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No devido tempo

Em uma das primeiras oportunidades de visitar a Bienal de Artes de São Paulo, vi uma obra que me marcou muito. Não me recordo o nome da artista mas o titulo da obra era “O Tempo”.

Eram vários vergalhões (ferros de construção) de bitola larga empilhados, sendo que os que estavam rentes ao chão eram de um azul índigo com seus reflexos róseos. Conforme esses ferros eram sobrepostos, sua coloração ia se tornando alaranjada, de um tom vibrante, vivo.

Essa imagem ficou gravada em minha memória e anos depois, quando comecei a fazer esculturas em ferro, foi essa coloração acesa da ferrugem que me arrebatou.

Era o ano 1996, quando o tema Sustentabilidade, reutilização, enfim, os 5Rs não estavam no ‘mainstreaming’; eu valorizava a releitura do material.

Ressignificar o que se descarta, não é lixo.

Era uma forma de estimular uma reflexão do consumo consciente.

Nesse tempo, trabalhando com plantas e jardins, aprendi a respeitar e acompanhar o ritmo da Natureza. Esperar a época certa para podas, para semear, esperar a época certa da floração de cada espécie; vivenciar as estações do ano equilibrou a ansiedade, o descontrole emocional e mental.

Algumas clientes me chamavam para mostrar uma folha amarelada de uma planta e então percebi o quanto a sociedade atual tinha se distanciado da visão do envelhecer.

Os idosos já não conviviam com os filhos, com os netos e estes perdiam a oportunidade de ouvir sobre suas raízes, sobre suas origens.

Como valorizar a história da sua cidade, do seu país se não houver a valorização de suas próprias memórias?

O real valor de qualquer coisa, de qualquer projeto, de qualquer alimento, lhe é atribuído de acordo com o tempo que lhe é dedicado.

Quando se trata de curas das questões internas, cada um tem seu tempo.

Atualmente as pessoas falam muito em resiliência, se cobram e são cobradas por uma recuperação, reação rápida ao incômodo fato ocorrido, contudo, nesse processo o que importa é o quão profunda e consciente será a transmutação.

Nas do Ser, Chronos, o Senhor do Tempo, reina.

Também chamado em latim, Aeon, “eternidade”. Na mitologia grega era a personificação do ‘tempo eterno e imortal’.

Carece aqui invocar Kairós, a qualidade do tempo vivido, segundo a Bíblia, “o Tempo de Deus”.

Enfim, aproveite seu tempo no seu tempo!

“Que ele seja eterno enquanto dure”. (Vinícius de Moraes)

Érika Taguchi – Publicitária por formação, com especialização em Marketing além de: terapeuta holística, praticante de Yoga Arhatica, fundadora do Instituto Sempre Vivva, artesã, cozinheira, costureira, poeta, jardineira, personal organizer e tantas outras definições mais.