mas me consolova um pouco com seu “romance com Peter”. Me perguntava: Por que essa guerra?

Quanto li pela segunda vez, foi a há dois anos atrás, já adulta, madura, mãe, inclusive de um filho adolescente. Nesse momento o foco do meu olhar foi maior, desde a percepção de como Anne Frank escrevia bem, tinha clareza de ideias e me parecia uma menina muito mais madura do que as meninas de hoje com essa idade. Chorei em alguns momentos, especialmente quando ela relatava sobre seus sonhos de um futuro que não aconteceu, por saber que nunca aconteceu, me doeu profundamente. Outra questão que me chamou  a atenção, foi o comportamento das pessoas de dentro do esconderijo com posturas mesquinhas, escondendo comida dos demais, sem querer dividir e com a postura inversa, a generosidade das pessoas que os ajudaram de fora do esconderijo, colocando literalmente suas vidas em risco.

A edição definitiva possui fotos e textos inédidos, foi a segunda versão que li e é essa que indico por ser mais completa, contém 30% a mais de material que a primeira versão.

Enfim, uma questão ainda permanece sem resposta para mim. Por que as guerras? Por que tanta intolerância? A humanidade ainda precisa evoluir muito para conseguir resolver seus conflitos sem tanto sofrimento. O “Diario de Anne Frank” na minha opinião é uma leitura fundamental para qualquer pessoa em qualquer idade, pois nos da um “chacoalhão” sobre essa questão, nos faz refletir sobre a tolerância e a intolerância e suas consequencias individuais e na sociedade. Passaram-se mais de setenta anos do início da segunda Guerra Mundial, mas sinto que as sociedades estão muito aquém de serem HUMANAS.

Vale a reflexão e vale trazer essa questão para nosso comportamento diário. Afinal, intolerância, leva a radicalismos, que leva a guerras, que leva vidas…

Título: original: The diary of a young girl

Autora: Anne Frank

Tradução: Ivanir Alves Calado

Páginas: 349

35 edição – integral e revista. Única edição autorizada por Otto H. Frank e Mirjam Pressler

Editora Record Ltda.

Adriana Chebabi

Adriana Chebabi  – Bela urbana, idealizadora desse projeto, publicitária, poeta e contadora de histórias. Divide seu tempo entre sua agência Modo Comunicação e Marketing www. modo.com.br, suas poesias, histórias e as diversas funções que toda mãe tem com seus filhos.